sexta-feira, 24 de junho de 2022

Vita Nova - Vita Nova (1971)

 

Aprendi e venho aprendendo, ao longo das minhas experiências de audição de álbuns, e com este humilde blog, que definitivamente o rock n’ roll não é o mainstream! Embora tal afirmação não seja uma novidade, quase algo banal, parece ser preciso e urgente sempre lembrar sobre isso, uma prática do mantra.

A cada seção de garimpo, a cada busca, a cada descoberta corrobora-se o universo vasto e ainda inexplorado de uma música que, a cada banda, álbum e cenas, desabrocha-se a esperança de que ele, o rock, nunca morrerá apesar de insistirem em colocá-lo em uma espécie de tocaia, na espreita de pôr um fim nele.

Enquanto existir poucos abnegados que decidem estudar, aprofundar-se, garimpar e amar incondicionalmente essa vertente musical, ela se fará abrangente, grande, multifacetada em todos os aspectos.

E, mais uma vez, essa máxima vem da Alemanha, da Alemanha progressiva, pesada, diversa e sempre perceptível a nos surpreender e nos ensinar a multifacetada cena rock com todas as suas nuances antropológicas e sociais.

Estava eu em minhas incursões de garimpo, aquelas viagens longas e agradáveis e me deparei com um nome um pouco, diria, incomum, de banda e, claro, aquilo me chamou a atenção de uma forma que não pude me conter de curiosidade e a intenção tem de ser ela: sem tempo para se conter e se permitir a observação e a contemplação do que verdadeiramente nos interessar.

O nome da banda é VITA NOVA e vem, como disse, da Alemanha. Um nome um tanto quanto incomum, principalmente vindo da Alemanha! É latim e significa “Vida Nova”. É curioso o nome e definitivamente não consegui, diante das pesquisas que levantei para a construção desse texto, fazer uma correlação do nome com a banda propriamente dito.

Mas deduzo que, diante do que apurei e logo interpretei, eram músicos que queriam fazer algo diferente do que praticavam em suas bandas regulares ou da sua rotina de músicos de estúdio.

O Vita Nova foi uma banda de curtíssima duração, talvez fosse, por conta disso, um projeto e nunca fizeram uma apresentação ao vivo, absolutamente nada, o que reforça a proposta efêmera desta banda. Por isso que queriam fugir do habitual, trazer algo novo para as suas vidas profissionais, se deixando permitir levar pela manifestação criativa puro, genuína.

Para conceber o álbum, homônimo, lançado em 1971, os músicos, oriundos de várias regiões do planeta, mas baseados em Munique, usavam seu curto tempo livre para produzir essas gravações, deste álbum, na parte da manhã e da noite, que geralmente eram usados para descanso. A formação da banda que gravou “Vita Nova” tinha Eddy Marron na guitarra e vocal, Syvester Levay nos vocais, teclados, hohner clavinet e cravo híbrido e Christian Von Hoffman na bateria e vocal.


Cabe aqui uma observação quanto ao “hohner clavinet”: trata-se de um instrumento, um sintetizador pré-moog que trazia ao som algo muito interessante, intenso, forte, pesado, em dado momento, uma característica original que tornava muito evidente uma música pouco ortodoxa para a época. Era fato que a banda queria entregar algo novo com “Vita Nova”.

No ano de 1971 Levay, o vocalista e tecladista, decidiu alugar o Munich Union-Studios por alguns dias em fevereiro onde eles poderiam trabalhar em suas músicas sem restrições, haja vista que teriam que trabalhar em horários alternativos, pois tinham suas bandas regulares e compromissos como músicos de estúdio.

O resultado que obtiveram com este álbum é de muita versatilidade sonora. Não se observa, não querendo se render aos rótulos, aos estereótipos, uma vertente, mas tudo que se praticava, em caráter embrionário, inclusive, naqueles primórdios anos 1970: rock progressivo, heavy psych, hard rock, elementos de rock fusion, jazz rock, texturas sinfônicas. 

Enfim, trata-se de um álbum extremamente emocionante, energético e solar, mas com tendências experimentais, muito em voga à época na cena krautrock germânico. Um som consistente, viril e intenso, de personalidade. O álbum teve uma prensagem de apenas 500 cópias e tudo indica que foram entregues a pessoas próximas, amigos, pois trata-se de um material extremamente raro.

