sábado, 8 de abril de 2023

Exit - Exit (1975)

 

O que vem a sua mente quando falamos na Suíça? Os melhores chocolates produzidos no planeta são de lá! Uma grande concentração de bancos internacionais, com as contas mais felpudas e vultuosas também estão lá, algumas de caráter duvidoso, mas isso não vem em questão aqui e agora. Não podemos deixar também, é claro, de enaltecer a limpeza e organização das vias públicas e o caráter de neutralidade em tensões bélicas é de admirar.

Mas óbvio que esses quesitos não são tão importantes para o cerne deste reles e humilde blog, mas a música, o rock n’ roll! Lamentavelmente a cena rock suíça vive às sombras em comparação a prolífica Alemanha, Inglaterra e a Itália progressiva. Infelizmente criamos uma espécie de processo “oligárquico” da música na Europa, concentrando o rock n’ roll a uma quantidade incipiente de países em detrimento de outros centros que produzem sim belas bandas que merecem a nossa audiência.

E na Suíça temos grandes bandas principalmente de hard rock e heavy metal, algumas inclusive que, embora não tenham despontado sob o aspecto comercial, são referências para os estilos e aqui cito algumas, como: Celtic Frost, Coroner, Darkspace, Circus, Krokodil, Krokus, Brainticket, Toad entre outras bandas. Talvez eu não tenha ido tão fundo no mar da obscuridade, mas algumas aqui citadas infelizmente não ganhou a luz, não vingando na destrutiva indústria fonográfica.

E digo ainda: embora a Suíça não seja tão prolífica na cena rock europeia, não podemos negligenciar a altíssima qualidade que as bandas mencionadas tem e a sua relevância para as suas cenas e a inspiração que geraram para o futuro e o presente da música.

Falei de representantes do heavy metal e do hard rock, mas não mencionei o rock progressivo. Será que temos representantes do velho e bom prog rock suíço? Lembro-me que, quando comecei a garimpar algumas bandas suíças em um passado mais ou menos distante, tive dificuldades para encontrar. A primeira banda que conheci da Suíça foi o Krokus e a mescla, sobretudo em seus primórdios nos anos 1970, com o hard rock e progressivo e depois o heavy metal nos anos 1980, fez com que o meu ávido interesse pela música do país crescesse e a partir daí veio a necessidade de descobrir o rock progressivo no país dos relógios.

E por acaso, como na maior parte das situações, descobri uma banda nesses grupos temáticos em redes sociais e, a princípio, desconfiei da qualidade da banda, haja vista que estampava na capa, na arte gráfica um ovo sendo rompido. Um tanto quanto bobo e infantil, mas a incredulidade deu lugar a curiosidade. Decidi ouvir e como eu estava enganado e travestido de visões pré-concebidas, preconceituosas mesmo. Não julgue o livro pela capa, já dizia aquele velho ditado clichê, mas que ainda funciona.

O som era cativante e trazia, além do rock progressivo, alguns elementos de hard rock mais elaborados, genuíno, com longas faixas intricadas, complexas, mas solares, agitados, com aquele teclado envenenado, frenético, com corais ao fundo, um exemplo pleno de um progressivo sinfônico sem soar chato e indulgente. A qualidade é devidamente atestada para quem gosta do estilo e o retorno do tempo de audição é garantido. Falo da banda EXIT.

Exit

Revelando o nome da banda, talvez até se explique a capa do álbum que me gerou, ao primeiro olhar, certa rejeição. Exit, em tradução livre, significa sair, saída e o ovo sendo rompido explica o nome da banda e para os que possuem a versão em LP, rara, ou CD, verá que, de um lado tem o ovo sendo rompido e a contracapa tem os músicos lépidos e fagueiros pulando, como que saindo, nascendo com o romper do ovo.

Não há uma confirmação dessa informação, trata-se de uma dedução, uma licença poética desse que vos fala, ou melhor, digita, pois são pouquíssimas as informações sobre o Exit na grande rede, claro, mais uma banda relegada ao ostracismo e escondida no empoeirado baú do rock n’ roll que costuma ser injusto ou pelo menos aqueles que os “operam” em um mercado excludente que segmenta os que consideram ser poucos “vendáveis”.

O Exit foi formado em Frauenfeld, uma cidade nortenha da Suíça, em 1972 por iniciativa do guitarrista Andy Schimd e do baterista Kafi Kaufmann que agregou Roman Portail no órgão, teclados e sintetizadores, Edwin Schweizer no baixo. Em 1975 lançou seu primeiro e único álbum, pela “Boing Records”, chamado simplesmente de “Exit”.

