sábado, 29 de agosto de 2020

L'Impero delle Ombre - L'Impero delle Ombre (2004)


Uma coisa pode puxar a outra e de forma contínua e frenética, dependendo do que se propõe a buscar ou enveredar as suas intenções. Sou um grande apreciador da banda inglesa Black Widow, formada na cidade de Leicester, na Inglaterra no final da década de 1960, inclusive fiz um texto interessante sobre a mesma sobre o seu show de 1970 que pode ser lido aqui: Black Widow - Demons of The Night Gather To See Black Widow (1970). E, como tenho um ávido interesse pelo contexto histórico das bandas que gosto decidi procurar mais e mais sobre a banda e confesso que sou compulsivo pelas histórias das bandas e que tem uma relação íntima com as músicas que compõe. E quando fazia meus garimpos avistei um link na grande rede que falava de uma banda italiana que tinha, entre outras, uma influência do grande Black Widow. Resolvi, pensando que fosse algo relacionado a banda inglesa, conferir e percebi, logo de cara, não se tratar da mesma, mas sim de uma banda chamada L'Impero delle Ombre, formada em meados dos anos 1990, mais precisamente em 1995, na região de Gallipoli, na famosa cidade de Apúlia, conhecida por produzir grandes vinhos. Já me interessei de forma imediata, principalmente com a capa do seu primeiro álbum lançado em 2004, autointitulado. Uma linda arte gráfica que, como um headbanger convicto que sempre fui me impactou de cara. Não é à toa que a capa é a porta de entrada para os álbuns, embora não seja uma unanimidade.


Realmente o L'Impero delle Ombre tem uma relação muito forte, sobretudo na questão sonora e estética, com o Black Widow, pois, quando a banda foi formada seu palco era repleto de cruzes e apelo estético voltado para os filmes de terror, com apresentações teatrais e rituais, como o início, nos primórdios dos anos 1970, pela banda inglesa. Mas não se engane que as influências da banda está restrito ao Black Widow, o que, se fosse, seria o máximo, mas traz também referências a bandas como Goblin, Jacula, Black Sabbath, Angel Witch, Paul Chain Violet Theatre e Death SS. Seu primeiro álbum é muito eclético e flerta com estilos que vai do heavy rock, heavy metal, hard rock oriundo dos anos 1970, a estilos um pouco mais “recentes”, da década de 1980, como doom metal, metal progressivo e algumas pitadas sombrias de rock experimental mesclado ao psicodélico com occult rock que me trouxe à tona bandas como Coven e Comus.


Mas antes de falar do álbum “L’Impero delle Ombre”, falemos um pouco sobre as origens “ocultas” da banda. L’Impero delle Ombre foi um projeto concebido por Giovanni “John Goldfinch” Cardellino e era, na sua gênese, uma banda cover que basicamente tocava músicas de suas maiores influências como Black Widow, Death SS, Angel Witch e Black Sabbath, além de algumas bandas clássicas italianas do gênero. Esta formação não vingou, não teve uma sequência de sucesso, afinal era uma banda cover e, como grande músico que é, Giovanni Cardellino tinha a necessidade de fazer músicas autorais e mostrar ao mundo a sua percepção de música. Então convoca o seu irmão, o guitarrista Andrea Cardellino que, na primeira formação do L’Impero dele Ombre, era muito jovem para tocar, se apresentar em pubs e clubes de música. Esse hiato da banda fora decisivo para Giovanni colocar em prática o seu trabalho autoral e colocar o L’Impero delle Ombre em um patamar mais importante para a história da cena rock da Itália que estava em voga na década de 1990, principalmente entre a cena progressiva, mas que acabava por “puxar” outros estilos. Os irmãos Giovanni, no vocal e percussão e Andrea na guitarra e seguido pelos os outros irmãos Dario e Enrico Caroli, que tocaram no Sabotage, e respectivamente na bateria e no baixo fecharia a formação da banda que gravaria o debut “L’Impero dele Ombre” ou “Empire of Shadows”, em inglês pelo emblemático selo “Black Widow Records”, em 2004, dez anos depois de sua formação.

