quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Odin - Odin (1972)

 

A trajetória deste reles e humilde blog vem revelando uma predileção minha: essas bandas “one-shots”, ou seja, bandas que lançaram apenas um álbum de estúdio e some do mapa, desaparece para sempre da cena musical. Para muitos pode parecer uma preferência pelas bandas fracassadas, mas, admito e com certa alegria, meus caros leitores, que este blog traz histórias de bandas fracassadas.

Fracassadas, sob o aspecto comercial, mas que nos proporcionam histórias memoráveis, histórias genuínas, de bandas que sem sombra de dúvidas entregaram, mesmo que em um efêmero tempo de vida, as suas verdades sonoras. Acredito que seja por isso que essas bandas, de alguns anos para cá tem me cativado, não apenas pelo quesito sonoro, mas pelas histórias que é uma das essências desse blog.

E eu preciso destacar uma banda que, claro, lançou apenas um álbum no prolífico ano para o rock n’ roll, 1972, e que logo pereceu e tinha, em sua formação, músicos da Inglaterra, Alemanha e da Holanda, ou seja, era uma banda multinacional, porém baseada na Alemanha. Falo do ODIN. Afinal, como muitos músicos em início de carreira, os caras do Odin saíram de seus países natal para ter um lugar ao sol. As audiências em seus países de origem pareciam não estar tão interessado na sonoridade da banda ou não acontecia um contrato de gravação, então as migrações se tornaram inevitáveis.

Odin

As origens do Odin vieram de uma banda chamada Honest Truth que tinha na formação o baterista britânico Stuart Fordham e do também britânico Ray Brown, que era baixista, o guitarrista e vocalista holandês Rob Terstall, além de um tecladista húngaro que morreria precocemente dando, de forma abrupta, um ponto final a banda, além também do roubo de seus equipamentos.

E com o fim do Honest Truth os caras se juntaram com o tecladista alemão Jeff Beer e, já na Alemanha, a banda mudaria seu nome para Odin. Beer, antes de se juntar ao recém-nascido Odin, fazia parte da banda Elastic Grasp. Enfim uma banda nova nascia e as esperanças dos jovens músicos também. Largaram seus países, foram, apenas com a tal esperança no fundo da mala, de fazerem sucesso, precisava acontecer para o esforço fazer valer a pena.

E tudo parecia indicar que o futuro seria gentil para com o Odin. Surgiu a possibilidade de um contrato de gravação, já para o ano de 1972, com um dos selos mais reverenciados do mundo à época, a Vertigo, e finalmente aconteceu, lançando seu primeiro trabalho autoral, chamado simplesmente “Odin”. Mas o álbum só teve lançamento na Alemanha.

“Odin” é um álbum multifacetado, diversificado sob o aspecto sonoro. Traz um som mais cru, calcado no hard prog, com distorção pesada, bateria agressiva, mas ainda assim entrega uma sofisticação que só mesmo o rock progressivo pode proporcionar ao ouvinte. Sim o ouvinte que aprecia várias vertentes do rock como as que eu citei certamente irá se identificar com o primeiro álbum do Odin.


Essa sopa musical, embora não traga nada de revolucionário, é muito boa, muito bem executada, principalmente para mim que aprecia flertar com estilos que adoro, como o hard rock mais agudo e texturas progressivas que eleva a sonoridade, fazendo da banda poderosa, intensa e viajante nos inúmeros recursos propiciados pelo prog rock. Um som eclético, um crossover digno de reverências e talvez pouco compreendido à época, pois o sucesso comercial tão esperado pela banda não aconteceu, mesmo em uma “praça” como a Alemanha, cujo público absorvia bem, nos anos 1970, sonoridades pouco ortodoxas, as vendas foram um fiasco.

A instrumentação é verdadeiramente exótica em “Odin” o que reforçou a sua condição de anticomercial, sendo, consequentemente pouco assimilado pelo mercado à época. Há, neste álbum, excentricidade e experimentação divertida e que traz, além da pegada hard progressiva, pitadas gentis de jazz rock, psicodelia que entrega a este trabalho belíssimas e arrojadas melodias de rock, as vezes pesados, lentas, melódicas e até mesmo melancólicas, mesclado a riffs pesados de guitarra, também inspirados no blues rock.

O álbum é inaugurado pela faixa “Life is Only”, a música mais longa deste trabalho do Odin, com quase onze minutos de duração e que personifica a essência de todo álbum: uma combinação explosiva e de tirar o fôlego de hard rock e uma composição progressiva sinfônica excelente. O baixo estabelece uma seção rítmica dinâmica juntamente com um impressionante solo de guitarra. A beleza desta faixa está na sua estrutura complexa e as texturas de teclado corroboram tal condição. Em seguida há uma pequena faixa instrumental, a “Tribute to Frank”, uma homenagem a Frank Zappa, que tem um trabalho interessante de vibrafone, com um arranjo meio experimental, mas não muito complexo.

