domingo, 29 de junho de 2025

Heavy Cruiser - Heavy Cruiser (1972)

 

O ano era 1968, o mês era março. Após deixar a banda de Bruce Cockburn chamada “The Flying Circus”, Neil Lillie, que nasceu em Winnipeg, Canadá, se reuniu com o tecladista Ed Roth, que nasceu em Toronto e o vocalista Jimmy Livingstone, também de Toronto para formar uma nova banda. O fato era que Neil, que estava à frente dessa nova empreitada em sua carreira, queria algo novo e arrojado, por isso convocou os amigos Ed e Livingstone com quem já haviam trabalhado juntos em bandas como “The Just Us”, “The Tripp” e “Livingstone’s Tripp (que Roth e Livingstone renomearam para Livingstone’s Journey após a saída de Lillie para se juntar a Rick James, de forma breve, na versão final da banda “The Mynah Byrds”, em maio de 1967.

Juntou-se a esse novo projeto o guitarrista David Kindred e o baterista Gary Hall e a nova banda, que inicialmente se chamaria “New King Boiler”, começou, como muitas bandas no início de sua história, a ensaiar no porão da avó de Lillie, em maio de 1968. Mas não demorou muito para ter a primeira baixa na sua formação, onde Kindred saiu, dando lugar a Dave Burt, nascido em Hamilton, Ontário, que tinha sido guitarrista da banda “Fraser Loveman Group”.

A avó de Lillie era muito simpática e se envolveu com o início da banda de seu neto e se simpatizou com os companheiros de banda dele e apelidou, carinhosamente de “Coffee” Gary Hall que bebia café de forma quase que compulsória e os demais integrantes, para fazer uma galhofa, decidiu chamá-lo de “Coffi”.

A banda mudou de nome, passando a se chamar “Heather Merryweather”, em homenagem a uma música que a banda tocou, cujas letras foram escritas por uma amiga dos caras chamada June Nelson, a banda logo encurtaria, em nova mudança, para “Merryweather”. Depois de gravar uma única faixa inédita, “Heather Merryweather”, no outono, a banda foi para Los Angeles, com a intenção, claro, de gravar oficialmente o seu trabalho, mas Livingstone desistiu de seguir com seus amigos antes que a banda assinasse contrato com a Capitol Records, na primavera de 1968. Pouco antes do lançamento do álbum de estreia, produzido por John Gross, Lillie mudaria seu sobrenome e se tornou Neil Merryweather.

O segundo álbum duplo da banda foi gravado em Los Angeles com a mesma formação do seu debut (Merryweather, Roth, Hall e Burt), mas também contou com a ajuda de Steve Miller, Barry Goldberg e Charlie Musselwhite, o ex-guitarrista do Traffic, Dave Mason, o guitarrista Howard Roberts e o violinista Bobby Notkoff. 

A banda, após o lançamento de seu álbum, foi anunciada como atração da famosa casa de shows Whisky a Go Go, em West Hollywood, com a icônica banda Mountain em 29 de julho de 1969. Merryweather se apresentaria ainda no Thee Experience, em Los Angeles, em 21 e 23 de dezembro de 1969 e apareceu também no Balboa Stadium, em San Diego com os psicodélicos do Country Joe & The Fish, Poco, Chicago e Framework, em 12 de outubro de 1969. 

"Merryweather" (1969)

A banda estava engrenando, o sucesso parecia evidente, mas surgiram mais baixas na sua formação e dessa vez foi em dose tripla. Burt, Hall e Roth sairiam da banda para unir forças com Rick James em uma banda chamada “Salt and Pepper”. Neil Merryweather ficou atônito com essas baixas, até porque a banda estava indo muito bem, mas precisava reagir, já que queria seguir com a sua carreira de músico e estar em bandas. Voltou para Toronto para recrutar novos músicos.

Os escolhidos foi o ex-baterista do Ugly Ducklings, Robin Boers e o guitarrista John Richardson, do Nucleus e antes disso “Lords of London". Retornou para Los Angeles para gravar um álbum para o selo de blues, “Kent”, no início de 1970. O trabalho foi creditado a Neil Merryweather, John Richardson e Boers, negligenciando, sabe-se lá o porquê, a presença, a participação do ex-membro do 48th Parallel, JJ Velker, nos teclados e sintetizadores.

Eram novos caminhos a serem traçados, mas após o lançamento do álbum, não atraiu o interesse de muita gente, a um público bem limitado, mas a banda, com a adição de Goldberg, Musselwhite e a namorada de Neil, a ex-vocalista do “CK Strong”, Lynn Carey, gravou “Ivar Avenue Reunion” e depois, sem Goldberg e Musselwhite, metade de “Vacuum Cleaner”, para o selo RCA. Este último trabalho foi completado com uma nova formação com o guitarrista Kal David e um retorno de Roth e Hall e lançado como Merryweather/Carey.

