quarta-feira, 29 de abril de 2020

Out of Focus - Out of Focus (1971)

A Alemanha pós-guerra estava, sob o aspecto cultural, entregue à própria sorte. Tudo que era “consumido” se resumia a “enlatados” pasteurizados que vinha de fora e a cena krautrock que, nos seus primórdios eram nada menos que comunas de hippies, era o movimento contra cultural que marchava à margem de uma sociedade ultraconservadora e carcomida.

Quando essas comunas decidiram se expressar por intermédio da música, claro bandas começaram a serem formadas, mas o espírito contestador e subversivo manteve-se intacto nas suas músicas. Era um período em que as bandas refletiam eventos sócio-políticos.

E uma banda sintetizava esse formato com fervor e intensidade: o OUT OF FOCUS. A formação desta seminal banda, criada em 1968 na cidade de Munique, trazia na essência o guitarrista Remingius Drechsler.

Remingius Dreschler

Drechsler nasceu em 1950 em um local em Munique chamado Lehel, próximo ao centro da cidade. Ele estudou, como os seus pais, por dois anos no Richard Strauss Konservatorium. Reza a lenda que quando a sua mãe estava grávida dele ouvia nos fones de ouvido uma estação de rádio americana para soldados. O Out of Focus talvez tenha sido concebido antes de seu principal integrante nascer.

Claro que Dreschler teve, ao longo de sua infância e juventude, contatos com vários instrumentos, como violino, piano, bateria e até oboé, além, claro, de suas influências ouvindo rádio e a música dos anos 1960.

O Out of Focus deu os seus primeiros passos por volta de 1966 e 1967, ensaiando no porão da casa da mãe de Dreschler e da forma mais simples e improvisada possível, com caixas de ovos na parede, porque as reclamações dos vizinhos eram recorrentes.

Para se ter noção do simplório aparato, para amplificar o baixo de um dos primeiros baixistas da banda, de nome Peter Gabriel (não confundir com o icônico vocalista do Genesis), usaram um rádio antigo e o próprio Dreschler batucava em caixas e panelas de cozinha simulando bateria.

E falando nos primórdios do Out of Focus as primeiras experiências dos seus integrantes circulava apenas nos Movers, seus antecessores direitos. Mas mudaram logo de nome porque ficaram em último lugar em um concurso de bandas locais. Um desastre! Não havia dúvida de que precisavam de um novo nome e a ideia de “Out of Focus” surgiu depois da música da banda americana Blue Cheer, de mesmo nome.

A formação do Out of Focus, primeiro como Movers, começou quando Dreschler e Peter começaram a ensaiar, se juntando com dois guitarristas que se interessaram em tocar na banda. Os primeiros shows aconteceram em um centro juvenil católico, onde também ensaiava, algumas vezes, também em pubs e até mesmo em cervejarias e tocavam, como muitas bandas, covers de Beatles, Them e The Pretty Things e mais tarde The Doors com suas músicas longas sendo diretamente influenciados por esse tipo de música.

Primeira foto do Movers, em 1967

Entre idas e vindas de integrantes o Movers se estabilizaria com Peter Gabriel, Heiner, Wolfgang Pemsel, Remigius Drechsler e Hubert. E a essa formação foi adicionada um tecladista, Hennes Hering.

Quando a banda começou a tocar em pequenos circuitos de música, alguns festivais, perceberam que estavam em ascensão e já como Out of Focus seguiu a sua trajetória. Com o tempo clubes undergrounds e beat sugiram por toda parte, bem como festivais ao ar livre começaram a se estabelecer também. Não demorou muito para o Out of Focus estivesse na estrada quase todos os finais de semana para shows.

Out of Focus

Em 1968 a banda começou a trabalhar em material autoral e combinava blues, rock psicodélico, folk e um rock progressivo embrionário, mesclado a uma eloquente consciência política e social, comum às bandas de krautrock. Eles desenvolveram rapidamente o seu estilo e, a partir de 1969, fizeram uma turnê grande, passando por toda a Alemanha e abrindo para Amon Düül II, Nektar, Ginger Baker, Kraan, Kraftwerk e Embryo, entre outros.

