sábado, 30 de maio de 2020

The Storm - The Storm (1974)


Vamos sair do eixo Estados Unidos e Inglaterra. Esse eixo, confesso, incomoda um pouco. O rock não pode e nem deve ser oligopolizado, restrito, como se fosse um clube seleto, a poucos países. Deve ser encarado, visto globalmente. 

Independente de ser uma questão estratégica, mercadologicamente falando ou ainda uma questão quantitativa, ou seja, esteja concentrada a maioria das grandes e consagradas bandas nesses países, torna-se urgente um garimpo de cada um de nós, apreciadores do estilo, por outros países, afinal há muito a se explorar, é um universo a ser explorado ainda. 

E a banda de hoje veio da Espanha, a terra do flamenco. E vem como, desculpe a analogia infame, como uma tempestade. Um hard rock avassalador, destruidor. Embora sejam adjetivos meio clichês, são condizentes com a mais pura e genuína realidade. 

Falo do THE STORM, que, na tradução livre, significa "tempestade", em inglês. A banda foi formada na cidade de Sevilha, em 1969, pelos jovens irmãos Angel e Diego Ruiz, guitarra e vocal e bateria e vocal, respectivamente, juntamente com Luis Genil nos teclados e vocais e José Torres no baixo e vocal. 

The Storm

Na transição das décadas de 1960 para a de 1970, as bandas progressivas, como Smash, Triana e Medina Azahara dominavam a cena musical espanhola, mas o The Storm que, nos primórdios se chamava “Los Tormentos”, nome dados aos garotos Angel, Diego e José, quando ainda estavam na escola, começaram a tocar covers de Beatles, Jimi Hendrix, Cream e Guess Who, mostrando uma veia mais pesada que estava nascendo, se consolidando quando descobriram o Deep Purple, estabelecendo entre si que tocariam, em definitivo, hard rock. 


Eles, com essa decisão, estavam traçando um capítulo histórico no rock espanhol como uma das pioneiras bandas de rock pesado daquele país. Mas os tempos eram difíceis. A falta de estrutura e pouco apoio eram evidentes e a precariedade os acompanhava em seus primeiros shows. 

A cena local, de Sevilha, estava em baixa, as bandas estavam se desfazendo pelos problemas de dinheiro e de infraestrutura. Mas o Los Tormentos decide seguir, a base de muitos sacrifícios. Fizeram alguns shows em uma discoteca em Torremolinos chamada “Barbarella” e agradaram. Eles são contratados para tocar em outro lugar, em Palma de Mallorca, mas o gerente do local não gostou muito do nome, dizendo que soava meio flamenco. 

Então sugere que mudem seu nome para “The Storm”, a versão inglesa para “Los Tormentos”, afinal soa mais forte e é em inglês, quem sabe poderiam alçar voos mais altos, como o mercado internacional, viajar para outros países. 

Parece que o nome deu alguma sorte, diante de um cenário musical que desmoronava em Sevilha, quando conhecem um empresário de entretenimento de León, chamado Luis Fernández de Córdoba, assumindo a condição de gerente da banda, trazendo uma luz no fim do túnel para os garotos do The Storm. 

Em 1974 lançam, pela BASF, seu álbum de estreia, “The Storm”, um misto explosivo de hard rock com pitadas generosas de teclados alucinantes, um álbum repleto de vivacidade e energia. A formação da banda que gravou “The Storm” tinha: Luis Genil nos teclados e vocais, Angel Ruiz na guitarra e vocal, Diego Ruiz na bateria e vocal, José Torres no baixo.


O álbum já começa esmurrando a porta com ”I've Gotta Tell You Mama”, um petardo animado e solar com riffs pegajosos e pesados, com bateria marcada e forte, com teclados em frenesi, diria uma pegada meio década de 1950, bem dançante.

"I've Gotta Tell You Mama" (Live) 

“I Am Busy” já entrega aquele típico riff introdutório de guitarra, um proto metal que se mistura ao teclado tocado a notas altíssimas com vocais melódicos e rasgados, ao mesmo tempo, um senhor hardão setentista na sua mais perfeita concepção. 

