quinta-feira, 11 de abril de 2024

Astaroth - Satanispiritus/Lady of the Moon (1975)

 

O cheiro do mofo nunca foi tão agradável! Esse tom de mistério, de empoeirado, de obscuro e quiçá, para meu deleite, oculto, é o que de mais delicioso pode proporcionar aos que, evidentemente, apreciam.

Quando ouvimos determinadas bandas e/ou músicas temos a nítida impressão de que é primitivo, cru, diria sujo, desafiador, indulgente e underground, sobretudo.

É por isso que esse blog, reles e humilde, existe! Para trazer à luz sonoridades totalmente marginalizadas pelo ostracismo, pela indústria fonográfica, inclusive pelos fãs de rock n’ roll.

E em uma de minhas incursões pela grande rede descobri uma banda que sequer lançou um álbum, nada oficial, apenas alguns singles que poderiam delinear o que não aconteceu, um “álbum cheio”. Falo da banda ASTAROTH.

Não negarei, caros e estimados leitores, que o nome me atraiu de imediato, afinal, nomes de demônios em bandas de rock são uma ode às audições de occult rock ou no mínimo um tempero a algo, digamos, pouco ortodoxo.

E de fato a sua sonoridade é típica de uma vertente esquecida e vilipendiada pelo rock n’ roll, tornando um gueto lá nos longínquos anos 1970, em seu início, mas não se enganem porque hoje, mais precisamente no início das décadas de 2000, o occult rock ganhou alguma visibilidade, dando a algumas bandas alguns prêmios do mainstream, como a sueca Ghost, por exemplo.

O que atualmente é sucesso, visível, graças a impulsos como as redes sociais, por exemplo, tudo era obscuro no passado distante, dando a bandas como o Astaroth, por exemplo, o título de desbravadoras do estilo.

Mas voltando ao passado o Astaroth surgiu na proeminente Detroit, Michigan, que testemunhou o nascimento de bandas agressivas e pesadas, como o MC5 e Stooges, tidas como os precursores do punk rock. Não me surpreenderia que o Astaroth, mesmo tendo lançado apenas um single com duas faixas, não tenha absorvido a aridez do som de um local igualmente tenso com as suas construções fabris.

Um som primitivo, um garage rock que corrobora a sua condição obscura, marginal, suja e perigosa que faz do som do Astaroth, sobretudo para a sua época, algo original e pouco palatável para os conservadores da indústria fonográfica e também de alguns pseudo fãs de rock.

E falando em tempo, há, para variar, uma dúvida quanto ao surgimento do Astaroth na cena rock. Há que diga que o lançamento de seu single, de nome “Satanispiritus/Lady of Moon”, teria sido em 1968 ou em 1975. Caso a primeira informação seja confirmada a importância dessa banda é gigantesca, levando em conta que são os primórdios do occult rock, juntamente com bandas do naipe de Coven, por exemplo.

As poucas fontes de informação espalhadas pela grande rede dão conta de que o lançamento desse trabalho, totalmente “artesanal”, se deu no fim dos anos 1960 e outros em meados da década de 1970, 1968 ou 1975, respectivamente. Então fiquemos com esses dois anos, porque são emblemáticos para a história da música pesada. 

Se considerarmos que o seu single foi lançado em 1968, pode-se dizer que é um dos pioneiros do occult rock e se foi concebido em 1975 certamente serviu de referência para o heavy metal. O fato é que esse single, mesmo raro e obscuro, ao ouvi-lo nos remetemos a esses fatos históricos da música pesada.

Ao ouvi-lo, se me permitem às “licenças poéticas”, me parece ser da transição dos anos 1960 para os anos 1970, pois é pouco polido no que tange a produção, tendo ainda “nuances” de psych rock, típico daqueles anos. Essa carga misteriosa definitivamente faz desse trabalho, convenhamos, algo singular.

“Satanispiritus/Lady of Moon” foi lançado originalmente pelo selo Adesta Records e relançado duas vezes pela Unseen Forces em 2011 e depois em 2015, com tiragem de 300 cópias, sem nenhuma atração, sem nenhum bônus o que reforça que a banda nada produziu depois desse single com as duas faixas já mencionadas, o que é triste para nós, pobres mortais sedentos por occult rock esquecido.

E falando do single e de suas apenas duas faixas, podemos dizer que entrega um rock pesado, um hard rock garageiro com elementos de hard rock e de um heavy metal antigo, de vanguarda, com texturas psicodélicas e de efeitos que dão um toque sombrio e temperamental. Aos que apreciam hard rock, occult rock e um heavy rock recomendo ouvir o quanto antes, sem pestanejar.

Então vamos às faixas, dissecando cada uma delas! A primeira, do lado A, é a “Satanispiritus” que começa turbulenta, pesada, agitada e, apesar do conceito lírico sobrenatural, a banda entrega uma música viva e alegre que parece se aproximar mais do proto punk do que o proto metal, pelo menos é a minha primeira impressão, mas traz as nuances típicas do hard rock e até o heavy rock. É rápida, barulhenta, com letras malignas e bem cativante, absurdamente alta para meados dos anos 1970 e principalmente para o fim dos anos 1960.