L'Impero delle Ombre

Um exemplo de persistência, mesclado a dificuldades de que essas bandas, com essa proposta sonora e estética sofrem, alheio ao perfeccionismo de Giovanni e seus colegas tiveram ao longo desses anos todos, com a participação de Bud Ancillotti, no vocal da música “Il Giardino dei Morti” e o tecladista Sandro Massa. O álbum foi lançado em 2003 e teve alguma repercussão entre os críticos especializados e o público, principalmente aqueles mais atraídos pelo estilo dark rock e doom metal, com texturas de hard rock setentista e umas pegadas experimentais e progressivas da banda e que estava, de forma mesclada, mas bem conectada, as peças muito bem montadas retratada na música deste debut da banda, afinal já eram músicos maduros e experientes e gozavam de muito talento. Mas a banda decidiu intitular o seu som como “Rock de Cemitério”, muito impulsionado também pelo aspecto estético de seus músicos, da produção de palco e as suas apresentações teatrais. Diante do resultado surpreendentemente positivo a gravadora sugere que a banda grave o seu segundo álbum, surgindo, em 2011, o “I Compagni di Baal”, baseados em uma série de televisão francesa da década de 1960 divididas entre sete episódios de 50 minutos cada, em preto e branco, feitos por Pierre Prévert, sendo transmitidos de 29 de julho à 9 de setembro de 1968.  Era feito com poucos recursos e diria ingenuidade, mas com bom gosto e mensagens extremamente atemporais, pois vinha com muita crítica social e comportamental. Muito dessa história e do demônio “Baal” foi responsável pela concepção sonora, estética e artística da banda no seu início, mesmo sendo concretizada somente com o lançamento do segundo trabalho em 2011, com uma obra conceitual sobre a série. Após vários shows para divulgar o seu primeiro álbum, os membros do L’Impero dele Ombre se envolveram em outros projetos como Witchfield e Homo Herectus em 2008, mas nada se revelou tão sublime como o trabalho do “l’Impero dele Ombre”.

Les Compagnons de Baal (1968)

O álbum começa com “Il canto del Cigno” que, com uma camada soturna e ameaçadora de um órgão e piano abre as portas do inferno para a excelente “Condanna” que, cantado em italiano, que começa introspectivo, praticamente ao som do vocal abafado e melancólico, mas que irrompe com um riff tipicamente sujo e arrastado, típico do doom metal, com uma proposta mais retrô, dos anos 1970, mas que logo fica veloz e avassalador com um heavy metal que lembra Mercyful Fate e Angel Witch e assim vai cadenciando entre hard e heavy lindamente.

L'Impero delle Ombre - "Il Canto del Cigno"


L'Impero delle Ombre - "Condanna"

“Rituale” chega com o vocal dissonante e um riff de guitarra pesado, com um trabalho poderoso da “cozinha” instrumental, com baixo agressivo e pulsante e bateria marcada, com uma camada sombria e perigosa de teclado.

L'Impero delle Ombre - "Rituale"

“Tormento ed Estasi (Di anime inquiete attratte dal nero)” é um exemplo primoroso de um dark progressive, com passagens generosas de metal e hard rock, que lembra Goblin e Antonius Rex em seus novos tempos. O solo de guitarra que inaugura a música te faz viajar e entrega peso a faixa, eficiente e direto, mas trazendo personalidade a essa faixa com destaque instrumental, uma das melhores do álbum.

L'Impero delle Ombre - "Tormento ed Estasi (Di anime inquiete attratte dal nero)"

“Nel Giardino (Intro)” tem um curto momento falado, ao estilo Jacula, tenso e ameaçador que entrega o peso e a agressividade a “Il Giardino dei Morti” com riffs calcados no heavy rock, de bandas clássicas do heavy metal britânico com destaque também para o vocal tenebroso, limpo de dom alcance e um órgão que confere a faixa um clima sombrio.

