O universo do rock obscuro e
raro é definitivamente gigantesco. É como se fosse uma selva ainda inexplorada,
intocável, esperando por nós, para desbravar e dominar a música, embora antiga,
pelo menos a esmagadora maioria, que irá nos servir como um elixir, um deleite.
Por isso esse reles e
humilde blog existe: para dar luz ao rock obscuro, para trazer à tona todas
essas bandas, com suas histórias de fracassos comerciais sim, mas extremamente
ricas, que nos ensina que a música, em sua forma genuína, ainda vale, ainda tem
relevância para tais bandas.
E, para variar, estava eu,
em mais uma de minhas incursões pela grande “web” em busca de novas sonoridades
de bandas velhas e encontrei uma publicação nas redes sociais de uma banda que
carregava em seu nome o de um personagem icônico e deveras perigoso que muito
marcou a minha vida de cinéfilo. Falo de Hannibal Lecter.
Quem não lembra do Dr.
Hannibal encarnado pelo excelente ator, vencedor do oscar, Anthony Hopkins, no
filme “Silêncio dos Inocentes”, de 1991. Bem pelo menos foi com Hopkins que o
personagem ganhou visibilidade.
Aquilo, claro, me chamou a
atenção, uma banda de nome HANNIBAL, será que traria uma sonoridade boa? O que
me reservaria? Logo busquei o seu álbum que estava disponível na grande rede e
não hesitei em ouvir. Não esperei por muito tempo. Estava com uma incontida
ansiedade em ouvi-lo.
Que banda, que álbum! Se eu associei qualidade sonora ao nome, no mínimo pitoresco da banda, deu certo, apesar de ser um risco pouco calculado, mas o fato é que o som da banda me envolveu por completo.
Quando o álbum do Bakerloo, já
com o nome encurtado, lançou seu único trabalho, em 1969, homônimo, Clemson
saiu da banda, para ingressar no Colosseum. O empresário da banda, Jim Simpson,
já tinha agendado uma turnê pela Alemanha e se viu em uma situação complicada, porque
a banda estava com seu line up
incompleto.
Junto com Adrian Ingram
tinha também uma figura importante para a banda, o tecladista Bill Hunt, que
era oriundo da banda “Brumbeat Psychsters Breakthru”, que gravou um single,
para a Mercury, chamado “Ice Cream Tree” (b/w “ Julius Caesar”), acumulando
material digno de um álbum que mais tarde seria lançado com o nome “Adventures
Highway”.
O vocalista Alex Boyce,
juntamente com a seção rítmica do Hannibal, Jack Griffiths, no baixo e John
Parkes, na bateria, completaram a formação original da banda. Juntou-se também
ao Hannibal o saxofonista e clarinetista Cliff Williams, que era mais um músico
contratado, pois não aparece nos créditos no álbum, mas que deixou sua marca
importante nas nuances sonoras da banda.
A arte gráfica de “Hannibal”
ostenta uma capa dobrável com uma visão inferior, em negativo fotográfico, de
um quadrúpede difícil de identificar no topo de uma colina arrastando um
flautista contra um céu laranja. Um tanto quanto louco, não acham? O designer,
Keith MacMillan (também conhecido como Keef), também fez visuais para álbuns do
Colosseum (“Valentyne Suite”, de 1969), Beggars Opera, Rod Stewart (“Gasoline
Alley”), Affinity, Hungry Wolf, Black Sabbath (“Paranoid”, de 1970), Warhorse,
Manfred Mann, entre outros.
“Hannibal” traz o jazz rock
como a sua espinha dorsal sonora. Os músicos se apoiaram mais no lado “rock” do
jazz rock, trazendo interessantes nuances de hard rock ao som do Hannibal. E
não se enganem, amigos leitores, de os caras não tivessem talento para o jazz,
muito pelo contrário, basta ouvir a guitarra de Ingram, o sax de Willians e a
bateria pungente e complexa de Parkes. Sem contar também com textura blueseiras
que me remete ao Colosseum em seus primórdios. Definitivamente o som do
Hannibal era de vanguarda, novo, audacioso e ainda trazia um embrionário prog
rock dada a viradas rítmicas das músicas.
O álbum é inaugurado pela
faixa “Look Upon Me”. Ela está longe da complexidade das faixas seguintes, mas
que não fica atrás, sobretudo pelo saxofone, os instrumentos de sopro que
ganhariam destaque do início ao fim do álbum. Mas é com a guitarra e seus bons
riffs que ganharia imponência logo no início, sem contar também com o bom e
consistente vocal de Alex Boyce.
Na sequência temos a faixa “Winds
of Change” segue a linha jazz rock que é a proposta do álbum, mas vem com um
pouco mais de agressividade, um jazz mesclado ao hard rock tendo a guitarra
como sustentáculo, sem contar com os vocais bem dramáticos, bem emocionais de
Boyce que traz o contraponto ao peso da faixa que se mostra ainda bem
elaborada, complexa sob o aspecto da melodia.
“Bend for a Friend” traz
batidas constantes, com guitarra rasgando com riffs poderosos e solos
ocasionais, além de saxofone nervoso e órgão indo e vindo em uma sincronia
instigante. Logo muda tudo e a sonoridade se revela jazzística com texturas de
teclado em ritmo lento, algo meio lisérgico, mas em seguida os instrumentos de
sopro ganha logo protagonismo.
“1066” traz um blues rock
vibrante muito determinado que já começa logo com os vocais bem trabalhados de
Boyce. Definitivamente ele traz muito caráter em seu canto, com refrãos quentes
e instigantes. Não podemos negligenciar o belo trabalho de bateria, enquanto o
baixo pulsa fortemente. A seção rítmica também ganha destaque nessa faixa.
“Wet Legs” é uma excelente
faixa, tão boa com um órgão pulsante que se destaca logo antes dos três minutos
de música, trazendo bons solos de guitarra ao estilo jazzy, bateria marcada e bem cadenciada entre o hard rock e jazz
rock e baixo pulsante.
E fecha com a faixa “Winter”
que se destaca pela pegada jazzística mesclada ao hard rock implementada por
Ingram, mostrando incrível destreza e versatilidade. Talvez “Winter”
personifique o que foi o álbum na sua íntegra: versatilidade, complexidade,
força, intensidade. O trabalho instrumental, como um todo, se faz evidente
nessa faixa.
Após o lançamento de seu
único álbum, em 1970, o Hannibal chegou a excursionar ao lado de bandas
clássicas como o Black Sabbath e Free, mas infelizmente o seu precoce fim
destruiu a sua trajetória que prometia surtir frutos, como esse único álbum.
O tecladista Bill Hunt fez
turnê com a banda “The Move”, que era o nome da banda norte americana Bang, na
época do álbum que foi gravado, mas não lançado em 1971 chamado “Message From
The Country”. Toca saxofone e trompete em “No Answer”, álbum de estréia da Electric
Light Orchestra, além de piano e cravo na banda de Roy Wood, “Wizzard”. Em 1989
ele gravou um single com “Blessing In
Disquise”, que também apresentava Bob Lamb (Locomotive) e os “ex-alunos” do
Slade, Dave Hill e Noddy Holder.
Adrian
Ingram gravou um álbum de guitarra clássica em 1980 chamado “Duets”. Nos anos
1990 ele apareceu em lançamentos de “Jazz Cat” com Alan Skidmore e o Bem
Crosland Quintet.
Meus parabéns pela excelente resenha. Estou conhecendo muita coisa boa aqui. Abraço
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ExcluirFala João Luiz! Fico feliz que tenha gostado da banda! Fico feliz também que tem gostado do conteúdo deste humilde e reles blog.
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