"Satanispiritus"

O lado B conta com a faixa “Lady of Moon” que é mais excêntrica e mais oculta ainda, o típico, mas indefectível som do occult rock! Uma balada tensa, que traz medo e apreensão, alo teatral na voz, os instrumentos dão toda a textura para essa atmosfera soturna e depois vai ficando mais agitada, mas cadenciando para o psych rock, algo como The Doors é percebido, mas nunca fugindo à sua proposta estranha e com doses cavalares de suspense.

"Lady of the Moon"

A título de curiosidade uma banda, formada recentemente, de Portland, chamada Disenchanter fez um cover “Satanispiritus” e está em uma compilação chamada “Doomed and Stoned in Portland Volume 2”, além de outra versão tocada por outra banda de nome Dead Sentries.

Disenchanter - "Satanispiritus"

Pode parecer incerto ou informações vazias que careçam de confirmação, mas confesso que gosto do mistério que cerca esse álbum, na realidade esse single, afinal para que sempre ter as respostas o tempo todo quando nós temos o que de melhor pode ser proporcionado: a música, a música de qualidade! Reza a lenda também de que a banda seria nova e que a gravação foi conduzida meticulosamente para parecer “vintage”. O fato é que gosto de pensar que Astaroth é uma banda sobre a qual nunca saberemos mais e que ficará da obscuridade.


A banda:

Não creditada

 

Faixas:

1 - Satanispiritus

2 - Lady of the Moon



"Satanispiritus/Lady of the Moon" (1975)









 







quinta-feira, 4 de abril de 2024

Lily - “VCU (We See You)” (1973)

 

Nem tudo é o que parece ser ou não julgue o livro pela capa. Certamente você já proferiu ou ainda ouviu esses termos, essas frases que já caiu no dito popular alguma vez na sua vida.

Não se enganem meus caros amigos leitores, tais frases também se aplicam na nossa famigerada e adorada música marginal, o bom e velho rock n’ roll. Quantas vezes, em um primeiro contato, olhamos para a capa de um álbum e não gostamos de que vemos, mas, quando nos colocamos a ouvir nos surpreende por completo?

A banda que apresentarei hoje é um exemplo clássico de que a imagem pode gerar rejeição, estranheza, mas ao ouvir, traz aquele impacto catártico que te deixa gloriosamente surpreendido.

E eu a conheci por intermédio de alguns abnegados amigos que também apreciam as obscuridades do rock em um momento de celebração, de festa e regado a música que teimava em tocar na vitrola.

Quando apresentaram a capa, com músicos trajados de uma roupa extremamente espalhafatosa, coloridas, de rostos pintados, parecendo ter surgido do movimento glam rock e logo pensei ser um álbum de glam metal de meados dos anos 1980 e fui taxativo: Não vou gostar!

Perguntei ao meu amigo que trouxe a novidade e ele disse: “Essa banda é alemã e se chama LILY e o seu álbum é de 1973! Aquilo me veio como uma bomba de injeção de ânimo para ouvir aquele álbum estranho e incomum. Afinal o meu “humor” mudou radicalmente quando ele falou se tratar de uma banda alemã do prolífico ano de 1973.

Lily

Nos colocamos a ouvir o cinquentão álbum chamado “VCU – We See You”. Claro que os primeiros acordes vieram travestidos de algum ceticismo quanto a sua qualidade, estava de coração fechado, após ter visto a capa que me gerou certa rejeição, mas quando a música começou a ganhar corpo percebi como era poderosa, intensa, diversa, complexa, agressiva ela era.

Mas não quero, pelo menos por enquanto, tecer maiores comentários acerca do álbum agora, mas falar um pouco da história do Lily, que é bem representativa para a cena obscura de Frankfurt e de toda a Alemanha, porque a sua sonoridade não se diferenciava das bandas germânicas e europeias do início dos anos 1970 que combinavam jazz, prog rock, hard rock, do som áspero ao complexo.

Ainda assim trazia um pouco da aspereza do que os seus contemporâneos faziam e de acordo com alguns críticos musicais da época o primeiro e único trabalho do Lily estava à frente do seu tempo.

A história do Lily começa em 1968 quando o guitarrista Manfred Schmid e o baixista Wilfried Kirchmeier, que tocavam juntos desde 1965 em uma banda beat chamada “Mods”, decidiram criar uma banda que cantasse em alemão com um viés político radical. Uma missão difícil naqueles tempos bélicos de partidos e sistemas políticos bélicos e ultraconservadores.

Logo eles se juntaram ao saxofonista Hans-Werner Steinberg e ao vocalista Helmut Burghardt que estavam tocando em uma banda de soul music Pinchfeld Association, bem como ao baterista e percussionista Manfred Schlagmuller.

A banda, durante alguns anos, por algum motivo desconhecido, permaneceu sem nome até que, em 1969, frustrado com as perspectivas não realizadas o vocalista Burghardt acabou por sair da banda, promovendo também algumas mudanças na concepção sonora da mesma. O que era uma visão de mundo um tanto quanto criativa acabou focando em uma visão puramente instrumental.

