sábado, 20 de junho de 2020

Maxophone - Maxophone (1975)


É inquestionável que a cena progressiva italiana é rica e brilhante. Não se tem a questão quantitativa apenas, mas a qualitativa também e que se equivale nos brindando com diversidade cultural que impacta positivamente a sua música, fazendo dela o nome que a define: progressiva, progressista, porque é de vanguarda, arrojada, sofisticada sim, mas por muitas vezes marginal e urgente, pois encarnam os conceitos primordiais do rock n’ roll: contestador, transgressor por natureza. 

Bandas como o MAXOPHONE sintetizam, com extrema fidelidade, tais quesitos mencionados. A banda foi resultado, na sua gênese, dessa miscelânea cultural, enfatizada fortemente na sua música. Resultado este inovador, revolucionário e que até hoje serve de referência para a história contemporânea do rock progressivo italiano que, a plenos pulmões e com muita força, segue florescendo com o frescor da novidade, relevante.


A sua atemporalidade personifica a cena e, mesmo que obscura e com uma pequena carreira discográfica, marcou época. O vilipêndio da indústria fonográfica e das agitações político-ideológica na Itália nos longínquos anos 1970 quase pôs tudo a perder, colocando o Maxophone em uma condição total de ostracismo, mas a força de abnegados, como os apreciadores da música e profissionais incansáveis que representam pequenas e undergrounds gravadoras disseminaram, lançaram e multiplicaram para o mundo a música seminal desta banda.

Graças também ao advento de tecnologias da informação, das redes sociais o trabalho dessas grandes bandas e, claro, a persistência dessas, a qual o Maxophone faz parte, a obra assume uma espécie de legado.

O Maxophone foi formado na cidade de Milão, na região da Lombardia, no final do ano de 1972 por jovens músicos que tinham estilos diversificados e peculiares sendo que metade foi formada em conservatórios italianos e a outra metade pertencia a uma base mais pesada, mais entusiasta da música como o “classic rock” e o jazz rock, por exemplo. 

E esses jovens eram: Roberto Giuliani (vocal, piano e guitarra), Alberto Ravasini (vocal, baixo, violão e flauta) e Sandro Lorenzetti (bateria), conhecido no meio jazzístico da Lombardia. A eles se uniram Sergio Lattuada (Hammond e teclados), Maurizio Bianchini (trompa, vibrafone, percussão e voz) e Leonardo Schiavone (clarineta, flauta e saxofone).


Essa mistura, essa “salada sonora”, proporcionou à música da banda algo novo, gratas novidades, pouco corriqueiras até então na cena progressiva à época como trompa, trompete, clarineta e vibrafone, além dos habituais instrumentos do cotidiano progressivo incluindo um maravilhoso sax e um hammond de presença marcante. 

Pronto! O caráter sonoro do Maxophone estava delineado! Uma banda diversificada, eclética, versátil, muito particular e extremamente interessante, que ia do progressivo sinfônico, música clássica, jazz rock, rock, folk etc. E é nessa estrutura que o debut do Maxophone foi edificado e lançado em 1975, homônimo, que será alvo de meu texto hoje.

Maxophone ao vivo

Com algumas relevantes apresentações ao vivo, o Maxophone passou a atrair a atenção do público. Tanto que a banda conseguiu lançar o seu primeiro 45 rotações: "C'è un paese al mondo/Al mancato compleanno di una farfalla". 

A banda se apresentou em vários festivais, excursionando inclusive em uma turnê de razoável porte com a banda Area, em 1976. Neste mesmo ano a banda se apresentou no importante e icônico Festival de Montreaux, na Suíça, e logo depois gravou uma participação na emissora de televisão italiana, RAI, sendo lançado em 2018 comercialmente, com muitos materiais raros e valiosos. 

Mas antes, em 1975, a banda lançou o seu emblemático álbum, “Maxophone”, pelo selo "Produttori Associati", tanto na versão original, cantado em italiano, como na versão inglesa.


Em meados da década de 1970 algumas bandas aderiram ao formato inglês para alçar mercado norte-americano e também todo o mundo, resultado do sucesso internacional de bandas como Premiata Forneria Marconi e Le Orme. 

A banda que gravou este álbum, era formada por Sergio Lattuada no piano, órgão, piano elétrico, vocal, Roberto Giuliani na guitarra, piano, vocal, Leonardo Schiavone no clarinete, sax, flauta, Maurizio Bianchini na corneta, trompete, vibrafone, percussão, vocal, Alberto Ravasini no vocal, baixo, violão e Sandro Lorenzetti na bateria com Paolo Rizzi no baixo acústico, Eleonora de Rossi no violino, Susanna Pedrazzini no violino, Giovanna Correnti no cello e Tiziana Botticini na harpa. 

