É inegável, unânime que o
Yes foi um dos baluartes do rock progressivo a mundial. Sua fama corrobora sua
história longeva e grandiosa para a cena progressiva, é a pedra fundamental do
estilo, sendo uma referência, uma inspiração para músicos de seu tempo e de
jovens ávidos por formar uma banda. E quando se lembra do Yes e da sua vasta
obra discográfica, o que vem a mente? Claro que “Close to the Edge”, de 1972, “The
Yes Album”, de 1970, “Fragile”, de 1971, o clássico registro ao vivo “Yessongs”,
de 1972 etc. a década de 1970 foi prolífica para a banda e, apesar de não ser
uma fase, qualitativamente falando, interessante, a década de 1980 ajudou a
catalisar mais fãs, tornando o Yes uma banda de arena, de shows faraônicos. Mas
antes de questionar o Yes por aqui neste Blog, há a fase obscura da banda.
Aquela fase esquecida, negligenciada por fãs que se tornou coadjuvante,
sobretudo em comparação aos referidos tempos áureos da década de 1970. É o
início da banda, entre 1968 e 1970. Dois álbuns de estúdio foram lançados nesse
período: “Yes”, de 1969 e “Time and a Word”, de 1970. São grandes trabalhos de
uma banda, ainda nova, edificando um som, em uma cena progressiva embrionária,
tudo era muito nova e permeava no campo da experimentação, da lisergia, do
psicodelismo que, em 1969, estava no seu auge e que muitas bandas absorveram
inclusive o próprio Yes que está evidenciado no seu primeiro álbum. Era o Yes
obscuro. O Yes mofado e empoeirado para muitos, mas aqui ganha luz e
importância. E ganha notoriedade com um registro ao vivo, um bootleg, portanto
não oficial, que mostra esse Yes, de músicos jovens, tentando desenvolver sua
sonoridade, ainda cru, até mesmo agressivo, pesado, uma apresentação rara que
mostra a banda em momentos que, posteriormente não veria mais, no que tange ao
seu som, nos seus tempos de sucesso e visibilidade. Trata-se de uma
apresentação, de 1969, possivelmente um dos primeiros shows da banda, o que
torna mais raro ainda, na cidade de Amougies, na Bélgica, no dia 27 de abril,
um festival chamado “Actuel Festival”, também chamado de “Festival Amougies”. Falo
do “Yes – Actuel Festival 1969”. O “Actuel Festival” foi criado pela gravadora BYG
Actuel, da França, em uma espécie de resposta europeia ao Festival norte
americano Woodstock e foi realizado na cidade belga de Amougies, entre os dias
24 e 28 de outubro de 1969, tendo o Yes como uma das atrações no penúltimo dia.
O festival tinha nada menos
como Frank Zappa como mestre de cerimônias, juntamente com Pierre Lattes e
seria realizado Parc de Saint Cloud em Paris, mas as autoridades francesas
proibiram o festival alguns dias antes do início, sendo deslocado para a
Bélgica. Mais de 15.000 pessoas compareceram ao festival, apesar do frio, dos
dias úmidos e nevoeiro. Eram tempos embrionários para os festivais também.
Woodstock, Ilha de Whight etc. Surgiram vários pelos EUA e Europa, em situações
precárias, arriscadas e perigosas, o que se tornava uma aventura para as
bandas, o público e os organizadores, sem contar com o viés social e político
que os mesmos carregavam.
Documentário sobre o
Festival
O Yes à época contava com
uma formação que, apesar de ter pertencido a uma “fase obscura” da banda, se
tornariam consagrados e famosos, como Jon Anderson no vocal, Chris Squire no
baixo, Tony Kaye nos teclados, Bill Bruford na bateria e Peter Banks na
guitarra. E a apresentação mostra um Yes pesado, furioso, agressivo, psicodélico,
experimental, com um som cru, mostrando uma nítida fase de edificação de seu
som evidenciado nas faixas compostas por releituras (covers) de outros músicos
e bandas, que entraram nos seus dois primeiros trabalhos, “Yes”, de 1969, já
lançado naquela época e “Time and a Word”, de 1970, que seria lançado, mas que
a banda já estava apresentando ao vivo. “No Opportunity Necessary, No
Experience Needed”, que abre o show é um cover do cantor norte Americano Richie
Havens e que está no segundo álbum do Yes, “Time and a Word”, de 1970, que na
época não havia sido lançado, era novidade, estava sendo apresentada ao público
belga. A versão ao vivo ganhou muita vitalidade, um certo peso, talvez pela
impetuosidade de uma banda ainda jovem, mas o destaque fica para a cozinha
entrosada composta pelo baterista Bill Bruford e o baixista Chris Squire.
