sexta-feira, 22 de abril de 2022

Alamo - Alamo (1971)

 

Definitivamente o hard rock estadunidense ainda tem a capacidade de nos revelar grandes pérolas obscuras. Verdadeiras pepitas sonoras que ainda sequer foram descobertas, inalcançadas, prontas para serem reveladas em garimpagens para lá de fantásticas e encontradas no mais belo estado bruto do mais puro e genuíno rock.

Não se enganem que o hard rock americano se limita a bandas manjadas, conhecidas como Van Halen, temos um universo a se desbravar que estão, empoeiradas, nos baú do rock.

Lembro-me que esta banda que será abrilhantada nesta humilde resenha eu descobri, claro, em minhas garimpagens pela grande rede e quase que despretensiosamente eu encontrei uma banda com um nome um tanto que inusitado, pelo menos para mim, e nela me aventurei, confesso que sem muitas expectativas acerca de sua qualidade sonora.

Comecei a ouvir! O “play” me revelou uma pérola, literalmente um primor sonoro que sempre me pergunto o motivo pelo qual essa banda não atingiu êxito em sua história.

O fato é que essa pergunta suscita vários questionamentos e muitas possíveis respostas e que talvez, nos dias de hoje, não seja mais relevante comentar sobre essas questões, sobretudo pelo fato que muitas dessas bandas estão, graças ao advento da internet, redes sociais e pessoas abnegadas, ávidas, como esse que vos fala, pelo novo, faça que essas bandas, esses álbuns ganhem a luz.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O nome da banda é ALAMO e, como disse, foi formada nos Estados Unidos, mais precisamente na região do Menphis, Tenessee. Área boa, área dominada pelas bandas de country rock, de blues, aquelas bandas “caipiras” com sons bem peculiares, característicos da música popular americana.

Alamo

Mas não se enganem com o Alamo! Você foi enganado pelas circunstâncias do esteriótipo. O Alamo traz elementos de blues sim, em algumas faixas do seu único álbum, homônimo, lançado em 1971, mas também entrega um hard rock vigoroso, com “pitadas” generosas de rock psicodélico, em voga no início dos anos 1970, tendo a condução magistral de um belo órgão, belos teclados, dando uma textura bem interessante ao contexto sonoro da banda.

Os primórdios, o embrião do Alamo começa em 1965 com o guitarrista Larry Raspberry, que tocou com a banda Gentrys, atingindo as paradas de sucesso com a música “Keep On Dancing”.

Gentrys - "Keep On Dancing" (1965)

Adicionando, junto com a guitarra de Raspberry, o teclado excepcional e poderoso do tecladista Ken Woodley que fora membro da banda Cosmos. Esse foi o “miolo”, a “espinha dorsal” do que viria a ser a nova banda do pedaço em Tenessee, o Alamo.

Juntando-se a Woodley e Raspberry Larry Davis escalado para tocar no baixo e fechando o time entraria Richard Rosebrough assumindo a bateria. Pronto! A banda estava formada!

O álbum “Alamo” foi finalmente lançado em 1971 pelo famoso selo “Altantic Records” e foi vendida à imprensa especializada como uma espécie de novo “Led Zeppelin”. Lamentável! Lamentável que, mais uma vez, os formadores de opinião influencia negativamente no futuro das bandas antes ainda de seu nascimento. Talvez esse tenha sido o início do fim da banda que precisava ser associada a uma banda de sucesso à época, como o Led Zeppelin, para ganhar alguma publicidade e gerar algum lucro à indústria fonográfica.

Já que o Led Zeppelin foi mencionado vale, como curiosidade, ressaltar que o Alamo e o próprio Zeppelin tocaram em um festival importante da época chamado Atlanta Pop Festival em 1969, antes mesmo do Alamo lançar seu único álbum auto-intitulado.

Atlanta Pop Festival (1969)

Então dissequemos este belíssimo álbum, porque afinal é de música que precisamos, é da importância desta que faz da nossa vida, algo mais alegre, por mais efêmero que possa ser, levando em consideração que este foi o único trabalho dessa incrível banda. Um volumoso hard rock calcado em riffs e solos de guitarra e de teclado do mais puro rock sulista.