Mas eles ansiavam por um vocalista, algo estava faltando, até que os caras descobriram um potencial de canto que não tinha sido anteriormente reclamado, mas muito promissor, do baixista Kirchmeier.

Em 1970, após um longo ano de trabalho bem intenso, a banda já tinha as suas “demandas” bem definidas com Ulla Meinecke participando ativamente na tradução das letras de Manfred Schmid para o inglês e já tinha também, finalmente, um nome: “Monsun” e no final do ano de 1970, mais precisamente em dezembro, faria seu primeiro show.

O show foi intenso, forte, extremamente agitado e impressionou o público. No ano seguinte, em 1971, já era parte importante da cena progressiva de Frankfurt e na esteira de um frisson pela música do Monsun, na primavera de 1972, gravaram a sua primeira demo.

Steinberg, o saxofonista, passou seis meses na Índia em busca de novos horizontes filosóficos, novas experiências de vida e inspiração musical, claro, sendo temporariamente substituído pelo guitarrista Klaus Lehmann. Após o retorno de Steinberg Lehmann não saiu encorpando ainda mais o quantitativo da banda, logo a sua qualidade sonora também.

Tendo feito alguns belos shows no “Zoom Club”, famosa casa de shows de Frankfurt, a banda atraiu a atenção de Peter Hauke, que havia tocado na banda berlinense “The Rollicks”, além de ser produtor do selo germânico “Bellaphon” e assinou contrato com o Monsun.

Em janeiro de 1973 a banda ocupou o “Dierks Studios” por três dias para gravar e mixar o seu primeiro trabalho, o seu primeiro álbum de estúdio, mas dois dias foram gastos com o processo de gravação por motivos técnicos. Os vocais ficaram para o último dia e foram gravados de acordo com a memória dos músicos em ritmo acelerado e sem tomadas desnecessárias.

A cúpula do Bellaphon, com o objetivo de impulsionar, comercialmente, o álbum da banda e levando em consideração algumas tendências do rock n’ roll à época, decidiu “travestir” a banda com uma roupagem glam rock que estava com alguma evidência, principalmente pelo David Bowie, o New York Dolls etc, insistindo também que os músicos mudassem o nome de Monsun para “Lily”.

Toda a estrutura cênica estava montada: a banda vestindo roupas femininas extravagantes, emprestada de uma boutique de moda de Frankfurt e usando uma quantidade incrível de cosméticos e maquiagem, além, claro, do nome extremamente feminino: Lily. Mas ainda tinha a ambiguidade, afinal a estética não correspondia com a sonoridade pesada e arrojada para a época.

“VCU (We See You”) foi lançado na primavera de 1973 pela filial “Bacillus”, com uma baixíssima tiragem de 1.000 cópias e foi atacado severamente pela crítica especializada pelo seu marketing voltado para o glam rock em contraste com a música pesada e progressiva que já tinha construído na cena de Frankfurt.

O som de “VCU (We See You)” traz uma estrutura jazzística complexa, um rock progressivo áspero um tanto quanto áspero para quem está acostumado com bandas britânicas e o sinfônico das italianas. Tem um saxofone plugado, enérgico enfatizando no fuzz e wah-wah.

O seu estilo distinto e arrojado foge do “estereótipo” do krautrock, porque dispensa daquela natureza melódica e atmosférica dos teclados e mellotron, tendo a guitarra como protagonista. A banda que gravou este álbum tinha: Wilfried Kirchmeier no baixo, vocal e percussão, Manfred Schlagmuller na bateria e percussão, Hans-Werner Steinberg no saxofone, Manfred Josef Schmid na guitarra, Klaus Lehmann na guitarra, além da participação do icônico Dieter Dierks no mellotron e Armin Bannach no gongo.

O álbum é inaugurado com a faixa “In Those Times” o que já de imediato percebo algo de “Canterbury Scene” o que soa bastante estranho para uma banda alemã com um viés mais pesado. O trabalho de saxofone, aliado às linhas de guitarra é de tirar o fôlego porque traz à tona bons trabalhos de psych rock e progressivo. Temos cativantes solos de guitarra que, embora não sejam bem elaborados, são diretos, vorazes e solares, encaixando-se perfeitamente no contexto sonoro do Lily.

"In Those Times"

Na sequência vem “Which is This” é bem semelhante a faixa de abertura, com uma pegada envolvente de psych rock, hard rock e prog rock, já “Pinky Pigs” traz um “tempero” mais calcado no blues rock, com uma nítida sensação de que está mais solta, despretensiosa, também com uma pegada mais psicodélica, diferentemente da veia mais jazzy das duas primeiras faixas.

"Which is This"

“Doctor Martin” consegue fundir os elementos jazzísticos e de blues, além da pegada pesada, criando um ambiente mais místico, exótico e arrojado que acaba tendo destaque de belos e pesados riffs de guitarra, com o sax sempre entoando uma sinergia intensa.

"Doctor Martin"

Em “I’m Lying on my Belly (Including Tango Atonale) traz uma sensação, digamos, familiar com a batida de blues dos anos 1960, com uma boa performance de vocal entoando um inglês bem convincente sem muitos sotaques alemães.

