sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Tentacle - The Angel of Death (1971)

 

Algo incompreendido, louco, insano. Será que podemos trazer essas nomenclaturas a um álbum de rock n’ roll? Sim! Alguns, ao longo da história, já foram tipificados assim, mas no álbum que falarei ou tentarei falar, não entrega apenas essas características. Ao ouvi-lo me parece ser algo “garageiro”, artesanal, feito de uma forma totalmente desleixada e rústica.

Confesso que na minha jornada pelos escombros comerciais da música, pelo empoeirado e obscuro reino das bandas pouco conhecidas essas percepções tem se tornado algo um tanto corriqueiro, mas esse álbum é particularmente especial nesse sentido.

E já começa pelo aspecto estético, com a capa de uma caveira apalpando um seio de uma manequim de “showroom”, é no mínimo uma aberração chapante que, em um primeiro contato, não traz nenhum conceito, nenhuma mensagem, apenas seres inanimados simbolizando talvez um sexo ou a morte à espreita.

Talvez o nome do álbum sugira alguma coisa: “The Angel of Death” e a banda se chama TENTACLE. A banda, claro, pouquíssimo conhecida, é oriunda da Escócia e não se tem muita informação sobre as suas origens, apenas pela gravação de seu único álbum, que aconteceu na transição de 1970 para 1971, no Central Scotland Studios, em Falkirk.

O álbum foi produzido e que teria sido liderada por Jim West e alguns grupos de empresários envolvidos com outras bandas menos conhecidas também como Bodkin e Soho Orange, dando a entender que todas tinham algo em comum, sendo produzido por Erika “Witch” Gnotsik e Manfred “Warlock” e o selo é “Witch & Warlock”.

Outro fator sombrio, obscuro que gira em torno do Tentacle é o total desconhecimento dos seus músicos, não há créditos no álbum, absolutamente nada. Tudo parece girar em torno de Jim West que produziu e provavelmente esteve à frente do projeto. Talvez esse era o cerne do Tentacle: um projeto de cunho experimental e extremamente rústico.

Em uma das capas do Tentacle há alguns pequenos textos falando de instrumentos sendo tocados, da produção do álbum, mas nada denuncia o line up da banda, os seus músicos ou coisa que o valha. Há um texto, em especial, que fomenta a aura obscura, a névoa densa de obscuridade que circunda o Tentacle. Leia o texto:

“Vocals, bass, drums, two guitars, sometimes gentle, sometimes weird...A man playing faster than his guitars…The power of central Scotland…”

Traduzindo…

“Vocais, baixo, bateria, duas guitarras, às vezes suaves, às vezes estranhas... Um homem tocando mais rápido que suas guitarras...O poder da Escócia Central...”

“The Angel of Death” foi, como disse, gravado entre 1970 e 1971, mas teria, reza a lenda, sido apenas gravado e não lançado oficialmente, sendo lançado apenas em 1990, na Alemanha, em Dusseldorf, quando as fitas teriam sido encontradas, sendo prensadas em vinil e lançadas também em CD em tiragens limitadíssimas. Mas há fontes que definem que “Angel of Death” foi concebido nos longínquos anos 1970. Já que carece de informação, confirmação, optei por colocar as duas informações.

“The Angel of Death”, como diz no pequeno texto acima, extraído do encarte do álbum, traz vertentes psicodélicas, com nuances folk, mas com guitarras que, além de lisérgicas, entrega texturas pesadas, com peso do hard rock, ainda ganhando evidência em uma cena embrionária. São passagens pesadas, mas não agressivas, pegadas folk, viajantes e psicodélicas e improvisações progressivas.

É sombrio, soturno, as vezes soa melancólico, mas que se torna solar nas suas partes pesadas. É lisérgico, é ácido, graças as guitarras distorcidas. É um álbum definitivamente atípico, artesanal, feito sem apreço a produções megalomaníacas e mesmo sem todo esse trabalho de produção, é maravilhoso, torna-se a cereja do bolo.

“The Angel of Death” começa com a faixa “My Destiny – My Faith” que, no auge dos seus longos vinte minutos de duração traz dedilhados viajantes da guitarra acústica, algo um tanto quanto introspectivo, melancólico, mas depois entra a bateria em uma pegada meio jazzística e a guitarra fica mais pesada, com riffs agressivos, indulgentes, ameaçadores e volta a calmaria jazzy. O vocal é dramático, baixo, mas envolvente e até um tanto quanto sedutor. E nessa linha segue a faixa: sedutora, chapante, lisérgica e sombria. Mas atentem aos solos de guitarra que remete ao Atomic Rooster e Dark.

"My Destiny - My Faith"

A sequência conta com a faixa “Thought” que introduz também com dedilhados de guitarra, mas logo irrompe em um estrondoso hard rock tipicamente setentista com riffs gulosos, cheios, potentes de guitarra. O baixo segue impondo algum ritmo, a seção rítmica precisa ser valorizada nessa faixa, a bateria é cadenciada e pesadona e a guitarra sempre em destaque que, além dos riffs, vem com alguns solos diretos que corrobora o peso. O final da faixa ganha mais velocidade e nos remete a um heavy metal de vanguarda! Sem dúvida uma das mais pesadas do álbum!

"Thought"

“Tentacle” já inicia com o pé na porta, pesada, agressiva, uma explosão instrumental orquestrada pela bateria e guitarra, tendo o baixo dando uma textura mais suja. Mas a diversidade rítmica, proporcionada pelo prog rock, se fazia presente, com passagens mais suaves, com pegadas psicodélicas. Nessa faixa a banda mostrou diversidade com prog, psych e hard em um mesmo pacote.

"Tentacle"

A faixa título, “The Angel of Death” o vocal já ganha destaque logo na introdução, de bom alcance, sujo, alto com riffs de guitarra dando o recheio, uma textura mais arrogante e pesada, solos mais simples e direto dão um tom da sua estrutura sonora, mas as viradas rítmicas também ganham destaque. É uma faixa definitivamente voltada para o hard prog, típico. Uma das músicas mais plenas, é o ápice do álbum, sem dúvida. E fecha com trinta e um segundos de “Epitaph” da mesma forma que começou, com dedilhados de guitarra viajantes e chapantes.

"The Angel of Death"

Para alguns ouvidos mais exigentes, mais apurados, talvez, ouvir os primeiros acordes do álbum “The Angel of Death” pode parecer ruim, péssimo. É inegável que a produção é de baixo orçamento e isso, claro, impacta no produto final, mas se tornou a cereja do bolo, dando o tom obscuro, delineando a proposta da sonoridade da banda: suja, pesada, progressiva, sombria.

“The Angel of Death” é estranho, é “artesanal”, é algo feito de forma simples, mas definitiva. A criatividade imposta nas cinco faixas mostra que na simplicidade há beleza, há a verdade impressa pela banda, por isso é estranho, por isso é marginal.


A banda:

Não creditado

 

Faixas:

1 – My Destiny – My Faith

2 – Thought

3 – Tentacle

4 – The Angel of Death

5 – Epitaph


"The Angel of Death" (1971)


Download do álbum aqui