quinta-feira, 30 de abril de 2020

Black Sabbath - Born in Hell: Live at the Centrum, Worcester (1983)


 

O BLACK SABBATH definitivamente está no rol das grandes bandas da história da música pesada que serviu e até hoje serve de referência, dado o seu pioneirismo e importância. Todas as cenas que surgiram depois de sua fundação, na transição dos anos 1960 para a década de 1970 e tiveram como base a sua sonoridade, bem como as mensagens transmitidas pelas suas letras apocalípticas, sombria e até de cunho politizadas travestidas com as ‘metáforas” satânicas dos seus primeiros álbuns. 

A banda, apesar de ser consagrada e conhecida em todos os confins do planeta, vendendo milhares de álbuns e tocando em ginásios e arenas, vale ter um capítulo especial por aqui, principalmente em uma fase um tanto quanto obscura, pouco mencionada entre os mais ardorosos fãs, diria até rejeitada apesar de contar com músicos que naquela época já estavam em um patamar de lendas. 

Falo do Black Sabbath com Ian Gillan no vocal. Gillan, como já é sabido, fez sua história, sua carreira no emblemático Deep Purple, mas, no início da década de 1980, mais precisamente em 1983, a banda estava estagnada, tinha finalizado suas atividades e o Black Sabbath tinha perdido o seu então vocalista, Ronnie James Dio, que decidiu investir na carreira solo e estava em busca de um novo cantor. 

Tonny Iommi, guitarrista do Sabbath, convida Gillan e, dessa parceria de Gillan com Black Sabbath, nasce o álbum de estúdio “Born Again”, de 1983. O álbum não recebeu uma crítica positiva por parte do público e dos especialistas e ficou “deslocado” da discografia essencial da banda. 

"Born Again" (1983)

Até hoje há um descrédito por parte dessa parceria e dessa época do Black Sabbath dizendo que a entrada do Ian Gillan descaracterizou o som da banda, fugindo do heavy metal e trazendo uma proposta mais hard rock, assemelhando ao Deep Purple. 

Como fã do Sabbath e Purple, discordo dessa “máxima”, afinal, o Black Sabbath pode ter influenciado o heavy metal porém, antes de mais nada, influenciou a música pesada e todas as suas vertentes. Então Gillian, que estava no auge da carreira e da sua voz, poderosa e altiva, adaptou-a a sonoridade do Sabbath e os seus clássicos, cantando-as rasgadamente, levando também, claro, o seu "know how" adquirido no Deep Purple. Ficou particularmente diferente? Sim! Mas também exótico e poderoso! Ouvir "Born Again" é ouvir o peso avassalador e despretensioso de um Sabbath sujo e sombrio.


Inclusive um tecladista foi efetivado como músico principal do Sabbath, dando a entender que Gillan levara um pouco de sua antiga banda a sua até então nova banda. Mas não falarei do “Born Again”, mas de um registro ao vivo, da turnê deste álbum de estúdio que certamente tem um status de “obscuro” e que mostra um Black Sabbath como sempre foi: poderoso, visceral, mas extremamente técnico e virtuoso capitaneado pela incrível voz de Ian Gillan em contraponto ao vocal intencionalmente despretensioso, tenso, paranoico e até, em alguns momentos, desafinado de seu vocalista original, Ozzy Osbourne. 

Falo do “Born in Hell: Live at the Centrum na cidade britânica de Worcester”, um bootleg de 1983. Gillan assumiu o grande desafio de cantar as clássicas músicas que ganhou notoriedade na voz de Ozzy e algumas faixas do até então novo álbum “Born Again” e as versões ficaram excelentes! Poderosas! 


O vocal virtuoso, de grande alcance de Ian Gillan ficou rasgado e sombrio e aliado a guitarra de Tonny Iommy, a bateria de Bev Bevan, que assumiu o lugar de Bill Ward que saiu da banda após o lançamento de “Born Again” e que era do Electric Light Orchestra, Geezer butler no baixo e o tecladista Geoff Nicholls entregou uma banda inusitada e excepcional. 

Apesar de ser um bootleg é impressionante a qualidade do som que reproduz toda essa força, esse massa poderosa sonora que era o Black Sabbath naquela época. Arrisco em dizer que esse é um dos melhores registros ao vivo da banda de todos os tempos! 

E começa com o clássico arrasa quarteirão “Children of the Grave” com vocais melódicos com gritos rasgados de Gillan e a guitarra característica de Iommy com seus riffs e a camada de teclado dando uma pitada pitoresca a música. 

