quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Sub - In Concert (1971)

 

Algumas orientações sonoras podem cair na vala comum do estereótipo, principalmente quando uma cena ganha algum destaque. E um exemplo evidente é o krautrock, proeminente na Alemanha no final dos anos 1960 e início dos anos 1970.

O kraut como conhecemos traz aquele experimentalismo, uma espécie de “resposta” psicodélica da Alemanha. Um som minimalista, viajante, chapante e repleto de improvisações.

Mas ao longo dos anos, sobretudo no início da década de 1970, a cena foi ganhando corpo, recebendo outras vertentes ou aprimorando a sonoridade, graças ao hard rock e o rock progressivo que estavam aparecendo para o mundo.

É comum ouvirmos bandas com nítidas influências de hard rock, rock progressivo e até mesmo um prog sinfônico, comum em países como a Itália, por exemplo. E lamentavelmente tudo é colocado no “mesmo saco” do krautrock, talvez por questões mercadológicas ou simplesmente uma falta de entendimento que o estilo sofreu, foi impactado por outras vertentes do rock.

Confesso que discussões como essa também se caracteriza como estereótipo, algo que talvez não fosse necessário, afinal tudo se configura, tudo se converge para o óbvio: rock n’ roll! Essa necessidade surge, penso, para entendermos minimamente o “conceito sonoro” de uma banda e isso não é nenhum crime.

Então analisando por esse prisma, hoje falarei de uma banda extremamente rara e obscura, oriunda da cidade de Munique, que, no longínquo ano de 1971 conseguiu personificar o conceito de evolução da cena krautrock. Falo do SUB.

O SUB, um nome um tanto quanto atípico para uma banda kraut, foi formado, como disse, em Munique, no ano de 1969 e lançou apenas, para variar, um álbum, em 1971, intitulado “In Concert”. Ele estranhamente foi lançado na Itália pelo selo “Help”, em uma pequena edição, com uma tiragem de apenas 1.000 cópias. Atualmente o LP original é negociado por aproximadamente € 1.000 em leilões virtuais e sites especializados! Acredite se quiser!

Reza a lenda de que o empresário da banda teria roubado as fitas máster e ido com elas para a Itália, lançando o álbum por lá. E por alguma razão foi decidido transformar as músicas contidas nessa fita em um álbum ao vivo, por isso o nome de “In Concert” com aplausos do público “overdubados”, evidenciado na primeira faixa, “Sub Theme I”. O máximo que se pode ter próximo a uma apresentação ao vivo é de que as músicas teriam sido gravadas no formato “alive in studio”, mas sequer essa informação está confirmada.

Casos como esse soam miseravelmente levando em consideração um trabalho de marketing do álbum e da banda, pois traz a informação de que as coisas foram feitas em um viés falso.

“In Concert” foi gravado no verão de 1970 no Union-Studios, famoso estúdio em Munique, por músicos com alguma visibilidade, com experiências em outras bandas, são eles: Christian Wilhelm no vocal, Klaus Kätel na guitarra, Peter Stimmel no baixo, Johannes Vester nos teclados e Lutz Ludwig na bateria. Este último, o Ludwig, foi baterista de outra banda underground muito legal, o Amos Key.

Amos Key - "First Key" (1974)

Bem se no aspecto comercial deixou um pouco a desejar, com histórico de roubos e informações falsas, no musical o Sub traz um line up com músicos extraordinários com inspirações ao estilo Deep Purple e Uriah Heep, primordialmente.

Mas o Sub se diferencia das mencionadas, pois entrega uma sonoridade calcada no rock progressivo e hard rock, com uso pleno de teclados e o tão falado Krautrock, pois flerta com improvisações e jams sections de primeiríssima qualidade.

São definitivamente abordagens composicionais bem elaboradas, bem estruturadas, focando na guitarra, corroborando no peso e os teclados que evidenciam a sua levada mais progressiva. Mas se percebe e muito elementos mais psicodélicos, com riffs de guitarras mais estridentes, ao estilo lisérgico mesmo e pegadas mais bluesy. Essas vertentes devem surgir de um passado de fusão de bandas beats locais que ajudaram a formar o Sub no final da década de 1960.

