sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Nebulosa - Nebulosa (1977)

 

Queridos amigos leitores a Suécia tem nos brindado com o que há de melhor no rock n’ roll nesses últimos anos, principalmente as que trafegam no stoner rock, bem como no heavy rock, occult rock e o Ghost, amado e odiado por tantos, é um grande expoente de tais estilos, ganhando tanta notoriedade que vem conquistando alguns prêmios pelos seus álbuns lançados.

Mas não podemos esquecer, tão pouco negligenciar o caminho que outras tantas bandas do passado edificaram, a base de um hercúleo esforço, para que essas bandas conquistasse o seu lugar ao sol e até figurasse na cena mainstream do rock n’ roll o que, em alguns casos, é uma façanha, vide, claro, o próprio Ghost.

Muitas dessas pioneiras bandas que desbravaram a cena, o estilo, caíram no mais puro e difícil ostracismo ou sempre estiveram nessa condição e mesmo diante desse cenário, dessa adversa situação, as bandas se tornaram expoente para o conceito e criação de estilo que hoje estão mais ou menos em voga graças ao Ghost, por exemplo.

A Suécia é um celeiro de grandes e valorosas bandas que, com seus estilos bem peculiares, fizeram do hard rock e progressivo algo singular naquele país. É algo de “nórdico” que reina neles, seja no aspecto sonoro, seja no aspecto comportamental. Na realidade ambos se complementam.

E uma banda veio até a mim não pela sonoridade, mas pelo aspecto estético de seu álbum. Vou confessar algo: adoro as capas de álbum cuja arte é simples, algo realizado artesanalmente sem nenhum recurso monetário ou tecnológico. Em poucas e diretas palavras: algo bem simples e pouco arrojado.

Ela se chama NEBULOSA, é sueca, e a sua capa, embora tenha curtido, após as minhas intensas e animadas pesquisas pela grande rede se revelou um tanto quanto estranha. Talvez uma figura divina carregando o peso de resguardar o mundo, de protege-lo de pessoas de sentimentos e atitudes destrutivas, daí o seu sofrimento em carregar o planeta nas costas.

Evidente que esses “devaneios” me excitaram a fazer a audição do álbum, lançado em 1977, por um pequeno e underground selo de nome “Park Studio”. O único “rebento” do Nebulosa em sua precoce história.

E quando ouvi o seu álbum, algo me perturbou magistralmente: a sua música “incoesa”. Eu explico! É que a banda flertou, neste único trabalho, com várias vertentes do rock, que ia de hard rock raivoso a um progressivo sinfônico, com nuances de space rock.

E apesar de alguns problemas em sua produção, algo de ordem técnica, o que é normal em se tratar de poucos recursos, o “Nebulosa” mostra guitarras elétricas contundentes, piano, sintetizadores e até mesmo um psych rock, repleto de lisergia. É possível?

É possível sim e o faz com maestria! Como que, com uma miscelânea dessas, o Nebulosa se fez “entender” no que tange a sua sonoridade, de que não tem amarras nenhuma com rótulos, não se “encaixando” em quesito sonoro nenhum, se “escravizando” apenas pela sua criatividade.

Isso talvez não seja de fácil palato por parte de quem necessita avidamente por um “norte” sonoro, mas é inegável que o álbum é consistentemente bom do início ao fim, principalmente com o vocal que se destaca incrivelmente. Mas esperem um pouco mais, falarei de cada música depois, antes, vamos um pouco da história do Nebulosa que é, para variar, escassa.

E já que falei do vocalista, o nome do cara é Roger Pontare, nascido Roger Johansson, é bem conhecido na Suécia não apenas pela sua voz poderosa, de grande alcance, mas também pelo estilo extravagante. Para alguns críticos mais incisivos da Suécia, o cara ostentava essa aparência vocal e visual exagerado a troco de nada, ocasionando pouco crédito por parte das pessoas, desperdiçando seu talento em histrionismo, mas o fato é que Pontare é um vocalista notável.

Completava o Nebulosa Bengt Skarin, na bateria, Lennart Usterud, no baixo, Thomas Fransén na guitarra e o tecladista húngaro e também muito talentoso Thomas Kacsó. Essa junção de músicos suecos e húngaros serviu de inspiração para as letras do álbum que tratavam da política desses países, mas reza a lenda que a subtrama foi centrada no país natal de Kacsó.

A gravação de “Nebulosa” foi supervisionada por Karl Axel Gårdebäck em seu estúdio e apenas 1.000 cópias foram impressas. Um número de cópias muito baixo o que o torna extremamente raro nos dias de hoje, mesmo com alguns pouquíssimos relançamentos.


Inaugurando o álbum temos a faixa “Dagen Gryr” que traz uma textura um tanto quanto sombria de teclados com dedilhados de violão que segue basicamente essa atmosfera soturna e que logo é rasgada com riffs mais pesados de guitarra e que, gradualmente ganha corpo, substância, ficando mais pesado e volta a balada meio soturna. Um instrumental viajante e pesado, já denotando o que o álbum representará.

"Dagen Gryr"

“Strezz-Rock” vem em seguida e vem batendo o pé na porta sem perdão. Baixo “cavalgado”, riffs diretos e poderosos de guitarra, seguidos de solos rápidos e sujos, com o teclado trazendo à tona certa versatilidade, fazendo uma bela dupla com o baixo sempre pleno, vivaz. Mais uma faixa instrumental e pesada.