L'Impero delle Ombre - "Nel Giardino (intro) e Il Giardino dei Morti"

E eis que surge a obra-prima “Ghost”! Um som abafado, com alguns discretos dedilhados de guitarra, explode em um riff ao estilo Black Sabbath alto, imperioso, pesado com a bateria igualmente pesada e marcada, um típico metal progressivo, com a pegada “dark” já tão característica do álbum. Não podemos negligenciar os solos de guitarra sempre limpos e altivos.

L'Impero delle Ombre - "Ghost"

E fecha com “Corpus, Animae et Spiritus” e o órgão volta a toda prova, remetendo bandas como Jacula e Black Widow, uma ode ao dark progressive, uma reverência ao passado com uma proposta contemporânea.

 
L'Impero delle Ombre - "Corpus, Animae et Spiritus"

O frescor dos novos tempos ganha luz com o L’Impero delle Ombre, com o reflexo da escuridão. Uma sonoridade funesta, com sinos, cantos, teclados, define bem essa banda que definitivamente veio para ficar e figurar como o novo clássico obscuro da Itália, trazendo a tona, em uma espécie de reverência e homenagem, as grandes bandas pioneiras do estilo, mas entregando os novos ares da contemporaneidade.



A banda:

Giovanni "John Goldfinch" Goldfinch no vocal e percussão
Andrea Cardellino na guitarra
Dario Caroli na bateria
Enrico Caroli no baixo

Com:

Sandro Massa nos teclados
Bud Ancillotti, no vocal da música “Il Giardino dei Morti”

Faixas:

1 - Il Canto del Cigno
2 - Condanna
3 - Rituale
4 - Tormento ed Estasi (Di Anime Inquiete Attratte dal Nero)
5 - Nel Giardino (Intro)
6 - Il Giardino dei Morti
7 - Ghost
8 - Corpus, Animae et Spiritus


















domingo, 23 de agosto de 2020

Tarkus - Tarkus (1972)


Fim do ano de 1971 e início de 1972. O peruano Walo Carrillo estava preso, em cana. O cara era baterista de uma banda do Peru chamada Telegraph Avenue, que fundia o rock psicodélico com ritmos latinos. 

Era uma banda relativamente conhecida no seu país e na época estava fazendo alguns shows pelo Peru. Os colegas de banda de Walo, preocupados que o mesmo não retornasse à banda após a sua saída da prisão, decidiu colocar outro baterista no seu lugar, sem consulta-lo. 

O vocalista e guitarrista, o também peruano Alex Natanson, puto com essa decisão, não concordou com o substituto, decidiu sair da banda e quando Walo chegou para reassumir seu posto de baterista e viu outro cara no seu lugar decidiu sair da banda. 

Decidiu também empreender outro projeto, isso já em 1972. Ele conheceu um hippie argentino de nome Guillermo Van Lacke no Plaza San Martín e o convidou para fazer parte desse tal projeto. Esse projeto viria a ser chamado de “TARKUS”, considerada uma das primeiras bandas de hard rock do Peru e da América Latina.

Tarkus

Não se enganem amigos leitores, o nome "Tarkus" não têm rigorosamente nada a ver com o icônico álbum do Emerson, Lake & Palmer, a começar pelo aspecto sonoro. O Tarkus era uma banda que tinha no hard rock o seu mote, talvez, em alguns momentos, escassos, tinha lampejos de rock progressivo.

Mas o nome “Tarkus” foi em homenagem a um ser mitológico que vive no fundo da alma de todos e tem a função de proteger a moralidade do indivíduo contra o mundo externo. Interessante, não? O power trio começou a fazer muito sucesso nos shows, a banda tinha muita força e energia no palco, mas faltava um elemento melódico. 

Então o argentino da banda, Van Lacke, voltou para o seu país para se encontrar com um amigo, também argentino, chamado Dario Ginella, um guitarrista competente e ávido fã do Led Zeppelin e que também foi, como Van Lacke, um prolífico compositor. 