“Un Señor llamado Fernández de Córdoba”, em uma clara homenagem ao seu empresário, tem a predominância dos teclados trazendo uma atmosfera mais progressiva, com um riff de guitarra mais “funkeado” que ganha mais peso com um solo lindo de guitarra.

"Un Senor llamado Fernández de Córdoba", live track in Studio, 1974-1975

“Woman Mine” começa cadenciada, bateria marcada, com solos lembrando Ian Paice do Deep Purple, riff de guitarra dando peso, um vocal rouco, mas escamba para o já característico hardão que abrilhanta o álbum. “It's All Right” traz o blues rock com uma cara meio comercial, um som mais acessível, com excelente trabalho vocal.

"It's All Right", Live at Sevilha Television Local

“I Don't Know” me remete a um punk rock meio raivoso no início, mas que se mescla ao peso do hard rock, com passagens excelentes de teclado, dando uma camada mais “soft” a música.

"I Don't Know", live 1974-1975

“Crazy Machine” sem sombra de dúvida é uma das melhores faixas do álbum. Bateria ao extremo, guitarras distorcidas, solos avassaladores, baixo pulsante, viradas rítmicas invejáveis, uma pegada jazzística...É o ápice do heavy prog!

"Crazy Machine", Live 1974-1975

E o álbum dá adeus com a “Experiencia Sin Órgano” seguindo na mesma proposta, um primor do poderio bélico instrumental, bateria cheia de virada, riffs de guitarra em profusão, baixão pesado, inacreditável! Uma loucura sonora. 

The Storm lançaria outro álbum em 1979 chamado “El Dia De La Tormenta”, mas bem diferente do hard rock intenso do debut, carregando uma proposta mais comercial e radiofônica, com algumas pitadas de prog rock. 

"El Dia de la Tormenta" (1979)

A banda finalizaria as suas atividades nesse mesmo ano, logo após o lançamento do álbum. Porém, depois de algum tempo em hibernação a banda retorna e atualmente continua destilando sua potência sonora nos palcos de onde não deveria ter saído nunca. O The Storm definitivamente se tornou uma das mais importantes bandas espanholas de hard rock, sendo uma desbravadora do estilo em seu país. Pérola recomendada!




A banda:  

Luis Genil nos teclados e vocal
Ángel Ruiz na guitarra e vocal
Diego Ruiz na bateria e vocal
José Torres no baixo e vocal


Faixas:

1 - I've Gotta Tell You Mama
2 - I Am Busy
3 - Un Señor Llamado Fernández De Córdoba
4 - Woman Mine 
5 - It's All Right
6 - I Don't Know
7 - Crazy Machine
8 - Experiencia Sin Órgano 



The Storm - Live in Studio 1974 (Full)


The Storm - "The Storm" (1974)


Embryo - Live Bremen 1971 (2003)


O EMBRYO é uma das mais importantes bandas do rock alemão. Talvez seja um sacrilégio dizer isso, levando-se em conta o domínio global do Scorpions que representa, claro, com dignidade e qualidade o nome do rock n’ roll germânico a todos os cantos do planeta, mas o Embryo acompanhou, vivenciou e foi referência em todas as cenas que as gerações e a juventude alemã, ávidas por mudanças, sendo militante em todas elas, atuante mesmo. 

Ajudou, em seu obscuro silêncio, sem holofotes, a edifica-las, cada uma delas, sendo uma espécie de camaleão, ajustando-se às tendências musicais, ao longo do tempo, sendo pioneira, sendo a pedra fundamental, juntamente com bandas do naipe do Can, Amon Duul II, Xhol Caravan, entre outras, do krautrock, ditando não só pioneirismo em uma música experimental, arrojada, que dava um tapa na cara da sociedade conservadora alemã, mas sendo protagonista de um movimento contra cultural na Alemanha pós guerra, ainda perdida em escombros comportamentais, sem identidade cultural. 


O Embryo foi fundado em 1969, na cidade de Munique, por Christian Burchard e Edgar Hoffman em 1969. Burchard passou a sua juventude em Hof, onde seu melhor amigo na escola era Dieter Serfas, isso em 1956. Na época se divertiam muito tocando "música grátis", como jazz, rhythm & blues, mas também era influenciados por música contemporânea.