O álbum é inaugurado com a faixa “Got To Find Another Way” que já tem a introdução do poder avassalador do riff da guitarra e da bateria marcada e de forte pegada com aquele vocal rouco, alto e rasgadão. Aquele exemplar de um típico hardão setentista.

"Got To Find Another Way"

“Soft And Gentle” segue um pouco mais desacelerado, o esforço da banda em trazer uma balada fundamentada em solos mais intensos e fortes de guitarra e de fato conseguem sucesso, pois traz também uma atmosfera bem interessante com as linhas de teclado.

A sequência com “The World We Seek” tem o destaque sensacional das teclas de Woodley e o baixo potente e cheio de groove dá o tempero necessário para que esse faixa seja super dançante e muito solar.

"The World We Seek"

E eis que surge nada menos que uma das melhores faixas do álbum, “Question Raised” que, sem dúvida, é uma das mais pesadas também. Começa veloz, pesada, intensa, frenética. Cheia de energia tem uma simbiose maravilhosa entre a guitarra e o teclado em uma espécie de disputa saudável fazendo da faixa um trovão sonoro.

"Question Raised"

“Bensome Changes” inicia com um breve solo de bateria e irrompe em um blues rock volumoso, mesclado a um hard rock e um vocal excepcional que remete a uma espécie de protos toner, dado o seu peso.

Segue com “All New People” com novamente o protagonismo do órgão e da guitarra com uma sonoridade mais simples, porém direta, cheia de dinamismo e intensidade.

"Bensome Changes"

“Get the Feelin'” já inaugura com baixo e guitarra dominando a área, com uma bateria cheia de gingado, a típica música sulista, enaltecendo a pureza da música popular norte americana. Talvez seja a faixa mais complexa do álbum com algumas mudanças de ritmo, de ambiente, variando muito, mostrando a destreza instrumental dos músicos.

E fecha, com chave de ouro, com a faixa “Happiness Is Free” que também é desacelerada, com uma pegada bem comercial, mais radiofônica, mas com muita qualidade tendo o vocal mais limpo, límpido, discreto talvez, e riffs ocasionais de guitarra e alguns solos simples, mas bem executados.

"Get the Feelin'"

O tempo de vida do Alamo foi curto, logo pereceu, mas a maioria dos músicos que nela fez parte seguiu as suas vidas e carreiras musicais em outras bandas e projetos.

Larry Raspberry seguiu em carreira solo por algum tempo e logo depois formou a banda Larry Raspberry & the Highsteppers cuja vocalista, Carol Ferrante, ex-miss Tenessee, uma celebridade local, que também tentara o concurso de Miss America. Richard Rosenbrough se juntou a Lee Baker & The Agitators. E os demais integrantes passaram a tocar em bandas como Hot Dogs e Big Star. O álbum “Alamo” foi relançado em 2008.



A banda:

Richard Rosebrough na bateria

Ken Woodley nos teclados

Larry Raspberry na guitarra e vocal          

Larry Davis no baixo

Faixas:

1 - Got To Find Another Way

2 - Soft And Gentle

3 - The World We Seek

4 - Question Raised

5 - Bensome Changes

6 - All New People

7 - Get The Feelin'

8 - Happiness Is Free


Alamo - "Alamo" (1971)

Download aqui




















 






domingo, 17 de abril de 2022

Gift - Gift (1972)

 

A cena krautrock germânica, em sua gênese, sempre nos reservou grandes surpresas, principalmente pelo fato de sua diversidade sonora. Sim, amigos leitores, pela sua diversidade sonora! Sempre tive a impressão de que a cena kraut era vista, interpretada com rejeição pelos fãs de música por ser simplesmente, unicamente experimental, com ruídos estranhos, aquele som minimalista e introspectivo.

