quarta-feira, 8 de maio de 2024

Wolmari - Wolmari (2019)

 

Há quem diga que um projeto de músicos não consiste em uma banda formada. Talvez tal argumento encontre força no fato de alguns “projetos” não ganharem a estrada, sem turnês ou até mesmo uma divulgação de seus trabalhos, limitando-se apenas às paredes frias dos estúdios.

Provavelmente essa discussão não mereça qualquer tipo de debate, mas o que me preocupa, caros leitores, é a consequência que pretensa afirmação pode gerar no que tange às audições, porque, independentemente de qualquer coisa a música precisa ser colocada em um patamar maior de importância.

As temíveis posturas conservadoras que teimam em pairar no rock n’ roll parece agir como uma cegueira nessa questão de bandas “devidamente formadas” ou projetos que reúnem músicos de outras bandas, as vezes com vibes distintas nas vertentes sonoras.

O fato é que a música precisa ser colocada em prioridade, penso, e encarar projetos, que podem trazer algo de audacioso, até mesmo de músicos estabelecidos, podem também oxigenar a cena, o rock. E é aí que as rejeições podem surgir, levando em consideração que temos cenas cada vez mais estagnadas que ouvem ou figurões ou as bandas e álbuns que flertam com o mainstream.

Sou um entusiasta dos projetos, principalmente que envolvam músicos já experientes que fogem do lugar comum ou da zona de conforto de suas bandas, trazendo, nos brindando com algo novo e arrojado para a sua carreira e consequentemente para a cena que, seja ela do heavy metal, do rock progressivo, precisa se perpetuar com o novo.

E eu, em uma das minhas inúmeras incursões pela grande rede, encontrei um álbum que, logo no aspecto visual me chamou a atenção, com a sua arte gráfica e também por ser finlandesa, acredito que isso já é um convite à audição. Falo da banda WOLMARI.

O Wolmari é um projeto de três músicos da Finlândia que tinha suas vocações musicais para o rock progressivo. São músicos estabelecidos e com longa carreira em seu país natal, tocando ou em várias bandas ou com carreiras solos bem construídos. São eles: o vocalista e tecladista Matti Kervinen que tocou em bandas como Kataya, Pax Romana e Sunhillow. O tecladista Pasi Koivu e o baixista Petri “Lemmy” Lindström que tocaram em bandas como Corvus Stone, além de seus próprios trabalhos solos que variam da música pesada e até o eletrônico.

E como todo bom projeto traz também uma grande quantidade de músicos que colaboraram para a construção de seu único álbum, lançado em 2019, chamado “Wolmari”, pelo selo Presence Records da Running Moose Production, que são: Anssi Nykänen (bateria, percussão), Samu Wuori (guitarra elétrica), Timo Rautiainen (vocal), Hannu Leidén (vocal), Esa Kotilainen (acordeão), Sonja Tiiro (saxofone alto), Anu Wuori (backing vocals) e Teijo Tikkanen (teclados).


“Wolmari” é predominantemente construído com forte atitude no rock progressivo tendo nuances bem evidentes de folk rock e cantando em finlandês. Uma música tipicamente da Finlândia: progressiva e com toques bem generosos de paganismo!

O álbum é inaugurado com a faixa “Wolmari I” traz um caráter literalmente de introdução ao álbum e entrega um instrumental melancólico, sombrio, diria, profundamente atmosférico em que todos os três membros do Wolmari tocam apenas o teclado.

"Wolmari I"

Segue com a faixa “Sarastus” que é a mais longa do álbum, com pouco mais de onze minutos e meio e é cantada em finlandês por Timo Rautiainen, bem conhecido na cena do metal melódico finlandês, com backing vocals femininos. A faixa traz um ritmo lento, contemplativo e lembra, em alguns momentos, o Pink Floyd, especialmente na guitarra de Wuori, com uma linda atmosfera melancólica típica do rock progressivo escandinavo. Não podemos negligenciar as nuances um tanto quanto experimentais nessa excelente faixa.

"Sarastus"

“Jään Tähän” (“Eu Fico Aqui”, em português), mais curta, mas não menos excepcional, com um estilo melódico e viajante, com um instrumental “temperado” por uma abordagem mais pesada com a excelente participação do saxofone e do acordeão que traz um caráter mais exótico a faixa.

"Jaan Tahan"

“Syvä Jää” traz uma introdução calcada nos sintetizadores, algo meio sombrio e soturno, com o baixo seguindo o ritmo, logo entra o piano que entrega uma atmosfera oculta, estranha, mas logo vem a bateria, marcada e pesada, e solos igualmente pesados, de guitarra, que muda o “temperamento” da música. É inegável a influência de bandas italianas como Goblin e até mesmo Antonius Rex. Sax, acordeão apenas incrementa a faixa, dando um caráter de diversidade sonora.

"Syva Jaa"

“Syksy” (“Outono, em português) traz uma “virada” na sua sonoridade, com uma pegada mais pesada e até mesmo agressiva com um vocal indulgente, rouco de Hannu Leiden, outra ilustre participação. Uma faixa de espírito forte que definitivamente deve ser apreciado, porque mostra o caráter totalmente diversificado de “Wolmari”.

"Syksy"

“Onkapannu” é um belíssimo instrumental com lindas camadas de sintetizadores, com uma atmosfera quase de catedral. “Jos Annat Aamun Tulla” é uma faixa também cantada por Timo Rautiainen, é uma música mais comercial, mais acessível para ouvintes que não apreciam tanto rock progressivo, que traz um refrão repetido que “gruda” na mente. Se isso é bom ou ruim dependerá de você, caro leitor e ouvinte. Sem contar com o belo solo de sintetizador, fechando com um belo instrumental.

"Onkapannu"

"Jos Annat Aamun Tilla"

E fecha com “Kaivon Silmä” e, mais uma vez, a introdução fica a cargo dos teclados, agora em uma pegada mais sinfônica, mais contemplativa, logo entra o piano, e assim fica, com esse “jogo” de teclas, em uma viagem intimista e, por vezes, sombria.

"Kaivon Silma"

Nada como projetos na música que vise a estimular o lado criativo e ousado dos músicos e por mais que possa parecer algo efêmero é sim o Wolmari uma banda excepcional que flerta maravilhosamente com várias vertentes do rock, que vai do grego Vangelis, a músicas com uma veia mais acessível e até radiofônica, do progressivo ao hard e heavy rock.

E por mais que o Wolmari exponha as suas inspirações para seu único rebento, mostra que tem um caráter próprio, pois traz à tona uma música contemporânea, com um frescor dos novos e bons tempos do rock. Se você, estimado leitor, aprecia prog rock, hard rock, space rock, folk, sintetizadores introspectivos e atmosferas sombrias e profundas, você terá no Wolmari a audição mais de que perfeita e adequada aos seus ouvidos. Um álbum “charmoso” e altamente recomendado.




A banda:

Petri "Lemmy" Lindström no baixo, guitarras

Matti Kervinen nos teclados, vozes, violões

Pasi Koivu nos teclados

 

Com:

Anssi Nykänen na bateria, percussão

Samu Wuori na guitarra

Timo Rautiainen nos vocais

Hannu Leidén nos vocais

Sonja Tiiro no saxofone alto

Anu Wuori nas vozes de apoio

Teijo Tikkanen nos teclados


Faixas:

1 - Wolmari I

2 - Sarastus

3 - Jään Tähän

4 - Syvä Jää

5 - Syksy

6 - Onkapannu