quinta-feira, 23 de julho de 2020

Nosferatu - Nosferatu (1970)


O krautrock nada mais foi do que uma cena baseada no experimentalismo e minimalismo alemão, uma espécie de psicodelia germânica, com jams sections e improvisações com sons pouco palatáveis para um ouvido e mente pouco abertas, que sequer se permite absorver, identificar e entender. 

Talvez seja esse o motivo, pelo menos um dos principais, que a cena seja vilipendiada pelos fãs mais conservadores do rock progressivo, por exemplo. Além de o nome ter sido adotado, de forma pejorativa, pela imprensa britânica, os alemães e boa parte das bandas que compunha a cena recebeu bem o nome, mas, na década de 1970, o rock alemão sofreu com a “universalização” do estilo, ou seja, todas as bandas, indiscriminadamente, independente do estilo e da vertente, foram colocadas no “mesmo saco” do krautrock. 

Aos que apreciam o rock alemão, falarei dessa forma, pelo menos nesse momento, são sabedores da diversidade, da multiplicidade dos estilos que povoam o rock n’ roll naquele país. É fato que o krautrock foi um sustentáculo, um pilar essencial para o surgimento de várias bandas na Alemanha que, também foram inspiradas por um movimento contra cultural, mais uma semelhança com o psicodelismo, contra o status quo e o conservadorismo da sociedade alemã do pós guerra, que imperava, é claro, na cultura popular, com músicas pasteurizadas e importadas de outros países, um pop vazio, alienante e que não incitava os jovens, sem perspectivas, a pensar, a ter senso crítico. 

E esses jovens se formaram em grupos, que viria a se tornar o embrião de bandas que se tornariam as precursoras do movimento kraut que, no início sequer vislumbravam na música a sua voz contestadora. Muitas bandas surgidas em meados da década de 1960 na Alemanha não estavam viajando em sonoridades experimentais, lisérgicas ou psicodélicas, mas estavam produzindo jazz rock, hard rock, como o Passport, Guru Guru etc. 

E há outra banda extremamente obscura, surgida em 1968, que esteve relegada, marginalizada, não recebendo o devido crédito, talvez por alguns infortúnios ou má sorte que a levou ter uma curta e precoce retirada da cena underground alemã de rock. Falo do NOSFERATU.

Nosferatu

A propósito do que muitos formadores de opinião colocarem no saco do krautrock o Nosferatu se caracterizou, no seu único álbum de estúdio, lançado em 1970, auto-intitulado, por uma sonoridade voltada para o jazz rock, um progressivo embrionário, folk  e doses generosas de um peso, um bom hard rock, envolto em uma atmosfera soturna, perigosa e muito, mas muito misteriosa. 

É claro que se observa, ou melhor, ouve passagens experimentais, afinal, eram os anos 1970, estilos e vertentes estavam surgindo e era tudo muito novo para as bandas que, criativas, flertavam com os mesmos, sem o medo e a preocupação do, as vezes, famigerado esteriótipo, era o auge do kraut na Alemanha. 

A formação da banda, no lançamento de seu único álbum, contava com Michael "Xner" Meixner na guitarra, Reinhard "Tammy" Grohé no órgão, Christian Felke no saxofone e flauta, Michael "Mick" Thierfelder no vocal, Michael "Mike" Kessler no baixo e Byally Braumann na bateria. Talvez o único ponto de visibilidade que o álbum ganhara à época é que fora produzido pelo emblemático produtor Conny Plank, que trabalhou com nomes do porte de Kraftwerk, Guru Guru e muitos outros.


O álbum conta com longas e bem sucedidas jams instrumentais, mesclando guitarra pesada, riffs pegajosos e solos poderosos e um órgão hammond bem executado, com instrumento de sopro dando uma camada mais sombria, com um vocal frenético e nervoso, cantado em inglês. 

Inicia com a faixa “Highway” já dá as credenciais pesadas do Nosferatu, com riffs nervosos, com um hammond incontrolável tocado de forma frenética, um som mais cru, direto e agressivo, ótimo para abrir um álbum.

"Highway"

“Willie The Fox” segue outra proposta, diametralmente distinta da faixa anterior: uma música mais animada, solar, com a flauta ditando as regras com uma levada mais jazzística, ótimas alternâncias rítmicas, revelando um progressivo em tempos remotos, onde esta ainda estava apenas no embrião, lactente. “Found My Home” se destaca pelo instrumental, uma verdadeira ode a jam section calcada no jazz rock, tendo o vocal, nos curtos momentos, mais limpos e comportados. 


 "Willie the Fox"

“No.4” traz uma atmosfera sombria, tensa, um som intimidador e ameaçador, com viagens experimentais, psicodélicas, com guitarra estridente, bateria marcada, mas competente e vocal suplicante, paranoico. “Work Day” é mais dançante, despretensiosa, suja, trazendo um pouco de soul, funk a já típica levada jazzística, música extremamente versátil. 

"Work Day"

E finalmente fecha com “Vanity Fair” um hard cadenciado igualmente animado e solar, um som cativante, com alguns solos de guitarra simples, mas competentes e uma curiosa passagem de música latina. 

É difícil hoje classificar o Nosferatu e isso é extremamente relevante! Uma banda que, apesar da pouca sorte e da curta vida, mostrou, em apenas um álbum que deveria estar ao lado de bandas com maior sorte como Guru Guru e Amon Duul II, no protagonismo do rock germânico. 

Atribuiu-se a gravadora Vogue Schallplatten ao fim precoce do Nosferatu. Pois o selo tinha uma predileção por bandas e músicos com uma proposta mais comercial, radiofônica, deixando talvez o Nosferatu com uma sonoridade pouco ortodoxa e versátil, de lado. Ou ainda pelo motivo de que a gravadora tenha decretado falência e fechado às portas em 1971, mesmo com um catálogo extenso.




A banda:

Michael "Xner" Meixner na guitarra
Reinhard "Tammy" Grohé no órgão
Christian Felke no saxophone e flauta
Michael "Mick" Thierfelder no vocal
Michael "Mike" Kessler no baixo
Byally Braumann na bateria


Faixas:

1 - Highway
2 - Willie the Fox
3 - Found my Home
4 - No. 4
5 - Work Day
6 - Vanity Fair



Nosferatu - "Nosferatu" (1970)