E finalmente em 1970 o selo “Kuckuck” os contratou, gravando, naquele mesmo ano, o seu primeiro álbum de estúdio, “Wake Up”, caracterizado por viagens experimentais e etéreas, jazz rock, desenhando o vanguardismo do rock progressivo que estouraria lá pelos primeiros anos da década de 1970.

"Wake Up" (1970)

A banda, tida como perfeccionista, levou muito tempo para conceber “Wake Up”, e o resultado, claro, foi esplêndido para um primeiro álbum, porém, foi com segundo trabalho, chamado simplesmente de “Out of Focus”, de 1971, que alçaria a sonoridade da banda ao ápice, ao apogeu da complexidade.

E esse grande álbum será alvo da minha resenha. O segundo álbum, cantado em inglês, traz um Out of Focus mais maduro, complexo, mais progressivo e jazzístico, fazendo deste um “clássico obscuro” do jazz prog da Alemanha e quiçá do mundo, se não fosse essa grande banda reconhecida pelos seus grandes serviços a música.

 Nota-se com veemência uma guitarra mais violenta, com riffs poderosos e lisérgicos, com saxofones tocados de forma frenética, com longos solos, com uma “cozinha” sinérgica, com bateria ao estilo “jazzy” e baixo pulsante e hipnótico. Flauta e saxofone trazem uma levada mais improvisada com elementos de jazz, folk, hard rock, progressivo, uma verdadeira combinação instrumental que beira à perfeição.

O Out of Focus neste trabalho marcou uma etapa importante na história do movimento krautrock na Alemanha, uma versão mais complexa, intricada, sofisticada, era o florescer do rock progressivo genuíno tendo nesta banda e álbum o seu ponto de partida.

“Out of Focus” foi gravado no estúdio Bavaria, em junho de 1971 e a formação da banda neste álbum tinha: Remigius Drechsler na guitarra, Hennes Hering no órgão e piano, Moran Neumuller saxofone, flauta e primeira voz, Stephan Wisheu no baixo e Klaus Spori na bateria.

O álbum começa com a faixa “What Can A Poor Boy Do (But To Be A Street Fighting Man)” mostrando a que vinha o Out of Focus com um poderoso e vigoroso jazz fusion com uma levada hard, com um destaque excepcional para o saxofone.

"What Can a Poor Boy do (But to be a Street Fighting Man)"

It’s Your Life” a banda diminui o ritmo com uma balada de atmosfera psicodélica com uma temática meio folk, com a predominância da flauta. Um vocal introspectivo, melancólico, sombrio, com um dedilhado delicado ao fundo de um violão acústico. Linda música com "tonalidades" folk.

"It's Your Life"

“Whispering” tem um elemento obscuro, psicodélico, com o indefectível jazz fusion e um hardão poderoso com solos avassaladores de guitarra, mostrando passagens de ritmo suaves e pesadas, um verdadeiro exemplo de prog rock.

"Whispering"

“Blue Sunday Morning” é outro destaque do álbum com flautas, órgão de igreja e narrações sinistras na canção, dando um toque obscuro e soturno a música em uma espécie de ritual sonoro.

"Blue Sunday Morning"

Já “Fly Bird Fly” mostra toda a beleza sonora que o Out of Focus é capaz de produzir. Uma balada linda e viajante ao estilo jazzístico com uma flauta transcendental. Uma faixa hipnótica, sem dúvida.

"Fly Bird Fly"

E fecha com “Television Program” que tem a mesma proposta que a faixa anterior com vocais falados, psicodelia, viagem lisérgica e temas complexos bem ao estilo prog rock.

"Television Program"

Após a separação do Out of Focus Remigius Dreschler foi para o Embryo por um tempo antes de formar o seu próprio projeto, o “Krontrast”. Dreschler define, após entrevista que concedeu ao site “It’s Psychedelic Baby Magazine” os seus momentos no Out of Focus:

“Houve momentos bons e momentos difíceis, mas no final foi uma vida boa, envolvente e intensa. Tudo está misturado em meus sentimentos em uma só coisa e não consigo realmente diferenciar. Nada foi perfeito, mas houve muitos momentos absolutos e não tenho nenhum sentimento de orgulho, o que me pareceria ridículo. Ter contribuído um pouquinho para a história da música, se é que contribuiu, é maravilhoso o suficiente. Mantivemo-nos fiéis a nós mesmos tanto quanto possível e seguimos o fio condutor que cada um tem dentro de si, o que na minha opinião é a melhor coisa que alguém pode fazer de qualquer maneira.”

