sábado, 13 de junho de 2020

The Trip - The Trip (1970)


Sou abertamente um fã do The Trip e sem dúvida é uma das mais importantes e essenciais da Itália e de todo o mundo. Essa banda deve e merece ser reverenciada e ser colocada em uma espécie de pedestal de referência no estilo. O The Trip, como muitas bandas na Itália na virada da década de 60 para a de 70 respiravam o beat italiano, a sua versão para a música dançante psicodélica, lisérgica. O The Trip, no seu gênese, contava com músicos ingleses e, com o beat italiano em alta, a cena psicodélica daquele país, os membros fundadores Arvid "Wegg" Andersen, baixista e vocalista, Billy Gray, vocalista e guitarrista, além do baterista Ian Broad, partiram para a Itália para garantir um lugar ao sol. Foi também um jovem e promissor guitarrista, um cara chamado Ritchie Blackmore, isso em 1966. Essa história por aqui é tabu, beirando a lenda. Mas em conversa com o grande Pino Sinnone, baterista italiano que viria a se integrar à banda quando a mesma se instalou em terras italianas, confirmou ao "Luz ao Rock Obscuro" que Ritchie fez parte da banda e fora com os demais músicos para a Itália, juntamente com Riki Maiocchi, que era vocalista do The Chameleons em 1966, e lá ficou por alguns meses, entre setembro e dezembro daquele ano. O motivo de Blackmore ter ficado pouco tempo e ter deixado o The Trip foi, segundo Sinnone, que o público não apreciava a música da banda à época e os proprietários das casas de shows não pagavam bem nas apresentações da banda, então ele retornou à Inglaterra. Mas ainda segundo o baterista Pino Sinnone, Ritchie e os demais integrantes ingleses da banda adoravam espaguetes e ele, Pino, dava a comida para saciar a fome dos jovens músicos. Essa é que eu chamo de uma história pitoresca e interessante que vale registrar por aqui.


Andy "Weeg" Andersen, Ritchie Blackmore (meio) e Jim Evans

Mas logo o "tempero" italiano se juntou ao The Trip e a história começou a mudar, para melhor, para banda. Entra Joe Vescovi, residente de Savona, um exímio tecladista que seria representativo para a estrutura sonora da banda e a saída de Ian Broad da bateria para a entrada substancial de Pino Sinnone. A formação com Sinnone, Vescovi, Andy Wegg e Gray seria a primeira e histórica formação que gravaria o primeiro e grande álbum de 1970 do The Trip, simplesmente chamado "The Trip", alvo da minha resenha de hoje.



Bandas já surgiam aos montes na Itália e a maioria dessas que se consagraram e ajudaram a edificar o rock progressivo como Le Orme, Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, entre outros, que gravaram seus primeiros álbuns ainda sobre as vestes da psicodelia e da música popular italiana e o progressivo ainda era uma música que prometia e que estava engatinhando. O The Trip também seguiu nessa onda, as cores do hipismo ainda era a tônica na Itália, tendo em seu debut, uma representatividade por trazer a psicodelia "made in Inglaterra" com a sonoridade característica da música italiana, colocando este álbum em uma posição vanguardista para o rock progressivo italiano.

The Trip em uma apresentação nos seus primórdios 

Embora seja uma banda relativamente conhecida entre os amantes mais passionais do rock progressivo o primeiro álbum da banda é o menos conhecido e cultuado pelos seus fãs, deixando para os clássicos “Caronte” e “Atlantide” o protagonismo de sua história sonora. Contudo fui fisgado pelo underground e obscurantismo progressista da sua estréia e me pus a ouvi-lo e consequentemente a escrever sobre ele. A catarse é garantida! Um álbum esquecido do The Trip mas que proporciona satisfação e prazer ao ouvir pelo simples fato da qualidade e corroboração histórica que faço questão de enaltecer: O rock psicodélico é um dos pais do rock progressivo e “The Trip” mostra com maestria essa passagem histórica assumindo a paternidade do movimento junto com outras tantas bandas consagradas como Pink Floyd, por exemplo, que com Syd Barrett mostrou o seu  lado lisérgico. Um disco transitório, o embrião do rock progressivo que nasceu e deu filhos robustos e saudáveis que todos nós viemos nos deleitamos como “Caronte” e “Atlantide”. Torna-se essencial a audição deste primeiro álbum do The Trip para conhecermos a história do rock progressivo no seu primórdio e, sobretudo a história da banda. A formação da banda em “The Trip” tinha: Billy Gray na guitarra e vocal, Joe Vescovi no órgão, vocais e arranjos, Arvid “Wegg” Andersen no baixo e vocal e Pino Sinnone na bateria e percussão, onde assinaram um contrato com a RCA em 1970 lançando seu tão esperado trabalho.

The Trip em estúdio (1970)

A faixa inaugural, “Prologo”, mostra um lado bem obscuro e experimentalista e muito lisérgico do The Trip com a predominância do bom e velho órgão, do teclado, do hammond, um símbolo do prog-psicodelismo. Uma bela música instrumental que floresce em uma explosão lisérgica, um acid rock com pitadas proto progressivas.

The Trip - Prologo

“Incubi” mostra um vocal bem executado e competente que seria a tônica para os discos seguintes com destaque para o teclado e batida bem dançante e envolvente e solos viajantes de guitarra.

The Trip - Incubi

“Visioni Dell'aldilа” segue no mesmo ritmo, com o talento de Joe Vescovi, saudoso, no teclado e o vocal embriagante e transcendental. É sem sombra de dúvida a mais psicodélica do álbum. 

The Trip - Visioni Dell'aldila

“Riflessioni” é uma das melhores músicas do álbum, pois mostra com nitidez sonora a característica da música do The Trip com uma levada lenta e com um trabalho excelente de vocal e uma música totalmente progressiva, muito a frente daquele tempo. 

The Trip - Riflessioni

“Una Pietra Colorata” fecha o álbum com chave de ouro com uma música mais para cima, mais pesada, com uma pegada pop, diria radiofônica, bem interessante. 

The Trip - Una Pietra Colorata

Enfim, não é o clássico do The Trip, mas que desenhou a sua história e de toda uma cena progressiva marcando a transição entre o psicodélico e o prog rock e me arrisco a dizer que é o melhor álbum dessa fase da Itália. A música impressionística do The Trip, como era conhecida naquela época, tingiu, como uma obra de arte, a história da música progressiva italiana e a marcou para todo o sempre.

Agradecimento especial ao Pino Sinnone por ter colaborado pela construção dessa resenha. Grazie!





A banda:

Billy Gray na guitarra e vocal
Joe Vescovi no órgão, vocal e arranjos
Arvid "Wegg" Andersen no baixo e vocal
Pino Sinnone na bateria e percussão

Faixas:

1 - Prologo
2 - Incubi
3 - Visioni Dell'aldilà
4 - Riflessioni
5 - Una Pietra Colorata