Devonport, Inglaterra. Lá
começa a história de James (Jimmy) Smith. Ele foi criado em uma família
numerosa, grande, tinha dez irmãos! Quando ele tinha sete anos de idade estava
brincando na rua juntamente com três de seus irmãos quando um carro, que ele
não conseguia identificar, parou. Algumas pessoas desceram dele e lhes deram
roupas. Eram muito bonitas! Mais bonitas do que ele e seus irmãos usavam. Essas
pessoas o levaram, juntamente com seus irmãos para Brixham, em Paignton, Devon.
Eles não entenderam nada,
estavam confusos. Depois que eles perceberam que foram levados para um orfanato
e deixados lá! Descobriu, seis meses depois, que sua mãe estava muito doente,
sofria de câncer, morrendo em seguida. Seu pai, estava na Marinha, no HMS Ark
Royal, então ele não tinha condições de cuidar de Jimmy e de seus irmãos,
afinal viajava muito. Era um orfanato naval e por lá tinham bandas, então o já
adolescente Jimmy, com doze anos de idade, entrou para a banda naval como
baterista lateral, além de tocar corneta também. Naquele local foi o seu
primeiro contato com a música.
Ele sentiu que era sua aptidão
natural, até porque ele pegava as notas musicais com muita facilidade, as
tocava maravilhosamente. Aos quinze anos, o jovem James Smith deixou o orfanato
e foi morar com a irmã em Plymouth. Entrou para um pequeno clube de boxe para
jovens e por lá ficou um tempo. E nesse clube me perguntaram a ele se gostaria
de se juntar a uma banda. Eles sabiam que o jovem James tinha participado da
banda naval do orfanato.
Ele aceitou a sugestão!
Conseguiu uma bateria barata, um kit de bateria em tamanho real e começou a
tocar coisas como “The Shadows” e, a partir daí se desenvolveu aos poucos. Ele
tocou em algumas bandas, dessas amadoras, locais, mas sentia que não era bom o
suficiente. Nunca foi treinado em música, nunca aprendeu a ler músicas. Suas
habilidades se desenvolveram apenas estudando outros músicos. Ia para casa e
trabalhava pouco a pouco no que ouvia.
Quando James tinha cerca de dezesseis
anos estava tocando em uma banda em um show, em um cinema em Devonport,
Plymouth. Eles estavam dando suporte aos shows do The Who. Naquela noite viu
Roger Daltrey vestindo uma jaqueta trespassada com listras e pensou que era o
mundo do rock em que queria estar! A banda em que estava foi até tocar na
Alemanha, na cidade de Hamburgo, naquele circuito famoso logo depois daqueles
shows dos Beatles. Era incrível o que estava vivendo! A banda se chamava “The
Crusaders”!
Ele estava mais seguro na
bateria, estava tocando melhor, até porque estava tocando regularmente em
pequenos clubes sociais e juvenis e começou, contudo, a atrair outros músicos. Quando
ele tinha dezessete anos, Pete Spearing, um jovem guitarrista, se aproximou
dele. A essa altura James estava se aventurando nos vocais e o fazia
simultaneamente com a bateria. Pete foi direto e perguntou se ele queria tocar
em uma banda com “três peças”: bateria, baixo e guitarra.
Terry Parker, baixista, também
muito jovem à época morava em um lugar chamado Southway e já estava na banda
que Pete estava formando. Assim foi formado o embrião do STONEHOUSE, banda que
falaremos hoje. A concepção da banda era de Pete Spearing, era todo o seu
material e ele era um compositor tão prolífico, tão competente. O Stonehouse
era a visão de Pete! Na banda já estaria Ian Snow, baterista de formação.
Antes do Stonehouse Pete
Spearing fez uma turnê pela Alemanha, como James, por volta de 1966 ou 1967 e
gravou alguns singles para a Deutsche Vogue e até apareceu na TV de Bremen. Ele
já tinha alguma experiência quando antes de conceber o Stonehouse. Quando ele
retornou ao Reino Unido lançou outros singles na Decca e Columbia. Ganhou
alguma repercussão, mas não teve êxito e tão pouco longevidade nesses projetos,
daí surgiu a possibilidade de lançar o Stonehouse.
Com a banda formada a ideia
era não soar como ninguém, como banda nenhuma, queriam ser originais e, ao
ouvir seu primeiro e único álbum, lançado em 1971, chamado “Stonehouse Creek”,
torna-se perceptível isso, mas claro, aqueles jovens músicos tinham as suas
influências e, de alguma forma, elas foram impressas no formato sonoro do
Stonehouse. O próprio James, que, quando entrou para banda, assumiria os vocais,
idolatrava o Free. O seu vocal era de alcance muito alto e potente e isso vem
de Paul Rodgers que faria sucesso também no Bad Company. O jovem Jimmy viu
várias vezes o Free em Plymouth, em um clube que se chamava “Van Dike”.