Em Hof tinham muitos americanos, soldados dos Estados Unidos, porque a cidade ficava perto da fronteira com a Alemanha Oriental e a Tchecoslováquia, e não era um exército profissional então se arriscavam como músicos, especialmente negros e que tocaram com Serfas e Burchard. Inclusive tiveram um baixista de Nova Iorque que sabia improvisar todas as músicas de Chuck Jackson. Também tinha uma banda local que tocava jazz que deu um vibrafone a Burchard que apenas se aventurava nom piano. O "embrião" estava ali.

Em 1964 Dieter Serfas, Edgar Hofmann e Christian Burchard formaram um trio de música contemporânea que ganhou alguma notoriedade, porém nada gravou oficialmente, mas em 1966 Burchard conheceu Chris Karrer e Peter Leopold que viriam a fundar Amon Duul e fez alguns vibrafones no primeiro álbum da até então nova formação da banda, o Amon Duul II, "Phallus Dei", de 1969.

Amon Duul II - "Phallus Dei" (1969)

Mas Burchard, desde 1967, fazia parte de uma banda chamada Mas Waldron Quartet e algumas gravações feitas com a banda foi aproveitada e lançada como uma obra do Embryo no álbum "For Eva". Muito mais importante que essa movimentação, talvez comercial, foi a influência essencial que Burchard carregou consigo, bem como a sua passagem pelo Amon Duul II. Foi principalmente com o Amon Duul II que Burchard explorou a música experimental e psicodélica, porém queriam fazer de forma diferente, explorando improvisações com novas estruturas rítmicas e harmônicas.

As primeiras seções do que viria a ser o Embryo tiveram músicos de diferentes cenas como Peter Michael Hamel (Mais tarde ele formaria a banda Between), que estava se comunicando com John Cage, Steve Reich e a cena musical contemporânea. Hofmann conhecia toda a cena free jazz ou John Kelly, oriundo da cena rock inglesa, porque ele havia tocado com Alvin Lee, do Ten Years After, em uma banda chamada Manchester United. E como Dieter Serfas era membro efetivo do Amon Duul II, Burchard tinha que tocar bateria, porque todos os músicos que escolhiam eram muito parecidos com o estilo do Amon Duul II.

E assim nascia o Embryo. Claro que chocou essa mistura extremamente improvável, mas a banda no início teve um apoio dos jovens estudantes e quando rolava alguma manifestação, por exemplo, o Embryo era sempre chamado para tocar. 

Embryo em 1970

O Embryo flertou em várias vertentes que ia do já conhecido krautrock, como jazz rock, rock psicodélico, classic rock, música étnica, adicionando tais elementos a sua música, avant garde etc. Foi descrita por muitos especialistas e críticos como “a mais eclética das bandas de krautrock”. Foi fundada na cidade de Munique em 1967, pelos multi instrumentistas Christian Burchard (bateria, vibrafone, santur e teclado) e Edgar Hoffmann (saxofone, flauta e violino). 

Um indício do ecletismo da banda é o número de músicos que por ela passou. Estipula-se que pelo Embryo passaram mais de 400 músicos ao longo de mais de 50 anos de história! E a prova contundente dessa “inquietude sonora”, desse poço sem fundo de criatividade, é claro, está na sua discografia, mas nada sintetizou tanto essa característica marcante do Embryo do que um registro ao vivo que não fez tanto alarde e que seria tão somente apenas uma apresentação ao vivo da banda, mas é algo que eu descreveria como avassalador, um verdadeiro arrasa quarteirão, algo surpreendente para até então discografia curta, mas já bem delineada no que tange ao estilo, no longínquo ano de 1971. 

Embryo em 1971

Foi uma apresentação no ginásio da escola Leibnizplatz para o programa de rádio de Bremen e que foi transmitida na série “Jazz Live” e que se chamou “Live Bremen”, de 1971 e que promovia o lançamento do terceiro álbum de estúdio da banda, o “Embryo’s Rache”, também de 1971. A Rádio Bremen gravou tudo e disponibilizou as fitas máster para o emblemático e alternativo selo “Garden of Delights” originando este excelente álbum. 

A formação do Embryo neste registro ao vivo contava com: Hansi Fischer na flauta, Christian Burchard na bateria, percussão e vocal, Al Jones na guitarra e vocal, Edgar Hofmann no saxofone e Ralph Fischer no baixo.