A banda evoluiu e seguiu seu caminho gravando mais quatro álbuns, porém com um novo nome, “Mama Lion”, sempre tendo à frente a dupla Neil Merryweather e a sua namorada Lynn Carey. A banda evoluiria sim, mas sempre tendo, na sua trajetória, as mudanças na sua formação e quando o Mama Lion foi concebido, tiveram dois recém-chegados, são eles: o guitarrista Rick Gaxiola e o tecladista James Newton Howard, sim, ele mesmo, o famoso músico que se notabilizaria com um excelente compositor de trilha sonora de filmes. Eles assinariam com a Family Records, a recém-criada gravadora de Artie Ripp. Seu debut sairia em 1972 e se chamaria “Preserve Wildlife”.

Mama Lion

"Preserve Wildfire" (1972)

Uma informação precisa ser trazida à tona, pois o Mama Lion gravaria quatro álbuns, mas simultaneamente com outro nome também, o HEAVY CRUISER. A realidade era que Neil levou os caras do Mama Lion para o estúdio para fazer umas demos de algumas músicas. Gravaram meia dúzia de músicas e, alguns dias depois, o Mama Lion saiu em turnê e que acabou em Nova Iorque para tocar no Central Park com Billy Preston. Dessas demos Neil chamou de “Heavy Cruiser”. Mas o Mama Lion não seria totalmente esquecido.

O Mama Lion teria Carey e o Heavy Cruiser não teria a presença da vocalista e a vertente sonora das duas encarnações seriam bem distintas, pois com o Mama Lion funcionaria como um veículo para a voz e a presença de palco de Lynn Carey, já o Heavy Cruiser assumiria uma postura mais pesada, com um heavy rock e hard rock mais proeminente. E é com o Heavy Cruiser que falarei na resenha de hoje.


Heavy Cruiser

O Heavy Cruiser lançou seu debut, autointitulado, em 1972, pelo selo Family Productions, nos Estados Unidos e Philips na França, Alemanha e Espanha, álbum este que falarei também. Este álbum apresenta composições de Merry Weather, Howard e até mesmo da namorada de Neil, Lynn Carey, mesmo ausente desse projeto do Heavy Cruiser.

“Heavy Cruiser” foi gravado no Hollywood Spectrum e Paramount Studios, de Los Angeles. O álbum foi produzido pelos engenheiros Bruce Albertine, que trabalhou com James Brown e Siouxsie and the Banshees) e John La Salle. A imagem recortada e colada na contracapa mostra a banda como velejadores armados à deriva em terreno montanhoso contra um cenário lunar gigante. Eles foram fotografados por maria Del Ré.

O debut do Heavy Cruiser traz, como disse anteriormente, um caráter muito experimental e não pensem, distintos leitores, que é aquela coisa viajante, cheia de ruídos ou algo do tipo, mas algo literal mesmo, onde os caras entraram em estúdio e fizeram algo totalmente despretensioso, sem a intenção de gravar e lançar. Nada neste álbum é polido, bem produzido, porém não é, em momento algum, ruim ou descartável, pelo contrário, o charme deste álbum está exatamente nessa definição!

É um álbum empolgado, com guitarras fuzz, distorcidas e em até determinados momentos com uma pegada bem lisérgica, o que faz dele não totalmente pesado, do início ao fim, até porque percebe-se claramente o brilho dos órgãos que o torna também meio sombrio. É perceptível também o talento de Neil e companhia, mostrando certa inquietude criativa, produzindo materiais distintos entre Mama Lion e Heavy Cruiser, mesmo se tratando da mesma banda, exceto Lynn Carey que esteve ausente na formação da segunda banda.

Hard rock, psych rock, músicas breves, curtas, mas inspiradas, sujas, perigosas, intensas. As faixas covers são um destaque à parte, embebidas de ácido, pesadas, fazendo desse primeiro trabalho do Heavy Cruiser um alento e tanto para os apreciadores da velho hardão setentista.

E por falar em covers o álbum já começa com um clássico absoluto, “C'mon Everybody”, de Eddie Cochran e J. Capehart. E começa pesadona, intensa, cheio de riffs de guitarra pesados, duros, agressivos e bateria pesada e marcada. Aos que não conhecem Heavy Cruiser e fizer uma “audição às cegas” perceberia um punk rock ao estilo Ramones, mas um pouco pesado. Os vocais de Neil são ásperos, gritados, sem nenhum apuro técnico. 

"C'mon Evereybody"

“My Little Firefly”, composição de Neil, já traz uma vibe mais blues rock. A guitarra “chorona” de Gaxoila é magnífica, mesmo em dedilhados simples. O vocal já é mais melódica e segue o ritmo da guitarra. Uma balada bluesy competente que tem a “cozinha” eficiente e que faz o seu papel de dar o groove e o ritmo mesmo em uma pegada mais leve. Solos diretos e viajantes de guitarra dão um tempero muito agradável à faixa.