O álbum foi lançado como uma edição privada, ou seja, uma edição limitada para alguns fãs e admiradores da banda. Foram prensadas apenas 350 cópias e o mesmo foi concebido graças ao abnegado trabalho dos músicos da banda, sem nenhum apoio da indústria fonográfica, sem orçamento praticamente. Para se ter uma noção o Exit gravou com uma Revox-2 de dois canais o que, de certa forma, ficou bom, pois mostrou uma banda mais orgânica e crua.

E o nascimento desse trabalho foi em virtude da turnê que o Exit fez abrindo os shows das bandas alemãs Birth Control e Jane em uma espécie de agradecimento a dedicação e a boa repercussão que essa turnê teve. Um presente para aqueles que acompanharam a banda neste momento.

Por ser do ano de 1975, período em que o rock progressivo começou a ter certo descrédito pela indústria fonográfica e não, que fique bem registrado, por conta da ausência da criatividade, o som da banda em “Exit” soa clássico, fincado nas tradições progressivas, mas com um viés calcado no hard rock. Alguns, ao ouvir o álbum, diriam que se tratar de proto prog, outros trariam um pouco de rock psicodélico, mas me parece uma mescla de tudo, um flerte de cada estilo que, de alguma forma se interdependem, pois vieram da mesma fôrma sonora.

Percebe-se, como disse, uma profusão de teclados e sintetizadores e órgãos rodopiantes, versões jazzísticas, alguns momentos mais ásperos garantidos pelo hard rock e momentos bem salutares de uma música versátil e altiva.

Então sem mais delongas dissequemos “Exit” e suas quatro grandes e bem elaboradas “peças”. Abre com “Paradise” que se revela um espetáculo de sintetizadores e teclados com pitadas generosas de hard prog e bateria jazzística, uma linha de baixo pulsante, um petardo digno de progressivo genuíno de altíssima qualidade.

"Paradise"

Segue com “Balade of Live” cuja introdução do som do mar e de pássaros cantando mostra uma suavidade, uma viagem interessante a música e que explode com a dupla bateria e baixo em total destaque, a cozinha está perfeita nessa faixa, uma linda balada que faz jus ao nome, uma das melhores músicas do álbum, certamente.

"Balade of Live"

“Talk Around” é uma faixa, instrumentalmente falando, mais simples, porém mais dançante, mais comercial, mas o teclado se mostra em grande destaque, desdobrando em um intenso prog sinfônico.

"Talk Around"

E fecha com “Bad Gossip” com uma atmosfera mais introspectiva garantida também pelo teclado, pelo órgão, conferindo uma viagem psicodélica com sinfônico, uma mescla interessante. Um solo de guitarra à la Gilmour que te faz arrepiar. Linda faixa!

"Bad Gossip"

“Exit” foi cantado em inglês e empregou muitos aspectos do rock psicodélico, rock progressivo e hard rock, mas trazendo à realidade um viés do pop, de algo mais comercial, mas sem soar frívolo ou pobre, muito pelo contrário, entrega complexidade, versatilidade e personalidade no que se propôs a fazer. Uma banda que, mesmo não tendo vida longa e uma discografia idem, plantou o que os anos 1970 germinara em seus primórdios: o apego à criatividade sem rótulos.

Evidente que nos mostra também uma qualidade aquém na produção do álbum, o que não é para menos, levando em consideração o baixo orçamento que levou quase que praticamente a banda arcar com os custos de produção e tudo o mais. O potencial do Exit para criar um álbum interessante foi evidente com base nos teclados e uma invejável habilidade de composição, mas que, como tantas outras não vingou caindo no ostracismo empoeirado do rock n’ roll.

Scmid e Kaufmann se mostraram, quando o Exit finalizou as suas atividades em 1979, ativos musicalmente. Kaufmann lançou, de forma regular, alguns álbuns solos até os dias de hoje, já Scmid teve sua carreira precocemente abortada, finalizada, pois morreu em 2001, sofrendo uma hemorragia cerebral durante uma apresentação de sua banda no Cairo, Egito.

“Exit” foi relançado em 1993 pela Black Rills Records no formato vinil e em 2008 o álbum foi lançado em CD, com um punhado de faixas bônus.



A banda:

Edwin Schweizer no baixo

Kafi Kaufmann na bateria, percussão

Andy Schmid na guitarra, gaita

Roman Portail nos sintetizadores, teclados

Com:

Gallus Bachmann no saxofone

Martin Beerli no saxofone

 

Faixas:

1 - Paradise

2 - Balade of Live

3 - Talk Around

4 - Bad Gossip



Exit - "Exit" (1975)