“Live Bremen” conta com uma seção de improvisações jazzísticas, com muito experimentalismo e rock psych, mas que conta também com um incrível e avassalador hard rock, com muito peso e diria até agressividade instrumental, é definitivamente de tirar o fôlego!


Então vamos, sem mais delongas às faixas. A primeira é “Try To Be” que começa com um timbre de baixo forte e bem pesadão e que segue com um solo frenético e lindo de violino e a bateria dando o tom pesado e agressivo da música com um belo trabalho vocal, além da flauta, frenética e aguda. 

"Try to Be" - Live Bremen (1971)

“You Can´t Wait - Evas Nuvola” continua, no mesmo ritmo, com as improvisações e aquela sensação nítida de liberdade criativa e o saxofone come solto num frenesi sonoro impressionante, com a bateria, pesada, em uma levada meio jazzística e o baixo seguindo em uma sinergia incrível, se juntando a flauta em uma apoteose sonora. 

"You Can't Wait - Evas Nuvola" - Live Bremen (1971)

“Tausendfüssler” tem o destaque da flauta e uma poderosa linha de baixo arrasa quarteirão, tão pulsante que parece que o coração segue o mesmo ritmo, a mesma batida, um groove louco, se juntando a essa loucura experimental vem o saxofone novamente, excelente faixa!

"Tausendfussler" - Live in Bremen (1971)

“Spain Yes, Franco Finished” fecha o show com seus potentes e vastos 26 minutos de duração. Como o título sugere, o Embryo presta uma homenagem a tradição musical espanhola, atacando ferozmente a sua situação política. Como consequência disso, a banda não pôde tocar na Espanha durante muito tempo.

"Spain Yes, Franco Finished" - Live Bremen (1971)

"Live Bremen" apesar de ter sido gravado em 1971 foi lançado apenas em 2003 graças ao abnegado trabalho de garimpo e recuperação do selo "Garden of Delights" e trouxe um Embryo arrojado, irreverente, pesado, mas com muita improvisação, uma marca indelével da banda desde sempre.

Um "time" da pesada, com instrumental poderoso, envolvente, intenso, que disparam baterias cadenciadas, pesadas, jazzísticas, com baixo pulsante, igualmente pesadão, com riffs indulgentes de guitarra, com solos avassaladores, vocais altos e até mesmo gritados em alguns momentos, enfim, uma verdadeira hecatombe sonora!

O poder se fez presente em Bremen em 1971, um furacão sonoro que varreu tudo que pôde, uma banda que esteve a frente de seu tempo, que não se revelou dessa forma ao longo de sua posterior discografia. Que seção rítmica! Uma loucura! Então vale e muito a pena se deixar levar por essa potência, por essa viagem sonora!



A banda:

Hansi Fischer na flauta
Christian Burchard na bateria, percussão e vocal
Al Jones na guitarra e vocal
Edgar Hofmann no saxofone
Ralph Fischer no baixo

Faixas:

1 - Try to Be
2 - You Can´t Wait - Evas Nuvola
3 - Tausendfüssler
4 - Spain Yes, Franco Finished 



Lock Ness - Prologue (1991)


Não se enganem o Brasil não é somente a terra do samba, da mulata e futebol. Aqui também tem rock n’ roll e de deixar os gringos de queixo caído sim! Pena que, apesar de produzir grandes bandas, não conta com uma sólida base de suporte, sobretudo por parte da mídia de massa e da indústria fonográfica para que as mesmas tenham a projeção necessária para disseminarem as suas obras, a sua música.

Historicamente o rock progressivo, por exemplo, sempre sofreu com esse vilipêndio por parte das gravadoras e dos grandes veículos de comunicação, sofrendo com precárias estruturas na produção de seus álbuns, logísticas perigosas para se deslocar de cidade em cidade para realizar shows, quando tem, sendo relegada a condição de banda obscura, esquecida, marginalizada por quem deveria dar o apoio.

Mas ainda há alguns bravos abnegados que disseminam as histórias dessas bandas, os fãs e apreciadores da boa música, somando aos hercúleos esforços dos músicos que, além de fazer o seu papel de tocar seus instrumentos, acumulam funções de empresário, roadies, de marketing e tantas outras atribuições.

