sexta-feira, 15 de maio de 2020

CWT - The Hundredweight (1973)


O pioneirismo, a referência de uma banda perante uma cena, um estilo se mensura pela sua vasta discografia? Pela sua longevidade? Pela sua popularidade? Sempre me faço essa pergunta, quando vejo ou ouço que determinadas apenas bandas conhecidas e de uma vasta carreira discográfica gozam de grande importância para o rock progressivo, para o hard rock, heavy metal etc. 

Mas o que dizer das bandas obscuras? Estas, contemporâneas às famosas, não podem ser agraciadas com o protagonismo dos primórdios da cena, das vertentes que compõe o universo do rock n’ roll? O universo do rock n' roll é vasto e há muito a ser explorado, o que, na maior parte das vezes, o assunto do pioneirismo, passa a ser relativo e pouco taxativo no que tange ao “big bang” de um determinado estilo ser creditado às hoje bandas de arena, famosas. 

E se a discussão de quem foi o “pai da criança” pode parecer inconsistente na maior parte do tempo, não podemos negligenciar, por outro lado, fatores importantes como originalidade, versatilidade. Bandas que, mesmo que obscuras, esquecidas, foram relegadas a própria sorte, se faz importante e relevante, quando descobertas e submetidas a audição, que nos faz chegar a conclusão, seguida de uma triste lamentação: é uma banda que merecia reverências pela sua originalidade, influência, atipicidade e força, uma força sonora. E um exemplo “clássico do obscuro”, veio da Inglaterra, mas que se radicou na Alemanha, que se chama CWT. 


CWT

Poderia ser só mais uma banda obscura, uma dessas esquecidas, diante de uma gama que parece ser infindável, mas não é, não pode ser considerada como tal. Uma sonoridade atípica, inusitada, muito original e criativa. 

O diferencial dessas bandas, apesar dos infortúnios de sua vida, de sua trajetória, é que eles se permitem dominar pelo estado bruto da criatividade, sem amarras e objeções de gravadora e dos anseios perecíveis do público que sempre quer o mais do mesmo. 

Essa banda alia um hard rock vigoroso, pesado, a uma sessão de instrumentos de sopro, com uma pegada generosa de soul music, black music que faria Michael Jackson se render e dançar compulsivamente. 

O CWT, como algumas bandas inglesas, migrou para a Alemanha, pois no início na década de 1970 brotavam pequenos e alternativos selos (gravadoras) germânicos que sempre se interessaram pelas bandas igualmente alternativas, com sonoridades marginalizadas e pouco palatáveis e lá fixou suas intenções de seguir a sua história. 

Não se sabe de onde surgiu a origem do nome da banda, CWT. Há quem diga que é um sobrenome típico do Reino Unido atribuído a medicamentos depressivos ou coisa que valha, mas que carece de informação, de confirmação. 

Mas voltando a sua trajetória na Alemanha a Kuckuck Records, que tinha em seu portifólio bandas de krautrock e rock progressivo, resolveu acreditar e investir no CWT, contratando-a. E assim nasce o único registro da banda, “The Hundredweight”, de 1973. 


Outro destaque do álbum, além do hard/black/soul, está no aspecto visual, na arte gráfica do álbum que conta com um cemitério sombrio em um fundo escuro, que poderia certamente servir de referência e quem sabe influência para muitas bandas da cena heavy, thrash, death, doom e das nórdicas bandas de black metal.

"The Hundredweight"

A produção do álbum ficou a cargo do famoso Andrew Loog Oldham, o ex-gerente do Rolling Stones e fundador da gravadora Immediate Records. A formação da banda, do power trio, no lançamento do álbum foi: Graham Jones na guitarra e teclados, Peter Kirk no baixo e Colin White na bateria. Cy Paine foi convidado pelo produtor, para ser o responsável pelos arranjos de metais, pelos instrumentos de sopro. Ele foi o responsável pela “cereja do bolo”, que trouxe a parte criativa e inusitada do CWT e caiu como uma luva, a sinergia, que poderia parecer improvável, se fez plena e presente de uma forma energética e visceral. 


E, para se juntar ao time, foi convocado um vocalista, que não foi creditado, o que também pode inviabilizar a sua confirmação, de nome Charlie Jardine. Banda escalada, agora é dissecar essa pérola sonora. 

“Widow Woman” começa o álbum um “duelo” salutar entre o sax e riffs pegajosos de guitarra e um vocal grandioso e poderoso, de alcance invejável, o hard rock e o soul nunca foram tão sinérgicos. “Take It Slow” começa suave, com alguns dedilhados de um violão, mas logo se revela pesada e assim vai alternando mostrando versatilidade. 

"Widow Woman"

"Take it Slow"

“Roly Poly” começa com um riff sujo e sem pretensão e vai ficando dançante, um "funkeado" que deixaria James Brown feliz e orgulhoso, cheio de ritmo deixando, por um momento, a agressividade do hard rock para um rock mais animado e solar.

 "Roly Poly"

“Signed D.C” começa introspectiva com um lindo vocal praticamente à capela, uma viagem psicodélica mas que irrompe em um bélico ataque de metais e, mais uma vez os riffs e rápidos solos de guitarra tentam se impor em mais um lindo duelo. “Steam Roller” traz de volta o hard poderoso e agressivo, enquanto “Simon's Effort” vem mais dançante, com a “cozinha” afinada, dando o tom, o ritmo forte e poderoso. 

"Signed D.C"

"Steam Roller"

“Mind Cage” segue a proposta da faixa anterior com destaque para o peso da guitarra e bateria com o frenesi dos instrumentos de sopro. O álbum fecha com “Mephistophales”, sem dúvida uma das melhores faixas do álbum, com o destaque do hard rock mais veloz e agressivo. 

"Mind Cage"

Não é tão somente pioneirismos, mas sonoridades arrojadas e pouco estereotipadas, deixando apenas no comando a criatividade que, selvagem, faz seus curso sem objeções, apenas ela no estado bruto e genuíno. "The Hundredweight" é uma verdadeira pedrada, com distorção para todos os lados, "cozinha' poderosa e o tempero da mais dos metais. É um álbum fabuloso. Apesar do CWT ter lançado apenas esse álbum e ter sumido sem deixar rastros, deixou marcado a história de um, as vezes, conservador rock n' roll. Altamente recomendado!



A banda:

Graham Jones na guitarra e teclados
Peter Kirk no baixo
Collin White na bateria
CY Paine nos arranjos de metais (instrumentos de sopro)
Charlie Jardine no vocal

Faixas:

1 - Widow Woman
2 - Take It Slow
3 - Roly Poly
4 - Signed D.C
5 - Steam Roller
6 - Simon's Effort
7 - Mind Cage
8 - Mephistophales




CWT - "The Hundredweight" (1973)