quinta-feira, 7 de maio de 2020

Yes - Actuel Festival (1969)


É inegável, unânime que o Yes foi um dos baluartes do rock progressivo a mundial. Sua fama corrobora sua história longeva e grandiosa para a cena progressiva, é a pedra fundamental do estilo, sendo uma referência, uma inspiração para músicos de seu tempo e de jovens ávidos por formar uma banda. E quando se lembra do Yes e da sua vasta obra discográfica, o que vem a mente? Claro que “Close to the Edge”, de 1972, “The Yes Album”, de 1970, “Fragile”, de 1971, o clássico registro ao vivo “Yessongs”, de 1972 etc. a década de 1970 foi prolífica para a banda e, apesar de não ser uma fase, qualitativamente falando, interessante, a década de 1980 ajudou a catalisar mais fãs, tornando o Yes uma banda de arena, de shows faraônicos. Mas antes de questionar o Yes por aqui neste Blog, há a fase obscura da banda. Aquela fase esquecida, negligenciada por fãs que se tornou coadjuvante, sobretudo em comparação aos referidos tempos áureos da década de 1970. É o início da banda, entre 1968 e 1970. Dois álbuns de estúdio foram lançados nesse período: “Yes”, de 1969 e “Time and a Word”, de 1970. São grandes trabalhos de uma banda, ainda nova, edificando um som, em uma cena progressiva embrionária, tudo era muito nova e permeava no campo da experimentação, da lisergia, do psicodelismo que, em 1969, estava no seu auge e que muitas bandas absorveram inclusive o próprio Yes que está evidenciado no seu primeiro álbum. Era o Yes obscuro. O Yes mofado e empoeirado para muitos, mas aqui ganha luz e importância. E ganha notoriedade com um registro ao vivo, um bootleg, portanto não oficial, que mostra esse Yes, de músicos jovens, tentando desenvolver sua sonoridade, ainda cru, até mesmo agressivo, pesado, uma apresentação rara que mostra a banda em momentos que, posteriormente não veria mais, no que tange ao seu som, nos seus tempos de sucesso e visibilidade. Trata-se de uma apresentação, de 1969, possivelmente um dos primeiros shows da banda, o que torna mais raro ainda, na cidade de Amougies, na Bélgica, no dia 27 de abril, um festival chamado “Actuel Festival”, também chamado de “Festival Amougies”. Falo do “Yes – Actuel Festival 1969”. O “Actuel Festival” foi criado pela gravadora BYG Actuel, da França, em uma espécie de resposta europeia ao Festival norte americano Woodstock e foi realizado na cidade belga de Amougies, entre os dias 24 e 28 de outubro de 1969, tendo o Yes como uma das atrações no penúltimo dia.


O festival tinha nada menos como Frank Zappa como mestre de cerimônias, juntamente com Pierre Lattes e seria realizado Parc de Saint Cloud em Paris, mas as autoridades francesas proibiram o festival alguns dias antes do início, sendo deslocado para a Bélgica. Mais de 15.000 pessoas compareceram ao festival, apesar do frio, dos dias úmidos e nevoeiro. Eram tempos embrionários para os festivais também. Woodstock, Ilha de Whight etc. Surgiram vários pelos EUA e Europa, em situações precárias, arriscadas e perigosas, o que se tornava uma aventura para as bandas, o público e os organizadores, sem contar com o viés social e político que os mesmos carregavam.

