sexta-feira, 9 de maio de 2025

Medusa - Medusa (1978)

 

Eu não preciso dizer que este reles e humilde blog dedica-se a dar luz ao rock obscuro, o nome já denuncia isso. Trazer à tona as bandas obscuras e raras é o mote desse site. A banda que falarei hoje empunhará a temática de forma eloquente, porém parte dos músicos que a conceberam gozaram de notório sucesso em suas carreiras.

Para muitos os dois músicos que apresentarei criaram essa banda com o intuito de buscar novos mercados que não fosse do habitual Jazz-Rock Fusion que faziam parte e eram qualificados. Falo de John Lee e Gerry Brown, falo também da banda norte americana MEDUSA. Antes de falar um pouco da banda, torna-se relevante falar das mentes por detrás do projeto “Medusa”, principalmente dos seus currículos invejáveis.

Gerald D. Brown, conhecido como “Gerry Brown”, nascido na Filadélfia, Pensilvânia, é um baterista renomado de jazz e já tocou com os baixistas Stanley Clarke e, claro, John Lee. Foi membro da banda do exímio pianista, também de jazz, Chick Corea e esteve na banda Return to Forever, banda esta que Corea também esteve.

Brown trabalhou também com Phil Collins, Julee Cruise, Roberta Flack e Marvin Gaye, além de ter sido baterista de turnê de Steve Wonde por muitos anos. Ele também trabalhou na Alemanha.

John Gregory Lee, conhecido como “John Lee”, nascido em Roxbury, Massachusetts, é um baixista, engenheiro e produtor de jazz. Fundou a “Jazz Legacy Productions” e a “Alleycat Studios”, com sede em West Orange, Nova Jersey.

Lee se apresentou em Nova Iorque no início dos anos 1970, com Joe Henderson Pharoah Sanders e o Max Roach Quartet, antes de se mudar para a Europa em 1972, onde conheceria Gerry Brown.

Gerry Brown e John Lee

Foi a partir desse momento que o elo artístico de Lee e Brown aconteceria. Os dois começaram a trabalhar juntos na banda de fusion do flautista holandês Chris Hinze, “The Chris Hinze Combination”. E, em 1974 lançariam o seu álbum de estreia, chamado “Infinite Jones".

"Infinite Jones" (1974)

Em 1975, John Lee juntou-se ao Eleventh House de Larry Coryell, permanecendo até 1977, e foi ouvido em "Motherland" de Earl & Carl Grubbs, "Hip Elegy" de Joachim Kuhn, "Esoteric Funk" de Hubert Eaves, "New Love" de Carlos Garnett, "However" de Jasper Van't Hof, "Poussez! Leave That Boy Alone" e "Symphony Sessions" de Dizzy Gillespie.

Lee foi baixista de Dizzy Gillespie de 1984 a 1993. Ele se apresentou e gravou no Dizzy Gillespie Quintet, Dizzy Gillespie Big Band, Dizzy's United Nation Orchestra, Dizzy Gillespie All-Stars, Dizzy Gillespie All-Star Big Band e Dizzy Gillespie Afro-Cuban Experience.

Lee também trabalhou nas bandas de Gary Bartz, Jon Faddis, Aretha Franklin, Roberta Gambarini, Roy Hargrove, Jimmy Heath, Gregory Hines, Claudio Roditi, Sonny Rollins e McCoy Tyner.

Depois do debut, de 1974, “Infinite Jones”, a parceria de Gerry Brown e John Lee, continuou forte e frutífera com mais lançamentos como “Sunrise”, de 1975, “Still Can’t Say”, de 1976, “Chaser”, de 1979, “Fancy Glance”, de 1979, com a participação de Stu Goldberg, um pianista americano de jazz, entre outros trabalhos.