A banda merecia mais crédito pela sua música arrojada, vanguardista e importante para a história do krautrock alemão e do rock progressivo mundial. Definitivamente o Out of Focus estava à frente do seu tempo, mostrando que a música não tem limites, amarras e é a personificação da liberdade criativa, enquanto manifestação artística.




A banda:

Remingius Drechsler na Guitarra, Stylophone, Tenor Saxofone, Flauta e Vocal

Hennes Hering no Piano e Teclado

Moran Neumüller no Vocal, Soprano Saxofone.

Klaus Spöri na Bateria

Stephen Wishen no Baixo

 

Faixas:

1 - What Can a Poor Boy Do

2 - It's Your Life

3 - Whispering

4 - Blue Sunday Morning

5 - Fly Bird Fly 

6 -Television Program



"Out of Focus" (1971)





















 






 










Black Widow - Demons of The Night Gather To See Black Widow (1970)



O pioneirismo do BLACK WIDOW transcende o occult rock. Os primeiros trabalhos dessa excelente banda inglesa fortalece a tese de que o Black Widow também tem a sua pedra fundamental calcada no rock progressivo. Uma banda que seguramente prestou grandes serviços graças ao seu rock teatral, ocultista, perigoso, uma música sedutora, com muito jazz rock, blues, hard. Enfim, era uma banda versátil, que não se prendia a estereótipos. 

O Black Widow foi formado em 1969 na cidade de Leicester, Na Inglaterra, após o fim da banda chamada Pesky Gee! E aqui vale uma curiosidade, no mínimo, inusitada: quando o Pesky Gee! A banda foi formada, em meados dos anos 1960 e tinha como base sonora o soul music e durante as suas apresentações, a banda foi tendendo para um estilo mais experimental, mais progressivo que, naquela época, ainda estava em formação, era embrionário.


Pesky Gee!

"Exclamation Mark" (1969)

Como Black Widow a banda lançou o que seria o seu disco mais conhecido e influente e que respeita as arestas de sua essência, o “Sacrifice”, de 1970. Nascido na época de bandas como Coven, Blue Oyster Cult e Black Sabbath, certamente é a mais injustiçada delas e também a mais diferenciada o que provavelmente tenha feito desta a menos conhecida entre as outras bandas que tem uma veia mais hard e heavy rock. 

Mas por serem oriundos da região de Leicester, eles acabaram sendo absorvidos pela cena mais pesada, sobretudo pelo teor de suas letras e postura teatral nos palcos que gerou muita polêmica e escândalo entre o público e opinião crítica, demasiadamente conservadora, da época. Mas incluo álbuns como “Sacrifice”, por exemplo, como um dos mais influentes do rock progressivo, com suas melodias intricadas, complexas, passagens rítmicas de rara beleza sonora. 

"Sacrifice" (1970)

O Black Widow era diferente dos demais, era progressivo, hard prog, mas com a temática típica das bandas de heavy rock. Vou falar de um registro ao vivo da banda raro, que fora resgatado nos confins da história mofada e antiga do rock pela Mystic Records e se chamou “Demons of The Night Gather To See Black Widow” de 1970. 

Esse show, de uma TV alemã, foi relançado em formato CD e DVD em 2008. O set list do show é baseado no disco “Sacrifice”, tocando todas as faixas do álbum com direito a efeitos visuais anestesiantes, psicodélicos e hipnóticos, bem como cenas de rituais de sacrifício, muita teatralidade. 

Demons of The Night Gather To See Black Widow (1970)

A banda na época era formada por: Kip Trevor nos vocais, Jim Gannon na guitarra, Zoot Taylor nos teclados, Bob Bond no baixo, Clive Jones na flauta e saxophone e Romeo Challenger na bateria. 

Black Widow

“In Ancient Days” começa com um teclado ameaçador, obscuro, fica mais pesado, cadenciado e depois com um sax nervoso com uma levada jazzística com uma dança do vocalista como se estivesse sendo possuído por uma música poderosa.

"In Ancient Days"

“Way to Power” é mais alegre, pulsante, mas que abre caminho para a clássica e horripilante “Come to The Sabbath”, um clássico absoluto e obscuro do occult rock com generosas pitadas de rock progressivo de vanguarda e jazz rock que evoca que clama para um peso de hard prog alucinante. 