"Children of the Grave'

“Hot Line”, do álbum “Born Again” ganhou vida na sua versão ao vivo, mais pesada ainda. “War Pigs” ganha mais velocidade e um vocal “cuidadoso” e cadenciado de Gillan dá um caráter de uma nova roupagem ao clássico. 

"War Pigs"

E dessa forma segue “Iron Man” com uma introdução linda de teclado, mas o peso e a agressividade são patentes. “The Dark/Zero the Hero”, também do “Born Again”, também ganhou “vida nova” ao vivo, mais pesada e rápida. 

"Zero the Hero"

“Heaven and Hell”, um dos clássicos absolutos da “era Dio” também ficou pesada e gritada em alguns momentos, sobretudo no seu título, ganhando uma nova e convincente roupagem. “Digital Bitch”, também de “Born Again”, também na versão ao vivo fica interessante, mais solar, agitada e diria até dançante. 

"Heaven and Hell"

Mas a faixa que merece atenção é a obscura e soturna faixa “Black Sabbath” que, originalmente traz essas propostas, mas Gillan eleva a música com um vocal competente, com absurdos alcances, mas respeita a sua essência sombria e perigosa. O peso é evidente! 

"Black Sabbath"

E há um espaço para o Deep Purple com a execução de “Smoke on the Water” que não foge muito a estrutura original, mas com a assinatura de Tonny Iommy com os riffs mais claros e evidentes, ganha mais peso, mais robustez.

"Smoke on the Water"

Fecha com chave de ouro com “Paranoid”, que mantém o petardo e o habitual chute na porta com um Gillan mais despretensioso no vocal. Essa fase do Black Sabbath foi curta lamentavelmente, caiu no obscurantismo discográfico da banda, mas que não pode e nem deve ser esquecida pelos amantes da boa música. Bevan e Gillan saem logo da banda e o primeiro também merece um reconhecimento, pois assumir a vaga do grande Bill Ward e tocar os clássicos do Black Sabbath com tamanha maestria não é para qualquer um. Um registro obscuro e não oficial de uma banda consagrada e badalada que merece todas as reverências possíveis.





A banda:

Ian Gillan no Vocal
Tony Iommi na Guitarra
Geezer Butler no Baixo
Bev Bevan na Bateria
Geoff Nicholls nos Teclados

Faixas:

1 - Children of The Grave
2 - Hot Line
3 - War Pigs
4 - Iron Man
5 - Zero the Hero
6 - Heaven and Hell
7 - Tony Iommi Guitar Solo
8 - Digital Bitch
9 - Black Sabbath
10 - Smoke on the Water
11 - Paranoid





"Born in Hell: Live at the Centrum, Worcester" (1983)


Albatross - Albatross (1976)


O garimpo das bandas que compõe o rock progressivo obscuro é estimulante, sobretudo quando se descobre bandas de alta qualidade e que artesanalmente produz seus álbuns e com muita dificuldade tenta divulgar seu material e difundir a sua música. Muitas infelizmente perecem, ficam para trás, não pela falta de qualidade, mas de um apoio da indústria e até mesmo falta de sorte em alguns momentos que poderiam ser determinantes em seus caminhos e que por detalhe não se concretiza. Mas, atualmente temos a força da internet e das redes sociais que, quando bem utilizada, pode transformar aquilo que era impossível conhecer, em algo de domínio global, graças a abnegados que são verdadeiros desbravadores da cena e de bandas que não tiveram e que não tem o mínimo de apoio. E um grande exemplo é a banda norte americana chamada Albatross e o seu único álbum lançado em 1976, simplesmente chamado do “Albatross”. 


"Albatross", de 1976

A banda formada na cidade de Rockford, Illinois, nos Estados Unidos no início dos anos 1970 passou despercebida na cena progressiva americana. Tem no rock progressivo sinfônico com notada influência de bandas como Yes e Emerson, Lake & Palmer, com levada bem hard em determinados momentos que lembra bandas como Birth Control, aliando peso e o uso de órgão. É inegável, mesmo que a uma primeira audição, como no meu caso, que a banda goza de melodias e arranjos excepcionais e contagiantes, como é muito comum a bandas sinfônicas da qual é exigida uma destreza instrumental. Talvez por ter a influência dessas bandas consagradas, o Albatross não tenha tido a sorte que esperava, sendo acusada de plágio por copiar a música de outras bandas, o que não confere, confirmando apenas a influência, tendo inclusive a grande evidência de surgimentos de bandas sinfônicas, sobretudo em meados da década de 1970. O seu álbum, como de muitas bandas sem o devido apoio, teve a produção feita de forma artesanal e privada em um estúdio que eles construíram com a ideia de alavancar e trazer para a sua cidade natal, Rockford, a produção profissional de álbuns. A banda era formada por: Mike Novak nos vocais, Paul Roe na guitarra, Joe Guarino no baixo, Mark Dahlgren nos teclados e Dana Williams na bateria. 


