sábado, 30 de maio de 2020

Embryo - Live Bremen 1971 (2003)


O EMBRYO é uma das mais importantes bandas do rock alemão. Talvez seja um sacrilégio dizer isso, levando-se em conta o domínio global do Scorpions que representa, claro, com dignidade e qualidade o nome do rock n’ roll germânico a todos os cantos do planeta, mas o Embryo acompanhou, vivenciou e foi referência em todas as cenas que as gerações e a juventude alemã, ávidas por mudanças, sendo militante em todas elas, atuante mesmo. 

Ajudou, em seu obscuro silêncio, sem holofotes, a edifica-las, cada uma delas, sendo uma espécie de camaleão, ajustando-se às tendências musicais, ao longo do tempo, sendo pioneira, sendo a pedra fundamental, juntamente com bandas do naipe do Can, Amon Duul II, Xhol Caravan, entre outras, do krautrock, ditando não só pioneirismo em uma música experimental, arrojada, que dava um tapa na cara da sociedade conservadora alemã, mas sendo protagonista de um movimento contra cultural na Alemanha pós guerra, ainda perdida em escombros comportamentais, sem identidade cultural. 


O Embryo foi fundado em 1969, na cidade de Munique, por Christian Burchard e Edgar Hoffman em 1969. Burchard passou a sua juventude em Hof, onde seu melhor amigo na escola era Dieter Serfas, isso em 1956. Na época se divertiam muito tocando "música grátis", como jazz, rhythm & blues, mas também era influenciados por música contemporânea.

Em Hof tinham muitos americanos, soldados dos Estados Unidos, porque a cidade ficava perto da fronteira com a Alemanha Oriental e a Tchecoslováquia, e não era um exército profissional então se arriscavam como músicos, especialmente negros e que tocaram com Serfas e Burchard. Inclusive tiveram um baixista de Nova Iorque que sabia improvisar todas as músicas de Chuck Jackson. Também tinha uma banda local que tocava jazz que deu um vibrafone a Burchard que apenas se aventurava nom piano. O "embrião" estava ali.

Em 1964 Dieter Serfas, Edgar Hofmann e Christian Burchard formaram um trio de música contemporânea que ganhou alguma notoriedade, porém nada gravou oficialmente, mas em 1966 Burchard conheceu Chris Karrer e Peter Leopold que viriam a fundar Amon Duul e fez alguns vibrafones no primeiro álbum da até então nova formação da banda, o Amon Duul II, "Phallus Dei", de 1969.

Amon Duul II - "Phallus Dei" (1969)

Mas Burchard, desde 1967, fazia parte de uma banda chamada Mas Waldron Quartet e algumas gravações feitas com a banda foi aproveitada e lançada como uma obra do Embryo no álbum "For Eva". Muito mais importante que essa movimentação, talvez comercial, foi a influência essencial que Burchard carregou consigo, bem como a sua passagem pelo Amon Duul II. Foi principalmente com o Amon Duul II que Burchard explorou a música experimental e psicodélica, porém queriam fazer de forma diferente, explorando improvisações com novas estruturas rítmicas e harmônicas.

As primeiras seções do que viria a ser o Embryo tiveram músicos de diferentes cenas como Peter Michael Hamel (Mais tarde ele formaria a banda Between), que estava se comunicando com John Cage, Steve Reich e a cena musical contemporânea. Hofmann conhecia toda a cena free jazz ou John Kelly, oriundo da cena rock inglesa, porque ele havia tocado com Alvin Lee, do Ten Years After, em uma banda chamada Manchester United. E como Dieter Serfas era membro efetivo do Amon Duul II, Burchard tinha que tocar bateria, porque todos os músicos que escolhiam eram muito parecidos com o estilo do Amon Duul II.

E assim nascia o Embryo. Claro que chocou essa mistura extremamente improvável, mas a banda no início teve um apoio dos jovens estudantes e quando rolava alguma manifestação, por exemplo, o Embryo era sempre chamado para tocar. 

Embryo em 1970

O Embryo flertou em várias vertentes que ia do já conhecido krautrock, como jazz rock, rock psicodélico, classic rock, música étnica, adicionando tais elementos a sua música, avant garde etc. Foi descrita por muitos especialistas e críticos como “a mais eclética das bandas de krautrock”. Foi fundada na cidade de Munique em 1967, pelos multi instrumentistas Christian Burchard (bateria, vibrafone, santur e teclado) e Edgar Hoffmann (saxofone, flauta e violino). 