“Vita Nova” foi lançado por um pequeno selo austríaco chamado “Life Records” e os músicos, segundo reza a lenda, antes de ir para Munique, estavam na Áustria, em uma pequena vila nas montanhas deste país, local onde teria nascido a ideia de construir, no inverno de 1970, este álbum, este projeto. Eram inclusive amigos de escola que usaram o ginásio como uma improvisada sala de shows, de forma ocasional.

O álbum é inaugurado com a faixa “Quomodo Manet” que explode em um rock n’ roll com riffs de guitarra se entrelaçando com os teclados e assim segue, com algumas variâncias rítmicas.

“Vita Nova Inventions” tem como sonoridade central o progressivo sinfônico, com a predominância das teclas, com algumas pitadas, diria, generosas, de jazz fusion muito bem executadas.Em algum momento traz uma atmosfera sombria, envolta em uma pegada mais experimental.

"Vita Nova Inventions"

“Whirl Wind” é tecnicamente simples, com uma melodia solitária de guitarra, com batidas meio psicodélica, lisérgica. “Istanbul”, também bem curta, entrega uma versão meio oriental, carregada nas passagens de bateria e a guitarra, com entremeios no piano, com uma vibe bem kraut. “Sylvester”, também de curta duração, segue basicamente a proposta da faixa anterior, com muito experimentalismo. “Wildman” também segue a levada da faixa anterior com um toque lisérgico. “Inventions Finale”, a mais curta música do álbum, tem também um viés um tanto quanto psicodélico e soturno. “Heya-Cleya” para algo muito pessoal, uma composição individual, com uma percussão um tanto quanto rítimica, meio tribal.

“Adoramus” segue puramente, por intermédio dos instrumentos, um viés de progressivo sinfônico, muito solar, intenso, pleno. Traz uma textura complexa, com um fundo psych orquestrado pelo órgão com belos vocais.

"Adoramus"

"Sunt Alteri” também é bem sinfônico, mas cadenciado, com uma levada meio pop, comercial, um tanto quanto acessível, mas bem complexo. “Adoramus Finale” é um pouco do oposto da faixa anterior, um pouco experimental, soando, em alguns momentos, dark, com um coral sacro, adornado por um teclado que sintetiza a aura da música. Complexa, contemplativa e arrojada.

Fecha com “Tempus Est” com uma vertente bem pesada, assemelhando-se ao clássico hard rock setentista, com habilidades progressivas e excelentes viradas rítmicas de tirar o fôlego.

O álbum foi remasterizado em 1995, uma reedição em CD e reza a lenda também de que as fitas máster do álbum teriam sido perdidas e que a reedição em CD foi restaurada a partir do vinil lançados à época. A banda desapareceu após a gravação do álbum, ainda em 1971, pois cada integrante começou a procurar novas experiências. 

Eddy Brown fundou sua própria escola de música e também conseguiu chamar a atenção com dois álbuns do Dzyan  entre 1973 e 1974 e também como membro do Missus Beastly por um curto período. Sylvester Levay se tornou um compositor conhecido e que ganhou, inclusive um Grammy por sua música “Fly, Robin, Fly”. Christian von Hoffmann é dono de uma loja de música, de discos e toca, ocasionalmente, jazz fusion.

A música do Vita Nova é definitivamente madura para o seu tempo, viciante nos padrões concebidos, repleto de mutações graças a sua estrutura versátil e multifacetada, sonoramente falando. Altamente recomendado!


A banda:

Eddy Marron na guitarra e vocal

Sylvester Levay  nos vocais, teclados vintage, Hohner Clavinet.

Christian Von Hoffman / bateria e vocal

 

Faixas:

1 - Quomodo manet

2 - Vita Nova inventions

3 - Whirl wind

4 - Istanbul

5 - Sylvester

6 - Wildman

7 - Inventions finale

8 - Heva-cleva

9 - Adoramus

10 - Sunt alteri

11 - Adoramus finale

12 - Tempus Est




 

 

 





 


 




terça-feira, 14 de junho de 2022

Armageddon - Armageddon (1975)

 

O rock n’ roll costuma ser injusto com os seus personagens mais ricos e importantes. Músicos que exalavam criatividade e nunca se contentou com padrões, sempre se inquietando e experimentando novas vertentes para si, para a sua trajetória, sua carreira. Sempre flertando com o novo, muitas vezes o inusitado que trouxe frescor e novidade a música e ainda assim não tem o devido crédito, o devido reconhecimento. Definitivamente são fenômenos que, embora sejam muito discutidos entre fãs e críticos de música, parece que nunca conseguiremos chegar a um razão pela qual alguns músicos caem no ostracismo, sendo relegados ao baú empoeirado do rock escondido como aquele objeto imprestável que ocupa espaço. Um desses músicos se chama Keith Relf.