"I'm Lying on my Belly (Including Tango Atonale)"

E fecha com “Eyes Look From the Mount of Flash” que é bem distinta da faixa anterior diante de uma envolvente diversidade. É uma faixa em que a banda expande, de forma evidente, suas influências psicodélicas e progressivas com algumas incursões no space rock. É nítida as mudanças de compasso, as variações rítmicas corroborando a linha progressiva dessa faixa.

"Eyes Look from the Mount of Flash"

Além das críticas pesadas que o Lily recebeu no aspecto estético, a gravadora não fez muita coisa para salvar também o álbum da banda do fracasso comercial. Os músicos tiveram que ir para Londres para tentar vender a sua já escassa circulação nas agências e clubes, fazendo alguns shows, mas sem sucesso. A aventura falhou miseravelmente.

Ainda no ano de 1973, após o colapso dos planos do Lily para o avanço comercial de seu álbum de estreia, o estado emocional e psicológico de Manfred Schmid mudou muito e para pior. A sua criatividade artística, tão vívida dentro da banda, tornou-se imprevisível e até mesmo caótica, sendo muito difícil de trabalhar com ele.

No final das contas Manfred foi demitido do Lily após um acesso de loucura destruindo a bateria de Schlagmuller e toda a sala de ensaio juntamente com todo o equipamento de som. O fato de Manfred ter sido expulso da banda que fundou foi um golpe duro ao seu já combalido estado mental. Ele vendeu a sua guitarra e se afastou-se da música não tocando mais profissionalmente.

Seu estado mental esmigalhado foi piorando cada vez mais, seu “alienismo” progrediu permanentemente e em meados dos anos 1990 ele morreu em circunstâncias misteriosas. Seu corpo foi encontrado em um parque florestal da cidade de Frankfurt.

O guitarrista e tecladista Bjorn Scherer-Mohr foi convidado para preencher a vaga, mas mesmo com o seu grande potencial criativo, não conseguiu substituir Manfred Schmid. Em agosto de 1974, depois de não corresponder às expectativas, decidiu sair do Lily.



Apesar dos obstáculos que a banda passou, desde a morte de Schmid e também o fracasso comercial de seu debut, conseguiram gravam gravar uma nova fita demo com cerca de seis músicas na primavera de 1974 para um segundo álbum e a intenção era trazer uma espécie de reviravolta criativa com elementos mais mainstream na sua música, algo mais voltado para o teatral ou cômico, mas a gravadora “Bellaphon” não esperava o afastamento da banda devido aos problemas já mencionados, decidiram descarta-los, dando preferência a bandas mais novas e que, na percepção da gravadora, eram mais promissoras.

O descaso da indústria fonográfica, o desalento com as frustrações que surgiram e o grave problema com um dos faróis do Lily, o Manfred, a banda continuou a deslizar cada vez mais pela inclinação criativa e os seus shows tiveram uma gradativa redução de público.

Em 2002 o abnegado selo underground “Garden of Delights”, da Alemanha, relançou o álbum em CD, completo com um livreto de 32 páginas e outras quatro faixas bônus, que foram gravadas em 1972, sem Klaus Lehmann, no estúdio de gravação da escola de engenharia de som em Detmold. O último show do Lily aconteceu em abril de 1976.

O Lily perdeu para sempre a sua fantástica identidade musical que foi extremamente arrojada e revolucionária para o seu tempo, quando se rendeu aos estereótipos estéticos que a gravadora e seus produtores lhe impuseram, fora algumas tragédias particulares que fizeram com que desmoronasse a espinha dorsal da banda, a começar pelo inquieto e criativo Manfred Schmid. E assim acionaram o botão vermelho da autodestruição desaparecendo para sempre da cena musical alemã.




A banda:

Wilfried Kirchmeier no baixo, vocal, percussão e sintetizadores

Manfred Schlagmüller na bateria, percussão

Hans-Werner Steinberg no saxofone

Manfred-Josef Schmid na guitarra

Klaus Lehmann na guitarra

Com:

Dieter Dierks no mellotron

Armin Bannach no gongo

 

Faixas:

1 - In Those Times

2 - Which Is This

3 - Pinky Pigs

4 - Doctor Martin

5 - I'm Lying on my Belly (Including “Tango Atonale”)

6 - Eyes Look from the Mount of Flash 


"VCU (We See You)" (1973)

"VCU (We See You)" - Versão estendida















 












 




 


 


quinta-feira, 21 de março de 2024

Andrew - Woops (1973)

 

A existência deste blog não efetiva meramente conteúdos de bandas obscuras e raras que caíram no mais puro ostracismo, não é apenas para seguir questões temáticas, mas para contar, primordialmente, histórias.

Histórias que, embora tragam especificidades comuns às bandas e álbuns, mas que contam momentos em comum que são, no mínimo, pitorescos: o fracasso. Ao amigo leitor que lê deve achar que eu estou um tanto quanto louco para achar interessante o fracasso.

A questão é trazer o submundo da música, que pode trazer algo de genuíno à essas bandas, algo de verdade em sua sonoridade, pois não se curvaram aos ditames comerciais, carregados de modismos que sempre perecem, cedo ou tarde.