Um indício do ecletismo da banda é o número de músicos que por ela passou. Estipula-se que pelo Embryo passaram mais de 400 músicos ao longo de mais de 50 anos de história! E a prova contundente dessa “inquietude sonora”, desse poço sem fundo de criatividade, é claro, está na sua discografia, mas nada sintetizou tanto essa característica marcante do Embryo do que um registro ao vivo que não fez tanto alarde e que seria tão somente apenas uma apresentação ao vivo da banda, mas é algo que eu descreveria como avassalador, um verdadeiro arrasa quarteirão, algo surpreendente para até então discografia curta, mas já bem delineada no que tange ao estilo, no longínquo ano de 1971. 

Embryo em 1971

Foi uma apresentação no ginásio da escola Leibnizplatz para o programa de rádio de Bremen e que foi transmitida na série “Jazz Live” e que se chamou “Live Bremen”, de 1971 e que promovia o lançamento do terceiro álbum de estúdio da banda, o “Embryo’s Rache”, também de 1971. A Rádio Bremen gravou tudo e disponibilizou as fitas máster para o emblemático e alternativo selo “Garden of Delights” originando este excelente álbum. 

A formação do Embryo neste registro ao vivo contava com: Hansi Fischer na flauta, Christian Burchard na bateria, percussão e vocal, Al Jones na guitarra e vocal, Edgar Hofmann no saxofone e Ralph Fischer no baixo.


“Live Bremen” conta com uma seção de improvisações jazzísticas, com muito experimentalismo e rock psych, mas que conta também com um incrível e avassalador hard rock, com muito peso e diria até agressividade instrumental, é definitivamente de tirar o fôlego!


Então vamos, sem mais delongas às faixas. A primeira é “Try To Be” que começa com um timbre de baixo forte e bem pesadão e que segue com um solo frenético e lindo de violino e a bateria dando o tom pesado e agressivo da música com um belo trabalho vocal, além da flauta, frenética e aguda. 

"Try to Be" - Live Bremen (1971)

“You Can´t Wait - Evas Nuvola” continua, no mesmo ritmo, com as improvisações e aquela sensação nítida de liberdade criativa e o saxofone come solto num frenesi sonoro impressionante, com a bateria, pesada, em uma levada meio jazzística e o baixo seguindo em uma sinergia incrível, se juntando a flauta em uma apoteose sonora. 

"You Can't Wait - Evas Nuvola" - Live Bremen (1971)

“Tausendfüssler” tem o destaque da flauta e uma poderosa linha de baixo arrasa quarteirão, tão pulsante que parece que o coração segue o mesmo ritmo, a mesma batida, um groove louco, se juntando a essa loucura experimental vem o saxofone novamente, excelente faixa!

"Tausendfussler" - Live in Bremen (1971)

“Spain Yes, Franco Finished” fecha o show com seus potentes e vastos 26 minutos de duração. Como o título sugere, o Embryo presta uma homenagem a tradição musical espanhola, atacando ferozmente a sua situação política. Como consequência disso, a banda não pôde tocar na Espanha durante muito tempo.

"Spain Yes, Franco Finished" - Live Bremen (1971)

"Live Bremen" apesar de ter sido gravado em 1971 foi lançado apenas em 2003 graças ao abnegado trabalho de garimpo e recuperação do selo "Garden of Delights" e trouxe um Embryo arrojado, irreverente, pesado, mas com muita improvisação, uma marca indelével da banda desde sempre.

Um "time" da pesada, com instrumental poderoso, envolvente, intenso, que disparam baterias cadenciadas, pesadas, jazzísticas, com baixo pulsante, igualmente pesadão, com riffs indulgentes de guitarra, com solos avassaladores, vocais altos e até mesmo gritados em alguns momentos, enfim, uma verdadeira hecatombe sonora!

O poder se fez presente em Bremen em 1971, um furacão sonoro que varreu tudo que pôde, uma banda que esteve a frente de seu tempo, que não se revelou dessa forma ao longo de sua posterior discografia. Que seção rítmica! Uma loucura! Então vale e muito a pena se deixar levar por essa potência, por essa viagem sonora!



A banda:

Hansi Fischer na flauta
Christian Burchard na bateria, percussão e vocal
Al Jones na guitarra e vocal
Edgar Hofmann no saxofone
Ralph Fischer no baixo

Faixas:

1 - Try to Be
2 - You Can´t Wait - Evas Nuvola
3 - Tausendfüssler
4 - Spain Yes, Franco Finished 



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