Keith Relf

O seu nome, dito, diria, de forma, não signifique absolutamente nada, principalmente para aqueles fãs e apreciadores do rock que se limita a sua ala comercial e acessível, mas esse homem está por trás de grandes bandas que foram referências na sua geração, falo do Yardbirds e Renaissance. Agora sim, as coisas ficaram mais claras, não é?

Keith nasceu em 22 de março de 1943 em Richmond, uma cidade da Virgínia, nos EUA, mas fez sua carreira na Inglaterra. Fez parte de uma banda chamada Metropolis Blues Quartet, mas foi com quando se juntou, com apenas 19 anos de idade, a Eric Clapton, na guitarra, Jim McCarty, também na guitarra, chris Dreja no baixo e Paul Samwell na bateria para formar uma das referências do rock psicodélico, underground e proto metal britânico da década de 1960, o Yardbirds.

Relf com o The Yardbirds

A banda foi celeiro de grandes guitarristas como Jimmy Page, Jeff Beck, sendo que o primeiro, o último a estar na banda, ficou com os direitos do nome, a reformuou, chamando-a de “New Yardbirds” que seria o pré-Led Zeppelin, nome dado pelo baterista do The Who, Keith Moon quando disse que a banda seria um sucesso, como um ‘zeppelin de chumbo”. Ele foi maldoso no comentário? Não sei! O fato é que o resto é história que pode ser contada depois.

A banda acabou e Keith decidiu seguir com um projeto audacioso com o baterista do Yardbirds, Jim McCarthy, um duo chamado Together, mas que gravou apenas um compacto simples e pereceu. Não desistiu e decidiu dar inicio a um audacioso projeto, algo pouco usual naquela época, na transição dos anos 1960 para os anos 1970, que era unir o erudito, a música clássica ao rock, inusitado para a época, a música dos jovens transviados com a música da aristocracia e com MacCarthy de novo, na bateria, Louis Cennamo no baixo, John Hawken no piano e Jane Relf, sua irmã, no vocal, forma o ícone do prog rock nos anos 70, o Renaissance. 

Era a concepção do progressivo, a construção da cena, embrionária na época que também recebera, ao longo dos anos, outras intervenções de estilos como blues, hard rock etc. Mas brigas e discussões entre os músicos fez com Relf ficasse até o segundo álbum. Desiludido e praticamente expulso do Renaissance se reclusou, mas antes, o seu último trabalho tinha sido como convidado a tocar na banda Steamhammer de seu ex-colega Louis Cennamo e sumiu do mapa.

Mas, em 1974, mais uma vez, sua mente explodia da já falada inquietude criativa e, em virtude de um acidente com o baterista do Steamhammer, Michael Bradley, a banda terminou, ainda em 1972. Então convocou o guitarrista Martin Pugh, o seu colega Louis Cennamo para trabalhar em um novo projeto: O Armageddon, alvo dessa resenha, estava nascendo. 

Os dois foram ao encontro de Relf, em Los Angeles, para formalizar a reunião e convidaram também, para o grande baterista do Captain Beyond, Bobby Caldwell para formar o time, o conceito de super grupo, tão em voga nos dias de hoje, poderia ser utilizado para o Armageddon. Mas eles tiveram alguma dificuldade para fechar com um baterista, que não conseguia encontrar, pelo menos o que achava interessante para a banda que nascera, na Inglaterra, o que também motivou os caras irem para os Estados Unidos, para Los Angeles e lá estava Caldwell, que não estava no Captain Beyond e aceitou o convite de Relf e companhia.