Não há glamour sempre, não há referências de sucesso sempre, não há cases de sucesso sempre, mas o fracasso comercial que entregam histórias fabulosas, de persistência que denota pura e simplesmente o amor à música que faz, logo a crença nela.

E isso nos revela sonoridades que deveriam revolucionar, que deveriam deixar uma história indelével para o rock n’ roll e servir de referência para tantas outras bandas novas, tantos outros músicos jovens que queiram subverter o mercado e suas músicas pasteurizadas.

A missão deste humilde e reles blog que você, estimado leitor, lê é trazer o alternativo, é trazer algo arrojado, que suscite em todos o exercício do exorcismo à temível zona de conforto que parece teimar em pairar, como nuvens negras, nas nossas cabeças. Afinal o rock traz a capacidade de subverter, em todos os aspectos da vida!

E recentemente, graças às minhas incessantes aventuras desbravando a grande rede, descobri uma banda que personifica, de forma evidente e clara, tais características por mim mencionadas até agora, bem como o cerne deste blog e que, além de ser extremamente rara, apresenta um país que não tem tradição para o rock n’ roll, a Islândia.

E o que me levou a essa banda foi uma relação com outra, de mesmo país, que já conhecia a algum tempo e de que sou imensamente fã pela sua relevância sonora, que é o Icecross que, inclusive fiz um texto e que pode ser lido aqui.

O nome da banda em questão é o ANDREW surgida na fria Islândia. Um nome louco e atípico para uma banda extremamente rara até mesmo em seu país de origem e que, corroborando essa máxima, pouco se tem de informações sobre o seu passado.

Não se tem informações, para variar, do início da banda, de quando foi formada, mas tudo indica, se me permitem a “licença poética”, se tratar de um projeto de estúdio, sem maiores pretensões, tanto que lançaram apenas um álbum, de nome “Woops”, em 1973, que foi gravado no “Incognito” e remixado no Morgan & Soundtek Studios e lançado pelo selo Najö Productions, com uma tiragem privada e limitada, em torno de 500 a 600 cópias. Atualmente não se sabe se há álbuns originais disponíveis no mercado, mas os que tem e querem vender estão oferecendo, reza a lenda, em uma bagatela de US$ 600! Pasmem!

E a relação do Andrew com o Icecross de que me referi e que propiciou para que eu conhecesse o Andrew se deu porque dois integrantes do Icecross estiveram envolvidos na banda, são eles: Omar Oskarsson, baixista e vocalista e Asgeir Oskarsson, baterista e vocalista.

Mas não se enganem que em “Woops” encontrará as mesmas características sonoras do álbum homônimo do Icecross, que é predominantemente o peso do hard rock. O que podemos encontrar no único rebento do Andrew é uma miscelânea de sons, o que, lamentavelmente justifica o desdém do público e da crítica “especializada”, que certamente não entenderam a proposta que é exatamente não ter uma proposta.

Omar Oskarsson

Acalmem-se, estimados leitores, que eu me explicarei: não há proposta definida, não há estilo determinado, mas um flerte evidente à várias vertentes do rock que estavam em evidência, variando entre hard psych, pela sofisticação do rock progressivo, pela viagem lisérgica do space rock, do funky, variando entre baladas acústicas, guitarras estranhas e divagações psicodélicas instrumentais, com jams instrumentais. Tudo em uma abordagem enigmática e underground.

Não há nada de excepcional ou vanguardista, o Andrew colocou em sua sonoridade o que se ouvia no rock n’ roll em meados dos anos 1970, mas o que faz de seu único álbum especial é exatamente o flerte com tudo o que se ouvia à época, sem soar deslocado.

“Woops” é sólido, é intenso, é um álbum vívido e solar e mostra uma banda totalmente azeitada, embora traga, pelo que parecia, apenas um projeto de estúdio. Esse é o charme deste trabalho, porque é estranho, diversificado e que não se prende a estereótipos.

E já que falamos da banda, vamos elenca-los! Além dos ex-integrantes do Icecross, Omar Oskarsson, no baixo, Asgeir Oskarsson, na bateria, que tocou também no Pelican, apresenta ainda o tecladista Björgvin Gíslason, que tocou nas bandas Náttúra e Pelican, o guitarrista Julius Agnarsson, que também era responsável pela execução do moog, o vocalista Andri Clausen, o pianista e violinista Egill Ólafsson, que tocou nas bandas Thursaflokkurinn e Spilverk Þjóðanna.

“Woops”, que é cantado todo em inglês, é introduzido com a faixa “Rockin and Rollin” que explode em um hard rock potente e cheio de riffs de guitarra e solos desconcertantes e vocais de grande alcance. Nada melhor para abertura de álbum do que um “hardão” tipicamente setentista.

"Rockin and Rolling"

Segue com a faixa “Himalaya”, que muda consideravelmente o andamento, uma balada viajante com atmosfera sombria, com o teclado ditando todo a sua estrutura sonora. Solos de guitarra são igualmente viajantes e bem executados, apesar de simples.

"Himalaya"

“I Love You (Yes I do)” segue na linha mais balada, algo mais radiofônico que me remete aos beats dos anos 1960, com solos lindos de guitarra, límpidas, solares. Um exemplo típico de uma música um tanto quanto pop, mas bem executada.