"Life is Only"

Na sequência tem “Turnpike Lane” que é basicamente uma faixa instrumental, mas o destaque fica para os riffs e solos lindos e bem trabalhados de guitarra, com as linhas de baixo excelentes, mais uma vez, com groove, sendo ainda pulsante, vívido. “Be The Man You Are” vem com uma mudança de tempo na sonoridade da banda neste álbum, com um viés um pouco mais comercial, trazendo uma balada, com acordes um tanto quanto repetitivos, mas bem executados. Percebe-se uma guitarra suave com tonalidades folk interessantes, mostrando que a banda tem recursos.

"Be the Man You Are"

O álbum volta ao rock progressivo com a faixa “Gemini”, mas traz aquela mescla típica com o hard rock, pois traz certa aspereza, peso e até alguma agressividade na sua sonoridade. Em alguns momentos tem a impressão de que a estrutura da faixa é basicamente calcada no hard rock, mas o prog rock também está lá em toques mais sofisticados, tanto que o trabalho de guitarra e dos teclados me lembra algo como o prog sinfônico e muito bem executado, diga-se de passagem. E assim se faz também a variação rítmica, também típica do rock progressivo.

"Gemini"

“Eucalyptus” é um instrumental bastante descontraído e solar que traz um jogo interessante e exótico de sintetizadores que flerta com o prog rock e o rock psicodélico, pois percebi algo de lisérgico, ácido neste contexto melódico. A banda finaliza o álbum com outra faixa longa, “Clown”, que traz, mais uma vez, a bela harmonização entre hard rock e progressivo, com a adição de uma guitarra psicodélica, ácida, muito parecida com a faixa inaugural. Uma música que sem dúvida agradaria a fãs de prog e hard, sem sombra de dúvidas.

"Clown"

Com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio o Odin estava se preparando para uma turnê, para se apresentar e divulgar seu novo trabalho. Inclusive a banda recebeu um convite para gravar em um estúdio de rádio, na Alemanha, em 1973, a “SWF Sessions”, e até gravaram mais três músicas novas: “King King”, “Oh No” e “Make Up Your Mind”, além de duas faixas do álbum de estúdio (“Turnpike Lane” e “Life is Only”), o que denotava um futuro novo álbum, mas esse trabalho só veria a luz do dia em 2007, lançado pelo selo Long Hair Music.

"SWF Sessions" - Live (1973 - 2007)

E a turnê, que estava planejada para o ano de 1973, não aconteceria também devido a desacordos de caráter legal e uma crise se instaurou no Odin, acabando, pouco a pouco, com a energia dos músicos que, aos poucos, se viram desestimulados. A banda se viu obrigada a encerrar, de forma precoce, as suas atividades em 1974. A banda durou apenas três anos ou talvez um pouco menos do que isso.

A maioria dos músicos que compunha o Odin desistiu da carreira musical. Jeff Beer continuou na Alemanha e seguiu uma carreira nas artes plásticas, reza a lenda, enquanto o britânico Rob Terstall, que também ficou na Alemanha, continuou na música em uma banda que tocava jazz e rock, uma banda cover, que se chamava Motion-Sound. Ray Brown virou um carpinteiro, enquanto Stuart Fordham voltou para a Inglaterra e investiu em uma carreira no ramo de eletrônicos antes de falecer em 2003.

Apesar das frustrações em sua trajetória o Odin produziu um álbum sólido, poderoso, audacioso, mesmo sem ter sido tão revolucionário à época. Muitos álbuns e bandas pagaram o preço por serem exatamente audaciosos, por ter seguido um caminho que ninguém seguiu, não se rendendo a modismos, seguindo a sua criatividade somente. Deixou, ainda assim, um trabalho importante, mesmo que trafegando, até os dias de hoje, pelo submundo do rock. O álbum teve apenas um relançamento, no formato CD, em 1991, pelo selo Repertoire.




A banda:

Jeff Beer nos teclados, vibrafone, percussão, vocais

Rob Terstall na guitarra, vocais

Ray Brown no baixo, vocais

Stuart Fordham na bateria, percussão

  

Faixas:

1 - Life Is Only

2 - Tribute To Frank

3 - Turnpike Lane

4 - Be The Man You Are

5 - Gemini

6 - Eucalyptus

7 - Clown 



"Odin" (1972)