Armageddon

A banda assinou contrato com a A & M Records, por indicação do astro Peter Frampton, lançando, em 1975, o arrasa quarteirão, autointitulado, “Armageddon”, de 1975. A capa é algo de bem interessante com uma visão apocalíptica ao fundo, tudo totalmente destruído e a banda a frente sentada. O nome sugere a concepção gráfica. Boa parte do material já estava pronto pelo Relf, mas foi encorpando com os ensaios e o know how dos outros músicos e se pode perceber, neste único trabalho lançado pela banda um caminho, para variar, diferente do que havia feito no Yardbirds e Renaissance com um cru e poderoso hard rock com algumas pitadas progressivas que vale a audição de cabo a rabo.

O álbum começa de cara com a avassaladora “Buzzard” que já de entrada tem um riff de guitarra pesadão digno de uma banda de heavy metal com a cozinha seguindo o ritmo com uma sinergia incrível, ganhando em agressividade e peso, em uma velocidade invejável, isso é heavy metal! Sem contar com o vocal alto e rasgado.

"Buzzard"

“Silver Tightrope” começa viajante, leve, tranquila com dedilhados lindos de guitarra, além de trabalhos vocais igualmente lindos com um solo fantástico de guitarra. Balada para quebrar o gelo pesado da faixa anterior. “Paths and Planes and Future Gains” traz de volta o peso e a velocidade. Riffs de guitarra pegajosos, fortes, baixo pulsante e marcado, solos de guitarra agressivos, uma das melhores faixas do álbum.

"Silver Tightrope"

Na sequência tem “Paths and Planes and Future Gains” traz de volta o peso e a velocidade. Riffs de guitarra pegajosos, fortes, baixo pulsante e marcado, solos de guitarra agressivos, uma das melhores faixas do álbum.“Last Stand Before” é mais solar, diria dançante, o lado mais comercial, acessível da banda, uma boa faixa também, mas não segue o nível das demais.

"Paths and Planes and Future Gains"

E para fechar o álbum, uma verdadeira epopeia sonora: “Basking in the White of the Midnight Sun”, uma suíte com pouco mais de 11 minutos que é dividida em 4 partes: “Warning Comin’ On”, “Basking in the White of the Midnight Sun”, “Brother Ego” e “Basking in the White of the Midnight Sun (Reprise)” e te remete a um legítimo harg prog repleto de alternâncias rítmicas que começa com uma paulada e a já característica velocidade e agressividade com os riffs de guitarra entoando, depois vai ficando mais cadenciada, mas não menos pesada, com exibições plenas de solos de guitarra, voltando, logo depois, a segunda parte.

"Basking in the White of the Midnight Sun"

A banda infelizmente não fez tantos shows, por conta das baixas vendagens do álbum e a consequente baixa oferta de apresentações, bem como os problemas de saúde de Relf, em virtude do abuso de drogas que, ano após ano aumentava. A banda fez apenas dois shows! Mas não era apenas a saúde de Relf e as vendas baixas do álbum que atrapalharam, mas também as brigas internas eram grandes, o que facilitou para o seu derradeiro e precoce fim.

Keith Relf afastou-se da música, dos shows, das rotinas de estar em uma banda e passou a compor músicas para outros músicos e foi exatamente quando estava em seu estúdio, que ficava na sua casa, em 1976, escrevendo as suas canções que levou um choque, foi eletrocutado pela sua guitarra sem aterramento. Relf tinha apenas 33 anos de idade. Um jovem e grande músico que teve sua vida ceifada tão precocemente, mas que construiu uma carreira que, embora curta, foi brilhante e que definitivamente ficou marcado, de forma indelével, na história do rock.

Cennamo seguiu carreira como baixista, fundando a Illusion ao lado de seus ex-companheiros de Renaissance. Caldwell voltou para a Captain Beyond, mas essa acabou não atingindo o mesmo sucesso de seus dois primeiros álbuns. Atualmente a banda está na ativa com Caldwell como o único remanescente da formação clássica e original. Pugh afastou-se da música por algum tempo, limitando-se somente a participações esporádicas em álbuns de cantores como Daniel Jones e Geoff Thorpe.

Um álbum épico, excelente e, apesar de ter tido uma boa recepção da crítica especializada, não teve uma boa receptividade por parte do mercado, não tendo um sucesso.