"I Love You (Yes I do)"

A sequência traz a faixa “Look” que retoma ao hard rock com uma introdução típica com riffs pesados de guitarra, bem pegajosos, vocais despojados, solos diretos e bem cru. A famosa música de “festa”, bem animada e solar. Mas ainda me traz algo de lisérgico, de psych.

"Look"

“Dawning” inicia progressiva, o destaque do moog traz a sensação de viagem, de contemplação. O vocal é dramático e melódico, e entrega uma atmosfera lisérgica, que suscita a uma introspecção.

"Dawning"

“Sweetest Girl” rememora os anos 1960 e que remete a coisas do Animals ou coisa parecida. É dançante, a guitarra te lembra algo meio funky. O sax corrobora tal momento da música. Impossível não ficar parado com essa faixa.

"Sweetest Girl"

Segue com “Heathens” que retoma a “ala” mais pesada do álbum. Os riffs de guitarra são pesados, indulgentes, agressivos que faz jus a um heavy metal de vanguarda. Vocal rasgadão, de bom alcance. A “cozinha” rítmica se mostra entrosada, baixo pulsante, bateria marcada. Excelente!

"Heathens"

“Ballad of Herby Jenkins” é meio engraçada, algo de sarcástico se ouve na música e a brincadeira é para estereotipar a música sessentista. Piano alegre, vocal debochado.

"Ballad of Herby Jenkins"

“Purple Personality” é lisérgica, guitarras distorcidas e estranhas, meio aleatório, um típico som de rock psicodélico, mas com peso, sobretudo nos riffs de guitarra. Uma faixa que personifica o álbum: que flerta com algumas vertentes do rock.

"Purple Personality"

E finalmente fecha o álbum com “Age” talvez a mais progressiva de todas as faixas, mas que introduz com sons espaciais, um space rock curto e grosso, mas evidente e que vai e vem de uma forma mais discreta ao longo da música. Teclados ao estilo The Doors são percebidos e entrega uma vibe mais psicodélica e dançante. Solos traz uma textura mais complexa e corrobora o quão é prog rock essa faixa.

"Age"

Esquecido, obscuro, raro...Palavras que, no show bussiness da música podem sintetizar o fracasso, para muitos abnegados e apreciadores da música underground, isso pode ser o suprassumo do que há de melhor no rock n’ roll. O fracasso comercial não inviabiliza a qualidade do que está contido em um determinado álbum. O Andrew sintetiza fielmente tudo isso e nos revela um caminho oposto ao glamour e o equívoco de sempre o que faz sucesso ter a melhor música.

O Andrew e seu álbum único, “Woops”, corrobora a necessidade premente e urgente de que há e muito a se desbravar nessa selva intocável que é o rock n’ roll. Permitir-se desbravar significa render-se às músicas empoeiradas que, por um infortúnio comercial, caiu no ostracismo. Pérola mais do que recomendada!


A banda:

Asgeir Oskarsson na bateria

Julius Agnarsson na guitarra e moog

Omar Oskarsson no baixo

Andri Clausen nos vocais

Egil Olaffson no piano e vocais

Bjornvin Gislason no moog

 

Faixas:

1 - Rockin and Rollin

2 - Himalaya

3 - I Love You (Yes I Do)

4 - Look

5 - Dawning

6 - Sweetest Girl

7 - Heathens

8 - Ballad of Herby Jenkins

9 - Purple Personality

10 - Age



"Woops" (1973)

 









 




























segunda-feira, 4 de março de 2024

I Teoremi - I Teoremi (1972)

 

Me preocupa, em alguns momentos, fazer algumas análises das sonoridades das bandas que faço audição, pois temo que posso cair na malha fina e temível do estereótipo, do rótulo às bandas. O rock n’ roll é diverso, híbrido e assim se tornou especial e contestador, não tão somente nas mensagens de suas letras subversivas, mas também no aspecto sonoro.

Mas confesso não resistir entender determinadas vertentes sonoras, porque pode nos ajudar a entender o tempo e o motivo pelo qual algumas bandas decidiram edificar seu som.

E para direcionar um pouco o que estou dizendo, falemos um pouco, caríssimo leitor, da Itália. A Itália nos fornece um bom “caldo” sonoro, sobretudo, claro, nos anos 1970, onde além da enxurrada de bandas que havia, contava também, consequentemente, com uma diversidade de sons, até porque também aquela década gozava de um período prolífico não somente de bandas, mas de vertentes que nasciam diante de tantas experimentações.

E quando decidi fazer esse texto eu me coloquei em reflexão e refiz, mentalmente falando, a seguinte pergunta: Quais foram as primeiras bandas pesadas da Itália? E quando falo “refiz” é porque, evidente, ela povoa a minha mente a algum tempo, pois parece não se configurar em uma resposta.

Mensura anos, lançamentos, gravações de álbuns engavetados, histórias, tudo parece reforçar interrogações que teimam em prevalecer em nossas mentes e embora aparente desconforto, talvez fomente a predileção pela história que o rock n’ roll pode nos proporcionar.