"My Little Firefly"

“Don't Stop Now” já tem o destaque dos teclados que, de forma solar, encorpa a música juntamente com os solos de guitarra que, em uma espécie de batalha faz da música pesada, mas dançante. Não aprecio comparações, mas me remete ao Deep Purple, porém menos sofisticado e cool. E o jeito Heavy Cruiser de ser que faz da banda singular até aqui na terceira faixa.

"Don't Stop Now"

“Wonder Wheel” é uma faixa de tiro curto, mas que tem potência e presença. Algo de rockabilly em uma versão mais explosiva com o vocal, mais uma vez, rasgado e potente. “Outlaw” foge um pouco da proposta do álbum e tem uma levada mais acústica, o vocal mais melódico, arriscaria dizer que lembra até mesmo um folk rock, o que realmente foge ao que a banda se propôs a fazer com o seu debut, porém é bem agradável.

"Wonder Wheel"

Segue com “Let Your Rider Run” que até assusta no início, com piano e voz que lembra Elton John. Eu arriscaria dizer ainda que aquela proposta arrojada e suja do Heavy Cruiser cairia por terra aqui com essa faixa, porque me parece ser bem radiofônica e com um belo arranjo. A banda vem mostrando nessa segunda metade do seu debut um pouco mais de repertório sonoro.

"Let Your Rider Run"

A sequência traz outro cover clássico, “Louie Louie”. O indefectível riff de guitarra introdutório não tem como deixar o ouvinte parado. É dançante, animada, solar. E o Heavy Cruiser não a altera tanto, talvez com o intuito de manter a essência da faixa e Neil, novamente, se destaca com o vocal alto, gritado, mas com um pouco mais de qualidade. Ah o destaque fica para o solo de guitarra e teclados, com aquela batalha que todo mundo fomenta.

"Louie Louie"

“As Long as We Believe” começa atípica também. Algo com um Southern Rock, com backing vocals bem eficientes e que podem corroborar essa vertente. Pianos em destaque, vocais mais discretos e legais. Mais uma música que poderia, sem dúvidas, tocar em qualquer rádio.

"As Long as We Believe"

“'Lectric Lady” retoma o peso característico do Heavy Cruiser, piano mais enérgico, bateria marcada e pesada, riffs curtos de guitarra que é o prenúncio de solos mais diretos e pesados. Vocais poderosos, melódicos e por vezes gritados. Pesada!

"'Letric Lady"

E fecha com a faixa mais longa e mais complexa da banda, a “Miracles of Pure Device” que já te entrega um solo de bateria excelente que logo ganha a companhia de teclados e um baixo mais pulsante e galopante. É uma faixa um tanto quanto atípica no contexto do álbum, um caráter mais experimental e que se desloca totalmente da proposta do debut do Heavy Cruiser. Na metade da faixa a bateria torna a ganhar protagonismo. A seção rítmica nessa faixa ganha destaque.

"Miracles of Pure Device"

Um ano após o lançamento de “Heavy Cruiser”, a banda entraria em estúdio novamente, em 1973, e gravaria o segundo álbum com o nome Heavy Cruiser e que se chamaria “Lucky Dog”, seguindo basicamente a mesma proposta do álbum inaugural. Mas mesmo com os dois álbuns desse projeto do Mama Lion, chamado “Heavy Cruiser” que estava agradando Neil e sua banda, teve seus problemas e entraves.

E aconteceu quando o Mama Lion entrou em atrito durante a sua turnê europeia. Merryweather entrou em conflito com o produtor Artie Ripp e suas práticas comerciais, rompendo com Lynn Carey e toda a banda. Neil Merryweather se juntaria a Billy Joel, em uma fita demo que acabou rendendo um contrato com a Columbia Records. Outro detalhe que incomodou Neil, quando esteve somando esforços com o Heavy Cruiser foram algumas obrigações contratuais que impediram que os nomes dos integrantes da banda não fossem creditados nos dois álbuns do Heavy Cruiser. E isso foi determinação de Artie Ripp.

"Lucky Dog" (1973)

Merryweather, com o fim do Mama Lion ou Heavy Cruiser, gravaria com uma banda chamada “The Space Rangers” e dessa reunião surtiria em dois álbuns, gravados pela Mercury: “Space Rangers” e “Kryptonite”, isso entre 1974 e 1975. Tocou também com uma banda chamada “Band of Angels”, um trio de garotas, mudando-se para a Holanda e por lá produzindo algumas músicas. Seu último álbum solo, “Differences”, foi gravado na Holanda também, em 1978, com a participação de músicos britânicos, como o baterista Clive Edwards, de Pat Travers e até mesmo o UFO. Seu último esforço em uma banda, chamada “Eyes”, lançou um único álbum em 1980. Depois dedicou-se em outra área como design e fotografia, retornando suas atividades musicais, de forma esporádica, no final dos anos 1990.

