quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Joker's Memory - Joker's Memory (1976)

 

Quando falamos em uma banda rara e obscura, não se enganem, amigos leitores, não traz e não deve trazer, em hipótese alguma, a percepção de falta de qualidade, de algo ruim.

Quando falamos em banda que não atingiu sucesso e automaticamente associamos a também falta de qualidade, não se enganem também, não é porque a mesma é ruim. É só a ausência do sucesso comercial, que deve ser dissociado da qualidade.

É sabido que o conceito de qualidade é subjetivo, depende de quem “consome o produto”, mas essa máxima, carregada de estereótipo e visões pré-concebidas, não devem, penso, ser levadas em consideração sempre e servir como parâmetro de concepção de qualidade ou coisa que valha.

Mas na música e na arte como um todo devemos “carimbar” um padrão de qualidade, algo pré-determinado, algo definido por um “distinto” e magnânimo grupo seleto que foram escolhidos, sabe-se lá por quem, para escolher o que é melhor para todos?

A arte não pode ser concebida e entendida dessa forma. Ela é viva e latente e ela satisfaz ou deve satisfazer a todos da forma que cada um achar conveniente. E com a música, uma particular forma de arte, não foge à regra.

Mesmo que bandas sejam obscuras ou que, por algum motivo, não atingiu êxito comercial, podem sim promover grandes feitos sonoros e o único entrave, além do vilipêndio da indústria fonográfica, são os parcos recursos tecnológicos de que goza por conta exatamente desse ostracismo por parte dos executivos das grandes gravadoras.

E, mais uma vez, não se enganem amigos, mesmo diante dos poucos recursos a seu favor bandas conseguem, à duras penas, na base da persistência e amor à música, gravar seus álbuns, independente das péssimas e adversas condições de produção.

Essa é a diferença das bandas que imprimem as suas verdades aos seus trabalhos, que deixam aflorar as manifestações criativas e a essas se rendem magistralmente, onde mesmo diante das dificuldades produzem grandes obras.

E perante a tudo que produzi nessas linhas eu preciso falar de uma banda que muito pouco se sabe, essa é verdadeiramente uma banda que podemos dizer que é obscura, rara ao extremo, mas que aqui, neste reles e humilde blog, merece a luz, a luz ao seu exuberante rock progressivo sinfônico.

A banda que me refiro é a JOKER’S MEMORY. Banda sediada na cidade de Ottawa, capital do Canadá, gravou apenas um álbum, homônimo, em 1976 e simplesmente desapareceu sem deixar rastros. Há fontes, poucas, diga-se de passagem, que dizem que o álbum fora lançado em1975. Teria sido gravado entre agosto de 1975 e janeiro de 1976. Não há registro de fotos, de imagens da banda atuando em estúdio, absolutamente nada, o que impõe a sua condição de obscura e rara.

O álbum, que contém apenas uma faixa de vinte minutos no total, é dividida em três partes, cujos nomes das músicas trazem o nome da banda, como: “A Joker’s Memory Part One”, “A Joker’s Memory Part Two” e “A Joker’s Memory Part Three”.

A faixa, a música foi escrita e arranjada por James Arthur Holt e Christopher Arthur Ellis, sendo concebido no estúdio “MARC”, em Ottawa. Este último, Chris Ellis, era da banda sendo o pianista, o técnico e o engenheiro de som.

A arte da capa, linda, por sinal, trazendo uma figura um tanto quanto primitiva e que, me perdoem a licença poética, me remete a uma figura que pensa, reflete ao estilo “O Pensador”, de Claude Monet e que talvez explique o nome da banda: “A memória do palhaço” ou “A memória do coringa”.

A arte apresenta uma pasta na capa e na contracapa, com uma tiragem mínima, de cerca de 100 cópias, pasmem! Vejam o tamanho da obscuridade dessa banda que produziu um álbum quase que artesanalmente e que hoje certamente se tornou um artigo de luxo, de colecionador e que deve valer uma fábula de dinheiro.

O projeto de “Joker’s Memory” é do baterista Steve Hollingworth, oriundo de Ottawa. A banda, numerosa, era formada por: Steve Hollingworth na bateria, percussão, sinos e vocal, Peter Fredette no baixo e vocal, Dave Binder na guitarra, Brian Sim na guitarra e vocal, Chris Ellis no piano, órgão elétrico e sintetizadores, Floyd Bell no vocal, Joey Hollingworth no vocal, Jim Ounsworth no backing vocal e Jim Holt também no vocal.

“Joker’s Memory” foi um trabalho majoritariamente de rock progressivo sinfônico com passagens comerciais denunciadas principalmente por vocais melódicos e melodiosos que vagam pelo rock clássico e o soft rock.

“Joker’s Memory Part One” inaugura com a predominância dos teclados e piano, com um forte viés do progressivo sinfônico, bem como comercial, algo acessível, mas de qualidade superior, primando pelo instrumental, com discretas passagens de guitarra, com apenas alguns dedilhados que me trazem à recordação um folk music e um vocal extremamente melódico. A música trafega em mudanças de ritmo, com boas e simples variações tendo sempre o sinfônico como o carro-chefe.

"Joker's Memory Part One"

"Joker’s Memory Part Two” começa mais intenso com guitarras mais vívidas e intensas, mas ainda com discretos riffs com a companhia de baterias mais secas e batidas igualmente fortes e marcadas, tendo ainda a presença do piano que traz uma textura mais evidente de um soft rock com passagens de folk rock também, evidenciando, diria, algo mais psych com viés radiofônico.

"Joker's Memory Part Two"

“Joker’s Memory Part Three” traz um vocal bem melódico e dramático quase que à capela, apenas acompanhado por delicado piano em uma concepção acústica e de atmosfera psicodélica, mas pouco experimental. O vocal vai ficando mais intenso e descortina um solo de teclado viajante denunciando a sua faceta sinfônica.

"Joker's Memory Part Three"

“Joker’s Memory” lamentavelmente não conta com uma boa produção, soa um pouco “abafado”, mas que, em momento algum denuncia a má qualidade na música, pelo contrário. Um som cativante, solar, introspectivo e sombrio, às vezes, e assim trafega em vários aspectos que vai do soft rock, ao prog rock e a rock psych.

A obscuridade merece luz, o rock obscuro precisa sair do ostracismo e ganhar vida, alçar voos e pousar nos nossos ouvidos, corações e almas e o trabalho abnegados de seus apreciadores são preponderantes para essas movimentações ganhando corpo, substância e barreiras como o estereótipo e intolerância a questões “técnicas” como produção e sucesso comercial e deixar a arte falar por si só em suas várias encarnações.




A banda:

Steve Hollingworth na bateria, percussão, sinos, vocal

Peter Fredette no baixo, vocal

Dave Binder na guitarra

Brian Sim na guitarra, vocal

Chris Ellis no piano, órgão elétrico, sintetizadores

Floyd Bell no vocal

Joey hollingworth no vocal

Jim Ounsworth no backing vocal

Jim Holt no vocal

 

Faixas:

1 – Joker’s Memory Part One

2 – Joker’s Memory Part Two

3 – Joker Memory Part Three


Para ouvir o álbum na íntegra acesse aqui!