"Strezz-Rock"

“Mörka Tankar” chega e dessa vez inaugurando o brilhante vocal de Roger Johansson, melódico, dramático, cantado em sueco, trazendo todo o “tempero” a música. Um hard mais cadenciado, mas pesado, com os já famosos riffs e solos mais diretos e competentes.

"Morka Tankar"

“Digital” segue a mesma toada: pesado, avassalador, a bateria traz uma pancada, bem marcada, intensa, o baixo acompanha fortemente, fazendo uma “cozinha” pesada e sinérgica. A guitarra ganha corpo, os solos são mais longos e bem elaborados.

“Det Vackra Folket” traz uma balada meio folk rock que logo irrompe em um hard rock com tendências heavy com uma pegada forte de riffs de guitarra que corrobora o seu peso incomum e catártico. 

A introdução de “Undergång” ao dedilhar do piano anuncia, com maestria, o vocal melódico e de forte alcance de Johansson, uma balada rock poderosa que traz a plenitude de um classic rock e a viagem de folk, mas logo o hard rock toma as rédeas da situação.

“Ensam” volta a reinar os teclados trazendo uma atmosfera meio occult rock sendo confirmada com o vocal mais denso e soturno de Johansson. A bateria soa estranha, algo meio arrastado, o baixo continua altivo. Solos de guitarra torna a música mais contemplativa com uma pegada até progressiva em seu som. Exótica faixa!

“Nödrop” tem também a introdução dos sintetizadores e a guitarra swingada, algo meio dançante, mas com peso, um hard rock meio cadenciado, a bateria meio gingada também, algo tribal, percussivo. Uma faixa mais solar e vibrante.

"Nodrop"

“Mittpelarna” também é muito estranha, algo meio pop e radiofônica, com uma pegada meio eletrônica que destoa totalmente da proposta do álbum. “Tryckvåg” retorna ao hard rock, mas também com um viés bem radiofônico, até bem animado, seguindo um estilo meio sulista norte americano e uma guitarra, por vezes, ao estilo blues rock.

"Mittpelarna"

“Ödestrand” é direta, forte, pesada, contundente! A guitarra é pesada e muito bem executada em seus riffs e solos. A “cozinha”, mais uma vez, se mostra entrosada. A faixa é muito curta! “Verklighetsflykt” traz a balada capitaneada pelo vocal competente de Johansson tendo a companhia de um lindo piano de Kacsó com lindos e emotivos solos de guitarra. Tem uma proposta meio comercial, porém muito bem executada.

"Verklighetsflykt"

E fecha com “Apokalyps” com uma pegada bem sinfônica, ao estilo hard progressivo com um vocal mais rasgado de Johansson que segue a temática sonora da faixa. Finaliza estranho com sonoridades meio minimalista.

O Nebulosa, infelizmente, não teve vida longa, sendo desfeita, terminando suas atividades dois anos após o lançamento de seu único álbum, em 1979. O tecladista Thomas Kacso acabou retornando ao seu país natal, a Hungria e por lá tentou empreender uma carreira musical, mas sem muita visibilidade.

O guitarrista Thomas Fransén foi convidado a trabalhar para a gigante, na época, empresa de eletrônicos JVC, já o baterista Bengt Skarin tornou-se um requisitado professor de música e o baixista Lennart Usterud largou a música e passou a dedicar-se a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ou, se preferir, os “Mórmons”.

O vocalista Roger Johansson ganhou certa visibilidade na sua carreira na música se tornando um popular cantor com um trabalho solo ganhando alguns apelidos como Roger Pontare e até “Mango” e até Roger Mango. Gravou um single em 1981 com a dupla “Stars ‘N’ Bars.

Há também uma reedição posterior do álbum “Nebulosa”, com apenas 198 cópias com capas pintadas à mão e números de matriz riscados. Até mesmo os relançamentos trazem uma aura obscura e rara a já banda que está nessa condição desde os seus primórdios.

Um álbum obscuro de hard rock, mesclado a um progressivo sinfônico que tive a impressão, confesso, de soar mais alemão do que sueco, mas que vale e muito pelo tom exótico de sua sonoridade exatamente por esses momentos sinfônicos com toques generosos de música pesada.

Talvez, por esse motivo, alguns ouvintes poderão não entender a proposta e rejeitar de imediato, mas se ouvi-lo sem amarras, sem visões pré-concebidas perceberá que o álbum é consistentemente bom do começo ao fim, com suas guitarras sólidas e vocais dramáticos e melódicos. Audição mais do que recomendada.


A banda:

Bengt Skarin na bateria

Lennart Usterud no baixo

Roger Johansson no vocal

Thomas Fransén na guitarra

Thomas Kacsó no teclado

 

Faixas:

1 - Dagen Gryr

2 - Strezz-rock

3 - Mörka Tankar

4 - Digital

5 - Det Vackra Folket

6 - Undergång

7 - Ensam

8 - Nödrop

9 - Mittpelarna

10 - Tryckvåg

11 - Ödestrand

12 - Verklighetsflykt

13 - Apokalyps



 "Nebulosa" (1977)