Certamente os argentinos, apesar de a banda ser baseada no Peru, tiveram grande influência na estrutura sonora do Tarkus, tanto que, no seu primeiro álbum, lançado em 1972, a banda tinha uma forte influência de bandas como Black Sabbath, Deep Purple e, claro, Led Zeppelin. 


A propósito, esse seminal clássico obscuro será alvo do meu texto de hoje. Agora com quatro integrantes a banda conseguiu fechar contrato com a MAG, uma gravadora peruana para gravar o seu álbum em 1972. 

“Tarkus”, nome do seu debut, foi gravado entre 3 de abril e 16 de maio de 1972. O estúdio deu a banda total liberdade para gravar as suas músicas da maneira que quisessem. A gravação, sob a direção técnica de Carlos Guerrero, foi feita com esmero e dedicação, mas apenas 50 cópias foram distribuídas no Peru, pareciam prensagens de teste com o rótulo “MAG padrão”, para serem distribuídas como material promocional e algumas cópias foram vendidas em algumas lojas especializadas naquele país. 

E parece que só ficou nisso em terras peruanas. A gravadora não decidiu lançar no Peru com a alegação da baixa demanda, mas o álbum se tornou muito procurado em outros cantos da América Latina e, reza a lenda de que teria vendido muito nos Estados Unidos. O encarte, contendo as letras de todas as músicas, nunca foi incluído nas cópias promocionais.


Com o seu álbum finalmente lançado faltava a estreia oficial. E o local escolhido para a festa, a celebração, foi o cinema El Pacifico, mas pouco antes desse momento Darío decidiu sair da banda. Nem tudo foi festa, mais um problema surgiu. 

Mas apesar dos problemas, o primeiro álbum do Tarkus é simplesmente um petardo sonoro, agressivo, um volumoso álbum de hard rock. Um hard rock competente, consistente e muito avançado para a sua época. Percebem-se, em alguns momentos, pitadas de um rock psych, um acid rock bem pesado e lisérgico. 


As letras, cantadas em espanhol, tem guitarras pesadas, com solos elaborados e riffs pegajosos e igualmente pesados, bateria nervosa, baixo pulsante e um vocal agressivo e de grande alcance. Tudo o que um bom e genuíno hard rock pode oferecer! 

O álbum já começa avassalador com a excelente faixa “El Pirata” com um furacão de riffs e solos crus e diretos de guitarra, uma bateria marcada e batida impiedosamente com um baixo pulsante. Uma música que parece que foi produzida em tempos atuais, lembrando muito que essas novas bandas de stoner rock fazem hoje. “El Pirata” é extremamente atemporal, soa vivaz e fresco.

"El Pirata" live at Jammin (2007)

“Martha Ya Está” começa sombria, arrastada, lembrando algumas bandas de occult rock, com uma atmosfera densa, com dedilhado de guitarras que dá todo o tempero necessário para esse clima que logo se confirma com o vocal quase que murmurado. Mas logo fica mais intenso, de forma gradativa, com riffs de guitarra mais pesado e volta para o clima mais sombrio. Uma excelente música para os apaixonados pelo occult rock.

"Martha Ya Esta" live at Jammin (2007)

“Cambiemos Ya” segue, mais ou menos, com a mesma proposta da faixa anterior, o violão ditando o clima de psicodelia, com o vocal em tom dramático, seguindo uma linha mais introspectiva, mas que logo fica mais gritado seguido por riffs de guitarra mais pesado e assim, também vai alternando entre a leveza e o peso.

"Cambiemos Ya"

“Tempestad” traz a tona de novo o lado mais pesado do álbum, um som mais agressivo e imponente, mas que, ao mesmo tempo soa um pouco arrastado, lembrando um pouco rock de garagem, um som mais despretensioso com riffs lembrando Black Sabbath, sujo e pesado.

 "Tempestad" (Live 2008)

“Tema para Lilus” tem uma introdução bem Sabbathica também, um som que lembra muito o doom metal que viria a se tornar um pouco conhecido nos anos 1980. Uma faixa suja, perigosa, ameaçadora, pesada, arrastada, os riffs de guitarra são excelentes e a “cozinha” mostra muita sinergia, bateria pesada e cheia de viradas com um baixo que pulsa de forma avassaladora. Uma das melhores do álbum.

