sexta-feira, 21 de março de 2025

Orchid - Capricorn (2011)

 

Quando eu comecei a ouvir as bandas de stoner rock em meados da primeira década dos anos 2000, eu sempre achei que as bandas que eu ouvia, em especial, era uma espécie de resposta nostálgica dos fãs aos anos 1970 e todas as suas manifestações culturais e/ou comportamentais.

Mesmo assim continuei a ouvir desbravar os sons dessa nova cena que, mesmo sem apoio da indústria fonográfica, e de alguns fãs de rock mais “conservadores”, e fui percebendo, ao ouvir álbuns e bandas, que não era apenas lembranças, reminiscências do passado, mas eram sons mais arrojados, mais destemidos, sonoramente falando.

Muitas bandas começaram a aglutinar sonoridades psicodélicas, de blues e até mesmo de rock progressivo. As viagens sonoras se tornaram mais chapadas e até mesmo sofisticadas, o que pode parecer impossível com o stoner rock, tido como um som mais duro, mais rústico e, por vezes, sujo e despretensioso.

E uma banda, em especial, me apresentou a essa nova cena e não me fez querer sair mais. A banda se chama ORCHID! E quando eu falei que essa cena dos anos 2000, começou a flertar com outros elementos sonoros do rock n’ roll, entre outros o psych rock, o Orchid foi formado em uma das cidades mais importantes para a cena psicodélica dos anos 1960, São Francisco, nos Estados Unidos. Tem algo a ver? Não sei dizer se tem, foi apenas um dado sem muita relevância.

Mas coincidências à parte, a história do Orchid inicia em 2008, aproximadamente com o vocalista Theo Mindell, quando estava construindo, em sua mente, uma ideia do que viria ser o Orchid. Ele não estava tocando em banda nenhuma à época e há muito tempo. Estava cansado do que estava acontecendo nas cenas daquela época e começou a compor, na guitarra, naquele mesmo ano.

Ele tinha tocado em uma banda com o guitarrista Mark Thomas Baker, isso muito anos antes de se juntarem ao Orchid! Theo sabia que Mark era o único cara que poderia materializar o seu projeto, que era capaz de trazer o Orchid à vida. E o incomodou, de forma incansável e determinada, para convencer Mark a participar de sua empreitada, até que finalmente ele aceitou.

Theo Mindell

O próximo passo era buscar mais músicos para compor a banda e a busca foi longa e difícil, principalmente para a escolha de um baixista. Foram muitos baixistas que fizeram audição e muitos que não se encaixavam na proposta da nova banda, alguns entraram na banda, mas ficaram por pouco tempo. Até que Keith Nickel foi escolhido e em seguida entraria na banda o baterista exímio Carter Kennedy. Esse foi o começo do Orchid.

As origens do nome da banda, “Orchid”, claro, veio do título da música do Black Sabbath, do excelente álbum, de 1972, “Vol.4”. A ideia de Theo era um nome que não soasse tão clichê dessas bandas de heavy metal. Ele queria um nome que evocasse sentimentos de psicodelia do final dos anos 1960 e início dos anos 1970 e o Sabbath foi lembrado. Talvez se fosse um nome sombrio ou mau teria soado algo fingido ou forçado.

A ideia de Theo e os demais caras da banda era um nome ambíguo que desse a eles algum espaço para crescer musicalmente e comercialmente falando. E Orchid era ideal, eles sempre gostaram da maneira como o nome da banda estava atrelado a eles.

E, com isso, vem também algumas comparações, um tanto quanto maldosas, com o próprio Sabbath. Mas encaro, bom amigo leitor, como apenas uma influência inevitável. E deixo com os senhores uma declaração do próprio Theo Mendell, em uma entrevista concedida para um blog chamado “Temple of Perdition”, que diz:

“Quanto às comparações com o Sabbath? Eu realmente não me preocupo com isso. Eu amo o Sabbath. Eles têm sido uma das minhas bandas favoritas desde que eu era criança. Eu não sei como eu poderia escrever músicas de rock pesado sem esse som ou identidade. É apenas o que eu acho legal. Eu acho que há muitas outras influências que estão bastante presentes no som do Orchid também. Mas as pessoas sempre pegarão o caminho mais curto para um destino, mesmo que seja prendendo algum tipo de "etiqueta de roubo" em você. Se esse é o pior crachá que eu já tive que usar na minha vida musical, vou usá-lo com orgulho”.