Não! A cena é rica, multifacetada, grandiosa! Temos de tudo: bandas que flertavam com o psicodélico típico da segunda metade da década de 1960, no auge, sobretudo nos Estados Unidos e Inglaterra, algumas navegaram pelo jazz fusion, algumas até por músicas mais cativantes e com viés mais comercial e aquelas fundiram, majestosamente, o psych sessentista com o hard rock setentista.

A banda alvo da resenha de hoje entregou, com maestria, a última opção e criou uma proposta muito interessante do que viria a ser chamada de heavy metal dez anos mais tarde, já nos anos 1980. Era um som agressivo, pesado, intenso, com volume alto, pouco corriqueiro para época, não pela escassez das bandas, mas pelo pouco ortodoxo que essa banda praticava à época.

A banda se chamava GIFT. Era um som totalmente despretensioso, sujo, pesado e fugia um pouco ao conceito experimental e progressivo, mais comum na cena krautrock, mas que hoje atingiu o status “cult”. Mas em virtude de estar inserido em uma época que predominava o progressivo, era perceptível, em algumas nuances da música do Gift algumas viagens progressivas, mais complexas, porém sempre com o peso, o hard protagonizando a sua estrutura sonora.

O Gift nasceu na escola em 1969, em Augsburg, e o seu primeiro nome era “Phallus Dei”, certamente uma livre inspiração ao legendário debut do Amon Duul II de nome “Phallus Dei”, lançado em 1969, mudando para Gift nos anos seguintes. O nome Gift não tem muito a ver com a palavra “presente”, tradução literal para o português, mas uma palavra alemã que significa “veneno”, muito apropriado para a sua sonoridade.

Amon Duul II - "Phallus Dei" (1969)

Após alguns anos ensaiando, gravando algumas composições e esporádicos shows em lugares pequenos e de péssima estrutura, além de algumas saídas de músicos, a formação apresentada no lançamento da banda, em 1972, o homônimo, que será a estrela dessa resenha, foi: Uwe Patzke (baixo, vocal), Helmut Treichel (vocal), Rainer Baur (guitarra) e Hermann Lanze (bateria, percussão). Nick Woodland foi listado nos créditos, mas na verdade saiu da banda antes do início da gravação.

Gift

Eles foram descobertos por um produtor de Munique chamado Otto Hartmann, que assinou com a banda para o selo “Telefunken”. O Gift não gozou de muita popularidade na cena krautrock, talvez pelos motivos expostos a sua sonoridade, mas ganhou alguns fiéis adoradores, como este que vos fala ou melhor escreve, pois adotou, sobretudo, claro, neste álbum, o “Gift”, um fluxo agressivo, pesado, com viés progressivo e uma lisergia típica daquele período, na transição das décadas de 1960 e 1970.

“Gift” traz versões de hard, heavy, prog e psicodélico com extremo talento, mas mantendo uma veste despretensiosa, ao mesmo tempo. É complexo porque é orgânico, é despretensioso porque é uma música de vanguarda, revolucionária para a época. Traz seções rítmicas que apresentam mudanças de tempo, variações são vistas, o que reforça a sua “queda” pelo progressivo, com reviravoltas sonoras incríveis sem sacrificar a base, a célula personificada no seu debut: o peso, a agressividade.

O álbum é inaugurado com a faixa “Drugs” já botando o pé da porta com riffs poderosos de guitarra, baixo pulsante, bateria marcada! Excelente faixa tipicamente hard.

"Drugs"

Na sequência tem “You’ll Never Be Accepted” tem uma introdução vocal suave, melódica e logo com um riff meio meloso de guitarra com um viés bem comercial, bem radiofônico. Cadenciado, traz algumas mudanças rítmicas que me remete aos hard prog da década de 1970.

“Groupie” foge um pouco do “padrão” do álbum iniciando com a flauta dando um tom mais soturno, introspectivo e contemplativo à faixa com uma pegada um tanto quanto sessentista, das bandas britânicas dessa época.

"Groupie"

“Time Machine” abre com o já habitual riff de guitarra dando o tom e o movimento à música que logo irrompe em um hardão pesado, solar e intenso. Destaque para o vocal lisérgico e também para as mudanças de andamento trazendo uma vibe progressiva.