Entre esses álbuns que Lee e Brown lançaram nos anos 1970, surgiu aquele que falarei, “Medusa”, de 1978. Esse trabalho foi introduzido ao mercado com a nítida tentativa de buscar um público mais diversificado, tendendo para o AOR. Neste álbum vislumbra-se uma pegada mais para o rock, diria o hard rock, soul music e até mesmo para o funk. Uma miscelânea sonora pouco improvável, mas que surtiu um efeito bem interessante e até mesmo arrojado. Eles se reuniram em Nova Iorque após assinar contrato com a Columbia Records (Zembu Records) e começaram a gravar.

Arrojado e talvez, para muitos conservadores, como algo delirante, pois nota-se que John Lee e Gerry Brown queria criar um nicho dentro de uma concepção, de um conceito comercial, de uma música diversificada, plural, que pudesse contemplar vários públicos. É notável a musicalidade em “Medusa” e o risco também. O álbum foi produzido por John e Gerry com a ajuda de Skip Drinkwater para a Zembu Records, subsidiária da Columbia.

A formação da banda, quando gravou e lançou “Medusa” trazia, além de Gerry Brown na bateria e percussão e John Lee no baixo, Eric Tagg nos vocais, Charyl Alexander também nos vocais, Jim Mahoney na guitarra, James Batton nos vocais e teclados, Darryl Thompson, na guitarra elétrica e acústica. Contou com algumas participações como David Sancious no órgão e sintetizador, Bobby Malach, no saxofone e Peter Robinson no ARP Odyssey on.

O álbum é inaugurado com a faixa “Soul Free” que proporciona logo ao ouvinte o peso da bateria, o hard rock mais refinado, mas com uma pegada AOR, soando radiofônico, pop. Traz o “classic rock”, o sinfônico personificado nos teclados tocados freneticamente, repleto de energia. Um misto de musicalidade fina, mas acessível. Solos de guitarra animados, solares corroboram a sua condição, dando-lhe o peso identificado. Já começa intenso e animado.

"Soul Free"

Segue com “Heartburn” que chuta a porta com um riff pegajoso, típico do hard rock dos anos 1970! A diversidade da faixa anterior não se encontra em “Heartburn”, que, de forma avassaladora, abre as cortinas do velho e bom hard rock. Os riffs são elegantes e atraentes e nos faz bater a cabeça, mas dançar também. Os vocais, para seguir a proposta, vem rasgado, quase gritado. Solos de guitarra são bem elaborados e põe a música em seu lugar: pesada!

"Heartburn"

"Second-Hand Brain" traz de volta o arrojo de seus músicos tentando diversificar e mesclar os sons. E consegue com êxito! Aqui se percebe, com nitidez, o heavy rock com uma dosagem bem temperada de R&B. Nota-se a produção excelente, a qualidade das melodias. É dançante, é pesado, os teclados são arrebatadores, enérgicos, os solos de guitarra, embora simples e diretos, são solares e conduz o formato animado e diversificado dessa faixa.

"Second-Hand Brain"

"Our Love Is Surely Gospel" começa com uma pegada mais voltada para o progressivo sinfônico, mesclado com um balanço, extremamente dançante e um vocal límpido e bem executado. Há um toque de exaltação nessa música que talvez se confirme o “Gospel” no nome da faixa. É cheia de luz e vida. Os instrumentos de sopro entram discretamente, como o saxofone, e deixa tudo mais rico e diversificado sonoramente falando.

"Our Love Is Surely Gospel"

A faixa título chega, “Medusa”, com riffs poderosos de guitarra, que a torna pesada e que me remete a um Southern Rock com uma pitada bem generosa de R&B e soul music. Se tornou inevitável lembrar de Trapeze no auge, com Glenn Hughes. Aqui não se enquadraria em uma faixa que tende para o AOR, uma música comercial. Ela é ousada e pouco compreendida para um público menos exigente.

"Medusa"

"Hit And Run Lover" começa animada e linda com doses cavalares de piano e riffs de guitarra. O hard rock, com uma pegada mais radiofônica, se mostra aqui novamente. O vocal, com um viés mais R&B se faz presente também. Esse é um risco adorável que a banda assumiu fazer. Um cantor de R&B cantando hard rock. E falando no hard rock, o solo de guitarra chega e vem poderoso, trazendo, ainda mais, textura de um hard rock mais comercial.

