quinta-feira, 11 de junho de 2020

Pythagoras - Journey To The Vast Unknown (1980)


Não sou apreciador da música eletrônica, sobretudo com essa proposta dos dias atuais. Sou adepto da música “orgânica”, com os músicos em palco mostrando todo o seu esforço em elaborar a sua musicalidade com os seus instrumentos, extraindo deles o seu melhor. 

Talvez seja um argumento um tanto quanto ortodoxo ou convencional, mas essa é a minha concepção sobre música. Essa banda que abordarei é conhecida por executar um progressivo eletrônico com o pilar sonoro baseado em sintetizadores, teclados e bateria. 

Não sou o mais adequado para tecer comentários técnicos sobre música, sou movido por emoções que a música me provoca, e dessa forma falo sobre elas, mas não consigo ouvir na música da banda holandesa PYTHAGORAS em seu primeiro álbum, chamado “Journey To The Vast Unknown”, de 1980, como progressivo eletrônico. 


Vejo e ouço um trabalho arrojado e desafiador que entrega uma verdadeira sinergia sonora, capitaneada pelas teclas dos sintetizadores, que é basilar do mais puro e genuíno rock progressivo. Não podemos confundir música eletrônica com recursos eletrônicos extraídos de instrumentos, como é o caso do Pythagoras. 

É evidente que bandas como Tangerine Dream e Kraftwerk, por exemplo, trouxe o pioneirismo do uso dos sintetizadores à música, mas o Pythagoras trouxe mais sensibilidade a proposta, mais complexidade, mais dramaticidade. 

“Journey To The Vast Unknown” traz o protagonismo dos teclados e dos sintetizadores, mas também enaltece, com qualidade, o rock progressivo e o space rock, em todas as suas concepções. Assim se prossegue o álbum. É belo, é viajante, mostrando que, apesar de ter sido lançado no primeiro ano da década de 1980, considerada, mercadologicamente falando, um período sombrio para o rock progressivo. 

A formação do Pythagoras se inicia em uma loja de discos na Holanda, na cidade de Haia, chamada Moonlight Records, no final dos anos 1970. O proprietário era o baterista Bob de Jong que havia tocado em bandas locais como Key, Pine-Apple e também era baterista de estúdio da gravadora holandesa Phongram. 

Um dos visitantes assíduos da loja era o tecladista René de Haan, que sempre comentava de ambiciosos projetos de fazer música com base nos sintetizadores. Seu quarto, na casa de seus pais, era o seu QG (Quartel General) e estava repleto de instrumentos musicais como o Korg MS 20 e o sintetizador “trilogy”, um piano digital Roland, um conjunto de cordas Solina e um sequenciador digital Firstman 1024. 

Rene de Haan e Bob de Jong

Bob ficou animado e se deixou levar pelo sonho do jovem René, de apenas 19 anos, levando ao lançamento do álbum “Journey To The Vast Unknown”, lançado em 1980, alvo da resenha de hoje. Teve, à época, uma prensagem privada de  apenas 500 cópias. Bob enviou alguns LPs promocionais para alguns DJs conhecidos como Wim Van Putten, Skip Voogd e Frits Spits. 

Em pouco tempo, a novidade: Sua caixa de correio estava cheia de cartas de todo o país de interessados e fãs pela sua música de sintetizador. “Journey To The Vast Unknown” começa com a faixa título, uma suíte, dividida em quatro fragmentos, totalizando pouco mais de 18 minutos: uma música complexa, introspectiva, melódica, convincente, hipnotizante, viajante com suaves e lentos conjuntos de sintetizadores, com a vivacidade da bateria, a simbiose entre sintetizadores, mellotron e bateria é algo maravilhoso nesta faixa, um prog rock com space rock elevado à potência cósmica e de muita qualidade. 

"Journey to the Vast Unknown Part I and II"

"The Journey to the Vast Unknown Part III and IV"

Na sequência tem “In To The In” traz uma introdução mais soturna e contemplativa, claro, dos sintetizadores, entrando o teclado em uma espécie de prog sinfônico mais introspectivo, com a bateria trazendo uma base mais densa. 

E finalmente fecha com a excelente “When It Comes” que parece fazer com sua alma se desprenda do corpo e se põe a vagar, a voar sem destino. Um coro se faz ouvir, o único e breve momento em que se ouve vocais, com teclados delicados e poderosos, ao mesmo tempo, que te estimula a assobiar instintivamente seguindo o ritmo. 

Tudo conspirava a favor: piano, teclados, sintetizadores e a bateria, entrando em seguida, vagarosa, soft, lenta. Linda faixa para fechar um álbum fantástico, emocionante e que entrega ao público a corroboração de que música precisa de músicos inspirados e arrojados, a música orgânica com recursos eletrônicos que se complementam em uma convergência sonora. 

“Journey To The Vast Unknown” foi relançado  algumas vezes e, em alguns momentos, vendidos por cerca de 5.000 cópias, o que é incrível para uma proposta pouco ortodoxa, como o uso predominante de sintetizadores.




A banda:

Bob de Jong na bateria, percussão e sinos tibetanos.
René de Haan nos sintetizadores, strings, sequencer, mellotron e piano.


Faixas:

1 - Journey to the Vast Unknown parte I
2 - Journey to the Vast Unknown parte II
3 - Journey to the Vast Unknown parte III
4 - Journey to the Vast Unknown parte IV
5 - In to the In
6 - When it Comes 



Pythagoras - "Journey to the Vast Unknown" (1980)