"Tema para Lilus", live at Jammin (2007)

“Tranquila Reflexión” como contraponto a faixa anterior começa suave, com delicados dedilhados de guitarra e uma bateria meio jazzy e um vocal sussurrado, melódico segue o clima da faixa, uma poderosa balada que, conforme segue seu curso, vai encorpando, ficando mais viva, com solos de guitarra e baterias com fortes tendências ao jazz rock. Uma faixa bem elaborada e complexa.

"Tranquila Reflexíon", live at Jammin (2007)

“Río Tonto” entrega mais hard rock, um senhor petardo que tem uma importante presença instrumental, todos mandam muito bem nessa faixa. Bateria quebra tudo, guitarra com solos de tirar o fôlego, baixo potente e vocal gritado faz dessa música uma ode ao peso, um verdadeiro proto metal.

"Rio Tonto"

E fecha com “Tiempo en el Sol” com dedilhados de violão que lembra até um folk rock e que logo surge um vocal ao estilo psicodélico, em um ritmo viajante e introspectivo, fugindo totalmente da proposta pesada de todo o trabalho, mas que não é de tão ruim.

"Tiempo en el Sol"

Após o lançamento do álbum e da súbita e inesperada saída do guitarrista Dario Gianella antes da sua apresentação oficial, para divulgar seu até então novo trabalho, o Tarkus se dissolveria cerca de 7 meses depois, mas ainda deu tempo da banda se apresentar em alguns lugares no Peru, sendo que o mais famoso deles em La Plaza de Cho.

No final de 1972 os membros da banda decidiram seguir seus próprios caminhos. Alex Natanson e Walo Carillo retornaram com a Telegraph Avenue gravando o segundo álbum da banda em 1975, Guillermo Van Locke voltou para a Argentina para seguir a carreira de produtor musical de sucesso e Dario Gianella viajou para Miami, na Flórida, para lá se estabelecer, onde trabalha em estúdio. 

Depois de décadas, mais precisamente em 2007, o Tarkus se reuniu novamente e o cargo de Dario Gianella foi ocupado por Christian Van Lacke, filho de Guillermo, e Alex Natanson ocupou a posição de baixista. 

Fizeram alguns shows e se apresentou em canais de televisão A banda começou os ensaios para gravar um novo álbum de estúdio, até porque eles tinham algumas letras antigas e que ocuparia um segundo álbum que não foi lançado. 

Mas Alex deixou o país para continuar fazendo música, e largou o projeto de gravar com o Tarkus. Walo e Christian decidiram continuar e incluir parte desse material no álbum de estreia de seu novo projeto, uma banda chamada “Tlön” e, com esta banda lançariam três álbuns na Alemanha. Mas em 2008, com o selo de Alex Natanson, o "Natanson Music Productions", finalmente o Tarkus lançaria o seu segundo álbum chamado simplesmente de “Tarkus 2”. 

"Tarkus 2" (2008)

“Tarkus”, o debut, teve algumas reedições, sendo relançado vinte anos depois, em 1992 em LP pela "Background", depois em 1997 pela "Lazarus Audio Products", também em LP, depois em 2006, no formato CD, pela peruana "Repsychled", depois em 2007 pela "Get Back", da Itália, no formato CD e LP e a mais recente, em 2014, pela "Vinilissimo", da Espanha no formato LP. 

Um clássico obscuro da música pesada latina que mostra que o rock não é e nem pode ser restrito a países como Estados Unidos ou Inglaterra, por exemplo. Um pioneiro da música pesada em terras peruanas e que merece reverências pelo feito, pelo protagonismo.