A banda:

Keith Relf no vocal e harmônica

Martin Pugh na guitarra e violão

Louis Cennamo no baixo

Bobby Caldwell na bateria, percussão, piano e vocal


Faixas:

1 - Buzzard

2 - Silver Tightrope

3 - Paths and Planes and Future Gains

4 - Last Stand Before

5 - Basking in the White of the Midnight Sun



"Armageddon" (1975)






 







 








 


 


sexta-feira, 3 de junho de 2022

Cosmos Factory - And Old Castle Of Transylvania (1973)

 

Há quem diga que os japoneses são demasiadamente “comportados” para gostarem de rock n’ roll. O maldito caso do estereótipo dando conta de que para apreciar rock tem de ser sujo, mal-encarado, de comportamento “beligerante” e drogado. Coisas de uma sociedade politicamente correta e hipócrita, para variar.

Digo que os japoneses são ávidos por rock, são consumidores natos do estilo! Tanto que podemos corroborar com o tamanho do mercado e a sua importância para tal música, diante dos vários registros ao vivo clássicos que são lançados em terras nipônicas, bem como formatos de álbuns de estúdio que são exclusivamente lançados para o mercado japonês, com bônus tracks, arte gráficas etc.

Muitas e muitas bandas, independentemente do estilo, fazem questão de tocar por lá, sobretudo as bandas de heavy metal e de rock progressivo, a demanda é grande porque a oferta é imensa!

Então não confundamos a coisa com uma questão cultural. É de profundo respeito de seu povo quando está, diante de show, elétrico, intenso, em silêncio, sem se movimentar tanto. Mas essa já não é uma máxima. O Japão é um país diverso, sob todos os aspectos e também, claro, pelo fator comportamental.

Há a disciplina que construiu a sua tradição, mas há também aqueles jovens cosmopolitas que gritam, se esgoelam quando diante de seus ídolos. Esse é o atual Japão: rico pela sua diversidade cultural, mas calcado na sua tradição, que, fielmente seguem, geração após geração.

Mas se há um público ávido e que consomem as bandas internacionais, também possui uma cena prolífica, forte, viva e que atravessa os tempos, as gerações, as décadas entregando grandes e seminais bandas, algumas fazendo sucesso e ultrapassando a barreira geográfica e fazendo certo sucesso em outros países, mas há aquelas grandes bandas obscuras, que fazem ou fizeram pouco sucesso, mas que esquentaram ou esquentam a cena, tendo um público vivo que fazem da cena, clara, plena.

E já que falei da predileção desse povo pelo rock progressivo é claro que há sim grandes bandas da vertente por lá e que, lamentavelmente não gozaram do sucesso comercial, mas que produziram grandes petardos sonoros dignos de audição, mas que, graças as redes sociais e alguns veículos virtuais de comunicação e, claro, de abnegados amantes do prog rock, ganharam o mundo.

E gostaria de falar de uma, em especial, que conheci, quase que ocasionalmente ou diria que em uma de minhas incursões aos garimpos pela grande rede, que de fato me causou um arrebatamento que há tempos não tinha. Falo da banda COSMOS FACTORY.

Não confundir com o clássico álbum da banda norte americana Creedence Clearwater Revival, de 1969, de mesmo nome, mas com uma grande e competente banda nipônica que merece uma audição, merece uma atenção. E para firmar uma máxima de que mencionei mais acima, infelizmente há poucas menções na grande rede, sobre a banda, a sua biografia, tratando-se de músicos pouco conhecidos na cena progressiva mundial, mas tentaremos textualizar cada detalhe de sua história, nada pode passar despercebido quando se fala do Cosmos Factory e de sua curta, mais significativa história discográfica.

A banda foi formada em 1968, originalmente pelo seu tecladista, Tsutomu Izumi, na cidade de Nagoya, sob o nome de “The Silencer”. A banda mudou o nome quando lançaram sem primeiro álbum, em 1973, chamado “An Old Castle of Transylvania”. E esse será o álbum a ser resenhado nesse texto.

Eles tiveram que se mudar para a capital, Tóquio, para tentar realizar seu sonho de gravar um álbum e, com alguma dificuldade, conseguiram chamar a atenção de um empresário que também era um crítico de rock e começaram a trabalhar nas suas primeiras composições que conceberia no “An Old Castle of Transylvania"

A formação da banda neste álbum contou com Tsutomu Izumi (teclados, sintetizador Moog, vocais), Hisashi Mizutani (guitarra, vocais), Toshkazu Taki (baixo, vocais), Kazuo Okamoto (bateria e percussão) e Misao no violino.

