Nesses últimos anos estamos
presenciando algumas notícias, no mundo da música, de plágios, de disputas
judiciais por conta desses eventos e algumas discussões, entre os fãs de rock
n’ roll, de bandas que emula sons de outras clássicas, mais antigas. O advento
das redes sociais fez com que essas discussões ganhassem também mais
visibilidade.
Talvez questões como essas que
são discutidas podem não ter tanta relevância, talvez, pelo menos para mim, o
mais importante é que o rock seja alvo de discussão e debate, tendo essa
vertente sonora ganhando um pouco mais de destaque entre os fãs. O fato é que o
assunto vem ganhando corpo nos fóruns da grande web.
As bandas das décadas de 2000,
da cena do stoner rock, por exemplo, chamada, talvez equivocadamente de “rock
retrô”, vem puxando esses assuntos, pois trazem, de forma veemente, um viés do
hard rock dos anos 1970, principalmente, criando uma espécie de rejeição para
uma ala, mais conservadora, diria, de fãs e de um resgate de épocas prolíficas
para outros.
O fato é que que temos uma
discussão afiada por debates acalorados, tensos e até perigosos, porque a web
hoje, da mesma forma que projeta positivamente falando, pode servir como uma
espécie de tribunal definindo a derrocada de determinadas bandas.
Mas não se enganem, amigos
leitores, que essas discussões são suscetíveis aos tempos atuais, a bandas da
atualidade, mas algumas do passado também e que decretado o fim de muitas
bandas, além, claro, de outros fatores. E hoje falarei de uma banda italiana
que caiu no ostracismo no passado por demonstrar com evidência sonora, as suas
predileções sonoras, seu apreço por outra clássica e pioneira do hard rock, o
Led Zeppelin. Qual é a banda? O MOBY DICK!
O apreço pelo Led Zeppelin já
começa pelo nome da banda, uma ode a um dos clássicos do gigante britânico, mas
não termina por aí, há também uma referência, claro, a sonoridade que, se você,
caro leitor, que não conheça a banda italiana, às cegas, provavelmente poderia
lembrar de imediato do Zeppelin, de músicas antigas da banda que não foi
lançada, mas não. Confesso que, ao ouvir pela primeira vez o Moby Dick me
incomodou por ter essa similaridade tão viva com o Led Zeppelin, porém é
inegável que o hard rock apresentado pelo Moby Dick é estiloso e cativante!
Antes de falar das músicas do
Moby Dick vamos tentar trazer à tona a história dessa banda desconhecida que
teve uma vida precoce e que foi esquecida e jogada nos empoeirados porões da
história da música. Convém ressaltar, antes de qualquer coisa, de que pouco se
tem de referências a respeito do Moby Dick, o que se torna óbvio pelos seus
“tons” obscuros.
O Moby Dick foi formado em 1968 na cidade de Nápoles, na Itália, cena que aprecio muito, a napolitana, de onde saiu grandes bandas que ajudaram a formatar o rock italiano na transição dos anos 1960 e 1970, e teve no baixista Enzo Petrone como o embrião do som dessa banda. Petrone havia saído de outra grande banda local chamada de “I Volti di Pietra”, lendária e que fez algum sucesso na cena local de Nápoles, porém nunca gravou nada oficialmente e que também deu luz ao Osanna, outra grande banda napolitana.
Outros músicos que se integrariam ao Moby Dick, como o
guitarrista Toni Di Mauro e o baterista Adriano Assanti também tocariam com o
vocalista do próprio Osanna, Lino Vairetti, na banda “I Collegiali”. Outro que
viria a fazer parte do Moby Dick seria o vocalista Sandro Coppola que assumiria
também a guitarra.
Cabe aqui, como um fato
histórico, que o Moby Dick teria brevemente em seu line-up o vocalista Marco
Cecioni, do Il Balletto di Bronzo e o percussionista Toni Esposito que tocaria
nos primeiros álbuns de Allan Sorrenti e depois teria uma bela carreira solo.
A banda nos seus primórdios fez
algumas apresentações ao vivo e sempre agitou o público com a sua sonoridade
calcada no hard rock britânico, vívido, altivo e pleno, fugindo um pouco do que
se ouvia nas outras bandas de sua época na Itália que, apesar de algumas apresentarem
músicas mais pesadas, traziam também a tipicidade da música que notabilizaria
na Itália no início dos anos 1970, como o progressivo e o prog sinfônico.
E tais apresentações renderam
um EP, que foi gravado nos estúdios da RCA, um total de três músicas, em
italiano, e mais próximos do estilo sonoro que se ouvia, nos anos 1970, naquele
país, são as músicas: “Il Giorno Buono”, “Ad Ogni Costo” e “Parlo Nel Vento”.
Esse EP foi concebido em 1970.
Em 1973 o Moby Dick entraria
no Olympic Studios, em Londres, em 1973, sendo a primeira banda italiana a
gravar naquela cidade da Inglaterra e tudo parecia que estava dando certo e
tendendo para a gravação de seu primeiro álbum de estúdio naquele ano. Mas
infelizmente o trabalho do Moby Dick não atrairia interesse da indústria
fonográfica para lançar esse material. Inclusive teve uma sondagem da EMI, mas
a condição era que a banda cantasse em italiano, mas o Moby Dick, determinado,
recusou a proposta, pois queriam cantar em inglês.