"The Space Rangers" (1974)

Howard lançou um álbum solo de instrumentais em 1974 pelo selo Kama Sutra. Em 1975 ele se juntaria à banda de apoio de Elton John. Entre 1975 e 1980, ele tocou em álbuns de Melissa Manchester, Leo Sayer, Diana Ross, Olivia Newton-John, Kiki Dee, Valerie Carter, Samantha Sang, Boz Scaggs e vários outros artistas. Ele se voltou para o trabalho de trilha sonora dos anos 1990 em diante, começando com sua trilha sonora para a comédia romântica de 1990 “Pretty Woman”. Gary "Coffi" Hall morreu repentinamente em sua casa em 4 de dezembro de 2010. Ele dirigia a banda e o coral do colégio Midway enquanto morava em Lakota, ND com seu filho de 12 anos, Collin.

“Heavy Cruiser” teve um lançamento não oficial, em CD, pelo selo Progressive Line (Austrália, 2002) e uma reimpressão, em vinil verde, pela Lucky Pig Records (Alemanha, 2013). Os alemães O-Music relançaram “Lucky Dog” em 2012 junto com os dois títulos dos Space Rangers.

Projetos efêmeros, nomes ocultos e não creditados em seus álbuns, trabalhos despojados, adicionam tempero a um período na carreira de Neil Merryweather e companhia, extremamente obscuro e com um peso colecionável para aqueles que desbravam o submundo do rock n’ roll, bem como, claro, a músicas pouco ortodoxas e marginalizadas pelo mainstream. Heavy Cruiser é essencial!




A banda:

Rick Gaxoila na guitarra

Coffi Hall na Bateria, percussões

James Newton Howard nos teclados

Neil Merryweather nos vocais, baixo, e guitarra acústica

 

Faixas:

1 - C'mon Everybody

2 - My Little Firefly

3 - Don't Stop Now

4 - Wonder Wheel

5 - Outlaw

6 - Let Your Rider Run

7 - Louie Louie

8 - As Long As We Believe

9 - 'Lectric Lady

10 - Miracles of Pure Device




"Heavy Cruiser" (1972)









 




























 







sábado, 21 de junho de 2025

Witchwood - Litanies From The Woods (2015)

 

Atualmente falar que a cena italiana de rock progressivo e também de outras vertentes expandiu de uma forma quantitativa e qualitativa não é novidade para ninguém. Mas não podemos, ainda assim, deixar de falar o quanto os italianos vivem e respiram a cena como uma manifestação cultural, como de fato o é.

É inacreditável a quantidade de bandas que povoam os palcos italianos que vem produzindo músicas, não emulando às bandas dos anos 1970, mas fazendo, de forma arrojada, a sua própria música, contemporânea, com o frescor dos novos tempos, sem se seduzir com o glamour pasteurizado do mainstream e sim, nada menos do que homenageando as bandas que desbravaram a música progressiva dos primórdios anos setentistas.

Nos últimos 30 anos um boom avassalador está impactando as estruturas sonoras do rock italiano construindo uma nova perspectiva de som, trazendo as boas novas de cada ano mágico que o rock italiano tem. Há vida pulsando no hard rock e progressivo da Itália, não há um passado ultrapassado e carcomido.

Diante de uma cena interessada e ávida por consumir a música progressiva a oferta, mesclada a um impacto de criatividade, se faz presente, fomentando, inclusive, o ressurgimento de muitas bandas clássicas e obscuras que a tempos hibernava no berço da sua história, a produzir material novo.

O flerte do passado e o futuro é notório e se entrelaçam em uma cena plena e latente, fazendo do prog italiano uma realidade viva e intensa. Tenho, com fiel atenção, acompanhado esse fenômeno que está longe de ser efêmero e conhecendo grandes bandas que definitivamente está ganhando, não apenas a minha audiência, mas a dos italianos e do mundo.

E uma banda que sempre quis escrever sobre, e eis que foi chegada a hora, personifica, com requintes de originalidade, essa cena. Falo do WITCHWOOD. A banda, com sua sonoridade, abraça a vários apreciadores do hard rock, do rock progressivo, do psych rock e até mesmo do heavy metal, fazendo de sua música uma salada sonora improvável e singular e convincente.

Witchwood

O Witchwood nasceu das cinzas da banda de hard rock Buttered Bacon Biscuits, um nome curioso, que lançou um trabalho, em 2009, chamado “From the Solitary Woods”, pelo emblemático selo Black Widow e relançado pela Jolly Records também no formato LP. O álbum pode ser ouvido aqui!