“Maxophone” é um álbum técnico, mas emocional e orgânico, com uma dramaticidade em sua sonoridade, bem peculiar em se tratando do progressivo italiano.

É pesado, progressivo, clássico com jazz rock, sinfônico e passagens agradáveis de folk. A faixa inaugural é “C'È Un Paese Al Mondo” que abre com um linda linha de piano agradável que irrompe em um peso protagonizado por guitarra e bateria, cadenciando com passagens suaves, mostrando o casamento perfeito entre o clássico e o rock.

"C'É Un Paese Al Mondo", live at RAI 1976

“Fase” começa com o peso da guitarra, dando o tom mais pesado da música, um legítimo hardão setentista, um protagonismo dos instrumentos, com passagens interessantes de jazz.

"Fase", live at RAi 1976

“Al Mancato Compleanno Di Una Farfalla” tem a introdução de uma guitarra clássica em uma atmosfera contemplativa e onírica, mostrando um pouco de folk, música celta, a música tradicional e regional italiana se faz presente, mas da suavidade a música fica mais enérgica, mostrando ótimas passagens de ritmo com linhas de hammond excelentes.

 "Al Mancato Compleanno Di Una Farfalla", live at RAI 1976

“Elzeviro” tem a introdução excepcional do vocal, poderoso e dramático, pois a letra enaltece em seu teor questões políticas e sociais, como em todo o álbum, muito comum entre as bandas progressivas italianas da época. Destaque nesta música fica para o riffs de guitarra, vocal nos momentos mais “calmos” e para órgão dando a camada sonora necessária para a sequência da música.

"Elzeviro", live at Tokyo 2014

“Mercanti Di Pazzie” traz a introdução da harpa tirada da obra “Sonata per arpa” gravada originalmente por Paul Hindemith em 1939. É uma música viajante, uma sensação de paz e tranquilidade, de transcendência da alma.

"Mercanti Di Pazzie", live at Tokyo, 2014

O álbum fecha com “Antiche Conclusioni Negre”, a mais longa faixa do álbum, e começa enérgica, animada, uma faixa solar, sinfônica, tendo instrumentos de sopro como destaque, alternando momentos mais serenos. Não podemos negligenciar a bela participação de linhas de baixo e teclado também, uma música de banda, todos participando intensamente e com destaque nesta faixa.

"Antiche Conclusioni Negre", live at RAI 1976

Em 1977 o Maxophone produziu material para um segundo álbum, mas a gravadora faliu e o projeto foi engavetado vendo a luz somente em 2006 em uma caixa com CD e DVD de nome “From Cocoon To Butterfly”, incluindo algumas gravações inéditas em um período que compreende entre os anos de 1973 e 1975, além de alguns vídeos raros do show que fizeram no estúdio da RAI em Turim. 

"From Cocoon to Butterfly" (2006)

Porém anos antes, nos anos 1990, graças ao ressurgimento do rock progressivo italiano com novas bandas, em 1993, o álbum de estreia, “Maxophone” foi reeditado pelo selo Mellow e em 1997, também foi relançado a versão italiana pela mesma gravadora. 

Em 2001 o selo Akarma republicou o álbum em vinil com a adição de algumas músicas que saíram somente nos 45 rotações. Um álbum essencial, um tesouro que a terra progressiva nos brindou, que o Maxophone nos entregou para deleite eterno. 





A banda:

Sergio Lattuada no piano, órgão, piano elétrico, vocal.
Roberto Giuliani na guitarra, piano, vocal.
Leonardo Schiavone no clarinete, sax, flauta.
Maurizio Bianchini na corneta, trompete, vibrafone, percussão, vocal.
Alberto Ravasini no vocal, baixo, violão.
Sandro Lorenzetti na bateria


Com:

Paolo Rizzi no baixo acústico.
Eleonora De Rossi no violino.
Susanna Pedrazzini no violino.
Giovanna Correnti no cello.
Tiziana Botticini na harpa.


Faixas:

1 - C'e Un Paese Al Mondo
2 - Fase
3 - Al Mancato Compleanno Di Una Farfalla
4 - Elzeviro
5 - Mercanti Di Pazzie
6 - Antiche Conclusioni Negre



"Maxophone" - Versão em italiano


"Maxophone" - Versão em inglês