"Way to Power"


"Come to the Sabbath"

“Conjuration” tem no sax o seu destaque bem como nos teclados. O protagonismo do jazz rock está nessa música, cadenciada, obscura, ameaçadora, poderosa. “Conjuration"  é a porta de entrada para a bela e inebriante balada “Seduction”, que te atrai com o vocal suave e o instrumental leve com uma pegada mais jazz, meio bossa nova com a parte teatral e a mulher sendo atraída por um ritual de sacrifício e algo de apoteótico. “Attack of the Demon” é uma porrada hard prog, raivoso, mas virtuoso, complexo, intricado, com riffs de guitarra agressivos com solos diretos, mas consistentes e que fecha com a não menos pesada “Sacrifice”, um belo exemplo de hard prog de qualidade, com alternâncias rítmicas excelentes e com muito peso, mostrando o frenesi e o quão a música é caótica.

Medley "Conjuration", "Seduction", "Attack of the Demon" e "Sacrifice"

Eu sempre me questionei o motivo pelo qual o Black Widow não ter recebido o devido crédito pelos grandes e valorosos serviços prestados ao rock progressivo, por exemplo. O rótulo pode ser fatal para algumas bandas, receber o famigerado "selo" de banda satânica e subversiva nos palcos pode ter sido uma tiro na culatra para o Black Widow, diante, sobretudo, de uma estrutura de sociedade extremamente conservadora e que demoniza, com o perdão da analogia, todas as formas, as manifestações artísticas.

Mas não podemos negligenciar a importância do Black Widow para o heavy metal e o black metal, por exemplo, não pelo aspecto sonoro, mas pelo apelo estético e conceitual de suas músicas. É inaceitável o quanto essa banda tenha sido tão influente, em várias vertentes do rock, sem receber os louros do seu árduo e persistente trabalho nos sombrios anos 1970. Essa apresentação corrobora, em sons e imagens, o quão esta banda foi importante para o rock nos seus aspectos sonoros, culturais e comportamentais. Que o seu nome seja perpetuado!




A banda:

Kip Trevor no Vocal
Clive Jones no Saxofone e Flauta
Jim Gannon na Guitarra
Zoot Taylor nos Teclados
Geoff Griffith no Baixo
Clive Box na Bateria

Participação de:

Astaroth a Dançarina


Faixas:

1 - In Ancient Days
2 - Way to Power
3 - Come to the Sabbat
4 - Conjuration
5 - Seduction
6 - Attack of the Demon
7 - Sacrifice



































Blood Ceremony - Blood Ceremony (2008)


A música progressiva e o hard rock vêm ganhando nos últimos trinta anos alguma evidência e com novas roupagens e concepções sonoras dignas de audição e consequente respeito de nossa parte, os fãs. Gostaria de apresentar a todos uma banda canadense que é relativamente nova, mas já está na cena o suficiente para adquirir uma boa quantidade de interessados arrebatados pela sua sonoridade que flerta com o novo, dada algumas peculiaridades, mas que, ao mesmo tempo, homenageia o antigo, os anos 1970, mas sem soar datado. 

A banda atingiu certo reconhecimento pela Europa, mas é pouco conhecida no Brasil. Falo do BLOOD CEREMONY. A banda foi formada em 2006 e lançou o seu debut apenas em 2008 de nome “Blood Ceremony”, alvo de minha resenha de hoje.


Lembro-me de ter feito a minha primeira audição do Blood Ceremony há alguns anos atrás e o que me cativou foi o fato da banda flertar em muitas vertentes sonoras oriundos do longínquo anos 1970, como hard rock, rock progressivo, heavy metal, occult rock entre outros. A banda tem uma incrível capacidade de se comunicar com tantas vertentes que, teoricamente, não deveriam ser reunidos em uma só música, mas o faz com contundência, substância e muita criatividade. 

Blood Ceremony

Tentem analisar o seguinte: Juntem o folk progressivo do Jethro Tull com o hard rock com pitadas de doom metal do Black Sabbath e a temática ocultista do Coven: você tem o Blood Ceremony! É possível? Eu não achava, mas sim amigos leitores, é possível! 