The Buttered Bacon Biscuits foi uma banda baseada na cidade de Faenza, localidade em uma área chamada Romagna e esteve ativa entre 2008 e 2013 com um estilo enraizado nos anos 1970, tendo uma pegada psicodélica, de hard rock e uma discreta pitada de rock progressivo. Foram ativos em apresentações ao vivo, mostrando-se intenso e enérgico, mas mesmo com o álbum lançado e uma razoável reputação criada, a banda não durou por muito tempo, finalizando as suas atividades em 2014.

"From The Solitary Woods" (2009)

Com o final da banda, ainda no ano de 2014 surgiria o Witchwood, um quinteto que traria três músicos do Buttered Bacon Biscuits, Rick (Riccardo) Dal Pane, nos vocais, guitarras, bandolim e percussão, Stefano Olivi no hammond, piano e sintetizador e Andrea Palli, na bateria e percussão, juntamente com Samuele Tesori, na flauta e gaita e Luca Celotti no baixo.

Em 2015, o Witchwood lançaria o seu interessante e diria, sem medo de errar, épico, álbum de estreia chamado” Litanies from the Woods”, pelo selo independente “Jolly Roger Records”, alvo de meu texto hoje. E nada melhor para falar de uma nova e grande banda, pelo seu debut, pois é por ele, que entendemos a sua importância, o seu real desenho sonoro que alia o glorioso passado do rock italiano com vistas ao futuro.

“Litanies from the Woods” consegue, de forma magistral, mesclar hard rock, progressivo, psicodelia e até mesmo algo de Southern rock, além de pegadas blueseiras, adicionando sons vintages e atmosferas sombrias, obscuras do occult rock dos anos 1970. Mas não se enganem, caros leitores, que se restringe o som do Witchwood a reminiscências dos anos setentistas, trazendo um frescor, uma música contemporânea solar e acessível aos ouvidos mais exigentes e iniciantes, fazendo da banda extremamente competente e versátil sonoramente falando. E assim construíram, sobretudo em seu álbum inaugural, a sua personalidade.

E essa mistura de gêneros e estilos se deu graças a experiência da maioria de seus músicos em outras bandas e também a história que a maioria tiveram juntos em outras jornadas sonoras em outros projetos. Os caras se conhecem, sabem de seus defeitos e qualidades e essas coisas “orgânicas” trazem a verdade do Witchwood em seu debut.

“Litanies from the Woods” é inaugurado com a faixa “Prelude/Liar”, onde a “Prelude” introduz, com uma curta introdução, de guitarra elétrica, mas que logo irrompe com a cáustica “Liar”, com peso de riffs de guitarra que clama por uma “cozinha” bem ritmada e igualmente pesada, com passagens mais acústicas capitaneado pela flauta. A letra fala de uma reclamação sincera e urgente contra um mundo onde as aparências são mais importantes que os valores reais e a democracia não passam de uma ilusão criada por políticos cínicos, um mundo onde as mentiras da mídia escondem os pecados mais sujos e onde os sonhos enchem os túmulos.

"Prelude/Liar"

Na sequência tem “A Place for the Sun” começa introspectiva com sons sombrios de teclados, mas logo ganha energia com a bateria forte, marcada e uma flauta tocada a plenos pulmões ao estilo Jethro Tull, logo surgem os riffs poderosos de guitarra, vocais rasgados e, entre passagens pesadas e mais discretas percebe-se a grandiosidade da faixa, cheia de recursos rítmicos. A letra evoca o poder catártico da música e nos convida a viver dia após dia para enfrentar as adversidades da vida, sempre buscando o lugar escondido em sua alma onde o sol sempre brilha.

"A Place for the Sun" (Official Videoclip)

“Rainbow Highway” traz o protótipo do rock com uma “queda” para os anos 1990, com uma veia mais comercial, riffs de guitarra dançante, baixo pulsante, bateria pesada e solar, teclados dando uma textura radiofônica. Os vocais são apaixonados, melódicos. Faixa animada! A letra denuncia o desejo de liberdade e aventura de um garoto que cresceu em uma cidade pequena, cercado por tédio e velhas tradições. Evoca o sonho de uma vida sem regras, um desejo de liberdade absoluta, um passeio fantástico nos ombros de um demônio do arco-íris para sentir o vento soprando livre e selvagem por todo lado.

"Rainbow Highway" (Live at KFZ, Marburg)

“The Golden King” os caras reduzem as coisas, é uma balada rock e a introdução meio tribal, com a percussão e os teclados juntos, essa “paixão”, essa volúpia sonora é amenizada. O vocal sussurrado corrobora essa condição. A letra fala de uma caravana vinda de um planeta distante, navegando por céus infinitos.

"The Golden King"

A próxima faixa é “Shade of Grey” que abre complexa, com uma guitarra intrincada, enquanto vocais reservados, até discretos se fundem, tendo, inclusive, vocais femininos ajudando nessa faixa. Temos a presença de bandolim e flauta, antes de começar a esquentar, mas se acalma de volta, tornando-a ainda mais contemplativa e pastoral. É sombria e até mesmo assustadora. A letra evoca uma atmosfera gótica e uma criatura inquietante de um mundo oculto se movendo pela floresta.

