segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Moby Dick - Moby Dick (1973 - 2001)

 

Nesses últimos anos estamos presenciando algumas notícias, no mundo da música, de plágios, de disputas judiciais por conta desses eventos e algumas discussões, entre os fãs de rock n’ roll, de bandas que emula sons de outras clássicas, mais antigas. O advento das redes sociais fez com que essas discussões ganhassem também mais visibilidade.

Talvez questões como essas que são discutidas podem não ter tanta relevância, talvez, pelo menos para mim, o mais importante é que o rock seja alvo de discussão e debate, tendo essa vertente sonora ganhando um pouco mais de destaque entre os fãs. O fato é que o assunto vem ganhando corpo nos fóruns da grande web.

As bandas das décadas de 2000, da cena do stoner rock, por exemplo, chamada, talvez equivocadamente de “rock retrô”, vem puxando esses assuntos, pois trazem, de forma veemente, um viés do hard rock dos anos 1970, principalmente, criando uma espécie de rejeição para uma ala, mais conservadora, diria, de fãs e de um resgate de épocas prolíficas para outros.

O fato é que que temos uma discussão afiada por debates acalorados, tensos e até perigosos, porque a web hoje, da mesma forma que projeta positivamente falando, pode servir como uma espécie de tribunal definindo a derrocada de determinadas bandas.

Mas não se enganem, amigos leitores, que essas discussões são suscetíveis aos tempos atuais, a bandas da atualidade, mas algumas do passado também e que decretado o fim de muitas bandas, além, claro, de outros fatores. E hoje falarei de uma banda italiana que caiu no ostracismo no passado por demonstrar com evidência sonora, as suas predileções sonoras, seu apreço por outra clássica e pioneira do hard rock, o Led Zeppelin. Qual é a banda? O MOBY DICK!

Moby Dick em 1969

O apreço pelo Led Zeppelin já começa pelo nome da banda, uma ode a um dos clássicos do gigante britânico, mas não termina por aí, há também uma referência, claro, a sonoridade que, se você, caro leitor, que não conheça a banda italiana, às cegas, provavelmente poderia lembrar de imediato do Zeppelin, de músicas antigas da banda que não foi lançada, mas não. Confesso que, ao ouvir pela primeira vez o Moby Dick me incomodou por ter essa similaridade tão viva com o Led Zeppelin, porém é inegável que o hard rock apresentado pelo Moby Dick é estiloso e cativante!

Antes de falar das músicas do Moby Dick vamos tentar trazer à tona a história dessa banda desconhecida que teve uma vida precoce e que foi esquecida e jogada nos empoeirados porões da história da música. Convém ressaltar, antes de qualquer coisa, de que pouco se tem de referências a respeito do Moby Dick, o que se torna óbvio pelos seus “tons” obscuros.

O Moby Dick foi formado em 1968 na cidade de Nápoles, na Itália, cena que aprecio muito, a napolitana, de onde saiu grandes bandas que ajudaram a formatar o rock italiano na transição dos anos 1960 e 1970, e teve no baixista Enzo Petrone como o embrião do som dessa banda. Petrone havia saído de outra grande banda local chamada de “I Volti di Pietra”, lendária e que fez algum sucesso na cena local de Nápoles, porém nunca gravou nada oficialmente e que também deu luz ao Osanna, outra grande banda napolitana. 

Outros músicos que se integrariam ao Moby Dick, como o guitarrista Toni Di Mauro e o baterista Adriano Assanti também tocariam com o vocalista do próprio Osanna, Lino Vairetti, na banda “I Collegiali”. Outro que viria a fazer parte do Moby Dick seria o vocalista Sandro Coppola que assumiria também a guitarra.

Cabe aqui, como um fato histórico, que o Moby Dick teria brevemente em seu line-up o vocalista Marco Cecioni, do Il Balletto di Bronzo e o percussionista Toni Esposito que tocaria nos primeiros álbuns de Allan Sorrenti e depois teria uma bela carreira solo.


A banda nos seus primórdios fez algumas apresentações ao vivo e sempre agitou o público com a sua sonoridade calcada no hard rock britânico, vívido, altivo e pleno, fugindo um pouco do que se ouvia nas outras bandas de sua época na Itália que, apesar de algumas apresentarem músicas mais pesadas, traziam também a tipicidade da música que notabilizaria na Itália no início dos anos 1970, como o progressivo e o prog sinfônico.

E tais apresentações renderam um EP, que foi gravado nos estúdios da RCA, um total de três músicas, em italiano, e mais próximos do estilo sonoro que se ouvia, nos anos 1970, naquele país, são as músicas: “Il Giorno Buono”, “Ad Ogni Costo” e “Parlo Nel Vento”. Esse EP foi concebido em 1970.

"Il Giorno Buono"

Em 1973 o Moby Dick entraria no Olympic Studios, em Londres, em 1973, sendo a primeira banda italiana a gravar naquela cidade da Inglaterra e tudo parecia que estava dando certo e tendendo para a gravação de seu primeiro álbum de estúdio naquele ano. Mas infelizmente o trabalho do Moby Dick não atrairia interesse da indústria fonográfica para lançar esse material. Inclusive teve uma sondagem da EMI, mas a condição era que a banda cantasse em italiano, mas o Moby Dick, determinado, recusou a proposta, pois queriam cantar em inglês.