Fazer rock progressivo no Brasil é uma aventura difícil, árdua e que requer paciência e muito amor pela música, pelo conceito, afinal, uma música intrincada, complexa em um país como o nosso, que privilegia a música pasteurizada e perecível, claro que o velho prog rock ficaria em quinto plano. 

Mas, como disse, há aqueles incansáveis que insistem, que perseveram e gravam alguns álbuns e conseguem, com muito custo, construir uma história, outros somem, desparecem pelo caminho, lançam um ou dois álbuns e não vingam e temos um exemplo de uma banda fundada na cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, que gravou apenas um álbum e sumiu do mapa, pouco se sabe sobre os seus integrantes. 

Falo da banda LOCH NESS que lançou o seu “Prologue”, em 1991 pelo pequeno selo Som Interior Produções Artísticas, localizado na histórica cidade de Petrópolis em edição única, em disco de vinil, em uma limitadíssima quantidade de 1.000 cópias, sendo um artigo raro para colecionadores. Cabe ressaltar, como curiosidade e fato histórico que o álbum foi produzido e concebido, em sua arte gráfica, pelo fotógrafo e agitador cultural da cena progressiva do Rio de Janeiro, Carlos Vaz Ferreira.



“Prologue” foi gravado no Sonoviso Estúdio, no Rio de Janeiro, entre 19 de janeiro e 6 de julho de 1988. O nome da banda foi retirado do folclore escocês referente ao mítico monstro (uma espécie de dragão marinho ou criatura pré histórica) que habitava o lago lock ness, na região de Highland, na Escócia. 

A banda era formada por: Roberto Reese na guitarra e vocal, Alexandre "Caph" no piano de cauda, ​​órgão Hammond, sintetizadores e vocais, Claudio Cotia Barreto no baixo e Ailton Sgon na bateria e percussão. 

“Prologue” é basicamente um álbum de rock progressivo sinfônico com fortes influências do Pink Floyd, Triumvirat, com muita vivacidade, dramaticidade e dinamismo e que de fato merece atenção e audiência dos apreciadores do estilo. 

O álbum, todo cantado em inglês, é inaugurado com a faixa “Prologue (The Gipsy Gull)” com predominância dos sintetizadores, das teclas de Alexandre Caph, a evidência do progressivo sinfônico é grande, com passagens viajantes lembrando um space rock ao estilo da banda alemã Eloy. 

"Prologue (The Gipsy Gull)"

A faixa instrumental “Hallowe'em” segue a mesma proposta, sinfônica e viajante, a banda entrega bons arranjos, apesar de ser uma música curta. “The Third Eye” tem uma forte influência do Pink Floyd setentista, com uma pegada mais hard rock com bons riffs de guitarra que irrompe em um competente solo e alternâncias rítmicas de tirar o fôlego. 

"The Third Eye"

“To Breathe One's Last” começa com uma linda "batalha" entre o piano e a guitarra, uma perfeita sinergia entre a leveza, a delicadeza e a aspereza da guitarra e, assim a música segue com contornos mais pesados e leves com o vocal dramático e limpo que dá o tom a canção.

"To Breathe One's Last"

“Satan's Ville” é uma epopeia sonora que, no auge de seus quase 14 minutos, é dividida em 4 episódios: “The Ens (Instrumental)”, “Delirium Tremens”, “The Entity” e “Vanishing Point (Instrumental)”, sendo que o terceiro episódio, “The Entity” é dedicado ao David Gilmour, guitarrista e vocalista do Pink Floyd. Um grande e genuíno exemplo de faixa com riquezas instrumentais calcadas no rock progressivo sinfônico, uma música solar, agradável com pitadas generosas de hard rock. 

"Satan's Ville Parte 1"

"Satan's Ville Parte 2"

E fecha com “Death”, que inicia pesada, com avassalador solo de guitarra com uma “cozinha” afiada, bateria marcada e pesada e o baixo pulsante e alto, com passagens jazzísticas, fechando com chave de ouro. 