"Shade of Grey"

A próxima música é outra balada, mais acessível, chamada “The World Behind Your Eyes” com vocais relaxados, violões delicadamente dedilhados, até que entra em ação após os dois minutos e esses contrates continuarão. Essa música é dedicada a Laura, musa do vocalista Rick Del Pane.

"The World Behind Your Eyes"

“Farewellt to the Ocean Boulevard” é a mais longa e complexa. Uma faixa instrumental longa, com pouco mais de quinze minutos de duração, que mostra toda a capacidade instrumental da banda, com músicos competentes e criativos. Começa com um violão dedilhado enquanto a flauta se junta, com um som completo. Um solo de guitarra agradável chega, com teclados mais a frente vem à tona, permanecendo relaxada a faixa, contemplativa, inclusive, juntamente com a flauta e gaita, mas logo a guitarra “ilumina” a música com força e intensidade. Diria, sem medo, que é épica!

"Farewell to the Ocean Boulevard"

“Song of Freedom” apresenta, no início, bandolim e gaita, enquanto os vocais se juntam, forte, imperioso, com alguma percussão. Torna-se mais pesado em torno dos dois minutos de música. Um hard típico irrompe a faixa, mas esses contrastes continuarão até o fim. A letra fala da celebração da vida na estrada, a canção de um viajante apaixonado por sua doce liberdade.

"Song of Freedom"

E fecha com outra faixa muito interessante, “Handfull of Stars”, cheia de mudanças rítmicas caracterizando um hard prog. Trata-se de uma suíte dividida em três partes e que lembra aquelas histórias de terror de HP Lovecraft (sou um leitor assíduo) e que lida com sonhos assustadores e perigosos, diz a letra. Na primeira parte, “The Gates of Slumber” a letra fala da imagem de um sonhador perdido em seu quarto com planetas flutuantes ao redor, enquanto as estrelas enchem sua mente e coração. Ele cai em um abismo atemporal de sonhos sombrios que a música evocativa das próximas duas partes instrumentais, "Nox Erat..." (Era noite) e "Epilogue: Litanies For A Starless Night", deixa sua imaginação livre para construir.   Riffs poderosos de guitarra e teclados sombrios “temperam” a música de um occult rock voluptuoso, além de vocais expressivos e poderosos.

"Handfull of Stars" (Official Videoclip)

Um trabalho engenhoso, com frescor, com traços evidentes de contemporaneidade, com a urgência da perpetuação, em dias atuais, do passado glorioso do rock progressivo italiano dos anos 1970.

O trabalho de estúdio, de composição, de juntar os fragmentos concebidos em momentos de pura liberdade criativa, faz desse primeiro trabalho do Witchwood uma peça de arte que nos remente ao passado com olhares para um futuro não promissor, mas real, latente, de uma cena que não desiste de se reinventar, de mostrar que é forte e que está viva.

O rock n’ roll não está morto. Morto está aquele que não se desprende do passado, sujeitando-se aos encantos mortais da zona de conforto. O Witchwood é a prova cabal de que há vida e que pulsa.

O Witchwood lançaria o ótimo “Handful of Stars”, em 2016 e mais tarde, em 2020 “Before the Winter”, com uma roupagem mais direta, com um hard rock mais visceral e sem firulas. Embora a discografia da banda seja pequena, é gigantesca em termos de qualidade e que, no auge de seus quase 10 anos de vida, possa trazer ao mundo novos rebentos sonoros para o nosso deleite.

A gravadora Jolly Roger Records relançaria “Litanies from the Woods” várias outras vezes, seja no formato CD, como no formato LP, em toda a Itália, entre 2015 e 2019. Não ficaria restrito apenas no país de origem do Witchwood, mas também em vários países da Europa, inclusive na Rússia. Perpetuando um “jovem clássico” do rock italiano.





A banda:

Riccardo "Ricky" Dal Pane: vocal principal, vocal de apoio, guitarra elétrica, slide guitar, violão, bandolim, percussão

Stefano "Steve" Olivi: Hammond C100, Leslie 760, Moog Voyager, piano

Andrea Palli: bateria, percussão

Samuele Tesori: flauta, gaita

Luca Celotti: baixo

 

Faixas:

1 - Prelude / Liar

2 - A Place for the Sun

3 - Rainbow Highway

4 - The Golden King

5 - Shade of Grey

6 - The World Behind Your Eyes

7 - Farewell to the Ocean Boulevard

8 - Song of Freedom

9 - Handful of Stars



"Litanies from the Woods" (2015)


 






 





























quinta-feira, 12 de junho de 2025

Hair - Piece (1970)

 

A transição das décadas de 1960 e 1970 para o rock n’ roll foi extremamente importante, porque tínhamos, lá pelo ano de 1967, 1968 e 1969, o ápice do rock psicodélico e o surgimento de algumas bandas que tinham o desejo de trazer uma música mais crua, pesada e agressiva, fugindo do experimentalismo e do “beat” da psicodelia.