O primeiro trabalho do Orchid sairia em 2009, mas não seria um álbum, mas um EP e, convenhamos, começaram, ainda assim, muito bem, com o “Through the Devils Doorway”. Eram quatro músicas de uma banda avassaladora, que trazia o conceito de hard rock muito fortemente, mas trazia também pegadas de storner, psych e até mesmo de um doom metal. Um começo à altura das ambições desses jovens músicos que queriam fazer música dos anos 1970 com um pé nos anos 2000 e com muito recurso sonoro.

"Through the Devil's Doorway" (2009)

Mas o melhor estava por vir, o tão esperado debut do Orchid e, apesar de ter demorado um pouco, ele viria e com força e impacto na cena stoner underground e o nome dele? “Capricorn”, de 2011. O conceito, a proposta era basicamente a mesma de seu EP, lançado há dois anos antes, mas veio com uma excelente produção, com arranjos e melodias bem-feitas. Era um álbum diversificado, não era datado, o hard rock, o heavy rock, o stoner e o psych rock eclodia a cada nota musical. Se você, bom amigo leitor, aprecia Black Sabbath e aquele som arrastado e sombrio, verá em “Capricorn” a melhor das audições.

Theo Mendell assinaria a arte gráfica de “Capricorn”, bem como também no EP que abriu a história discográfica do Orchid. Nada mais do que natural, haja vista que de Theo que surgiu a concepção da banda e nada mais interessante que o próprio fizesse o trabalho estético e gráfico da banda, o que aconteceu. E é com “Capricorn” que falaremos nessa resenha.

A produção de “Capricorn”, já que comentei sobre o belo trabalho, ficou sob a responsabilidade de Will Storkson e ele foi determinante para a construção sonora desse álbum e lançado pelo selo Nuclear Blast. Há relatos, ainda na entrevista concedida para o blog “Temple of Perdition”, de Theo Mendell onde fala sobre as influências da banda para a concepção de seu debut:

“Se eu fosse deixado por conta própria, nossos discos poderiam acabar soando como uma mistura de Stooges Raw Power e Sabbath Bloody Sabbath ... Eu adoraria, mas pode parecer muito ensopado. Vou continuar empilhando fuzz e reverb até que você não consiga ouvir nada”.

Will ajudou e foi preponderante na produção de “Capricorn” e o fez com um radar direcionado aos longínquos anos 1970, mas sem negligenciar as tendências da contemporaneidade. Quanto ao teor das letras, suas temáticas trafegam no occult rock, mas também em temas sociais e comportamentais.

O álbum é inaugurado com a faixa "Eyes Behind the Wall" que já entrega o ouvinte um estrondoso e poderoso riff de guitarra, um trovão sonoro e potente. Bateria pesada, marcada, batida forte, baixo pulsante. A “cozinha” realmente se destaca e dá o tom, o ritmo, não é à toa que é a seção rítmica. E para aqueles que aprecia o hard dos anos 1970, perceberá uma espécie de gravação “vintage”, com nuances antigas. Sem dúvida a banda e o produtor conceberam a música e todo álbum assim intencionalmente.

"Eyes Behind the Wall"

Segue agora com a faixa título, “Capricorn” e a percepção de que voltamos aos anos 1970 é nítida. A batida cadenciada, tendendo para uma levada meio jazzística é adorável e dançante. O vocal é ameaçador, sombrio e segue também com um timbre cadenciado. Mas logo ela irrompe em uma hecatombe pesada, um volumoso hard rock. O vocal ganha mais alcance, mais potência, a música fica mais rápida, mas logo fica mais lenta e assim alterna, mostrando a capacidade instrumental da banda.

"Capricorn" (Clipe oficial)

“Black Funeral” surge vagarosa, lenta, uma bateria ao fundo, com seus pratos, mas logo depois, por pouco tempo explode em um heavy metal com guitarra tocada ao extremo e bateria igualmente pesada. Logo volta ao clima soturno, sombrio e perigoso, com o vocal dando a tônica. Um occult rock com linhas de heavy metal e pitadas discretas de doom metal.

"Black Funeral"

“Masters of It All” inicia com dedilhados de guitarra ao estilo Sabbath de tocar bem interessantes. Ela é responsável por colocar lenha na fogueira, porque, aos poucos, a faixa vai “encorpando”, ganhando camadas mais pesadas. A bateria é tocada com um pouco mais de agressividade e assim alterna, voltando para os dedilhados de guitarra. Os vocais ficam mais altos no clímax hard.

"Master of it All"

“Down into the Earth” traz um baixo dedilhado ao estilo Sabbath e explode para riffs grudentos e pesados de guitarra te remetendo ao heavy metal. A bateria bem marcada, tocada com técnica, mas orgânica. Riffs de guitarra, na metade da música, são percebidas com uma pegada mais doom, mais suja e despretensiosa.