Um hard prog obscuro que dignifica as vilipendiadas bandas do gênero esquecidas nos confins dos anos 1970. O nome, “Blood Ceremony” é inspirado de um filme de terror dirigido por um diretor espanhol chamado Jorge Grau intitulado “Cerimônia Sangrenta”, cuja história gira em torno de um evento real em 1610 com a famosa condessa Bathory Eszerbeth, conhecida por seu nível altíssimo de psicopatia e sadismo, onde matava as pessoas e bebia seu sangue, acreditando que teria a sua juventude eterna.


Acredita-se que a lenda dos vampiros tenha começado com ela. Bem, histórias à parte, o Blood Ceremony neste disco era formado por: Sean Kennedy na guitarra, Chris Landon no baixo, Andrew Haust na bateria e Alia O'Brien nos vocais, flauta e órgão.


Toda a aura do disco, que dá a banda a atmosfera de progressivo obscuro é graças a vocalista excelente Alia O’Brien que também toca flauta e órgão. A flauta é o instrumento presente neste álbum e o peso do mesmo conta com a “cozinha” maravilhosa (baixo e bateria) e a guitarra com excelentes solos e riffs. 

A primeira faixa “Master of Confusion” começa com um órgão tocado de forma obscura e que nos conduz ao fim dos anos 60, bem lisérgico, que explode em um hard rock ao estilo Black Sabbath ou com o frenesi do The Doors. A qualidade e a peculiaridade da música e que descreverá toda a proposta do álbum.

"Master of Confusion", live

“I'm Coming With You” tem uma levada doom com pitadas mais do que generosas de rock e progressivo ao estilo Jethro Tull com a flauta em destaque. 

"I'm Coming With You", live in Chicago

“Into The Coven” mostra um pouco dos riffs de guitarra e da sonoridade do heavy progressivo obscuro do Mercyful Fate, com uma atmosfera densa e carregada.

Blood Ceremony - "Into the Coven", live in Belgium

“A Wine of Wizardry” tem mais uma vez a flauta como instrumento de destaque e me remete a bandas como o Focus, por exemplo, bem medieval. “Rare Lord” tem uma pegada bem dark, um progressive dark de ótima qualidade que deixaria felizes bandas como Goblin e Black Widow, uma atmosfera meio space rock ou algo do tipo.

"Rare Lord"

“Return to Forever” tem uma participação da banda, todos se destacam, baixo, bateria e guitarra dão a música o peso que é regido pelo vocal hipnótico de Alia. “Hop Toad” mostra o lado obscuro, mais uma vez, com pegadas de hard progressivo com a flauta sempre presente em contraponto ao peso. “Children of the Future” é linda demais, com riffs lentos e pesados com um fundo progressivo e folk, mostra toda a versatilidade da banda. O som pagão e marginal!

"Children of the Future", live at Berlin (2011)

E fechando o álbum temos “Hymn to Pan” com o Blood Ceremony mostrando versatilidade, uma miscelânea de estilos, com progressivo, lisergia garantida pelo órgão, peso na medida, uma grande faixa de progressivo, psicodélico, hard. Enfim, o Blood Ceremony já é a síntese da realidade positiva do progressivo e hard rock mostrando que a cena está viva e com substância.





A banda:

Sean Kennedy na Guitarra
Chris Landon no Baixo
Andrew Haust na Bateria
Alia O'Brien nos Vocais, Flauta e Teclados


Faixas:

1 - Master Of Confusion
2 - I'm Coming With You
3 - Into The Coven
4 - A Wine Of Wizardry
5 - Rare Lord
6 - Return To Forever
7 - Hop Toad
8 - Children Of The Future
9 - Hymn To Pan



"Blood Ceremony" (2008)







May Blitz - May Blitz (1970)


Sabe aquele som chapante, poderoso, visceral que te arrebata na primeira audição? Foi assim com a excelente e obscura banda inglesa MAY BLITZ formada em 1969. A banda está, sem dúvida, entre as primeiras formadas no formato “power trio”’ da história do rock, mas infelizmente não levou o crédito por se tratar de uma banda pouco conhecida, principalmente se comparada as emergentes e famosas bandas da época tais como a Experience, do guitarrista Jimi Hendrix e a arrasa quarteirão Cream, de Clapton, Baker e Bruce. 