“Game Of Skill” começa distorcido, despretensioso, mas logo traz a retomada ao hard rock com uma proposta mais agressiva, trazendo uma versão heavy rock bem poderosa, diria um proto metal, com muita lisergia, muita psicodelia.

"Game of Skill"

“Don’t Hurry” continua com o hard rock como destaque e excelente trabalho vocal com a “cozinha” a todo vapor em extrema sinergia. “Your Life” segue com a mesma proposta anterior, pesada, intensa, agressiva, com um trabalho excepcional de guitarra e um vocal lisérgico, gritado, em alguns momentos.

O álbum fecha, com chave de ouro, com a faixa “Bad Vibrations” onde a banda, como um todo, tem destaque, mostrando uma sinergia instrumental incrível, os solos de guitarra são mais elaborados, a bateria, marcada, segue fielmente a composição vocal.

"Bad Vibrations"

A estreia do Gift é uma excelente exibição de um hard rock totalmente desleixados, intencionalmente, com melodias habilmente trabalhadas, com uma excelente seção rítmica com mudanças de tempo com ênfase na guitarra, na bateria, mas também por que não dizer no baixo?

Enfim é um trabalho excelente de uma banda extremamente coesa e plena no que fazia. Esteve longe das bandas psicodélicas e experimentais dos primórdios do Krautrock e também da complexidade de algumas bandas de hard rock inglesas, americanas e até mesmo da Alemanha, mas deixou um legado importante na história de seu país, como uma das bandas emblemáticas do heavy psych. Altamente recomendado!


A banda:

Helmut Treichel nos vocais

Rainer Baur na guitarra

Nick Woodland na guitarra e vocais (creditado, mas saiu da banda no período de gravação do álbum)

Uwe Patzke no baixo e vocal

Hermann "Mandy" Lange na bateria e percussão

 

Faixas:

1. Drugs

2. You'll Never Be Accepted

3. Groupie

4. Time Machine

5. Game Of Skill

6. Don't Hurry

7. Your Life

8. Bad Vibrations







 

 

 





 















quinta-feira, 7 de abril de 2022

Goblin - Live 1978 (1978)

 


Eu não apreciava o rock progressivo italiano, eu não gostava e não me interessava pelo rock italiano. Não sei dizer o motivo, algo relacionado a uma pré-concebida percepção de que o rock não tinha absolutamente nada a ver com a Itália, apenas as massas, vinhos e o futebol, esses sim aprecio muito.

Mas como tudo na vida, como tudo na vida pode mudar e deve mudar, os meus primeiros contatos mais, digamos, assíduos com o rock da Itália, foram em eventos regados a música rock e muita cerveja e vinho com alguns amigos mais próximos que, de forma preocupada e carinhosa, que a minha introdução ao rock progressivo italiano se deu de uma forma mais intensa, ostensiva. Traçaram uma missão em me revelar as pérolas do país da bota.

Eu, de peito aberto e coração mais acalentado, me rendi a isso tudo, até por respeito e consideração aos meus amigos, inicialmente. O que, neste início, era algo protocolar, foi, aos poucos se tornando algo sentimental, uma espécie de amor, de sentimento foi construindo e o muro do preconceito, aos poucos, ruindo.

E o pilar desse momento importante foi uma banda de Roma chamada GOBLIN. Quando eu ouvi o som de textura complexa, com jazz rock, rock progressivo, doses experimentais e psicodélicas e o hard rock, foi me arrebatando, foi me tomando de assalto e me deixei levar a cada música, a cada álbum ouvido. As audições se tornava um prazer!

E quando comecei a ler a sua história e a parceria da banda com o cineasta italiano Dario Argento e que seus álbuns basicamente serviram de base sonora para os seus filmes de suspense e terror, se fechou o amor que irrompeu com a frenética audição de sua rica discografia.