E quando os anos 1970 foram descortinados o hard rock estava florescendo, juntamente com a versão, digamos, mais sofisticada do psicodelismo, que era o prog rock. Eram períodos embrionários, de tendências sonoras e fim de outras cenas e muitas bandas flertavam com muitas sonoridades. Estereótipos à parte muitos álbuns que surgiram no final da década de 1960 e início dos anos 1970, mesclavam o rock psych com o hard e o prog.

Eram épocas que não se podia pontuar um álbum como majoritariamente de hard, prog ou psych, as bandas estavam delineando seu som, definindo sua sonoridade, aparando as suas arestas sonoras e se permitiam, apenas, à liberdade criativa, sem se preocupar tanto com os rótulos.

Caro leitor, avaliem, percebam ao ouvir álbuns inaugurais de grandes e famosas bandas, por exemplo, principalmente aquelas que gravaram seus primeiros álbuns nessa transição das décadas e verão que são trabalhos distintos uns dos outros ou verão ainda que essas vertentes sonoras estavam presentes em um só álbum!

E a banda que eu falarei hoje, com o seu único álbum lançado, exatamente no fim de uma década, a de 1960 e o início da outra, a década de 1970, no ano de 1970, trouxe, em seu trabalho, nuances bem definidas de hard rock, de peso, de lisergia, de psicodelia e de rock progressivo. Falo da dinamarquesa HAIR.

A banda foi formada na cidade de Copenhague, capital da Dinamarca, no auge do rock psicodélico, 1967, mas sob o nome de “Second Review”. Naquela época era um “power trio”, inspirando-se na mais famosa banda de power trio” de todos os tempos, o Cream, e tinha, em sua formação Benny Dyhr, na guitarra e vocal, Allan Sorensen, no baixo e vocal e Peter Valentin Rolnes, na bateria e vocal. Esses músicos, todos muito jovens, na faixa dos 20 anos de idade, fizeram vários shows por Copenhague e na Nova Zelândia. Foi nessa época também que eles se juntariam ao crítico musical e letrista Torben Bille.

O Second Review tocava primordialmente uma espécie de “beat progressivo”, aquela música dançante e chapante com viagens psicodélicas e progressivas, com muito experimentalismo. Era basicamente o que se ouvia à época. A banda, por mesmo sendo dinamarquesa, se inspirava na cena psicodélica norte-americana, com nuances britânicas.

Porém mudaria a sua sonoridade quando Paddy Gythfeldt, vocalista, tecladista e vocalista, entrou para a banda, tornando-se um quarteto. Mudaria também o nome da banda, passando a se chamar “Hair”. Como o “antigo” Second Review a cena vigente na Dinamarca sofreram influências do rock psicodélico dos Estados Unidos e da Inglaterra, mas com a nova concepção sonora do agora Hair, a banda passou a destoar da cena local praticando um som mais calcado no hard rock e na sofisticação do rock progressivo que nascia para o mundo lá pelo ano de 1970, aproximadamente.

Hair em 1969

E com uma nova formação, um novo nome e uma nova sonoridade, a banda partiu para o estúdio (não demorou muito) para gravar seu debut. Este foi concebido, foi gravado no “Wifos Studio”, entre abril e junho de 1970, com o nome de “Piece”. A produção de “Piece” teve, a contrário da época do Second Review, um trabalho mais ostensivo de marketing, com muitos shows e uma cobertura grande da imprensa musical e foi lançado, como disse, em 1970, pelo selo Parlophone Records.


O álbum, com isso atingiria o status da produção de rock dinamarquesa mais cara até então. Estava ganhando visibilidade. Para se ter uma noção do tamanho que a banda estava atingindo, vieram, após o lançamento de “Piece”, mais quatro singles, um dos quais, “Happy Child”, chegaria ao sétimo lugar das paradas dinamarquesas!

"Happy Child"


E falando de “Piece”, traz um excelente heavy rock com pitadas generosas de rock psych, típico da virada da década de 1960 e 1970, com toques perceptíveis de rock progressivo em algumas faixas de seu álbum, com viradas de andamento rítmico de tirar o folego, com peso na bateria, com batidas marcadas e pesadas, riffs pesados e grudentos de guitarra, em alguns momentos bem lisérgicos e em uma salutar disputa com o órgão Hammond, com destaque também para os vocais de Paddy Gythfeldt e tudo cantando na língua inglesa. Não sou um entusiasta de comparações, mas remete ao Blue Cheer, ao Iron Butterfly, Cream, entre outras bandas que aspiravam à música pesada já no fim dos anos 1960.