A banda

O álbum abre com a épica “Four Horsemen of the Apocalypse” que combina música progressiva, rock sinfônico, música clássica e hard rock. Um extravagante suíte que excelentes passagens rítmicas personificado em belos números instrumentos e um bom e dramático vocal, limpo e forte. 


Albatross - "The Four Horseman of the Apocalypse"

“Mr. Natural” mostra uma predominância do progressivo sinfônico com o destaque para os vocais fortes e de grande alcance e, claro, o abuso mais do que necessário e urgente do hammond. O destaque também fica para um curioso e interessante groove sintetizado nos seus riffs de guitarra, fazendo da música mais solar e dançante, diria.


Albatross - "Mr. Natural"

Na sequência temos a “Devil's Strumpet” que envolta em uma atmosfera viajante e espacial tem como destaque para o teclado, irrompendo em um belíssimo progressivo sinfônico. Uma música que tem uma ótima interação entre os músicos e seus instrumentos, sendo esses tocados de forma frenética e enérgica. 


Albatross - "Devil's Strumpet"

“Cannot Be Found” mostra o talento de Novak nos vocais, cantando praticamente a capela, apenas com o apoio do piano. Uma balada melancólica e instrospectiva que se opõe as faixas bombásticas do álbum. "Albatross" fecha com “Humpback Whales” cuja introdução tem um clima obscuro, mas logo revela a face sinfônica com uma evidente influência de Keith Emerson. Pouco depois do lançamento do álbum, os integrantes decidiram dissolver a banda. Joe Guarino continuou na indústria da música, estudando e se especializando no ramo. Mike Noval sofreu aneurisma, ficou afastado da música, mas se recuperou e entrou em uma banda de blues, em 1996, chamada “The Blues Hawks”, também da região de Rockford. A banda, em algumas fontes que levantei para redigir esta resenha que você lê, foi comparada, de forma diria até maldosa, com o Yes. Claro que, desde que o rock n' roll existe, essas comparações sempre serão pauta em fóruns de discussões, mas não reconheço essa comparação que é um termo menos impactante que plágio, mas como uma influência, afinal o Yes plantou pioneirismo e colheu consagrações, pelo que representa para o rock progressivo sinfônico, sobretudo e o Albatross tinha tudo para progredir, para avançar e lapidar sua música. Seu único álbum mostra uma banda virtuosa, competente e muito, mais muito ciente de suas propostas sonoras, com muita personalidade. Porém alguns infortúnios, que jamais saberemos quais foram, a banda pereceu, não vingou, mas deixou um pequeno legado para o rock progressivo norte-americano e um material essencial aos apreciadores da música progressiva. Mais uma grande pérola mais do que recomendada.




A banda:

Mike Novak no Vocal
Mark Dahlgren nos Teclados, Sintetizadores e Vocal
Joe Guarino  no Baixo e Vocal
Paul Roe na Guitarra
Dana Williams na Percussão

Faixas:

1 - Four Horsemen of the Apocalypse
2 - Mr. Natural
3 - Devil's Strumpet
4 - Cannot Be Found
5 - Humpback Whales




Magia Nera - L'ultima danza di Ophelia (2017)


É sabido que os longínquos anos 60 e 70 para as bandas que começavam era árduo, difícil, complicado. As bandas não dispunham de ferramentas de comunicação com os seus fãs e distribuição de sua obra que os músicos têm nos dias atuais, como as redes sociais e canais de vídeos na internet. A internet revolucionou o contato das bandas e os fãs, revolucionou a forma como o fã consome música e não vou entrar em pormenores os pontos negativos e positivos desse processo, o fato é que as mudanças foram evidentes. Para a banda italiana Magia Nera (Magia Negra, em italiano), surgida na província de La Spezia, na região de Ligúria, essas aventuras rendeu um triste fim precoce em sua história, em sua trajetória. O termo “aventura” vem carregado de precariedade nas turnês, na forma que as bandas, sobretudo aquelas que recebiam um reduzido orçamento para desempenhar a sua arte, das gravadoras, resultando em situações perigosas para a integridade física dos músicos, inclusive. A banda foi formada no ano de 1969 e tinha o nome de La Nuova Esperienza, mudando, no mesmo ano o nome para Magia Nera, inspirada em um nicho dentro do rock n’ roll que tinha uma proposta no oculto, no sombrio e em filmes e personagens de terror e, claro, em bandas como Black Sabbath, Coven, Uriah Heep etc.