"Death"

“Prologue” não conta com uma qualidade especial no tocante ao seu processo de gravação, resultado do pouco apoio e das estruturas precárias da época, mas a banda soube imprimir, de maneira indelével, o seu DNA sonoro, se tornando uma peça rara e essencial para o rock progressivo brasileiro que é cultuado pelos amantes da música progressiva espalhada pelo mundo. Atualmente esse álbum está fora de catálogo e ainda não possui lançamento oficial no formato digital. Que possamos dar luz ao rock obscuro do grande Lock Ness.

Segue link para download do álbum do Lock Ness, "Prologue". Não é necessário senha:

Lock Ness - "Prologue" (1991)

A banda:

Roberto Reese na guitarra elétrica e vocal
Alexandre "Caph" no piano, no Hammond e vocais
Claudio Cotia Barreto no baixo
Ailton Sgon na bateria e percussão

Faixas:

1 - Prologue (The Gipsy Gull)
2 - Hallowe'en (Instrumental)
3 - The Third Eye
4 - To Breathe One's Last
5 - Satan's Ville
Episode First - The Ens (Instrumental)
Chapter One - The Tale
Episode Second - Delirium Tremens
Part 1 - The Shades (Instrumental)
Part 2 - Nightmares
Episode Third - The Entity
Episode Fouth - Vanishing Point (Instrumental)
Chapter Two - The Tag
6. Death 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

The Devil and the Almighty Blues - The Devil and the Almighty Blues (2015)


Sou um entusiasta dessa nova (nem tanto mais) cena de bandas de stoner rock, doom metal, rock psych que vem crescendo nos últimos 20 anos, desde o início da década de 2000 e ainda mais na segunda década de 2010. 

Vem crescendo tanto que já está saturada e, como costuma acontecer nesses casos algumas bandas se tornam um tanto quanto repetitivas, uma redundância sonora inconveniente, mas ainda assim, formada por bandas, em sua maioria, consistentes e que estão resgatando as origens do rock n’ roll, genuíno, aquele que se faz com o colhão, da forma mais visceral e despretensiosa possível, sem amarras, no seu formato mais marginal, como em tempos gloriosos de outrora. 

Conhecidos como “rock retrô”, talvez de forma pejorativa, pois trazem, além da sonoridade característica da década de 1970, tem um apelo estético muito evidente daquela época. Mas não se enganem, caros amigos leitores, pois apesar de tudo isso, da saturação e tudo mais, ela traz consigo um frescor, um odor de novidade, um toque de contemporâneo, diante de grandes entressafras criativas que costumamos ver e ouvir na cena maisntream

Tenho dada a devida atenção a essa cena, a essas bandas que fazem um som orgânico, real, sem máquinas eletrônicas que precisam apenas de botões para emitir sons desconexos para dar o título de músicos a charlatões que pregam uma pseudo revolução da música. 

Mas confesso que quando conheci o THE DEVIL AND THE ALMIGHTY BLUES, uma banda que veio da Noruega, mais precisamente da cidade de Oslo e li as suas influências musicais, tais como: doom metal, hard rock e blues, fiquei relutante e confesso que subestimei os caras. 

The Devil and The Almighty Blues

Afinal, essas referências vem de bandas como Black Sabbath e essa cena está repleta de bandas com influência do Sabbath. Pensei: Ah, mais uma que soa como o Black Sabbath! Dei uma chance e decidi ouvi-la. Uau! Como pude ter tido uma visão tão pré-concebida? 

Uma banda tão vigorosa, arrogantemente poderosa, com uma sonoridade tão crua, direta, mas dotada de tanto virtuosismo, ao mesmo tempo. Pois é, a terra do black metal pode te entregar algo além e de muito peso também e que, claro, traz influências das bandas sujas e pesadas dos anos longínquos da década de 1970, mas com o arrojo de mesclar o hard rock, o blues, o doom metal e o stoner rock, em uma sopa contemporânea, o frescor dos novos tempos com o pé no passado sem soar datado. 

A banda foi formada foi formada em 2015 e logo neste mesmo ano lançou o álbum, que ouvi e será alvo desta resenha, o homônimo “The Devil and the Almighty Blues” e contava com a seguinte formação: Arnt O. Andersen, nos vocais, Petter Svee e Torgeir W. Engen nas guitarras, Kim Skaug no baixo e Kenneth Simonsen na bateria. 