Excelente versão! A faixa 2 não é uma música, mas sim um período de problemas
técnicos intitulada “Tuning Problems” que, na tradução literal significa
“problemas em ajuste”. Eram muito comuns problemas técnicos dada a estrutura,
muitas vezes precárias dos festivais à época, era uma fase embrionária dos
festivais, ainda em fase de desenvolvimento. “Then”, também do segundo álbum
“Time and a Word”, tem uma proposta mais introspectiva, diria até melancólica,
tendo como base linhas excelentes do teclado de Tony Kaye, com algumas pitadas
de psicodelia e o lindo vocal dramático de Anderson. “It's Love”, cover da
banda “The Rascals”, ao longo de seus quase 15 minutos de duração, é uma ode ao
virtuosismo dos seus instrumentistas, aliado ao peso, tudo muito cru, visceral.
A banda nesta música estava em um momento de pura improvisação, uma liberdade
criativa, onde a música e a experimentação fluíam naturalmente, sem amarras,
uma verdadeira viagem sonora. “Everydays”, mais uma do segundo álbum, é também
um cover de Stephen Stills, conhecido por tocar no Crosby, Stills, Nash &
Young. Começa lenta, uma atmosfera psicodélica, viajante, mas irrompe em um
peso com a bateria jazzy de Brufford, alternando em peso e a excelente
apresentação jazzística do primeiro grande baterista do Yes.“I See You”, do primeiro
álbum, também é um cover. A música foi composta por Jim McGuinn, guitarrista do
The Byrds e David Crosby, do Crosby, Stills, Nash & Young. A música ganhou
uma versão estendida, mas mantém a pegada psicodélica, com grande apelo
comercial e pop, sem soar ruim, é claro. A banda faz uma série de
improvisações, visando interagir com o público. Destaque, mais uma vez para a
bateria swingada e jazzística de Bruford e a guitarra estridente de Banks, que
descamba, já no final da música, para o peso, a agressividade e distorção.
Incrível ouvir o Yes assim! O show finaliza com “Something's Coming”, lado B do
Segundo álbum da banda, “Time and a Word”, também é um cover. Fora escrita por
Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, ambos músicos e letristas norte
americanos, começa com trovões nas teclas e baquetas, uma sintonia incrível
entre Kaye e Bruford, promovendo um
“duelo” salutar aos ouvidos e a alma, mais um set de improvisações , que tem o
peso como protagonista sonoro! Não podemos
negligenciar o típico e indefectível baixo “galopante” de Squire que apimenta o
som com muito virtuosismo e competência. Após esse período obscuro do yes,
Peter Banks saiu da banda em 1971, criando a excelente banda Flash juntamente
com Peter Barden do Camel. No seu primeiro álbum contou com a participação de
tony Kaye nos teclados. Excelente registro do Yes, mostrando um período que
certamente não voltará mais e que ficará na mente dos poucos apreciadores da
música obscura e vilipendiada por todos e consequentemente esquecida pelo
tempo.
A banda:
Jon Anderson no vocal
Peter Banks na guitarra
Tony Kaye nos teclados
Chris Squire no baixo
Bill Bruford na bateria
Faixas:
1 - No Opportunity Necessary, No Expirience Needed
A banda:
Jon Anderson no vocal
Peter Banks na guitarra
Tony Kaye nos teclados
Chris Squire no baixo
Bill Bruford na bateria
Faixas:
1 - No Opportunity Necessary, No Expirience Needed
2 - Tuning Problems
3 - Then
4 - It´s Love
5 - Everydays
6 - I See You
7 - Something´s Coming
3 - Then
4 - It´s Love
5 - Everydays
6 - I See You
Não há áudio no portal
YouTube deste show do Yes em 1969, mas segue link abaixo para download do mesmo com a
apresentação completa da banda com duração de uma hora.
Cortesia do blog “Prog rock Vintage”.
Cortesia do blog “Prog rock Vintage”.
Segue abaixo um raríssimo vídeo, de apenas 35 segundos, da apresentação do Yes no "Actuel Festival", de 1969. Válido como um documento comprobatório da rara exibição da banda.