A formação original da banda contava com o baixista Terry Poole e o baterista Keith Baker, que eram da banda de blues rock Bakerloo, ambos saíram da banda quando Clem Clempson foi para Colosseum. Eles queriam fundar juntos uma nova banda, assim surgia o embrião do projeto. 

Bakerloo (1969)

Mas ele recebeu um convite para formar o Uriah Heep e abandonou o barco com Poole junto. No caminho do baixista teria Tony Newman, um músico com alguma bagagem, apesar de jovem, tocando com Jeff Beck, sendo de lá demitido, além de ter tocado na banda de Graham Nash bem como na Sounds Incorporated e acabou assumindo as baquetas do May Blitz. 

Então faltava um guitarrista e vocalista. Newman e Poole decidiram fazer algumas audições, alguns testes e decidiram convocar o canadense Jamie Black. Quando a banda começou a trabalhar nas suas composições, a ensaiar, Poole segue o mesmo caminho de seu ex-colega de Bakerloo, Keith Baker, após um convite para tocar em uma banda alemã chamada Vinegar e deixou o posto vago. Foi aí que Jamie Black sugeriu o ingresso de um amigo, também canadense, como ele, para ser o novo baixista, o nome: Reid Hudson. Finalmente a formação do May Blitz se estabilizaria.



A banda no início, como várias outras nos longínquos anos 1970, tocou em vários pubs londrinos quando assinou contrato com o famoso selo “Vertigo” lançando o seu primeiro álbum no ano de 1970, sendo essa a minha dica infalível de audição. 

Tudo indicava à época que o May Blitz iria deslanchar principalmente pelo fato de sua sonoridade se encaixar nas pretensões do selo que buscava sonoridades vanguardistas e novas para o grande público, onde se destacavam o progressive rock e o hard rock, embrionários na transição da década de 1960 para a de 1970 e alguns exemplos já gozavam de publicidade e reconhecimento, como Grand Funk Railroad, Deep Purple e Led Zeppelin, com a mesma proposta pesada, sonoramente falando, e estavam fazendo sucesso. 

E, falando em Zeppelin, cabe aqui uma curiosidade: Tony Newman usava uma bateria Ludwig dada pelo grande John Bonham do Led Zeppelin, que era seu amigo. Com uma bateria dada pelo icônico "Bonzo", tinha que vingar! 

Mas a gravadora não investia tanto em marketing e divulgação em turnês, rádio e TV, mas o May Blitz construíra alguma reputação ao vivo, graças as suas viscerais apresentações conseguindo descolar muitos shows pela Inglaterra e também na França, Alemanha, Espanha, Canadá e Estados Unidos. 



E foi nos Estados Unidos que o May Blitz abriu para o Beach Boys, foi o seu show de estréia na terra do Tio Sam. Pode parecer um tanto quanto improvável uma banda com a potência bélica sonora do May Blitz abrir para o surf music do Beach Boys, mas era uma época em que o esteriótipo não ditava as regras, 

E na Europa o May Blitz tocou com outra banda que estava ganhando alguma visibilidade, o Black Sabbath. Sim! Imagine ver um show dos novos May Blitz e Black Sabbath juntos?  Falando do seu debut, simplesmente chamado de "May Blitz", as credenciais não poderiam ser outras: pesado, visceral, direto, cru, mas que, ao mesmo tempo, mostrava uma melodia sofisticada, bem trabalhada e diria intricada, complexa, podendo, em alguns momentos ser considerada como uma banda progressiva, inclusive trazendo notas dosadas, mas evidentes, de uma lisergia, uma psicodelia, que, naquela época, 1970, já estava perdendo seu “glamour”. 


“May Blitz” inicia avassalador com a música "Smoking the Day Away" com um festival de riffs que, mesmo cadenciado, revelou um peso pouco ortodoxo para aqueles tempos. “I Don't Know” segue no mesmo ritmo com um excelente destaque nos vocais e nos vocais de apoio dando o “tempero” para a faixa.

I don't know" (Live in Essen, 1970)

“Dreaming” começa lenta, dando uma “quebrada” na sequência pesada do álbum, trazendo, mais uma vez, um destaque no vocal soturno e competente que, aos poucos, no andamento da música, vai ficando gritado, potente, indomado, juntamente com os instrumentos, mais pesados, acompanhando o clima. “Squeet” é mais dançante, quase, diria, um soul, mas com o habitual peso das primeiras faixas.