La Nuova Esperienza

Começou a tocar covers, como toda a banda que começa e depois começou a compor material próprio. Em 1970 a banda começou a despertar o interesse do público, da cena local, em sua região que, apesar de pequena, trazia a banda à expectativa de seguir com a sua história e gravar um material novo. Participou, com algum sucesso, de alguns festivais de música, como o Free Festival Pop de Bottagna. 

Matéria de jornal sobre o Free Festival Pop de Bottagna

A gravadora Magma Records demonstrou um grande interesse em colocar o Magia Nera em estúdio, mas surgiu um infortúnio, a precariedade, a dificuldade de se fazer turnê, as dificuldades da estrada trouxe um revés a banda, onde a sua van pegou fogo com todas as suas fitas com todas as suas músicas gravadas para o seu álbum de estreia, tudo virou cinza. A banda ficou muito desanimada porque eles não teriam tempo hábil para regravar as músicas a tempo e entregar a gravadora para lançar o álbum. O Magia Nera, em 1973, decide se separar, dar fim a banda. Em 2017, 44 anos depois, o Magia Nera, com quase todos os seus membros originais decide se reunir para trazer à tona as suas músicas levadas pelo fogo, graças também ao selo independente Akarma Records, distribuído pela Black Widow Records. Emilio Farro (vocais), Pino Fontana (bateria), Lionello Accardo (baixo) e Bruno Cencetti (guitarra), além de Andrea Foce (teclados), que substituiu Orazio Colotto lançaram “L'ultima danza di Ophelia”. 


Magia Nera na década de 1970



O "novo" Magia Nera, em 2017

O som da banda traz aquela camada soturna, sombria, aliado ao peso, uma “cadencia” assustadora, ameaçadora, perigosa. Um hard rock clássico, vintage, mas novo, rejuvenescido, embora tenham regravado todo o material como eram nos anos 1970. A faixa de abertura “L'ultima danza di Ophelia” é baseado em uma cena de peça “Hamlet”, de Shakespeare que introduz linhas interessantes de teclado, um hard rock cadenciado com a “cozinha” funcionando bem, baixo e bateria dando um ar sombrio a música.


Magia Nera - "L'Ultima danza di Ophelia"


“Il Passo del Lupo” conta as últimas horas de um perdedor orgulhoso, um fugitivo solitário que tenta fugir de seu destino escondido em uma floresta escura como um lobo. Eventualmente, a senhora das Trevas o leva para a terra das sombras eternas e ele aceita seu destino sem medo. E o som começa que o típico e infalível riff pesadão com o vocal ameaçador, a guitarra tem o destaque nessa faixa com um teclado ao fundo com influências do Jacula.


 
Magia Nera - "Il Passo del Lupo"

"La Strega del Lago" traz a história de um tipo estranho de mulher, um um poderoso vampiro sedento de sangue convocado durante um ritual obscuro das águas escuras de um lago, Senhora das sombras e da escuridão, dono dos mais profundos abismos da sua alma. A música segue a proposta de sua antecessora, muito peso, riffs e solos extasiantes de guitarra e um vocal mais limpo, alto e poderoso.

Magia Nera - "La Strega del Lago"

"La Tredicesima Luna" (Décima Terceira Lua) traz a característica cadência pesada do álbum, com mais riffs e uma bateria marcada excelente. A música fala de uma pequena trilha que celebra os mistérios de rituais obscuros onde espadas e poderes das trevas desenham círculos mágicos e bruxas dançam nas fronteiras entre mundos diferentes. A suíte dividida em dez partes e 5 faixas, trazendo o lado mais progressivo do álbum, mas preservando a proposta pesada do álbum, diria que é uma epopeia muito bem sucedida de um verdadeiro e genuíno heavy prog.


Magia Nera - "La Tredicesima Luna"


A curta faixa “Movimento 1: Inno Alla Mietitrice” estimula o ouvinte a assimilar o que virá pela frente, com uma atmosfera de muito mistério com uma sonoridade pagã com vocal falado e uma doce flauta ao fundo com dedilhados de violão acústico.


Magia Nera - "Movimento 1: Inno Alla Mietitrice"

A faixa “Movimento 2: Sentido de Luna 'La Rinascita E La Transformação' - Movimento 3: La Camminata Del Mostro - Movimento 4: Il Viaggio” retorna com o peso do álbum com uma sonoridade plena, alternando em destaque a guitarra e o baixo, em um “duelo” que faz da música mais solar, viva, poderosa. 