Cosmos Factory

Não há como não se encantar com o som multifacetado da banda neste seu primeiro trabalho. Trafegam claro, no rock progressivo, com um forte viés no rock psicodélico mais lisérgico, mais pesado, inclusive, trazendo à lembrança bandas como Vanilla Fudgie, explorando e muito os teclados com muita intensidade como bandas do naipe do Uriah Heep.

Não sou muito adepto às comparações, mas, como se trata de uma banda pouco conhecida, talvez as temíveis comparações possam trazer um norte a quem não conhece o Cosmos Factory.

Esse rock n’ roll diversificado, que traz o peso do hard rock, a complexidade do prog rock e a lisergia do rock psicodélico definitivamente traz ao álbum e a banda algo especial e pouco ortodoxo, fazendo desta uma referência para a cena rock japonesa.

O álbum é inaugurado com a faixa “Soundtrack 1984” com uma introdução linda da “cozinha”, do baixo e da bateria, trazendo a textura caudalosa do mellotron, mostrando uma forte interação instrumental da banda, que completa com os riffs e solos curtos da guitarra.

“Maybe” vem em seguida, pesada, intensa, com o órgão enérgico, forte, vibrante com vocais de excelente qualidade contrastando com o peso dos instrumentais, com seções mais calmas e, logo em seguida, vem a guitarra abrangendo, com sua presença em riffs e solos, todo o conjunto da música. Belíssima faixa!

"Maybe"

“Soft Focus” vem para “quebrar” a sequência de peso e vibe elétrica e enérgica do álbum até o momento: Uma balada protagonizada por harpas e teclados contemplativos e vocais melosos e pausados, corroborando o clima da música.

"Soft Focus"

“Fantastic Mirror” traz o protagonismo nos sons do teclado que faz lembrar um pouco do rock progressivo italiano com uma vibe muito grande do progressivo sinfônico, com aquele tom de dramaticidade.

"Poltergeist" é animada, solar com teclados pulsantes e com bateria marcada e há a presença do violino que rivaliza, de forma salutar, com o órgão trazendo certa complexidade à faixa.

"Poltergeist"

O álbum é finalizado magistralmente com a faixa título, uma verdadeira saga sonora, uma epopeia digna de viajar sem destino, se deixar levar, abrir a mente e voar, voar e voar. “An Old Castle of Transylvania” tem longos 20 minutos de duração e traz uma mistura louca, alucinante de psicodelia e progressivo com grandes construções em sua estrutura melódica e harmônica, com grandes passagens rítmicas, tendo uma textura enérgica e contemplativas, ao mesmo tempo. A interação entre a guitarra e órgão é incrível, onde o primeiro é cortante, pesada e o segundo é suntuoso.

"An Old Castle of Transylvania"

O Cosmos Factory lançou seu segundo trabalho em 1975, depois de alguns singles e lançamentos promocionais, chamado “A Journey with the Cosmos Factory”, mais voltado para o rock progressivo mostrando que, ao longo do tempo, embora curto, desenvolveu sua sonoridade, explorando, buscando novas alternativas sonoras, buscando fugir dos estereótipos.

O primeiro álbum foi relançado em CD pela Coca/Nippon Columbia em 1991 e também relançado em CD pelo selo “Black Rose” na Alemanha. A banda finalizou as suas atividades em 1977 com o lançamento de seu último trabalho chamado “Metal Reflection” já sem a inspiração e criatividade de seus três primeiros álbuns de estúdio.

Definitivamente o Cosmos Factory foi uma das grandes bandas do rock progressivo japonês e que tem em “And Old Castle of Transylvania” como uma obra-prima incontestável, com notável originalidade na cena rock nipônica, mostrando que há potenciais sonoros em toda a parte do mundo, pois não há barreiras para o boa música e o Japão está, sempre esteve na rota das grandes e seminais bandas de rock n’ roll. Altamente recomendado!


A banda:

Tsutomu Izumi nos teclados, mellotron, sintetizadores e vocais

Hirashi Mizutani na guitarra e vocais

Toshikazu Taki no baixo e vocais

Kazuo Okamoto na bateria e percussão

Com:

Misao no violino


Faixas:

1 - Soundtrack 1984

2 - Maybe

3 - Soft Focus

4 - Fantastic Mirror

5 - Poltergeist

6 - An Old Castle of Transylvania