Um álbum impossível de ficar parado, porque é poderoso e vivaz e que começa soturno, arrastado, com o riff característico do doom metal e um baixo pulsante e marcado de "The Ghosts of Charlie Barracuda", mas que logo irrompe em um hardão alto com vocal gritado e frenético e aquele tempero bluesy para dar o sabor a comida sonora. 

"The Ghosts of Charlie Barracuda", live at Sonic Blast Moledo

“Distance” já começa dando um murro na porta, com um hard rock direto e cru, com solos de guitarra bem elaborados, um som que te remete aos anos 1970. “Storm Coming Down” começa com um riff de guitarra, algo repetitivo, mas os outros instrumentos como o baixo e uma bateria mais marcada e forte vêm sendo adicionada, uma a uma compondo uma sonoridade agressiva e pesada, aqui o doom e o stoner ganham destaque. 

"Distance"

“Root To Root” se apresenta com um doom sujo, com um riff pesadão de guitarra, um contexto instrumental ameaçador e sombrio, com o blues inserido de uma forma dilacerada e inusitadamente homenageado, assim segue a faixa seguinte, “Never Darken my Door”, mais com um pouco de groove, um pouco dançante, animada e cadenciada.

"Root to Root, live at Desertfest, Berlim, 2019

E fecha com “Tired Old Dog” com a característica introdução de um riff pesado e sujo de guitarra e com a apresentação gradativa dos outros instrumentos formando uma camada densa e soturna em uma combinação explosiva entre hard e blues em um duelo salutar em prol da música. 

"Tired Old Dog"

O The Devil and the Almighty Blues, que vem da fria Noruega, apresenta, em seu debut, o calor borbulhante do rock autêntico e sujo, que parece ter minado das profundezas do inferno fazendo jus ao seu nome. Uma pérola bruta mais do que recomendada.





A banda:

Arnt O. Andersen no vocal
Petter Svee na guitarra
Torgeir W. Engen na guitarra
Kim Skaug no baixo
Kenneth Simonsen na bateria


Faixas:

1 - The Ghosts of Charlie Barracuda
2 – Distance
3 - Storm Coming Down
4 - Root to Root
5 - Never Darken My Door
6 - Tired Old Dog




"The Devil and the Almighty Blues" (2015)


Versão do álbum para Bandcamp acesse aqui


Biglietto Per L'Inferno - Live 1974 (2005)


O verdadeiro rock n’ roll é orgânico, a intensidade de uma banda se mensura em um palco, ao vivo, com músicos doando toda a sua capacidade de interação com o público por intermédio de sua música, esta última precisa ser simbiótica com todo este cenário, conspirar a favor, ser um veículo da sinergia entre a banda e o público. Assim o foi no registro de um dos inúmeros shows, apesar de pouco tempo de vida, do Biglietto Per L’Inferno com o seu “Live 1974”. Não há como negligenciar a força, a potência sonora do Biglietto Per L’Inferno e já no seu álbum de estúdio, apesar das “formalidades” de um processo de gravação em estúdio, “homônimo”, do mesmo ano, a banda mostrara suas credenciais. E essa força se deu pela sua, já dita, intensa atividade ao vivo, aliado a proposta hard rock e progressiva da banda, revelando uma combinação explosiva, o que, para a época, meados da década de 1970, era pouco usual, com bandas majoritariamente sinfônicas, melódicas e psicodélicas. 

"Live 1974"

O Biglietto Per L’Inferno, com o seu “Live 1974”, era o oposto: peso, temas de composições densos, atmosfera obscura, todos os aditivos para um show diferente e avassalador para uma época de sofisticação progressiva. Esse show antológico fora gravado na sua cidade natal, Lecco, situada na região da Lombardia e, apesar da baixa qualidade na gravação deste, o que lamentavelmente era a tônica na Itália, não apaga a já presença poderosa do Biglietto Per L’Inferno como um track list que contemplaria as músicas do seu até então primeiro álbum, de 1975 e com uma música nova que entraria no seu segundo trabalho que não seria oficialmente lançado à época que se chamava “Il Tempo Della Semina”. O Biglietto Per L’Inferno já tinha gravado as faixas, com a produção de Eugenio Finardi e ainda tinha um contato forte com o músico Klaus Schulze para impulsionar o seu lançamento caso necessitasse, mas com a falência do selo "Trident", o projeto fora deixado para trás, tendo uma limitada distribuição, em formato de fita cassete, recebendo finalmente, por intermédio da Mellow Records, no ano de 1992, um lançamento oficial com o nome “Il Tempo Della Semina”. O fim da gravadora também ocasionou o fim das atividades da banda, sem total apoio para seguir em frente. A formação do Biglietto Per L’Inferno, no álbum “Live 1974” era: Claudio Canali no vocal e flauta, Giuseppe "Baffo" Banfi  no órgão e moog, Giuseppe Cossa no piano e moog, Marco Mainetti na guitarra, Fausto Brachini no baixo e Mauro Gnecchi  na bateria. 

