quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Light - The Story of Moses (1972)

 

Quando você fala do rock progressivo holandês quais as bandas que vem à cabeça? Essa é uma resposta fácil e curta e grossa: Focus! Não há como negligenciar a história desta banda para o rock holandês e que ganhou o mundo com a sua música e a sua vasta e rica discografia que, anos após anos ganha frutos consistentes e de grande relevância.

E posso dizer isso com a certeza de ter visto essa banda tocar no Rio de Janeiro há alguns anos atrás e, apesar de não ter a formação clássica que gravou os grandes álbuns setentistas ela continua com a mesma chama e a mesma força dos tempos de outrora. Sem contar que o Brasil sem sombra de dúvida é um dos fãs mais ardorosos do Focus.

Mas é claro que essa é a deixa para dizer que não é só do Focus que é feito o rock n’ roll holandês, sobretudo a do bom e velho rock progressivo. Eu me lembrei do Focus também porque a banda que falarei agora eu descobri e, lembro muito bem disso, poucos dias depois desse inesquecível show do Focus que assisti no emblemático e histórico Teatro Rival, no Rio de Janeiro.

Eu pensei: Poxa, conheço pouquíssimas bandas de prog rock holandês e gostaria de sanar esse “problema” conhecendo e ouvindo um pouco mais das bandas existentes nesse país. Então quando se quer conhecer um pouco mais sobre algo, você tem que ir para o garimpo, para a pesquisa e, meio que aleatoriamente, com algumas palavras chaves nos sites de busca me pus a pesquisar.

E algumas bandas foram aparecendo diante dos meus olhos e logo fiz algumas seleções e não demorei muito a começar a ouvir algumas bandas e álbuns, na maioria, claro, obscuras, pouco conhecidas. Algumas eu gostei muito, outras nem tanto, descartando das minhas pretensões de audições futuras, outras me arrebataram de uma forma que eu não poderia ficar apenas nas audições e escrever, buscar mais informações, conhecer a sua história.

Nessa época eu não tinha o blog, mas escrevia em alguns grupos temáticos nas redes sociais e escrevi sobre a banda holandesa de hoje. E atualmente detentor de um blog eu precisava reeditar esse texto, que eu havia arquivado dando, claro, a devida recauchutada para compartilhar com os amigos leitores.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! Falo da banda LIGHT com o seu único álbum lançado, há cinquenta anos, em 1972, chamado “The Story of Moses”. E ouvindo esse álbum não tem como não fazer aquele comentário que eu sempre faço e, apesar de ser redundante, de que por mais que conhecemos, por mais que o nosso leque de opções aumenta, descobrimos que ainda estamos no ponto de partida, pois quase nada sabemos. O universo é vasto e pouco explorado.

O Light foi formado na cidade de Gouda, uma cidade neerlandesa que fica na província da Holanda do Sul e se chamava inicialmente de “Light Formation” no final da década de 1960 e tinha na formação os seguintes músicos: Joop Slootjes (baixo), Adrie Vergeer (teclados), Sjaco van der Speld (bateria) e Gerard Steenbergen (guitarra). Em seguida, o nome foi reduzido para Light e adicionado Hans de Bruin (saxofone, flauta) e o baterista Sjako van der Speld (da banda Avalanche).

E como muitas bandas que recebem quase pouco ou nada de apoio da indústria fonográfica e dos seus empresários, sofreu em sua caminhada até o lançamento do seu primeiro álbum que só veio em 1972.

“The Story of Moses” ou na tradução livre, “A história de Moisés”, esse mesmo, o personagem bíblico que libertou os israelitas da escravidão do Egito e os guiou para a terra prometida, Canaã. Parecia que na virada dos anos 1960 para os anos 1970 era um tanto quanto moda se produzir peças conceituais com temas da bíblia. Temos o "Jesus Christ Superstar" ou "666" da excelente banda grega Aphrodite Child ou o disco do Rovescio dela Medaglia, de 1971, o “La Bibbia”, cuja resenha pode ser lida aqui, entre outros álbuns, filmes e peças teatrais que, de forma arrojada e pouco convencional, contaram algumas passagens da bíblia e de alguns personagens que compõe o livro sagrado.

O único rebento do Light é de fato a síntese do que é o rock progressivo: um rock conceitual, calcado no mellotron, dos teclados e nas letras que reforçam veemente o tema proposto. E esse trabalho começou a ser cunhado no final de 1970 com o pianista e compositor holandês Adri Vergeer que, além de ter sido o fundador da banda, também foi a espinha dorsal para a peça conceitual baseada nos feitos de Moisés e, seguindo o exemplo de E. Lloyd Webber decidiu contar a história do Êxodo do Egito percorrendo, com requintes de detalhes os seus episódios-chave.

No final do ano de 1971, o épico de quase quarenta minutos foi concebido pela banda, contando também com alguns vocalistas e músicos convidados. E agora precisava de uma gravadora e de uma boa estrutura de estúdio para materializar em música o seu álbum. Essa é a parte mais difícil sempre, sobretudo em se tratando de temas complexos e intricados, mas o tema poderia ajudar a atiçar a curiosidade de um figurão da indústria.