Para muitos a dificuldade do
Moby Dick em ter seu álbum lançado oficialmente seu deu exatamente por esse
motivo, por optar em cantar em inglês e ter esse viés sonoro ligado ao Led
Zeppelin que, para muitos, a banda, por conta disso, não tinha uma sonoridade
original. O assunto rende debates, mas o fato é que a banda, por falta de apoio
e por defender seus propósitos sonoros, não vingou na cena rock italiana.
Apesar do álbum do Moby Dick
não ter sido lançado oficialmente em 1973 e sim vinte e oito anos depois, em
2001, como muitos casos de bandas obscuras que não tiveram seus discos
lançados, foram redescobertos pelo selo Akarma, essas gravadoras abnegadas e
undergrounds, sendo finalmente lançados. Inclusive, como faixas bônus, o seu
EP, com aquelas três faixas gravadas em italiano, também foi relançado.
O álbum do Moby Dick traz um volumoso e potente hard rock que, embora tenha uma forte influência, direi influência, do Led Zeppelin, mostra muito estilo e entrega exatamente o que se espera um fã do estilo: peso, agressividade e muito talento. Sim, seus músicos, apesar de qualquer debate e discussão polêmica, eram extremamente talentosos!
O álbum é inaugurado pela música “Two Timing Girl” que já chega botando o pé na porta fortemente, com um riff cheio, potente de guitarra. O vocal é interessante, mas talvez seja a única coisa que não se assemelha tanto ao Led, ao vocal de Robert Plant. A bateria tem batida forte, é intensa, solos diretos de guitarra recheiam o som pesado que vem e vai, mas que, quando se encaminha para o final, é bem elaborado e de tirar o fôlego. Segue com “Free Wheelin Cat” começa com dedilhados de guitarra, mas que irrompe em uma explosão de hard rock capitaneado pela bateria, marcada e pesada, baixo galopante e vocais mais potentes. Solos mais sujos de guitarra são ouvidos me remetendo a um heavy metal de vanguarda.
A próxima faixa, “My Friend”, tem
o destaque também, principalmente inicial da “cozinha” da banda. Inicia com um
solo meio jazzy de bateria, depois entra o baixo tocado fortemente e depois
explode em um hardão típico, mas cadenciadamente, bem dançante. “What Time Is
It” que já foge das propostas anteriores entregando uma linda balada, calcada
em uma proposta mais acústica, ao violão, no início, com um vocal calmo, leve,
mais introspectivo. Aos poucos a música vai encorpando tendo a guitarra e a
bateria dando esse suporte, essa textura.
“Provisional Baby Hip” tem no
início a pegada mais focada na balada, como na faixa anterior, mas por pouco
tempo, porque o vocal, mais gritado, anunciaria o peso do hard rock que viria.
Bateria cheia de groove, baixo pulsante e dançante, riffs poderosos de guitarra
confirmam a nova vibe da faixa. “Groove Me” segue basicamente a proposta da
música anterior, com peso e uma pegada mais animada, solar e dançante. O nome
da música faz jus a ela.
E fecha com “Sex 'n' Roll
Express” que começa com um baixo cheio de ritmo, de balanço, e que logo se ouve
um “trovão” com riffs de guitarra poderoso e bateria marcada e dando uma
textura hard rock solos de guitarra se ouve. Uma faixa com a predominância de
um instrumental soberbo corroborando o quão competentes eram os músicos do Moby
Dick.
O Moby Dick iria se separar um
pouco depois das gravações que fizeram em Londres, na Inglaterra. O fato
ocorrido com a EMI também gerou uma falta de estímulo entre os músicos. O
baixista Petrone se juntaria, no futuro, ao antigo companheiro, Lino Vairetti,
no Osanna, participando do álbum “Suddance”, de 1978 e tocando ainda no retorno
da banda, em 2001, com o álbum “Taka Boom”. Toni Di Mauro iria morar na Suécia
como um ex-membro do Il Balletto di Bronzo. Sandro Coppola ainda está ativo em
Nápoles como guitarrista e Adriano Assanti mudou-se para a Suíça epor lá
dedicou-se à música New Age.
Lançado em 2001, pelo selo
Akarma, o único álbum do Moby Dick ganharia uma bela capa, em LP, texturizada gatefold.
Essa mesma gravadora relançaria, em uma segunda edição, o álbum com o mesmo
design de capa da primeira edição, mas um tipo diferente no nome da banda. Uma
versão, em CD, foi feita nos Estados Unidos, pelo selo Bull’s Eye, em 2009, com
capa digipack e as três faixas adicionais, em italiano, do EP que foi lançado
em 1970.
Plágio? Influência?
Referência? Polêmica? Banda impostora? O debate pode ser válido, afinal termos
fãs discutindo sobre o rock n’ roll é animador, mas o mais importante, penso,
ainda é a música e o Moby Dick executou, magistralmente, as suas músicas,
promovendo um hard rock genuíno, poderoso e verdadeiro em suas fundações
sonoras.
A banda:
Sandro Coppola no vocal e guitarra
Toni di Mauro na guitarra e vocal
Enzo Petrone no baixo
Adriano Assanti na bateria
Faixas:
1 - Two Timing Girl
2 - Free Wheelin Cat
3 - My Friend
4 - What Time Is It
5 - Provisional Baby Hip
6 - Groove Me
7 - Sex 'n' Roll Express