A banda de hoje é especial porque é rara e por isso desponta pouco nas conversas e fóruns do estilo, mas é totalmente discutível a sua importância para o pioneirismo da música pesada italiana e mais ainda para o hard prog. Falo do I TEOREMI.

I Teoremi

Claro que quando falamos de hard rock italiano, não podemos esquecer do Il Rovescio della Medaglia, com o seu seminal “La Bibbia”, lançado em 1971, ou o grande Il Balletto di Bronzo, com o seu debut “Sirio 2222”, que nos remete ao Cream, entre tantos outros.

Mas o I Teoremi trouxe com seu único trabalho, lançado em 1972, autointitulado, algo mais calcado do hard prog e pode ser considerado como um dos primeiros trabalhos da Itália no estilo e que viria a se consolidar no mundo inteiro, em meados dos anos 1980, como “metal progressivo”.

E mesmo com esses predicados “I Teoremi” é um álbum pouquíssimo comentado, mencionado, sendo considerado como extremamente raro até mesmo em seu país natal, na Itália. Mas como aqui neste humilde e reles blog as obscuras sempre terão vez e suas histórias enaltecidas, mesmo diante de um retumbante fracasso comercial.

Para conhecermos a história do I Teoremi precisamos viajar no tempo para Roma no final da década de 1960. Após um período de shows em 1971, Tito Gallo, vocalista, Mario Schilirò, guitarrista, Aldo Bellanova, baixista, e Claudio Mastracci, bateria, entrariam em estúdio para gravar seus primeiros singles chamados “Sognare” e “Tutti Le Cose”, essa segunda um cover da música “With You There to Help Me”, do Jethro Tull, em uma roupagem mais revisitada. A banda estava acompanhada por uma banda chamada Il Numi, que também gravaria no mesmo estúdio o seu álbum “Alpha Ralpha Boulevard”.


"Sognare"

"Tutti Le Cose (With You There To)"

Mas em 1972 Gallo decide sair da banda, deixando-a sem vocalista. O I Teoremi foi em busca de um novo cantor e recrutou o napolitano Vincenzo Massetti, que já era conhecido no meio musical como “Lord Enzo” e que, pela alcunha, gozava de algum respeito e já era ativo na década de 1960 e participou do conhecido “Festival Degli Sconosciuti”, de Ariccia, em 1968.

A mudança, apesar de ser sempre difícil para uma banda, foi proveitosa, foi boa, porque a voz poderosa de Massetti se adaptou muito bem ao hard rock, ao hard prog da banda que lançaria, no mesmo ano da entrada de “Lord Enzo” o seu primeiro e único álbum por um pequeno selo chamado “Polaris”, meses depois de efetuarem a troca, isso no final de 1971, sendo lançado na primavera de 1972.

A contribuição de Massetti foi enorme para a mudança de rumo da sonoridade do I Teoremi no seu primeiro álbum e comparação, claro, com o que lançou um ano antes com os seus singles. Nos seus singles de 1971, também lançados pelo selo “Polaris”, aquela pegada psicodélica deu lugar a uma atmosfera pesada e progressiva, modernizando o som da banda e a colocando em um período em que o prog e o hard estava em voga, lá pelo ano de 1972.

Então a formação responsável por conceber “I Teoremi” trouxe Vincenzo Massetti (“Lord Enzo”) nos vocais, Mario Schilirò na guitarra, Aldo Bellanova no baixo, Claudio Mastracci na bateria e essa banda, além de ser gravada e lançada pela “Polaris”, trouxe também certo otimismo incontido por esta pequena gravadora que, nos encartes internos do disco, podia se ler “Caras realmente preparadas e instrumentistas excepcionais”. Essa frase se confirma, eram grandes músicos, mas a sorte não lhe foi justa, não tendo um prosseguimento.

E infelizmente a sua obscuridade revela o vilipêndio que a banda sofreu à época do lançamento de seu álbum, relegando esse trabalho a um miserável fracasso comercial, ainda que o seu conteúdo fosse mais digno de importância, de pioneirismo, mas foi condenado pelo ostracismo da indústria e dos fãs cegos. Teve apenas um relato lisonjeiro de Enzo Cafarilli sobre “Ciao 2001”, onde disse que o I Teoremi trouxe um hard caótico com atmosferas mais desafiadoras com uma técnica individual e de grupo incomum, oferecendo um álbum globalmente inteligente e aceitável.

E é exatamente dessa forma que temos de encarar “I Teoremi”: elementos pesados do rock progressivo, com viés exultante do hard rock com a guitarra e o baixo distorcidos de onde emerge a invejável técnica dos seus músicos. Uma sonoridade vigorosa, mas com muita estruturação, complexidade, o que se diferia das bandas pesadas italianas daquela época, o que faz desse álbum extremamente importante, apesar de raro, fugindo um pouco das “suítes” e de músicas-conceito típicas do prog rock que imperava na Itália no início dos anos 1970.

Além do ostracismo que a banda sofreu, o álbum foi esmaecido por uma mixagem que não estava à altura e isso, infelizmente, se revela perceptível, mas que de forma alguma acabou gerando um efeito reverso, mostrando um resultado final mais orgânico e analisando por esse prisma claro que é muito interessante. E essa dose de espontaneidade fez com que o I Teoremi atinja o status de uma banda de identidade própria.