O Goblin foi criado em 1972 por Claudio Simonetti e Massimo Morante, tecladista e guitarrista, respectivamente. Em 1973 Claudio Simonetti e Massimo Morante gravaram várias músicas e cantadas, com seu amigo/empresário Giancarlo Sorbello partiram para Londres onde contataram o engenheiro de som/produtor Eddie Offord famoso por ter gravado muitos discos do Yes, Gentle Giant e Emerson Lake & Palmer que, depois de ouvi-las, decidiu produzir a banda.

Goblin em 1975

Em 1974 entram na banda Fabio Pignatelli no baixo e Carlo Bordini na bateria, o nome escolhido para a banda é "Oliver" e eles voltam para Londres onde gravam novas músicas com a adição do cantor americano Clive Haynes, conhecido meses antes em uma estação do metrô londrino, juntos eles fazem vários shows por Londres.

No entanto Eddie Offord sai em turnê com o Yes e não tem mais tempo para seguir e produzir a banda, que volta para a Itália e mais tarde graças ao pai de Claudio, Enrico Simonetti, eles conseguem um contrato com a Cinevox Record.

A banda começa a gravar um álbum (que seria lançado mais tarde sob o nome de “Cherry Five”), e durante a gravação os propõe a Dario Argento que está procurando uma banda de rock para seu novo filme (Profondo Rosso).

"Cherry Five" (1974)

Depois de ouvi-los, o diretor imediatamente decide que eles gravem a trilha sonora de “Profondo Rosso” como intérpretes e arranjadores, mesmo que inicialmente a mesma trilha tenha sido confiada ao famoso jazzista Giorgio Gaslini que já havia começado a trabalhar no filme com a orquestra. 

Após algumas discussões com Argento, Gaslini deixa o filme e o diretor pede aos meninos, aos jovens músicos, que completem o trabalho e componham as peças principais. Com Walter Martino na bateria (no lugar de Carlo Bordini), a banda muda seu nome para “Goblin” e grava a trilha sonora do filme compondo as principais músicas: Profondo Rosso, Death Dies e Mad Puppet.

Na primavera de 1975 e depois oficialmente e contratualmente em 1976, Maurizio Guarini nos teclados e Agostino Marangolo na bateria se juntaram ao grupo, o Goblin produz o álbum “Roller” cujas canções foram posteriormente usadas como trilha sonora do filme “Wampir”, de George Romero em 1977. 

A formação em a época do “Roller” foi a seguinte: Maurizio Guarini, Agostino Marangolo, Massimo Morante, Fabio Pignatelli, Claudio Simonetti, a mesma formação com a qual a banda se apresentou ao vivo entre 1975 e 1976. Em 1977 o Goblin voltou ao caminho da composição de trilhas sonoras e em 1977 fez a música para o filme “Suspiria” de Dario Argento, certamente o álbum mais experimental da banda. Guarini deixa a banda enquanto trabalhava em estúdio para a concepção de “Suspiria”.

Em 1978 o Goblin volta ao sucesso fazendo a trilha sonora do filme “Zombi”, de Gorge Romero, o álbum tem ótima repercussão, vendendo principalmente na Europa, Japão e EUA. No mesmo ano a banda lançou “Il Fantastico Viaggio del Bagarozzo Mark”, um álbum conceitual progressivo sobre o tema das drogas e a primeira ópera da banda com canções cantadas por Massimo Morante. O álbum, mesmo estando entre os mais bem sucedidos de toda a carreira, não obtém o merecido sucesso e só com o passar dos anos é reavaliado pelo público e crítica, tornando-se cult.

E a partir dessa cronologia envolvendo os melhores álbuns do Goblin, a melhor “era” da banda, os anos 1970, falarei de um registro ao vivo obscuro à época, de um show que a banda realizou na cidade de Sanremo, de um festival conhecido naquela cidade em 25 de maio de 1978, divulgando o até então novo álbum de estúdio, o “Il Fantastico Viaggio del Bagarozzo Mark” e também por ocasião do MIMS.

E no track list o que prevalece são as faixas do “Bagarozzo Mark”, com algumas faixas dos outros trabalhos do Goblin, distribuídos em um show com quase 50 minutos de duração. O show foi lançado pela Cinevox em 2000 no CD duplo "The fantastic journey in the best of Goblin Vol. 1" , mas o encarte  indicava incorretamente que era uma gravação anônima de 1979. O álbum sai pela AMS/Cinevox e teve um nascimento muito conturbado com várias segundas intenções por parte da editora romana que acabou por impor algumas escolhas.