"Dreaming"

“Tomorrow May Come” é uma linda e viajante balada, mostrando toda a capacidade e versatilidade da banda. “Fire Queen” retoma o momento pesado do álbum, mas com uma energia solar, mais animada, é possível criar alguns passos da dança com essa faixa, pelo menos aos que sabem dançar.

"Fire Queen"

E, para fechar, “Virgin Waters” alia peso e viagem psicodélica em doses cavalares, mas bem acertadas, corroborando a sinergia entre esses estilos, com solos desconcertantes de guitarra. Infelizmente, por incrível que pareça, a banda não atingiu a notoriedade que se esperava, diante de um grande álbum de estreia. 

Um segundo álbum fora lançado em 1971 chamado "The 2nd of May", mas a banda, no mesmo ano, se viu obrigada a encerrar as suas atividades. Black e Hudson, ambos canadenses, voltaram para o seu país e não se sabe se seguiram com as suas carreiras de músico, já Newman entrou no Three Man Army, banda fundada pelos irmãos Gurvitz, Adrian e Paul, que tocaram também no Gun. 

"The 2nd of May" (1971)

O May Blitz foi como uma força da natureza, aquelas que chegam avassaladoras, poderosas e com um nítido senso de destruição, mas que logo se dissipa, vai embora, tão efêmero, tão fugaz! Mas merecia ao menos um lugar na história da música pesada, um fiel representante do gênese de uma música que faria, fez e ainda faz história, viva e latente em nossos ouvidos e alma.





A banda:

Jamie Black no Vocal e Guitarra
Reid Hudson no Baixo
Tony Newman na Bateria


Faixas:
  
1 - Smoking the Day Away
2 - I Don't Know?
3 - Dreaming
4 - Squeet
5 - Tomorrow May Come 
6 - Fire Queen 
7 - Virgin Waters




May Blitz - "May Blitz" (1970)









Salem Mass - Witch Burning (1971)

Aos caçadores da música obscura, aos que garimpam de forma abnegada, não é tão somente a sonoridade das bandas que contam claro que é o principal, mas a história de insucesso, as histórias das perdas, dos infortúnios contam e muito.

Mas não enganem caros amigos leitores, que são bandas ruins, fracas, incipientes para a música, nunca! São apenas falta de sorte, fracasso comercial, geralmente são bandas que não se arquearam para as seduções do mainstream que lamentavelmente temos testemunhado nos dias atuais.

As bandas obscuras que se perderam no tempo, que caíram no ostracismo, são aqueles que do início ao fim não renegaram as suas verdades, não se entregaram por um contrato como tantas que ricas e poderosas que são, tem em seu som algo vazio e descaracterizado.

E quando ouvimos, fazemos um paralelo entre as bandas obscuras e vilipendiadas com aquelas que se perderam nos seus caminhos por causa do dinheiro e de um pomposo contrato, percebemos a abissal distância entre os dois casos, não é? Admita!

E tem uma banda norte americana, esquecida no fundo empoeirado do baú do rock n’ roll que também costuma segmentar, que mostra, mesmo no seu precoce fim, que defendeu sua sonoridade e, mesmo rejeitada, sem sombra de dúvidas deixou uma marca importante que serviu de inspiração às bandas de hoje e certamente de sempre, por mais que seus sucessores sequer a conheça. Falo da SALEM MASS.

O Salem Mass lançou apenas um álbum de estúdio em 1971 chamado “Witch Burning”, com uma capa, apesar de bem “rústica”, digamos, entrega, de forma evidente, o título da capa e que, esteticamente também, denuncia que se trata de um trabalho ao estilo occult rock.

Mas muito mais do que isso, por isso que arrisco em dizer que essa banda, lá pelo início dos anos 1970, foi revolucionária, vanguardista, praticando de um voluptuoso rock progressivo, com textura de teclados e moogs extremamente enérgicos, com vocais gritados e poderosos, riffs de guitarra potentes, entregando também um heavy rock, um heavy psych de ótima qualidade.

E já que falei em moogs, vale aqui uma curiosidade que é no mínimo incrível e vale registro como parte da história do rock n’ roll: diz a lenda que um dos primeiros sintetizadores (número de série 23) foi usado para a gravação de “Witch Burning”! Não é incrível?