Mas nada disso fez com que a banda decolasse no que diz respeito ao aspecto comercial e as tiragens modestas e a promoção pouco incisiva, fizeram de “I Teoremi” cair no mais total anonimato profundo.

O álbum é inaugurado pela faixa “Impressione” que, no auge dos seus sete minutos de duração, apresenta mudanças rítmicas interessantes, revelando-se avassaladora em sua dinâmica, com riffs e solos de guitarra poderosos, vocais rasgados e de grande alcance, faz dessa música um clássico e típico hard prog de estourar com os tímpanos dos mais sensíveis.

"Impressione"

“Mare Della Tranquillità” é a faixa óbvia de destaque para os que apreciam a música progressiva, no alto de seus nove minutos de duração e repleta de riffs. Ela é aventureira e a única que traz teclado, com momentos entre calmaria e frenesi nas teclas e uma incrível sinergia na “cozinha”, na seção rítmica, fornecem a base necessária para a guitarra despontar com solos longos e de tirar o fôlego. No meio do caminho ainda temos solo de bateria que mostra a destreza instrumental de seus músicos.

"Mare Della Tranquillità"

“Passi da Gigante” é mais um som cru, direto e despretensioso e vocais mais ásperos também, mas rivaliza com momentos mais calmos e assim vai alternando, mostrando um pouco da veia progressiva com essa dinâmica rítmica.

"Passi da Gigante"

“Nuvola Che Copri Il Sole” começa com muita calma, lenta e até um tanto quanto sombria, então os vocais mais dramáticos entram a medida que o som fica mais encorpado, cheio. Quando os vocais saem a guitarra ganha destaque, com riffs e solos avassaladores.

"Nuvola Che Copri Il Sole"

Segue com “Qualcosa D'Irreale” que se mostra poderosa, abrindo com a guitarra, tendo a textura ritmada do baixo e bateria, entrando logo o vocal limpo, mas poderoso. Mas apesar da música ser intensa se mostra contida, soturna as vezes.

"Qualcosa D'Irreale"

“Il Dialogo di Un Pazzo” é uma faixa instrumental e traz a proposta vigente do álbum, poderosa, cheia de candências e que varia do hard rock e pegadas mais progressivas.

"Il Dialogo di Un Pazzo"

E fecha com a faixa “A Chi Non Sarà Più” tem uma bela introdução de bateria e entra em ação rápida com um potente hard rock, é cru e pesada, mas as alternâncias rítmicas também se impõem e segundo minuto se acalma e em meio a solos de guitarra, logo volta ao peso inaugural.

"A Chi Non Sarà Più"

O pouco apoio da gravadora, pequena e sem recursos para uma divulgação do álbum do I teoremi e o consequente esquecimento fez com a banda finalizasse as suas atividades ainda em 1972, ano do lançamento do álbum. Mas felizmente apesar do precoce fim os músicos conseguiram dar prosseguimento em suas carreiras musicais, com algum sucesso, inclusive.

Aldo Bellanova tocaria, por um curto período, com a banda Il Punto, depois formou o Samadhi e um trio de pop rock chamado Cliché, que somente lançou um single e LP em 1981, juntamente com seu ex-colega de I Teoremi, Claudio Mastracci, além do guitarrista Franco Ventura, falecendo em 2013. Vincenzo Massetti, o “Lord Enzo”, teve, entre os músicos, maior sucesso, encontrando fortuna na Tailândia, construindo uma sólida carreira solo como cantor melódico.

Mastracci, além de ter formado o Clichê, junto com Bellanova colaboraria com Rettore e Sergio Caputo, participando em programas de TV, com orquestras e lecionando bateria, enquanto Mario Schilirò tocaria com vários artistas dos mais variados estilos, entre eles Antonello Venditti, Baglioni, Ccciante e até mesmo Zucchero.

“I Teoremi” foi relançado três vezes: o primeiro pelo selo “Vinyl Maagic”, que também lançou em CD, em uma prensagem numerada de apenas 300 cópias. Uma nova reedição foi do selo “Akarma”, adicionando as faixas dos singles do LP. Em 2011 o álbum foi reeditado novamente pela AMS com a mesma capa em uma prensagem limitada de 300 cópias. As reedições do Akarma, em CD e LP, têm as faixas dos dois lados originais na ordem inversa em comparação com as outras versões.

Longe de ser os típicos álbuns sinfônicos da Itália que, em profusão, surgiram em 1972, o trabalho do I Teoremi está em estado bruto, é orgânico, embora apresente complexidade conferido pelo rock progressivo. Um clássico raro e obscuro que ainda assim instaura na Itália o hard prog com maestria.





A banda:

Aldo Bellanova no baixo

Mario Schilirò na guitarra

Claudio Mastracci na bateria

Vincenzo Massetti (Lord Enzo) nos vocais

 

Faixas:

1 - Impressione

2 - Mare della Tranquillità

3 - Passi da Gigante

4 - Nuvola Che Copri Il Sole

5 - Qualcosa D'Irreale

6 - Il Dialogo Di Un Pazzo

7 - A Chi Non Sarà Più 



"Il Teoremi" (1972)