O “Live 78” foi o penúltimo show com a formação clássica e mais bem sucedida da banda, com Massimo Morante (guitarra, vocais), Claudio Simonetti (teclados), Fabio Pignatelli (baixo), Agostino Marangolo (Bateria), com o músico convidado Antônio Marangolo no saxofone. Maurizio Guarini, um segundo tecladista que entrou na banda para tocar em "Roller”, já havia deixado a banda no final de 1976.

O que torna essa apresentação rara e importante é o fato, entre outros, da banda, embora fazendo sucesso com suas trilhas sonoras para filmes de terror e suspense e álbuns de sucesso, eram as condições e os locais que a banda vinha fazendo seus poucos shows, em lugares de péssima infraestrutura, pequenos, como em boates, bares, etc. Então, o Goblin decidiu, por um tempo, não se apresentar ao vivo. Como curiosidade, na turnê do álbum “Suspiria”, a banda não fez mais do que um show promovendo o seu hoje clássico disco.

 O local foi em Turim, em 1977, a convite da TV italiana RAI em seus estúdios. Depois do referido show de 1977, o Goblin, a convite da Cinevox Records, tocou no início do ano de 1978 e somente em maio, surgiu um novo convite, o registro do qual versa essa resenha, do MIMS (Mercato Internazionale Musica e Spettacolo), em Sanremo, um evento de 7 dias feito para músicos e empresários de música.

O set list do show, curto e com duração de pouco mais de 48 minutos, conta com músicos dos álbuns “Roller”, “Profondo Rosso” e do até então, novo álbum, o clássico “Il Fantastico Viaggio del Bagarozzo Mark”, com 5 músicas no show.

O show começa com “Aquaman”, do álbum “Roller”, com um sinistro gotejamento e um belíssimo sax que descortina, logo depois, um trovão sonoro com toda a banda em seus respectivos instrumentos. Um belo trabalho desta grande música ao vivo.

Na sequência temos outra música do disco “Roller” chamada “Snip Snap” com uma introdução de teclado que descamba para um sinfônico bem obscuro e depois para improvisação bem jazzy. Demais!

“Profondo Rosso”, do disco de mesmo nome de 1975, uma grande música que certamente funciona ao vivo com aquela introdução inconfundível da guitarra e toda aquela atmosfera densa, ameaçadora e obscura como o bem sabe praticar o Goblin.

“Mark Il Bagarozzo”, do disco “Il Fantastico...”, de 1978, com destaque do vocal e uma bela performance ao vivo, bem pesada. Ainda do mesmo disco temos “Notte” com um vocal com um sussurro amedrontador é a síntese do Goblin.

“Opera Magnifica” é um hino do Goblin, grande versão ao vivo com o vocal altivo e poderoso fazendo da música uma das melhores escolhidas para o show.

E para fechar a animada “Un Ragazzo D'Argento” bem new wave, antes da new wave, bem dançante e eletrônica, uma bela música para fechar um show.

Embora o Goblin não seja uma banda tão rara e obscura, tema central deste humilde blog, esse show é uma síntese, a personificação do mesmo, pois fora gravado pela Cinevox, porém nunca lançado, até que em 2000 trouxe à luz, à tona essa preciosidade, esse show que entrega um Goblin em seu melhor momento. Altamente recomendado!

A banda:

Claudio Simonetti nos teclados

Massimo Morante na guitarra

Agostino Marangolo na bateria

Fabio Pignatelli no baixo

Guest: Antonio Marangolo no saxofone


Faixas:

1 - Aquaman

2 - Snip Snap

3 - Profondo Rosso

4 - Mark il bagarazzo

5 - Notte

6 - Opera Magnifica

7 - Le cascade di viridiana

8 - Un ragazzo d’argenta

 

Goblin Live at Sanremo (1978)