Olhem o moog no palco com o Salem Mass!

“Witch Burning” é um grande exemplar do heavy psicodélico obscuro, com generosas pitadas de progressivo, uma viagem sonora delirante e chapada que é um verdadeiro, real e latente tapa na cara do ouvinte, tamanha a sua loucura pioneira cujo ponto central está no moog, no sintetizador.

Arrisco em dizer que este álbum e banda foram uma das pioneiras do heavy prog, sendo referência, mesmo sendo pouco conhecida, para a proliferação de bandas de heavy na década de 1980, devido a um som totalmente pesado.

Com isso me pergunto sempre quando me deparo com relíquias que caem no ostracismo como essas: Como que uma banda com uma sonoridade tão rica e pioneira para época lança apenas um trabalho e some no mapa? Muitos são os motivos, mas confesso que não quero elencá-los agora e falar desta rara banda e da sua música.

O Salem Mass foi formado em 1970 na cidade de Idaho e, como disse, gravou apenas um álbum chamado “Witch Burning”, pelo selo Gear Fab Records, e de forma que diria muito curiosa: a banda gravou seu álbum no seu bar favorito, pasmem, chamado “The Red Farn”, em 1971.

Ele foi convertido em estúdio e lá produziu seu trabalho, seu único álbum. Isso que eu chamo de um trabalho “artesanal”! Como disse, o som do Salem Mass é caracterizado pelo típico heavy-prog psicodélico da virada da década de 60 e início dos anos 70 e tem a predominância do instrumento moog dando um tom bem peculiar ao som da banda: Um som pesado, forte e denso.

A banda que gravou “Witch Burning” tinha os seguintes músicos: Kim Klahr nos teclados, Mike Snead na guitarra e vocal, Steve Towery na bateria e Matt Wilson no baixo e vocal.

O álbum começa com “Witch Burning” com uma epopeia sonora, uma faixa com pouco mais de 10 minutos de duração, uma faixa ambiciosa oferecendo todos os tipos de solos de moog, grandes riffs e inclinações progressivas. É uma verdadeira viagem instrumental, mostrando músicos de grande destreza com seus instrumentos.

"Witch Burning"

Segue com a densa "My Sweet Jane", bem melancólica, melancólica ao extremo, ao extremo, e que apresenta certa influência de Velvet Underground (não só no título, mas também na música).

"My Sweet Jane"

"You Can't Run My Life", é pesado, tem uma vibe de rock sulista, moog proeminente, tendências prog e proto-ocultas, mas alguns efeitos de rock espacial tamb´rm, e aquele riff principal é totalmente matador.

"You Can't Run My Life"

"You´re Just a Dream" é bem marcante aos ouvidos e poderia, sem medo, ter sido lançada como single, já que suas características tinham tudo para agradar, por exemplo, os órfãos fãs do Doors.

"You're Just a Dream"

“Bare Tree” começa assustadora e traz de volta algumas das inclinações mais atmosféricas e quase ocultas que a banda fez tão bem no início do álbum, é uma música legal e atmosférica.

"Bare Tree"

E fecha com “The Drifter” mais próxima tem alguns solos de sintetizador insanos e um riff quase ameaçador; balança forte, mas ainda feliz, confundindo ainda mais qualquer um que gostou do que ouviu com a faixa de abertura, por exemplo.

"The Drifter"

Enfim, Salem Mass e o seu único álbum “Witch Burning” é bem agradável para quem é chegado a um bom moog e muito, muito peso aliado ao progressivo. Apreciem essa mistura! Ao contrário do título do álbum e da capa, a banda não trata de ocultismo, apenas em algumas músicas. Modéstia à parte, para quem quiser sair da zona de conforto, pode começar com essa banda e disco. Boa viagem!



A banda: 

Kim Klahr – Teclados

Mike Snead – Guitarra e Vocal

Stve Towery – Bateria

Matt Wilson – Baixo e Vocal

 

Faixas:

1 - Witch Burning

2 - My Sweet Jane

3 - Why

4 - You Can't Run My Life

5 - You're Just a Dream

6 - Bare Tree

7 - The Drifter


Salem Mass - "Witch Burning" (1971)