Documentário sobre o Festival


O Yes à época contava com uma formação que, apesar de ter pertencido a uma “fase obscura” da banda, se tornariam consagrados e famosos, como Jon Anderson no vocal, Chris Squire no baixo, Tony Kaye nos teclados, Bill Bruford na bateria e Peter Banks na guitarra. E a apresentação mostra um Yes pesado, furioso, agressivo, psicodélico, experimental, com um som cru, mostrando uma nítida fase de edificação de seu som evidenciado nas faixas compostas por releituras (covers) de outros músicos e bandas, que entraram nos seus dois primeiros trabalhos, “Yes”, de 1969, já lançado naquela época e “Time and a Word”, de 1970, que seria lançado, mas que a banda já estava apresentando ao vivo. “No Opportunity Necessary, No Experience Needed”, que abre o show é um cover do cantor norte Americano Richie Havens e que está no segundo álbum do Yes, “Time and a Word”, de 1970, que na época não havia sido lançado, era novidade, estava sendo apresentada ao público belga. A versão ao vivo ganhou muita vitalidade, um certo peso, talvez pela impetuosidade de uma banda ainda jovem, mas o destaque fica para a cozinha entrosada composta pelo baterista Bill Bruford e o baixista Chris Squire. Excelente versão! A faixa 2 não é uma música, mas sim um período de problemas técnicos intitulada “Tuning Problems” que, na tradução literal significa “problemas em ajuste”. Eram muito comuns problemas técnicos dada a estrutura, muitas vezes precárias dos festivais à época, era uma fase embrionária dos festivais, ainda em fase de desenvolvimento. “Then”, também do segundo álbum “Time and a Word”, tem uma proposta mais introspectiva, diria até melancólica, tendo como base linhas excelentes do teclado de Tony Kaye, com algumas pitadas de psicodelia e o lindo vocal dramático de Anderson. “It's Love”, cover da banda “The Rascals”, ao longo de seus quase 15 minutos de duração, é uma ode ao virtuosismo dos seus instrumentistas, aliado ao peso, tudo muito cru, visceral. A banda nesta música estava em um momento de pura improvisação, uma liberdade criativa, onde a música e a experimentação fluíam naturalmente, sem amarras, uma verdadeira viagem sonora. “Everydays”, mais uma do segundo álbum, é também um cover de Stephen Stills, conhecido por tocar no Crosby, Stills, Nash & Young. Começa lenta, uma atmosfera psicodélica, viajante, mas irrompe em um peso com a bateria jazzy de Brufford, alternando em peso e a excelente apresentação jazzística do primeiro grande baterista do Yes.“I See You”, do primeiro álbum, também é um cover. A música foi composta por Jim McGuinn, guitarrista do The Byrds e David Crosby, do Crosby, Stills, Nash & Young. A música ganhou uma versão estendida, mas mantém a pegada psicodélica, com grande apelo comercial e pop, sem soar ruim, é claro. A banda faz uma série de improvisações, visando interagir com o público. Destaque, mais uma vez para a bateria swingada e jazzística de Bruford e a guitarra estridente de Banks, que descamba, já no final da música, para o peso, a agressividade e distorção. Incrível ouvir o Yes assim! O show finaliza com “Something's Coming”, lado B do Segundo álbum da banda, “Time and a Word”, também é um cover. Fora escrita por Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, ambos músicos e letristas norte americanos, começa com trovões nas teclas e baquetas, uma sintonia incrível entre Kaye e Bruford, promovendo  um “duelo” salutar aos ouvidos e a alma, mais um set de improvisações , que tem o peso  como protagonista sonoro! Não podemos negligenciar o típico e indefectível baixo “galopante” de Squire que apimenta o som com muito virtuosismo e competência. Após esse período obscuro do yes, Peter Banks saiu da banda em 1971, criando a excelente banda Flash juntamente com Peter Barden do Camel. No seu primeiro álbum contou com a participação de tony Kaye nos teclados. Excelente registro do Yes, mostrando um período que certamente não voltará mais e que ficará na mente dos poucos apreciadores da música obscura e vilipendiada por todos e consequentemente esquecida pelo tempo.

A banda:

Jon Anderson no vocal
Peter Banks na guitarra
Tony Kaye nos teclados
Chris Squire no baixo
Bill Bruford na bateria

Faixas:

1 - No Opportunity Necessary, No Expirience Needed
2 - Tuning Problems
3 - Then
4 - It´s Love
5 - Everydays
6 - I See You
7 - Something´s Coming

Não há áudio no portal YouTube deste show do Yes em 1969, mas segue link abaixo para download do mesmo com a apresentação completa da banda com duração de uma hora.

Cortesia do blog “Prog rock Vintage”.


Segue abaixo um raríssimo vídeo, de apenas 35 segundos, da apresentação do Yes no "Actuel Festival", de 1969. Válido como um documento comprobatório da rara exibição da banda.