Magia Nera - "Movimento 2: Sentido de Luna 'La Rinascita e La Transformação", "Movimento 3: La Camminata Del Mostro" e "Movimento 4: Il Viaggio"

“Movimento 5: La Cavalcata Delle Streghe - Movimento 6: L'orologio Della Torre” segue a proposta da música anterior, altiva, animada, diria até dançante, tendo riffs e solos de guitarra mais uma vez protagonizando. 


Magia Nera: "Movimento 5: La Cavalcata Delle Streghe, "Movimento 6: L'orologio Della Torre""

A faixa “Movimento 7: Il Presagio - Movimento 8: La Camminata Del Mostro” “foge” um pouco ao peso e introduz com uma balada que explode um viajante e lindo solo de guitarra, é arrepiante, acreditem. 


Magia Nera - "Movimento 7: Il Presagio" e "Movimento 8: La Camminata Del Mostro" 

E por fim a faixa “Movimento 9: La Metamorfosi - Movimento 10: La Fine” com traços mais pop, mais acessíveis ao ouvido, mais dançantes mas com doses pesadas também graças a guitarra, aos riffs e solos. 


Magia Nera - "movimento 9: La Metamorfosi e "Movimento 10: La Fine"

O álbum conta com um bônus track, um cover do clássico “Gypsy” do Uriah Heep que, embora não tenha nenhuma roupagem nova ou algo que a diferencie foi bem executada sendo fiel ao formato clássico, cantada em inglês, diferente de todas as faixas do álbum cantada em italiano. 


Magia Nera - "Gypsy" (Bonus Track)

O hiato de mais de quarenta anos azeitou a banda que, mesmo hibernada, retornou forte e retomou um tempo precocemente abreviado entregando um “novo clássico” como “L'ultima danza di Ophelia”. Anos de persistência e dedicação à música fez com que a banda mantivesse sua força, seu sentido de unidade e que fará com que a banda trilhe seu longo caminho para a vida longa e próspera fazendo música, desenhando a sua história que, apesar de ter mais de 50 anos está apenas começando. Que venham mais e mais álbuns e trabalhos de qualidade.





A banda:

Emilio Farro no Vocal
Pino Fontana na Bateria
Lionello Accardo no Baixo
Bruno Cencetti na Guitarra
Andrea Foce nos Teclados


Faixas:

1 -  L'ultima Danza Di Ophelia 
2 -  Il Passo Del Lupo
3 - La Strega Del Lago
4 - La Tredicesima Luna 
5- Suíte: Dieci movi in ​​cinque traço
- Movimento 1: Inno Alla Mietitrice 
- Movimento 2: Sentido de Luna 'La Rinascita E La Transformação' - Movimento 3: La Camminata Del Mostro - Movimento 4: Il Viaggio 
- Movimento 5: La Cavalcata Delle Streghe - Movimento 6: L'orologio Della Torre
- Movimento 7: Il Presagio - Movimento 8: La Camminata Del Mostro
- Movimento 9: La Metamorfosi - Movimento 10: La Fine 
6- Gipsy (Bonus Track)






quarta-feira, 29 de abril de 2020

Out of Focus - Out of Focus (1971)

A Alemanha pós-guerra estava, sob o aspecto cultural, entregue à própria sorte. Tudo que era “consumido” se resumia a “enlatados” pasteurizados que vinha de fora e a cena krautrock que, nos seus primórdios eram nada menos que comunas de hippies, era o movimento contra cultural que marchava à margem de uma sociedade ultraconservadora e carcomida.

Quando essas comunas decidiram se expressar por intermédio da música, claro bandas começaram a serem formadas, mas o espírito contestador e subversivo manteve-se intacto nas suas músicas. Era um período em que as bandas refletiam eventos sócio-políticos.

E uma banda sintetizava esse formato com fervor e intensidade: o OUT OF FOCUS. A formação desta seminal banda, criada em 1968 na cidade de Munique, trazia na essência o guitarrista Remingius Drechsler.

Remingius Dreschler

Drechsler nasceu em 1950 em um local em Munique chamado Lehel, próximo ao centro da cidade. Ele estudou, como os seus pais, por dois anos no Richard Strauss Konservatorium. Reza a lenda que quando a sua mãe estava grávida dele ouvia nos fones de ouvido uma estação de rádio americana para soldados. O Out of Focus talvez tenha sido concebido antes de seu principal integrante nascer.

Claro que Dreschler teve, ao longo de sua infância e juventude, contatos com vários instrumentos, como violino, piano, bateria e até oboé, além, claro, de suas influências ouvindo rádio e a música dos anos 1960.