"Down Into the Earth"

“He Who Walks Alone” é, sem dúvidas, uma das melhores faixas do álbum, pois traz uma mescla de passado e presente com uma incrível sinergia. Te remete ao hard rock dos anos setenta, com o peso e a cadência e o doom metal dos anos 1980, que traz a parte mais suja e arrastada. É agitada, enérgica, animada, encantadora e, claro, pesada. Aqui o Sabbath, juntamente com bandas do naipe de Saint Vitus são devidamente percebidas.

"He Who Walks Alone"

Segue com “Cosmonaut of Three” que começa aterrorizante, um estilo sombrio e ameaçador que parece ser uma trilha sonora de um final de terror. A “cozinha” se destaca novamente. A bateria segue marcada, mas pesada e o baixo pulsa feito um coração em um momento dramático e tenso de pavor. Há riffs de guitarra que corroboram essas condições dando uma camada interessante à música. Uma atmosfera perigosa e que dá aula de occult rock.

"Cosmonaut of Three"

“Electric Father” segue basicamente a mesma proposta sonora de sua antecessora, explodindo em um temperamento de doom metal, mesclado ao heavy rock e o hard rock com pegadas setentistas. Aqui os sintetizadores ganham algum destaque e dão um tom mais sombrio à faixa, além de um solo rápido, direto, mas competente de guitarra que traz mais peso.

"Electric Father"

E fecha com “Albatross” que foge um pouco do tom e da vibe das faixas anteriores. Começa com uma pegada mais viajante e chapante, te remetendo a coisas mais experimentais e psicodélicas. O vocal continua com aquele tom mais ameaçador e soturno, enquanto, aos poucos, a bateria vais surgindo um pouco mais forte e discretos dedilhados de guitarra. Os teclados entregam a condição mais viajante da faixa. E fecha, de forma espetacular e inspiradora, com solos de guitarra lisérgicas. O prog psych se faz presente nessa última faixa de “Capricorn”.

"Albatross"

Em 2012, um ano depois do lançamento de “Capricorn” o Orchid lançaria mais uma EP, o seu segundo, chamado “Heretic”, com quatro faixas, sendo que uma delas era uma faixa de seu debut, “He Who Walks Alone” e, no ano seguinte, em 2013 lançaria outro EP, com três músicas e que se chamou “Wizard of War”.

"Heretic" (2012)

"Wizard of War" (2013)

E finalmente o tão aguardado segundo álbum sairia, intitulado “The Mouths of Madness”, em 2013. A banda, neste novo trabalho, me soou mais polida, a produção mais bem acabada e uma banda nitidamente mais experiente e ciente da sua proposta sonora que não, não mudou em relação ao seu debut, “Capricorn”. A sonoridade poderosa, calcada no hard rock setentista, com pegadas atualizadas de stoner e doom metal, tendo a concepção do occult rock dominando as ações, mostra uma banda coesa e muito competente e coerente no que vinha, até então, fazendo. O álbum pode ser ouvido aqui!

"The Mouths of Madness" (2013)

Naquele mesmo ano, de 2013, a banda lançaria a sua primeira coletânea, “The Zodiac Sessions”, com o que há de melhor nos seus primeiros trabalhos. Atualmente a banda está um tanto quanto parada, não tem realizado lançamentos, mas há informações de que um novo trabalho virá e quando o Orchid se propõe a fazer um novo álbum, aguardem, pois há muita coisa boa pela frente!

"The Zodiac Sessions" (2013)

Theo Mindell, ainda em uma entrevista que concedeu para o blog “Temple of Perdition”, disse não fazer ou pelo menos não ter nenhuma intenção, com a sua música, com o Orchid, de estar em uma cena musical, mas apenas compor as músicas que amam. Mas o fato é que o Orchid, com a sua sonoridade que flerta com o tempo ou com “vários tempos”, trouxe uma nova perspectiva para o rock no início dos anos 2000, o rock como ele era, vivo e genuíno, marginalizado.


A banda:

Mark Thomas Baker na guitarra e sintetizadores

Keith Nickel no baixo

Carter Kennedy na bateria e percussão

Theo Mindell nos vocais, percussão e sintetizadores

 

Faixas:

1 - Eyes Behind the Wall

2 - Capricorn

3 - Black Funeral

4 - Masters of It All

5 - Down into the Earth

6 - He Who Walks Alone

7 - Cosmonaut of Three

8 - Electric Father

9 - Albatross 



"Capricorn" (2011)



















 


























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