"You Leave Me Hangin'" tira um pouco o pé do freio e entrega um pouco de jazz rock calcado no piano e na “cozinha” rítmica simples, mas trazendo uma camada bem forrada de balanço no formato balada rock. O vocal retorna aqui com uma limpidez incrível, límpido, delicado, sem exageros, mas eloquente pela sua beleza, juntamente com um backing vocal que nos remete a música negra. Fecha lindamente com solos de guitarra e saxofones viajantes.

"You Leavin Me Hangin"

E termina o álbum com "Mr. C.T." que traz de volta o hard rock que logo se inicia com solos de guitarra e bateria marcada e pesada. Um hard rock instrumental com belíssimos solos de guitarra, com passagens sinfônicas do teclado que dá o tom de prog rock em discretos momentos.

"Mr. C.T."

Infelizmente a Columbia Records assinou com a banda com base no valoroso histórico de jazz fusion de Gerry Brown e John Lee, as mentes por detrás do Medusa. Mas, como podemos ouvir em “Medusa” o material é extremamente diversificado e arrojado em sua sonoridade, mais orientada para o rock clássico, para o hard rock e nuances de soul music, R&B e até mesmo para o funk com pegadas bem dançantes e pesadas. Essa era a atenção evidente de Brown e Lee, que decidiram sair um pouco de seus trabalhos voltados para o jazz fusion.

Só não se sabe exatamente se esse projeto foi delineado, de forma detalhada, com os executivos da Columbia. Se não o fez, certamente não agradou muito a gravadora que não fez um trabalho de difusão do projeto, muito ajudado também pela banda que não decidiu promovê-lo por intermédio de apresentações.

Então não era de se esperar de que o álbum tenha passado despercebido entre o mercado da música, entre os fãs, caindo na mais total obscuridade, ficando esquecido, nas poeiras do rock, até ser redescoberto, muito graças a reputação de Lee e Brown, na cena jazz fusion, e por conta das redes sociais, da internet.

A dupla Gerry Brown e John Lee retornaria, no ano seguinte, mais precisamente em 1979 para gravar o álbum “Chaser” que, de alguma forma continuou com a pegada jazz fusion, crossover, funk e soul e hard rock, tanto que contou, inclusive, com alguns músicos do Medusa.

"Chaser" (1979)

“Medusa” foi lançado inicialmente pela Columbia Records, no Canadá, onde se criou uma confusão da banda ser daquele país, sendo, claro, concebida nos Estados Unidos, onde o álbum foi lançado no mesmo ano de 1978. A CBS lançaria o álbum também pela Europa, por alguns países de lá, em 1979 e o relançando, também em 1979, pelos Estados Unidos, pela Columbia Records.

O único álbum do Medusa pode não ter tido o reconhecimento do público, pode ter sido considerado esquisito, estranho, com a sua diversidade sonora pouco ortodoxa, mas é exatamente por conta desse arrojo, trouxe um projeto audacioso e solar. Um clássico obscuro e improvável!




A banda:

Eric Tagg - vocal

Charyl Alexander - vocal

Jim Mahoney - guitarra

James Batton – teclados e vocal

Darryl Thompson – guitarra acústica e elétrica

John Lee – baixo

Gerry Brown – bateria

 

Com:

David Sancious - sintetizadores (1,3,4,5,7,8), órgão (1,6)

Bobby Malach – Tenor Saxofone (4)

Peter Robinson - ARP Odyssey on (8)

Eef Albers – Guitarra acústica e elétrica

 

Faixas:

1 - Soul Free

2 - Heartburn

3 - Second-Hand Brain

4 - Our Love Is Surely Gospel

5 - Medusa

6 - Hit And Run Lover

7 - You Leave Me Hangin'

8 - Mr. C.T.



"Medusa" (1978)