segunda-feira, 25 de maio de 2020

Circus 2000 - An Escape From A Box (1972)


A Itália progressiva sempre descortinou grandes surpresas sonoras. Infelizmente algumas bandas não tiveram o devido reconhecimento, sobretudo nos dias de hoje pelo que desbravou no passado, em épocas de experimentação, de riscos em apostar em aquilo que sempre defendeu como algo essencial na sua estrutura musical. 

Bandas como o CIRCUS 2000 esteve na vanguarda da música progressiva na Itália e ajudou a construir uma cena que ainda estava embrionária, em formação, quando ainda muitas das outras bandas que, na década de 1970, se tornariam influentes, estavam nas ondas do beat italiano, uma música, embora em voga entre os jovens descolados italianos, mas que tinha um viés acessível e diria que ingênuo aos ouvidos mais exigentes. 

Circus 2000

O Circus 2000 foi formado em 1969 na cidade de Turim e lançou, pelo selo RiFi, o seu primeiro álbum, homônimo, em 1970, com uma proposta psicodélica, viajante, lisérgica, com pitadas generosas de folk rock. Tinha uma forte influência do psicodélico norte americano com uma camada sonora bem estruturada que também lembrava e muito o hipismo britânico. 

"Circus 2000", de 1970

Não era nada experimental, com aquela sonoridade pouco palatável e minimalista da Alemanha krautrock, era um som limpo, solar, direto, delicado, mas forte no seu direcionamento. Foi uma das poucas bandas, juntamente com o The Trip, que tinham músicos ingleses que se radicaram na Itália, que vislumbraram o pioneirismo, construindo o conceito do que viria a se convencionar rock progressivo, que eclodiria na Itália em 1972, aproximadamente, apesar de o clima político ter sido tempestuoso e violento, não ofertando tantos shows a essas bandas que sofreram, inclusive por se posicionar assumindo seus lados nessa “guerra”. 


O Circus 2000, na sua gênese, na sua cidade natal, Turim, tocava jazz no “Swing Club”, o que definitivamente corroborava na sua, embora jovem caminhada, uma maturidade, de músicos jovens e decididos no que queriam fazer: música avant-garde, era a música italiana em um nível de progressão.

Nessa época a banda era formada pela vocalista Silvana Aliotta, Marcello "Spooky" Quartarone na guitarra, Gianni Bianco no baixo e Roberto Betti na bateria. A banda foi comparada ao Jefferson Airplane da vocalista Grace Slick, dada a sua proposta psicodélica, mas o Circus 2000 gozava de maior talento e precisão nos seus instrumentos, era um som imperioso. 


Uma curiosidade: o lançamento do primeiro álbum da banda, cantado em inglês, não tinha os nomes dos músicos estampados na capa do disco, o que levou muita gente a achar que a banda era americana, tamanha era a novidade dessa música no país da bota. Isso pode ser mensurado e entendido como um capítulo pioneiro no rock italiano sem sombra de dúvida. 

O álbum, como disse, não era de rock progressivo, mas se notava o quão era especial o Circus 2000. Tanto que no seu segundo trabalho chamado “An Escape from a Box”, de 1972, é perceptível uma sonoridade mais complexa, evolutiva, mais elaborada da banda, era o auge do prog rock na Itália. 

Esse será o álbum que falaremos por aqui. Era a prova contundente de que o Circus 2000 não era a banda psicodélica italiana que copiou o que se fazia na América, como se pensava. A banda trouxe um som rico, elaborado, fincado, além do progressivo, como no jazz rock, com generosas doses de hard rock, um álbum, apesar de curto, versátil e dono de muita, mas muita personalidade, mas sem deixar totalmente de lado as suas influências psicodélicas. 


No lugar do baterista original Roberto Betti entra Franco "Dede" Lo Previte “encorpando” ainda mais o som da banda, tendo ainda Silvana nos vocais, Marcello Quartarone na guitarra e vocal e Gianni Bianco no baixo e vocal. O álbum é inaugurado com “Hey Man” que ainda trazia os resquícios do primeiro álbum, com uma pegada meio folk, com lindos dedilhados de guitarra, uma música a se cantar como se fosse um hino, dada a sua a proposta mais comercial, mas sem soar pasteurizada.

"Hey Man" (Live)

“You Aren't Listening” começa com um solo viajante e introspectivo de guitarra com o vocal mais abafado, seguindo a mesma proposta, mas que vai ganhando força, crescendo com viradas lindas de bateria e assim vai se alternando, em uma beleza meticulosamente rítmica. Linda música! 

"You Aren't Listening"

“Our Father” traz a banda mais pesada nesse álbum, com riffs de guitarra mais eloquentes e um vocal, em determinados momentos, mais rasgados, com levadas jazzísticas excelentes. Uma das melhores faixas do álbum, sem dúvida. 

"Our Father"

“Need” é a faixa mais progressiva do álbum, cheia de alternâncias rítmicas, riffs poderosos de guitarra, seguidos de solos mais diretos e competentes. Apoteótica faixa! 

"Need"

O álbum finaliza com “When The Sun Refuses To Shine” com uma viagem psicodélica, meio sombria, experimental diria, mas momentos mais enérgicos protagonizados pela bateria vivaz e altiva. 

"When The Sun Refuses To Shine"

Embora a banda tenha capturado mais atenção neste excelente segundo trabalho, ganhando competições musicais em Roma, como o "Festival d'Avenguardia" e também o "Nuove Tendenze", dividindo a vitória com o Banco del Mutuo Soccorso, não ganhou muitos olhares de interesse. Com um novo baterista, Louis Atzori, o Circus 2000 começou a gravar algumas músicas para um novo álbum, mas o selo queria que fosse mais inspirado no rock e a banda decide se separar. 

As únicas faixas dessas gravações mostrou uma música menos agressiva do que no passado. Então a gravadora RiFi ofereceu a Silvana um contrato solo, como “Silvana dei Circus 2000”, com os próprios músicos do Circus 2000 como banda de apoio, mas não deu certo. 

Aliotta colaborou como cantora e percussionista com alguns artistas italianos mais populares, entre eles Mina, Edoardo Bennato, Adriano Celentano, formando o trio Le Streghe, depois se dedicando à atividade de professora de canto. 

O baterista original, Betti, fundou o pequeno selo Shirak e formou o Living Life com o guitarrista Quartarone. O outro baterista da banda, Franco Lo Previte, tocou com Duello Madre, Nova e Kim & The Cadillacs, falecendo em 2014. 

Uma banda que fez música de vanguarda e que esteve a frente do seu tempo e que não se condicionou ao óbvio e que merece o crédito por seu feito importante para a história do rock progressivo italiano.




A banda:

Silvana Aliotta no vocal e percussão
Marcello Quartarone na guitarra e vocal
Gianni Bianco no baixo e vocal
Franco Lo Previte na bateria



Faixas:

1 - Hey Man
2 - You Aren't Listening
3 - Our Father
4 - Need
5 - When The Sun Refuses To Shine 




"An A Escape From a Box" (1972)