A banda:

Alex Nathanson no vocal
Dario Gianella na guitarra
Guillermo Van Lacke no baixo
Walo Carrillo na bateria

Faixas:

1 - El Pirata
2 - Martha Ya Esta
3 - Cambiemos Ya
4 - Tempestad
5 - Tema Para Lilus
6 - Tranquila Perflexion
7 - Rio Tonto
8 - Tiempo En El Sol


"Tarkus" (1972)
























domingo, 16 de agosto de 2020

Electric Food - Electric Food (1970)


A transição das décadas de 1960 e 1970 foi agitada para os músicos da seminal banda alemã Lucifer’s Friend. Muitos foram os álbuns lançados entre, principalmente entre os anos de 1970 e 1972, com o recém-surgido Lucifer’s Friend e os projetos da maioria de seus músicos que, de alguma forma, pelo menos em sua maioria, foram predecessores a essa importante banda de hard rock germânico. E falaremos de uma muito importante para a fundação da música pesada, do hard rock alemão e que não é lá muito reconhecida pelo feito: o Electric Food. 

Mas antes de falar do Electric Food torna-se mais do que pertinente falar do passado desses caras que remontam o longínquo anos 1960, mais precisamente o ano de 1963 quando uma banda, de nome “The German Bonds”, tinha dois músicos que viriam a se tornar membros essenciais do Lucifer’s Friend: o guitarrista Peter Hesslein e o tecladista Peter Hecht, além do baixista Dieter Horns.


The German Bonds gozou de alguma popularidade e a construiu no “Star Club” da cidade de Hamburgo e tinha nas suas primeiras formações, além de Hecht nos teclados e Dieter Horns, no baixo, Rainer Degner, na guitarra e vocal e Peet Becker na bateria. 

A banda fazia parte da cena beat alemã, sendo uma das primeiras a aquecer a cena local, tocando covers de bandas conhecidas também dessa vertente, de um som mais pop e dançante, como Hollies e Pretty Things, por exemplo. A banda era boa ao vivo, mas deixava a desejar nos estúdios, talvez pelo fato da pouca idade e inexperiência dos músicos ou pouca estrutura que a gravadora dava para os caras produzirem. 

O fato é que a banda durou por algum tempo, o suficiente para gravar alguns razoáveis sucessos como “Sonata Facile” que pode ser considerado como uma das primeiras manifestações do progressivo sinfônico na Alemanha e “We Are Out of Side”.

The German Bonds - "We Are Out of Side", Live (1966)

Mas a origem do Electric Food começa a ser moldada quando o guitarrista Peter Hesslein entra para o The German Bonds, isso em 1968. Com a chegada de Hesslein decidem mudar o nome, bem inusitado e engraçado, diga-se de passagem, para Electric Food. 

Os anos seguintes não foram lá os melhores. Até 1970 não tinha shows para fazer e, para ganhar alguma grana, precisavam fazer outras atividades remuneradas até mesmo para sustentar o que realmente eles amavam fazer: tocar, serem músicos.

Electric Food

A luz no fim do túnel apareceu, a situação começou a melhorar um pouco em 1970 quando assinaram contrato com um pequeno selo chamado “Europa” que tinha a intenção de investir em bandas novas com uma sonoridade mais “arrojada” e que chamava a intenção da juventude alemã e que fossem desconhecidas do grande público, afinal, já que não tinha um grande orçamento, parecia ser interessante investir em bandas novas que não são caras. 

Como Peter Hesslein, Dieter Horns e Peter Hecht já tinham um bom entrosamento e amizade, desde a época do falecido The German Bonds, então entraram no estúdio para conceber o primeiro trabalho do Electric Food, o homônimo, de 1970.

"Electric Food" (1970)

Nesse período foi convidado para a empreitada outro importante personagem na história do Lucifer’s Friend, o baterista Joachim "Addi" Rietenbach e o vocalista, que no debut do Electric Food não fora creditado, chamado George Monro, um pseudônimo para George Mavros.

George Mavros

Com essa formação o primeiro álbum do Electric Food ganhou a luz do dia. Mas esse material lançado não teria tanta divulgação assim e ficou marcado mesmo como um trabalho de estúdio, sem realização de turnês ou algo que valha, mas aqui ele ganha relevância sendo o alvo de nossa discussão. O álbum conta com a predominância de um potente e vigoroso hard rock, puro e genuíno e pode ser considerado como um dos primeiros do estilo lançado na Alemanha, sem sombra de dúvida. 