A ideia do nome “Stonehouse”
veio da área que Pete morava. A ideia veio dele. Há um lugar chamado
“Stonehouse Creek” (nome dado ao álbum), onde mantém barcos embaixo da ponte de
Ha’Penny, onde nos séculos XVII e XVII, as costumavam usar, a ponte para
atravessar. É uma ponte grande tendo, atualmente, duas faixas para tráfego. Abaixo
há o rio Stonehouse (Stonehouse Creek) onde as pessoas, até hoje, usam
para pescar e descansar nas bordas da água, fazendo piqueniques ou coisas do
tipo.
A cena local era pequena, não
existiam tantas bandas e o Stonehouse meio que reinava absoluta fazendo muitos
shows, em clubes, sozinhos, sem outras bandas se apresentando. O Stonehouse
chegou a fazer shows fora de Devonport e Plymouth, indo para Londres! Tocaram
em vários lugares, como The Speakeasy, por exemplo. Se saíram muito bem. O
público foi bem receptivo. Cerca vez tocaram em Glastonbury e lá se saíram bem
também. O Stonehouse, em virtude das suas apresentações, foi eleito uma das dez
melhores bandas da Inglaterra!
O processo de gravação do debut do Stonehouse, o “Stonehouse Creek”, aconteceu quando Pete arranjou uma conversa com um representante da gravadora RCA, depois de um show em que esse mesmo empresário assistiu e ficou maravilhado com a apresentação da banda. Gostou da banda e queria assinar um contrato. Isso em 1971.
“Stonehouse Creek” foi
produzido por Mickey Clarke que produziu álbuns da banda Room e Raw Material. O
engenheiro de som do álbum foi Barry Ainsworth que trabalhou com Jack Bruce,
Beggars Opera, Stud e Continuum, Hawkwind, Deep Purple, The Strawbs, May Blitz
e Sam Gopal. Keith MacMillan, também conhecido como “Keef” desenhou a capa do
álbum, que é uma superfície de pedra gravada com o nome da banda, o título do
álbum e o ano de seu lançamento, 1971. Keef trabalhou em inúmeras capas de
bandas de pós-psych, principalmente na gravadora Vertigo e RCA, incluindo
Hannibal, cuja resenha pode ser lida aqui, Warhorse, Affinity, Colosseum (“Valentine Suite”), Fresh Maggots,
Tonton Macoute, Spring e Cressida.
O único trabalho do Stonehouse foi concebido nos estúdios Command, inicialmente lá pelo ano de 1970 sendo concluído em 1971, ano de seu lançamento. Foi dado à banda apenas, pasmem, um dia para gravarem o seu álbum e isso se deu devido a economia que a gravadora, afinal era uma banda sem projeção então não seria, na percepção da gravadora, arriscar, ser mais conservadores quanto ao investimento do Stonerhouse. Mas a banda não ficou um dia inteiro no estúdio, concluindo a gravação em doze horas!
Eles correram contra o tempo!
E trabalho, para terem, caros leitores, uma noção, de guitarra de Pete foi
feito, ao vivo, em estúdio, em apenas uma vez, sem repetição! Então bons amigos
leitores, não cobrem sofisticação e qualidade do som da banda diante desse
cenário, mas, convenhamos, esse foi o “charme” do álbum. Outro ponto curioso no
processo de gravação foi a adição do piano em algumas faixas que não foi
inserido pela banda, mas foi após a gravação do álbum, sem o consentimento da
banda. E eles nunca souberam quem foi o músico que tocou o piano nas faixas e
tão pouco foi creditado nos encartes do álbum do Stonehouse.
“Stonehouse Creek” é um
petardo, um volumoso e potente hard rock que traz nuances de um blues rock
vigoroso e eletrificado, distorcido, com riffs potentes de guitarra, uma
“cozinha” pesada, cheia de groove e bem entrosada, com um vocal poderoso, alto
que poderia fazer inveja a muitos vocalistas de heavy metal dos anos 1980! A
propósito é perceptível, em grande parte das faixas, um heavy metal de
vanguarda, um proto metal de tirar o fôlego!
A faixa inaugural, a faixa
título “Stonehouse Creek” é um ponto fora da curva, algo totalmente diferente
do hard rock poderoso praticado pela banda ao longo de seu único trabalho. É
uma faixa curta, leve, quase que uma vibe meio folk rock, com um vocal limpo e
melódico. Mas com “Hobo” a vibração do blues rock se revela. Essa faixa
estabelece as habilidades rígidas e pesadas da banda. A bateria meio funky de
Ian, os “licks” ágeis de blues de Peter, as linhas pulsantes de baixo de Terry
e os versáteis vocais de amplo alcance de Jim faz da música complexa, pesada,
austera.