Biglietto Per L'Inferno

No registro ao vivo não há espaço para muitas improvisações, segue quase que fielmente a estrutura gravada no seu álbum de estúdio, mas revela toda a força e identidade arrasa quarteirão do velho Biglietto. Começa com “Il Tempo Della Semina”, faixa título do álbum que sucederia o debut “Biglietto Per L’Inferno”, de 1974 que fora gravado em 1975, mas somente lançado em 1992. Começa com um poderoso hard rock e um desfile de moogs e teclados e instrumentos de sopro, como o saxofone, entoados de forma caótica, que logo abre caminho para riffs e solos de guitarra que confirmam o peso e agressividade da faixa.

Biglietto Per L'Inferno - Il Tempo Della Semina" (Live 1974

“Ansia’, do primeiro álbum, traz à tona a flauta que alterna em ritmos suaves, lentos e mais agitados, assim seguindo a música, alternando em camadas introspectivas e mais pesadas com o vocal teatral e dramático de Cláudio Canali, um belo progressivo sinfônico com pitadas generosas de hard rock. 

Biglietto Per L'Inferno - "Ansia" (Live 1974)

“Confessione” explode com riffs pegajosos e raivosos do mais puro e genuíno hard rock com solos envolventes de guitarra de Mainetti e um vocal rasgado de Canali, é um petardo sonoro. “Una Strana Regina” começa com um vocal abafado, meio sombrio de Canali, mas que irrompe em explosões de riffs e solos de guitarra de Mainetti que culminam com teclados viajantes e sinfônicos, com a flauta suavizando o caos. 

Biglietto Per L'Inferno - "Confessione" (Live 1974)

“Il Nevare” é o ponto alto do show, ao vivo ela ganhou ainda mais peso, agressividade e vivacidade, uma música orgânica, a camada instrumental garante a sua condição plena de um autêntico hard rock. Fecha com a obscura, sombria “L’Amico Suicida” que, com o vocal cênico de Canali com camadas tenebrosas de teclado interpretam a mensagem da letra e que ao vivo ganhou em sua expansão dramática. Cláudio Canali com seu vocal é o destaque, sem sombra de dúvida. 

Biglietto Per L'Inferno - "Il Nevare" (Live 1974)

O “Live 1974” não fora lançado na época em que a apresentação ocorreu, sendo lançado em uma caixa comemorativa do trigésimo aniversário do primeiro álbum de estúdio, com versões remasterizadas em CD dos dois álbuns oficiais, além, é claro, do “Live de 1974”, além de um DVD contendo vídeos dos músicos e entrevistas e ainda um livro com fotos, letras de músicas e entrevistas. O “Live 1974” também fora lançado separadamente, em 2005, com uma capa mini-LP. Uma curiosidade: Este show do Biglietto Per L’Inferno teve a participação de outra grande banda de hard rock, o UFO, onde na realidade o Biglietto abriu para a banda inglesa. O “Live 1974”, apesar de não ser um registro ao vivo conhecido mundialmente mostra um Biglietto Per L’Inferno no auge de sua força e entrosamento.





A banda:

Claudio Canali no vocal e flauta
Giuseppe "Baffo" Banfi  no órgão e moog
Giuseppe Cossa no piano e moog
Marco Mainetti na guitarra
Fausto Brachini no baixo
Mauro Gnecchi na bateria

Faixas:

1 - Il Tempo Della Semina
2 - Ansia
3 –Confessione
4 - Una Strana Regina
5 - Il Nevare
6 - L’Amico Suicida