O Lucifer’s Friend, que também pode ser considerado como um dos precursores da música pesada germânica, definitivamente foi importante em todos os sentidos para o rock alemão e até quando esta não existia, já deixava na história o seu nome, antes de tê-lo figurado na música pesada alemã. Em alguns textos espalhados pela grande rede, o Electric Food tinha influência de bandas como Led Zeppelin, Uriah Heep, Deep Purple entre outras que, na época, fazia muito sucesso, no início da década de 1970, mas convenhamos que, dada a sua importância para o rico rock n’ roll alemão, o Electric Food, embora fosse o “primo pobre” da cena, pode e deve ser considerada como um dos precursores do estilo. 

Dentre as faixas gravadas no primeiro álbum tem alguns covers de bandas famosas à época, como “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin e “House of The Rising Sun”, da banda The Animals. Afinal era uma estratégia para divulgar e impulsionar o nome dos músicos e também da banda, afinal, tendo essas músicas famosas de bandas igualmente conhecidas, a chance era grande. Cabe aqui, antes de dissecar o álbum do Electric Food, falar de mais um momento importante na história do Electric Food que, nada mais é do que predecessor do Lucifer’s Friend. 

Falo da banda Asterix e do seminal vocalista britânico John Lawton. “Asterix” era outro projeto formado em 1970 e tinha todos os membros do Electric Food, no seu primeiro álbum, além dos vocalistas Toni Cavanaugh (Tony Cavanna) e o mais famoso: John Lawton.

John Lawton

Lawton é de uma cidade chamada Halifax, no Reino Unido, começando lá a sua carreira, na década de 1960, tocando em bandas como The Deans e Stonewall. Decidiu se mudar para Hamburgo, em 1969, depois de uma turnê que fez com o Stonewall por toda a Alemanha. 

Por lá se integrou ao grupo vocal de Hamburgo chamado “The Les Humphries Singers”, entre 1971 até 1976, mas antes fora convidado para ser o vocalista de uma banda chamada Asterix que tinha como músicos a banda Electric Food. Lançaram um álbum em 1970 e Lawton, por questões óbvias, tocou em mais faixas que os outros vocalistas Cavanna e Monro. 

O Asterix é tido como o pré Lucifer’s Friend e há quem diga que já era o lucifer’s Friend e o nome da banda que era “Aserix” não era o nome da banda, mas o nome do álbum. Essa confusão toda para constatar o óbvio: que Electric Food, Asterix e Lucifer’s Friend foram “gerados” do mesmo ventre sonoro.

"Asterix" (1970)

Mas como aqui quem está na crista da onda é o primeiro trabalho da banda Electric Food, vamos às músicas deste excelente trabalho. Abre com a faixa clássica do Led Zeppelin “Whole Lotta Love”. A chama pesada original do Zeppelin está lá. Aquele riff característico de guitarra na introdução, a bateria pesada, um belo vocal melódico e poderoso, mas a versão do Electric Food é mais direta ainda, sem aqueles momentos lisérgicos e psicodélicos que entre os “momentos” pesados na música original gravada pela banda britânica. Ótima versão!

Electric Food - "Whole Lotta Love"

“The Reason Why” traz a memória um som típico norte americano, sulista, soando, em alguns momentos country, mas logo ganha força, ganha corpo e, entre riffs crus e diretos de guitarra e teclados tocados freneticamente em um belo duelo, a música ganha peso, mas que logo volta aquele momento mais lento. Belas alternâncias rítmicas fazem dessa faixa também especial.

Electric Food - "The Reason Why"

“Hey Down” vem com teclados vivazes e cheio de força com a bateria em um estilo meio jazzístico em uma levada bem pesada, com um vocal limpo, alto, de grande alcance e melódico até chegar ao cume do caos sonoro. “Tavern” tem também o destaque dos teclados e da bateria com solos curtos e bem feitos de guitarra.