O Out of Focus deu os seus primeiros passos por volta de 1966 e 1967, ensaiando no porão da casa da mãe de Dreschler e da forma mais simples e improvisada possível, com caixas de ovos na parede, porque as reclamações dos vizinhos eram recorrentes.

Para se ter noção do simplório aparato, para amplificar o baixo de um dos primeiros baixistas da banda, de nome Peter Gabriel (não confundir com o icônico vocalista do Genesis), usaram um rádio antigo e o próprio Dreschler batucava em caixas e panelas de cozinha simulando bateria.

E falando nos primórdios do Out of Focus as primeiras experiências dos seus integrantes circulava apenas nos Movers, seus antecessores direitos. Mas mudaram logo de nome porque ficaram em último lugar em um concurso de bandas locais. Um desastre! Não havia dúvida de que precisavam de um novo nome e a ideia de “Out of Focus” surgiu depois da música da banda americana Blue Cheer, de mesmo nome.

A formação do Out of Focus, primeiro como Movers, começou quando Dreschler e Peter começaram a ensaiar, se juntando com dois guitarristas que se interessaram em tocar na banda. Os primeiros shows aconteceram em um centro juvenil católico, onde também ensaiava, algumas vezes, também em pubs e até mesmo em cervejarias e tocavam, como muitas bandas, covers de Beatles, Them e The Pretty Things e mais tarde The Doors com suas músicas longas sendo diretamente influenciados por esse tipo de música.

Primeira foto do Movers, em 1967

Entre idas e vindas de integrantes o Movers se estabilizaria com Peter Gabriel, Heiner, Wolfgang Pemsel, Remigius Drechsler e Hubert. E a essa formação foi adicionada um tecladista, Hennes Hering.

Quando a banda começou a tocar em pequenos circuitos de música, alguns festivais, perceberam que estavam em ascensão e já como Out of Focus seguiu a sua trajetória. Com o tempo clubes undergrounds e beat sugiram por toda parte, bem como festivais ao ar livre começaram a se estabelecer também. Não demorou muito para o Out of Focus estivesse na estrada quase todos os finais de semana para shows.

Out of Focus

Em 1968 a banda começou a trabalhar em material autoral e combinava blues, rock psicodélico, folk e um rock progressivo embrionário, mesclado a uma eloquente consciência política e social, comum às bandas de krautrock. Eles desenvolveram rapidamente o seu estilo e, a partir de 1969, fizeram uma turnê grande, passando por toda a Alemanha e abrindo para Amon Düül II, Nektar, Ginger Baker, Kraan, Kraftwerk e Embryo, entre outros.

E finalmente em 1970 o selo “Kuckuck” os contratou, gravando, naquele mesmo ano, o seu primeiro álbum de estúdio, “Wake Up”, caracterizado por viagens experimentais e etéreas, jazz rock, desenhando o vanguardismo do rock progressivo que estouraria lá pelos primeiros anos da década de 1970.

"Wake Up" (1970)

A banda, tida como perfeccionista, levou muito tempo para conceber “Wake Up”, e o resultado, claro, foi esplêndido para um primeiro álbum, porém, foi com segundo trabalho, chamado simplesmente de “Out of Focus”, de 1971, que alçaria a sonoridade da banda ao ápice, ao apogeu da complexidade.

E esse grande álbum será alvo da minha resenha. O segundo álbum, cantado em inglês, traz um Out of Focus mais maduro, complexo, mais progressivo e jazzístico, fazendo deste um “clássico obscuro” do jazz prog da Alemanha e quiçá do mundo, se não fosse essa grande banda reconhecida pelos seus grandes serviços a música.

 Nota-se com veemência uma guitarra mais violenta, com riffs poderosos e lisérgicos, com saxofones tocados de forma frenética, com longos solos, com uma “cozinha” sinérgica, com bateria ao estilo “jazzy” e baixo pulsante e hipnótico. Flauta e saxofone trazem uma levada mais improvisada com elementos de jazz, folk, hard rock, progressivo, uma verdadeira combinação instrumental que beira à perfeição.

O Out of Focus neste trabalho marcou uma etapa importante na história do movimento krautrock na Alemanha, uma versão mais complexa, intricada, sofisticada, era o florescer do rock progressivo genuíno tendo nesta banda e álbum o seu ponto de partida.

“Out of Focus” foi gravado no estúdio Bavaria, em junho de 1971 e a formação da banda neste álbum tinha: Remigius Drechsler na guitarra, Hennes Hering no órgão e piano, Moran Neumuller saxofone, flauta e primeira voz, Stephan Wisheu no baixo e Klaus Spori na bateria.