Para muitos a dificuldade do Moby Dick em ter seu álbum lançado oficialmente seu deu exatamente por esse motivo, por optar em cantar em inglês e ter esse viés sonoro ligado ao Led Zeppelin que, para muitos, a banda, por conta disso, não tinha uma sonoridade original. O assunto rende debates, mas o fato é que a banda, por falta de apoio e por defender seus propósitos sonoros, não vingou na cena rock italiana.

Apesar do álbum do Moby Dick não ter sido lançado oficialmente em 1973 e sim vinte e oito anos depois, em 2001, como muitos casos de bandas obscuras que não tiveram seus discos lançados, foram redescobertos pelo selo Akarma, essas gravadoras abnegadas e undergrounds, sendo finalmente lançados. Inclusive, como faixas bônus, o seu EP, com aquelas três faixas gravadas em italiano, também foi relançado.

O álbum do Moby Dick traz um volumoso e potente hard rock que, embora tenha uma forte influência, direi influência, do Led Zeppelin, mostra muito estilo e entrega exatamente o que se espera um fã do estilo: peso, agressividade e muito talento. Sim, seus músicos, apesar de qualquer debate e discussão polêmica, eram extremamente talentosos!

O álbum é inaugurado pela música “Two Timing Girl” que já chega botando o pé na porta fortemente, com um riff cheio, potente de guitarra. O vocal é interessante, mas talvez seja a única coisa que não se assemelha tanto ao Led, ao vocal de Robert Plant. A bateria tem batida forte, é intensa, solos diretos de guitarra recheiam o som pesado que vem e vai, mas que, quando se encaminha para o final, é bem elaborado e de tirar o fôlego. Segue com “Free Wheelin Cat” começa com dedilhados de guitarra, mas que irrompe em uma explosão de hard rock capitaneado pela bateria, marcada e pesada, baixo galopante e vocais mais potentes. Solos mais sujos de guitarra são ouvidos me remetendo a um heavy metal de vanguarda.

"Two Timing Girl"

A próxima faixa, “My Friend”, tem o destaque também, principalmente inicial da “cozinha” da banda. Inicia com um solo meio jazzy de bateria, depois entra o baixo tocado fortemente e depois explode em um hardão típico, mas cadenciadamente, bem dançante. “What Time Is It” que já foge das propostas anteriores entregando uma linda balada, calcada em uma proposta mais acústica, ao violão, no início, com um vocal calmo, leve, mais introspectivo. Aos poucos a música vai encorpando tendo a guitarra e a bateria dando esse suporte, essa textura.

"My Friend"

“Provisional Baby Hip” tem no início a pegada mais focada na balada, como na faixa anterior, mas por pouco tempo, porque o vocal, mais gritado, anunciaria o peso do hard rock que viria. Bateria cheia de groove, baixo pulsante e dançante, riffs poderosos de guitarra confirmam a nova vibe da faixa. “Groove Me” segue basicamente a proposta da música anterior, com peso e uma pegada mais animada, solar e dançante. O nome da música faz jus a ela.

"Provisional Baby Hip"

E fecha com “Sex 'n' Roll Express” que começa com um baixo cheio de ritmo, de balanço, e que logo se ouve um “trovão” com riffs de guitarra poderoso e bateria marcada e dando uma textura hard rock solos de guitarra se ouve. Uma faixa com a predominância de um instrumental soberbo corroborando o quão competentes eram os músicos do Moby Dick.

"Sex 'n' Roll Express"

O Moby Dick iria se separar um pouco depois das gravações que fizeram em Londres, na Inglaterra. O fato ocorrido com a EMI também gerou uma falta de estímulo entre os músicos. O baixista Petrone se juntaria, no futuro, ao antigo companheiro, Lino Vairetti, no Osanna, participando do álbum “Suddance”, de 1978 e tocando ainda no retorno da banda, em 2001, com o álbum “Taka Boom”. Toni Di Mauro iria morar na Suécia como um ex-membro do Il Balletto di Bronzo. Sandro Coppola ainda está ativo em Nápoles como guitarrista e Adriano Assanti mudou-se para a Suíça epor lá dedicou-se à música New Age.

Lançado em 2001, pelo selo Akarma, o único álbum do Moby Dick ganharia uma bela capa, em LP, texturizada gatefold. Essa mesma gravadora relançaria, em uma segunda edição, o álbum com o mesmo design de capa da primeira edição, mas um tipo diferente no nome da banda. Uma versão, em CD, foi feita nos Estados Unidos, pelo selo Bull’s Eye, em 2009, com capa digipack e as três faixas adicionais, em italiano, do EP que foi lançado em 1970.

Nova versão da capa do álbum

Plágio? Influência? Referência? Polêmica? Banda impostora? O debate pode ser válido, afinal termos fãs discutindo sobre o rock n’ roll é animador, mas o mais importante, penso, ainda é a música e o Moby Dick executou, magistralmente, as suas músicas, promovendo um hard rock genuíno, poderoso e verdadeiro em suas fundações sonoras.

 

A banda:

Sandro Coppola no vocal e guitarra

Toni di Mauro na guitarra e vocal

Enzo Petrone no baixo

Adriano Assanti na bateria

 

Faixas:

1 - Two Timing Girl

2 - Free Wheelin Cat

3 - My Friend

4 - What Time Is It

5 - Provisional Baby Hip

6 - Groove Me

7 - Sex 'n' Roll Express



"Moby Dick" (1973 - 2001)