“Going To See My Mother” é uma faixa bem dançante e solar! Traz um pouco da chama da década de 1950, com um piano bem divertido. Um típico rockabilly bem interessante. Mas o destaque do álbum é um clássico, um cover da banda The Animals chamado “House Of The Rising Sun”. Uma excelente versão com a assinatura do Electric Food: um hard rock poderoso e arrebatador.

Electric Food - "House of the Rising Sun'

“Let's Work Together”, clássico do ex-Beatle George Harrison, é outra faixa dançante, envolvente e animada. O vocal acompanha os teclados em um ritmo cadenciado e interessante, tendo a guitarra dando o “tempero” mais pesado ao conjunto sonoro. “Sule Skerry”, a começa com uma pegada mais blueseira, mas com a marca registrada do hard rock com guitarra “cantando” forte e bateria pegando pesado que logo dá lugar ao vocal bem executado. Uma faixa poderosa, um senhor petardo!

Electric Food - "Sule Skerry"

“Nosferatu” é sem dúvida a mais sombria do álbum! Com uma atmosfera densa e ameaçadora, com gritos de desespero e tudo que tem direito, ela irrompe com uma bateria poderosa feito um trovão, com riffs de guitarra sujos e repetitivos e teclados obscuros faz dessa música uma das melhores deste trabalho do Electric Food.

Electric Food - "Nosferatu"

“Twelve Months And A Day” é mais lisérgica, uma pegada mais beat, com um aspecto mais comercial e radiofônico, é cadenciada com um bom trabalho do vocal e da “cozinha” em uma bela sinergia. “Icerose” tem o destaque dos teclados e de riffs bem satisfatórios de guitarra em mais uma sinergia bem salutar com um belo duelo, onde o trabalho dos instrumentistas, como um todo, diria, tem a sua importância. 

"Twelve Months and a Day"

O álbum fecha com “I'll Try” que traz de volta os momentos mais agressivos do Electric Food neste álbum, com, mais uma vez, a participação intensa dos teclados tocados de forma intensa e visceral com os riffs de guitarra dando peso.

Electric Food - "I'll Try"

O Electric Food, em 1971, lançaria um segundo álbum chamado “Flash”, mas sem muita repercussão, como o primeiro álbum. E nesse mesmo período um novo projeto ganharia vida e se chamaria “The Pink Mice” que consistia na encarnação mais sinfônica desses músicos do Electric Food e Lucifer’s Friend, tendo também influências clássicas com releituras de ícones do estilo como Bach e Beethoven, por exemplo.

The Pink Mice

Lançaram dois álbuns, o primeiro, em 1971, chamado “In Action” e o segundo, em 1972, chamado “In Synthesizer Sound”. The Pink Mice é considerado, junto com bandas do naipe de Triumvirat, que no início de sua história se chamava “The Rat”, um dos pioneiros do progressivo sinfônico na Alemanha.

Em 2004 os dois álbuns foram relançados em CD, em um formato "dois em um". Uma pérola mais do que recomendada da vasta e rica Alemanha sonora. Um verdadeiro “clássico obscuro” perdido dos primórdios da música pesada. Nesse emaranhado de lançamentos e projetos, o mais audacioso e longevo de todos, o próprio Lucifer’s Friend, ganharia vida com o seu primeiro álbum, utilizando de fato, oficialmente, o nome “Lucifer’s Friend”, também em 1970 com o álbum homônimo, mas isso já é outra história...

A banda:

George Monro (George Mavros) nos vocais
Peter Hesslein na guitarra e backing vocals
Peter Hecht nos teclados
Dieter Horns no baixo
Joachim "Addi" Rietenbach na bateria

Faixas:

1 - Whole Lotta Love
2 - The Reason Why
3 - Hey Down
4 - Tavern
5 - Going to See My Mother
6 - House of the Rising Sun
7 - Let's Work Together
8 - Sule Skerry
9 - Nosferatu
10 -Twelve Months and a Day
11 - Icerose
12 - I'll Try



Electric Food - "Electric Food" (1970)