A segunda faixa é um
verdadeiro destaque do álbum, "Cheater", com a performance apaixonada
e taciturna de Jim combinando com o riff de blues carregado de desgraça de Pete,
entregando o melhor do blues e do hard em uma combinação explosiva e perigosa,
deliciosamente perigosa. “Nightmare” abre com a linha de baixo peculiar e com
pitadas de prog rock de Terry, com alguns “enfeites” do piano, primeira faixa
do álbum em que o instrumento aparece. Mas por mais que não tenha sido inserido
pela banda é bem tocado, sem exageros e combina muito bem com a vibração do
hard rock!
“Crazy White Folk” te remete,
sobretudo na sua introdução, ao Cream. Os riffs lembram Clapton, repletos de um
blues rock envenenado, poderoso e lisérgico. Os vocais de Jimmy são muito altos,
potentes. Logo são ouvidos solos dançantes de guitarra que te leva aos anos
1960 com muito ácido e LSD para estimular a viagem. “Down Down” começa animada,
com riffs de guitarra mais solares, algo radiofônico, talvez, mas pesado e
cheio de ritmo e balanço. É inegável a pessoa não conseguir dançar com essa
faixa.
“Ain't No Game” traz de volta
o hard rock puro e genuíno, mas um pouco mais cadenciado. Sons pesados, bateria
pegando pesado, marcada e pesada, baixo pulsante, vocal mais melódico e limpo.
Uma das melhores faixas do álbum. “Don't Push Me” continua no hard rock e o
riff inicial talvez seja o mais sujo e pesado do álbum. Jimmy volta com seu
vocal potente, alto, rasgado, quase que gritado. A bateria segue a mesma
proposta de agressividade. Tudo é distorcido nessa faixa, é agressivo, é
pesado.
“Topaz” é uma faixa
instrumental compacta e cheia de groove. Nela há uma incrível liberdade
criativa dos músicos, me faz lembrar até mesmo uma jam session, com
instrumentos muito bem executados. “Four Letter Word” traz novamente aquelas
lembranças do rock psicodélico, porém mais pesados, aquela lisergia, ácida.
Vocal de Jimmy mais contidos, em alguns momentos. E fecha, novamente, com a
faixa título, “Stonehouse Creek” que basicamente é uma continuação da primeira
música, mais lenta, uma balada contemplativa e viajante.
O Stonehouse não teve nenhuma música executada nas rádios, não teve nenhum single definido entre a gravadora e a banda para divulgar o “Stonehouse Creek”. Tornou-se, contudo, inevitável a separação da banda ainda em 1971, no mesmo ano de lançamento de seu único trabalho de estúdio. O motivo ou os motivos nunca pairaram em brigas, guerras de egos ou coisa que o valha.
A banda se dava muito bem, mas as pressões, sobretudo para Pete, que era a mente pensante por trás da banda, foram maiores, principalmente porque ele havia se casado logo quando o álbum foi lançado e tinha nascido a sua filha, então seria muito difícil para ele seguir em turnê tendo uma filha pequena e esposa sozinhas. E ainda tinha o retorno difícil de como a banda estava seguindo, sem sucesso, sem vendas de álbuns etc.
Antes de finalizar as suas
atividades o Stonehouse saiu em uma pequena turnê para promover o álbum e tocou
para um público de cerca de 200 a 300 pessoas. A banda nunca recebeu um centavo
da gravadora, nunca promoveram a banda, a ponto dos caras das bandas terem que
sair, por conta própria, e buscar os seus próprios promotores de shows. Mas não
conseguiam sempre encontrar uma pessoa que os promovesse.
Smith e Snow se juntariam a
uma banda chamada Asgærd, uma combinação folk que lançou o álbum “In The Realm
of Asgærd”, em 1972. Pete também esteve brevemente envolvido com essa banda. “Stonerhouse
Creek” foi relançado pela primeira vez, não oficialmente, em 1993 pelo selo
Angel Darling. Desde 2007 o álbum foi relançado três vezes pelo selo Universum
Records, um selo alemão.
A banda:
Pete Spearing na guitarra e
letrista da banda
Ian Snow na bateria
Terry Parker no baixo
James (Jimmy) Smith nos vocais
Faixas:
1 - Stonehouse Creek
2 - Hobo
3 - Cheater
4 - Nightmare
5 - Crazy White Folk
6 - Down, Down
7 - Ain't No Game
8 - Don't Push Me
9 - Topaz
10 - Four Letter Word
11- Stonehouse Creek (reprise)
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