O álbum é inaugurado pela faixa “Coming Through” e já se apresenta animada, com riffs de guitarra mais dançantes, ao estilo soul music, que logo dá lugar a um órgão mais austero e bateria com batida cadenciada. Porém o hard rock, na metade da faixa, ganha destaque com a bateria em outra levada, mais pesada, agressiva, com os teclados ainda ditando o ritmo.

"Coming Through"

“Supermouth” entrega a pegada hard logo no início. Batida forte da bateria, riffs pesados e pegajosos de guitarra. Baixo pulsante. Não podemos negligenciar o trabalho da cozinha, da seção rítmica desta faixa excepcional. Os teclados são animados, cheios de energia.

"Supermouth"

“Dream Song” começa com dedilhados de violão, uma atmosfera acústica, diria pastoral, mas logo irrompe em riffs pesados de guitarra e retorna com a sonoridade mais suave e viajante, agora com solos, embora curtos, mas bonitos de guitarra. Nessa faixa as mudanças de andamento rítmicos ditam as regras. A pegada hard e prog se fazem presentes, além de pitadas psicodélicas. É um som encorpado, orgânico e sofisticado. Sem dúvida uma das melhores músicas do álbum.

"Dream Song"

“Everything's Under Control” começa como um trovão, uma hecatombe de riffs pesados e lisérgicos de guitarra, com bateria dura, pesada e marcada. O vocal no megafone me remete às músicas do rock dos anos 1960, porém com uma pegada mais incisiva e agressiva. Mas não deixa de ter uma pegada pop, um hard rock um pouco mais cadenciado.

"Everything's Under Control"

“Pleasant Street” mostra vocais à capela e dedilhados doces de piano iniciam a música, mas por pouco tempo, porque ela logo explode com uma bateria pesada e rápida que a deixa rude e agressiva, corroborando com riffs de guitarra. Mas o destaque realmente centraliza na batida, quase que contínua, pesada da bateria.

"Pleasant Street"

E fecha, com chave de ouro, com “Piece (Of My Heart)”, que já entrega, na sua introdução um solo direto, mas bem elaborado de guitarra com uma camada de teclados que traz uma pegada psicodélica. A realidade é que eles rivalizam salutarmente entregando um hard psych na medida, na dosagem perfeita. Uma vibe ao estilo Jefferson Airplane. Solos de guitarra, ao longo da faixa, são ouvidos com mais destreza e emoção e, com isso, a música vai assumindo contornos de hard rock. Essa música foi popularizada por Janis Joplin.

"Piece (Of My Heart)"

A banda, após o lançamento de “Piece”, não teve uma longa vida. Chegou a gravar mais singles, cerca de quatro músicas, como disse, mas se desfez em 1971. O tempo de vida muito curto e precoce, lamentavelmente, levando-se em consideração o talento de seus músicos, com uma sonoridade muito espirituosa, bem executada. Eram promissores e ficaram apenas em um único álbum. Eles chegaram a se reunir novamente para gravar as seções do segundo álbum, mas se separariam, em seguida.

Em 1972, o baixista Allan Sorensen e o baterista Peter Valentim se juntariam novamente para formar a banda RiverHorse. A título de curiosidade a origem e a inspiração para o nome da nova banda partiu de uma piada infantil dinamarquesa, que é: “O cavalo do rio tem algo ruim, então não entre”. Peter, que era baterista no Hair, queria mudar para o baixo no RiverHorse e Allan, que tocava baixo, migrou para a guitarra, como começou na sua carreira.

A banda foi muito ativa, entre 1972 e 1976, gravando cerca de 100 músicas, mas tiveram dificuldades para emplacar ofertas de gravadoras dinamarquesas, que optavam por bandas que cantassem no idioma local e em 1976 o RiverHorse sairia de cena. Mas voltaria em 1981 e desde então está na ativa até os dias atuais, produzindo álbuns, fazendo shows pela Dinamarca.

Riverhorse em 1990 e 2001

Em 2004 o selo Walhalla Records faria o primeiro relançamento, no formato CD, de “Piece”, trazendo os singles que foram lançados após o lançamento deste álbum. Teria também um relançamento, também em CD, pelo selo Frost Records, licenciado pela EMI-Medley Records. Há um livreto de 16 páginas escrito pelo crítico de rock dinamarquês Torben Bille, contando a história da banda e da época. Há, porém, um relançamento mais recente, de 2019, pela gravadora Mayfair, que vem com um LP bônus de 25 minutos de seus singles.




A banda:

Paddy Gythfeldt no Órgão, Guitarra, Vocal Principal

Benny Dyhr na Guitarra, vocal

Allan Sorensen no Baixo, vocal

Peter Valentin Rolnes na Bateria, Percussão, vocal

 

Faixas:

1 - Coming Through

2 - Supermouth

3 - Dream Song

4 - Everything's Under Control

5 - Pleasant Street

6 - Piece (Of My Heart) 




"Piece" (1970)