A abertura conta com a longa “Sub Theme I (Sub In Concert) ”, que, no auge dos seus dezoito minutos de duração conta uma jam section que mescla momentos pesados, selvagens, capitaneados por riffs e solos avassaladores de guitarra, com texturas bem servidas de teclado, mostrando muito virtuosismo. Uma abordagem bem arrojada para a sua época, pois entrega experimentalismos com pitadas bem generosas de hard rock. De fato, é uma atmosfera que se difere de todas as demais faixas do álbum, mostrando groove pesado e viagens chapantes de hard rock e psych rock.

"Sub Theme I (Sub in Concert)"

“Off” começa animada, com guitarra acústica bem dedilhada e baixo galopante e teclados enérgicos. Logo a guitarra lisérgica surge “rasgando” a música. Uma típica faixa que se encaixa perfeitamente às batidas beats, psicodélicas da segunda metade dos anos 1960.

"Off"

“Sub Theme II (Money Maker)” não foge muito à regra da faixa anterior. Muita lisergia, guitarra com riff ao estilo psicodélico, uma bela seção rítmica que traz algo meio dançante e teclados meio sombrio, dando um caráter mais introspectivo a música em alguns momentos.

"Gimme Some Lovin" mostra a habilidade de Stimmel no baixo e a bateria pesada e marcada, confirmando uma seção rítmica bem interessante. Os teclados ganham representatividade instrumental nesta faixa “espaçando” um pouco a música ganhando destaque, sem mostrar algo enfadonho, muito pelo contrário. São teclas enérgicas, solares.

A divertida “Ma-Mari-Huana” já escancara as predileções da banda pelos psicotrópicos típicos da transição das décadas de 1960 para a década de 1970 e mostra uma banda mais enérgica, intensa, vívida, mas não necessariamente pesada, agressiva. O destaque fica para o vocal mais rasgado, mais intenso, quase gritado, diria. Somando a esse vocal não podemos negligenciar a participação do teclado igualmente animado.

"Ma-Mari-Huana"

"Match I" começa com um vocal meio dramático, intenso, mas logo fica um tanto quanto estranho com um impulso percussivo e soma-se a estranheza os teclados que soam um tanto quanto sombrio. Depois desse momento meio apocalíptico as teclas ficam mais estelares, solares, mais animado, mais direto ao ponto.

Fecha o álbum com a faixa “Match II” que tem a presença de uma guitarra mais “funk”, algo meio grooveado, mas com toques bem generosos de psych rock, com um vocal bem destacado, dando uma tensão única à música.

O Sub existiu apenas por mais três anos após o lançamento de “In Concert” e excursionou pela Alemanha, Áustria e Itália, este último país que foi lançado seu único trabalho, após o suposto roubo das fitas máster pelo empresário da banda. Mas infelizmente o álbum não atraiu as atenções, apesar do material de excelente qualidade apresentado.

“In Concert” teve alguns relançamentos, sendo que o primeiro foi pelo selo “Garden of Delights” em 1994, no formato CD, pelo selo “Mayfair” em 2004, em LP e novamente “Garden of Delights”, em 2012, no formato LP. A esses relançamentos foram incluídas cinco faixas bônus que não acrescenta muito às faixas originais.

O Sub pode, para muitos, transparecer a ideia de ter sido apenas mais uma banda de heavy psych, mas algo o faz diferenciar-se das demais e é exatamente a sua inspiração experimental calcada na cena krautrock, mas com peças intrincadas e de peso, a junção muito boa entre prog rock e hard rock. Quando se ouve o Sub percebe-se que poderia ter uma vida mais longa. Pouco se sabe sobre o futuro dos músicos, apenas que o baterista Lutz Ludwig, como disse, tocaria na banda Amos Key. Os demais são um mistério enigmático.


A banda:

1 - Sub Theme I (Sub in Concert)

2 - Off (3:56)

3 - Sub Theme II (Money Maker)

4 - Gimme Some Lovin'

5 - Ma-Mari-Huana

6 - Match I

7 - Match II

 

Faixas:

Christian Wilhelm nos vocais

Klaus Kätel na guitarra

Peter Stimmel no baixo

Johannes Vester nos teclados

Lutz Ludwig na bateria



Sub - "In Concert" (1971)

Link para download do álbum aqui