O álbum começa com a faixa “What Can A Poor Boy Do (But To Be A Street Fighting Man)” mostrando a que vinha o Out of Focus com um poderoso e vigoroso jazz fusion com uma levada hard, com um destaque excepcional para o saxofone.

"What Can a Poor Boy do (But to be a Street Fighting Man)"

It’s Your Life” a banda diminui o ritmo com uma balada de atmosfera psicodélica com uma temática meio folk, com a predominância da flauta. Um vocal introspectivo, melancólico, sombrio, com um dedilhado delicado ao fundo de um violão acústico. Linda música com "tonalidades" folk.

"It's Your Life"

“Whispering” tem um elemento obscuro, psicodélico, com o indefectível jazz fusion e um hardão poderoso com solos avassaladores de guitarra, mostrando passagens de ritmo suaves e pesadas, um verdadeiro exemplo de prog rock.

"Whispering"

“Blue Sunday Morning” é outro destaque do álbum com flautas, órgão de igreja e narrações sinistras na canção, dando um toque obscuro e soturno a música em uma espécie de ritual sonoro.

"Blue Sunday Morning"

Já “Fly Bird Fly” mostra toda a beleza sonora que o Out of Focus é capaz de produzir. Uma balada linda e viajante ao estilo jazzístico com uma flauta transcendental. Uma faixa hipnótica, sem dúvida.

"Fly Bird Fly"

E fecha com “Television Program” que tem a mesma proposta que a faixa anterior com vocais falados, psicodelia, viagem lisérgica e temas complexos bem ao estilo prog rock.

"Television Program"

Após a separação do Out of Focus Remigius Dreschler foi para o Embryo por um tempo antes de formar o seu próprio projeto, o “Krontrast”. Dreschler define, após entrevista que concedeu ao site “It’s Psychedelic Baby Magazine” os seus momentos no Out of Focus:

“Houve momentos bons e momentos difíceis, mas no final foi uma vida boa, envolvente e intensa. Tudo está misturado em meus sentimentos em uma só coisa e não consigo realmente diferenciar. Nada foi perfeito, mas houve muitos momentos absolutos e não tenho nenhum sentimento de orgulho, o que me pareceria ridículo. Ter contribuído um pouquinho para a história da música, se é que contribuiu, é maravilhoso o suficiente. Mantivemo-nos fiéis a nós mesmos tanto quanto possível e seguimos o fio condutor que cada um tem dentro de si, o que na minha opinião é a melhor coisa que alguém pode fazer de qualquer maneira.”

A banda merecia mais crédito pela sua música arrojada, vanguardista e importante para a história do krautrock alemão e do rock progressivo mundial. Definitivamente o Out of Focus estava à frente do seu tempo, mostrando que a música não tem limites, amarras e é a personificação da liberdade criativa, enquanto manifestação artística.




A banda:

Remingius Drechsler na Guitarra, Stylophone, Tenor Saxofone, Flauta e Vocal

Hennes Hering no Piano e Teclado

Moran Neumüller no Vocal, Soprano Saxofone.

Klaus Spöri na Bateria

Stephen Wishen no Baixo

 

Faixas:

1 - What Can a Poor Boy Do

2 - It's Your Life

3 - Whispering

4 - Blue Sunday Morning

5 - Fly Bird Fly 

6 -Television Program



"Out of Focus" (1971)





















 






 










Black Widow - Demons of The Night Gather To See Black Widow (1970)



O pioneirismo do BLACK WIDOW transcende o occult rock. Os primeiros trabalhos dessa excelente banda inglesa fortalece a tese de que o Black Widow também tem a sua pedra fundamental calcada no rock progressivo. Uma banda que seguramente prestou grandes serviços graças ao seu rock teatral, ocultista, perigoso, uma música sedutora, com muito jazz rock, blues, hard. Enfim, era uma banda versátil, que não se prendia a estereótipos. 

O Black Widow foi formado em 1969 na cidade de Leicester, Na Inglaterra, após o fim da banda chamada Pesky Gee! E aqui vale uma curiosidade, no mínimo, inusitada: quando o Pesky Gee! A banda foi formada, em meados dos anos 1960 e tinha como base sonora o soul music e durante as suas apresentações, a banda foi tendendo para um estilo mais experimental, mais progressivo que, naquela época, ainda estava em formação, era embrionário.


Pesky Gee!

"Exclamation Mark" (1969)

Como Black Widow a banda lançou o que seria o seu disco mais conhecido e influente e que respeita as arestas de sua essência, o “Sacrifice”, de 1970. Nascido na época de bandas como Coven, Blue Oyster Cult e Black Sabbath, certamente é a mais injustiçada delas e também a mais diferenciada o que provavelmente tenha feito desta a menos conhecida entre as outras bandas que tem uma veia mais hard e heavy rock. 