Por sugestão do caçador de talentos e chefe da Barclay Records Eddie Barkley, o Light chamou a atenção do produtor de som Bert Schouten. Este último estudou cuidadosamente o trabalho dos músicos e acabou assinando um contrato com eles. Então faltava muito pouco para incorporar a história de Moisés nas condições de estúdio. Em 1972, “The Story of Moses”, foi gravado no Phonogram Studio em Hilversun.

A formação do Light quando “The Story of Moses” foi gravado tinha: Adri Vergeer no paino, órgão, mellotron e vocal, o Light, quando concebeu “The Story of Moses”, era formado por Gerard Steenbergen na guitarra acústica, Joop Slootjes no baixo, Hans de Bruin no saxofone e flauta e Sjaco Van Der Speld na bateria e vocal. Contou como convidados o guitarrista Hans Hollestelle (que mais tarde tocou na banda Spin) e do baixista Guus Willemse, excelente banda Solution e Marian Schatteleyn e Robbie Dale nos vocais.

“The Story of Moses” mostra um rock progressivo sinfônico muito bem executado tendo um grande destaque na parte instrumental, sobretudo nos teclados, como todo e qualquer álbum de prog sinfônico. Tendo destaque também na guitarra acústica, baixo, saxofone, flauta compondo um complexo álbum de rock progressivo. Tem uma levada jazzística e erudita, inspirada em música clássica e o peso do hard rock.

O álbum é inaugurado com a faixa linda “The Water” cuja introdução tem uma bela orquestração, regida por um teclado tocado de forma simples com muita emoção e qualidade e um vocal que segue em um timbre que complementa a atmosfera da faixa, sem contar com o solo de guitarra meio jazzística.

 “The Blackberry Bushes” tem uma levada latina, com percussões que me remete a Santana nos áureos momentos em uma mescla com teclados tocados freneticamente, uma bela combinação. Destaques também para o vocal e a bateria bem jazzística.

Em “White Turns Into Black” prevalece o teclado dando a tônica da faixa, bem como segue em todas as músicas do álbum com teclas bem energéticas mas com muita qualidade sonora, mas trazendo uma mescla mais pesada assemelhando-se a um hard rock cadenciado.

“The Nuisances” tem a introdução mais leve do teclado, ao estilo psicodélico, meio beat, com passagens mais acessíveis, mais comerciais, com vocais melosos e bem entrosados. Lembra e muito os primeiros álbuns, mais lisérgicos, mas mais comerciais, do Iron Butterfly.

“The Desert” começa com os teclados mais distorcidos, traduzindo em uma atmosfera mais densa e pesada, mas os vocais protagonizam uma virada mais leve na condução da música, tornando-a mais contemplativa e intimista, dando aquele caráter mais psicodélico também como na faixa anterior e os instrumentos de sopro trazendo todo o ambiente que versa a letra e o álbum, como um todo.

E fecha com “The Red Sea” que se anuncia com os teclados bem sombrios e introspectivos e com uma pegada hard com uma bateria um pouco mais forte e marcada, com algumas passagens jazzísticas e um baixo mais pulsante.

Poucas são as informações que circulam na grande rede sobre o Light e o seu único álbum, o “The Story of Moses”, mas o que pude apurar com o trabalho de pesquisa para ajudar a construir este texto que o amigo leitor está apreciando é de que o álbum, apesar de ter sido gravado na Holanda, não foi lançado por um selo daquele país, mas por um selo francês e alemão em 1972, “Barclay” e “Brain”, respectivamente.

Somente em 1993, vinte e um anos depois de seu lançamento o álbum foi lançado, no formato CD, por um selo holandês, o “15HKK” e em 2006, também em CD por uma gravadora espanhola chamada “Estrella Roquera”. Outras fontes dão conta de que sequer o álbum fora lançado em 1972 e que a fita máster que continha as músicas foi encontrada por um selo espanhol que finalmente a lançou.

O fato é que a música do Light, embora não traga nada de inovador à época, foi capaz de criar as suas próprias composições, diferente de bandas como Ekseption, por exemplo, outro clássico do prog rock holandês. Não há como negar que a infinidade de teclados utilizados, violão, baixo, saxofones, flauta e bateria, que a música desta banda trouxe complexidade para que construísse com êxito um álbum conceitual cujo tema era extremamente exigente. Trata-se de um álbum obscuro, mas clássico quando se trata da concepção mais evidente e veemente do que se convenciona como rock progressivo.

A banda:

Adrie Vergeer no piano, órgão, mellotron, teclados e vocais.

Gerard Steenbergen na guitarra acústica

Joop Slootjes no baixo

Hans de Bruin no saxophone e na flauta

Sjaco van der Speld na bateria e vocais

Músicos convidados:

Guus Willemse no baixo

Hans Hollestelle na guitarra elétrica

Marian Schatteleyn no vocais

Robbie Dale nos vocais

Faixas:

1 - The Water

2 - The Blackberry Bushes

3 - White Turns Into Black

4 - The Nuisances

5 - The Desert

6 - The Red Sea


Light - The Story of Moses (1972)