Mas por serem oriundos da região de Leicester, eles acabaram sendo absorvidos pela cena mais pesada, sobretudo pelo teor de suas letras e postura teatral nos palcos que gerou muita polêmica e escândalo entre o público e opinião crítica, demasiadamente conservadora, da época. Mas incluo álbuns como “Sacrifice”, por exemplo, como um dos mais influentes do rock progressivo, com suas melodias intricadas, complexas, passagens rítmicas de rara beleza sonora. 

"Sacrifice" (1970)

O Black Widow era diferente dos demais, era progressivo, hard prog, mas com a temática típica das bandas de heavy rock. Vou falar de um registro ao vivo da banda raro, que fora resgatado nos confins da história mofada e antiga do rock pela Mystic Records e se chamou “Demons of The Night Gather To See Black Widow” de 1970. 

Esse show, de uma TV alemã, foi relançado em formato CD e DVD em 2008. O set list do show é baseado no disco “Sacrifice”, tocando todas as faixas do álbum com direito a efeitos visuais anestesiantes, psicodélicos e hipnóticos, bem como cenas de rituais de sacrifício, muita teatralidade. 

Demons of The Night Gather To See Black Widow (1970)

A banda na época era formada por: Kip Trevor nos vocais, Jim Gannon na guitarra, Zoot Taylor nos teclados, Bob Bond no baixo, Clive Jones na flauta e saxophone e Romeo Challenger na bateria. 

Black Widow

“In Ancient Days” começa com um teclado ameaçador, obscuro, fica mais pesado, cadenciado e depois com um sax nervoso com uma levada jazzística com uma dança do vocalista como se estivesse sendo possuído por uma música poderosa.

"In Ancient Days"

“Way to Power” é mais alegre, pulsante, mas que abre caminho para a clássica e horripilante “Come to The Sabbath”, um clássico absoluto e obscuro do occult rock com generosas pitadas de rock progressivo de vanguarda e jazz rock que evoca que clama para um peso de hard prog alucinante. 

"Way to Power"


"Come to the Sabbath"

“Conjuration” tem no sax o seu destaque bem como nos teclados. O protagonismo do jazz rock está nessa música, cadenciada, obscura, ameaçadora, poderosa. “Conjuration"  é a porta de entrada para a bela e inebriante balada “Seduction”, que te atrai com o vocal suave e o instrumental leve com uma pegada mais jazz, meio bossa nova com a parte teatral e a mulher sendo atraída por um ritual de sacrifício e algo de apoteótico. “Attack of the Demon” é uma porrada hard prog, raivoso, mas virtuoso, complexo, intricado, com riffs de guitarra agressivos com solos diretos, mas consistentes e que fecha com a não menos pesada “Sacrifice”, um belo exemplo de hard prog de qualidade, com alternâncias rítmicas excelentes e com muito peso, mostrando o frenesi e o quão a música é caótica.

Medley "Conjuration", "Seduction", "Attack of the Demon" e "Sacrifice"

Eu sempre me questionei o motivo pelo qual o Black Widow não ter recebido o devido crédito pelos grandes e valorosos serviços prestados ao rock progressivo, por exemplo. O rótulo pode ser fatal para algumas bandas, receber o famigerado "selo" de banda satânica e subversiva nos palcos pode ter sido uma tiro na culatra para o Black Widow, diante, sobretudo, de uma estrutura de sociedade extremamente conservadora e que demoniza, com o perdão da analogia, todas as formas, as manifestações artísticas.

Mas não podemos negligenciar a importância do Black Widow para o heavy metal e o black metal, por exemplo, não pelo aspecto sonoro, mas pelo apelo estético e conceitual de suas músicas. É inaceitável o quanto essa banda tenha sido tão influente, em várias vertentes do rock, sem receber os louros do seu árduo e persistente trabalho nos sombrios anos 1970. Essa apresentação corrobora, em sons e imagens, o quão esta banda foi importante para o rock nos seus aspectos sonoros, culturais e comportamentais. Que o seu nome seja perpetuado!




A banda:

Kip Trevor no Vocal
Clive Jones no Saxofone e Flauta
Jim Gannon na Guitarra
Zoot Taylor nos Teclados
Geoff Griffith no Baixo
Clive Box na Bateria

Participação de:

Astaroth a Dançarina


Faixas:

1 - In Ancient Days
2 - Way to Power
3 - Come to the Sabbat
4 - Conjuration
5 - Seduction
6 - Attack of the Demon
7 - Sacrifice