A razão da existência desse
blog, além de trazer histórias de bandas de rock e seus mirabolantes álbuns, é
basicamente subverter certas “conveniências” do rock e o glamour, muitas vezes
inatingível e pouco palpável. É trazer fatos e casos que fogem daquele formato
óbvio das cenas e das suas músicas e culturas comportamentais das épocas.
O custo com isso sempre é o
afugentamento daqueles que não entendem essas subversões, a rejeição ao
obscuro, ao sombrio vilipendiado, aos marginalizados do rock, aos fracassados.
Fracassados? Sim, mas criativos! Ousados!
E na Alemanha, apesar da
difusão do experimentalismo e do minimalismo do krautrock, tínhamos, sem
dúvida, algumas bandas que subverteram (olha a palavra de novo!) ao que se
fazia na segunda metade dos anos 1960 e início dos anos 1970. Podemos elencar
um bom número delas, mas preciso destacar uma banda, pouco conhecida, mas que
se esquivou do krautrock típico daquela longínqua época: falo da banda
REACTION.
Definitivamente o Reaction
estava totalmente na contramão do que os seus contemporâneos estavam fazendo e
que, dentro do underground, estava ganhando alguma notoriedade, sobretudo em
terras inglesas. Talvez por isso seu único álbum, lançado em 1972, homônimo,
não tenha conquistado o interesse da crítica especializada, inclusive do
público.
E com esse cenário de total ostracismo,
a consequência seria o fim precoce e iminente e foi o que aconteceu. Mas
esperem, caros e estimados leitores, não o farei agora, embora eu não tenha
conseguido encontrar muito material de referência para construir esse texto,
afinal, pouco se sabe sobre o Reaction, mas tentarei trazer o máximo que pude
encontrar sobre essa seminal banda.
Uma seminal banda que, com seu
álbum, apesar de cru, poderoso, envolto em hard blues potente e agressivo, não
trazia nada de novo à época, embora tenha se deslocado do que as bandas alemãs
estavam fazendo, mas se assemelhava e muito com o que bandas inglesas como o Cream
e a americana radicada na Inglaterra, o Jimi Hendrix Experience, estavam
tocando.
O blues eletrificado e calcado no hard rock era o cerne sonoro do alemão Reaction. Mas não trazia a psicodelia que ainda estava arraigado em Hendrix e na banda do “Deus” Clapton. Era um som cru, sujo, pouco sofisticado, mas solar e pesado, um som potente, vívido, altivo e intenso. Ah e para se assemelhar, ainda mais, às clássicas bandas pesadas aqui mencionados, o Reaction também era marcado por um “power trio”. Eram eles: Peter Braun, na guitarra e vocal, Luigi de Luca, no baixo e Holger Tempel na bateria.
Era assim: formação simples,
básica do rock n’ roll para uma música suja, despretensiosa e pesada, sem
sofisticação. Para muitos é incompetência sonora, mas para este que vos fala é
puro ouro, é o rock n’ roll na sua essência. Esse era o Reaction.
O Reaction foi formado na
cidade de Hamburgo, cidade proeminente do rock n’ roll alemão nos anos 1960 e
1970 e na primavera de 1972 nasceria seu primeiro e único álbum, “Reaction” com
uma capa muito curiosa e inusitada: um rato em cima de um cacto azul. Licenças
poéticas à parte o nome da banda, Reaction, é personificado na capa: a reação
de um rato em cima de um espinhento cacto. A produção ficou a cargo de Gerd
Müller, com músicas do Reaction e letras de Peter Braun. O álbum foi lançado
pelo selo Polydor.
O álbum é inaugurado com a
faixa “Mistreated” e o blues rock pesado e primitivo já se revela nos primeiros
acordes, mas os riffs de guitarra denunciam também a pegada hard rock. É
pegajoso, é pesado e intenso. A bateria tem uma vibe meio jazzy, bem dançante. No
final da música o hard rock toma forma e toma conta das ações instrumentais e
fecha pesada e agressiva, com solos de guitarra de tirar o folego.
Na sequência temos “What's
Going On Around?” que já inicia com o pé na porta sem dó nem piedade! O hard
rock puro e genuíno se revela. Os riffs de guitarra são altos e envolventes. Um
peso fora do normal que cativa e nos faz “bater a cabeça” alucinadamente. O
proto metal tem contornos evidentes, inclusive. Vocais intensos e emotivos,
quase dramáticos são ouvidos e entram em total sintonia com o “humor” da faixa.
Espetacular!
“Time” continua na linha a
linha hard rock e com muito, muito peso! Riffs poderosos de guitarra se alinham
a bateria em uma batida seca, dura e impiedosa, mas vai ganhando camadas mais
cadenciadas e em uma variância rítmica, vai se revelando, não somente pesada e
despretensioso, mas espirituosa. Mas não vai pensando, caro leitor, que o peso deixa
de protagonizar. O solo de guitarra em um “duelo” com a cozinha rítmica faz do
aparato instrumental uma hecatombe sonora. “The Mask” é praticamente uma
sequência da faixa anterior, mas cheia de groove, solar, dançante. O vocal aqui
é mais gritado e por vezes melancólico e dramático e o final e de tirar o
fôlego.
“Funeral March of a Marionette”
começa com um balanço envolvente, trazendo uma “cozinha” rítmica repleta de
talento e totalmente entrosada: bateria marcada e cheia de ginga, com um baixo
pulsante e vibrante. O hard rock não perde a sua majestade e se revela vivo e
sedutor.
“My Father's Son” remete a um
pouco da lisergia, da psicodelia pesada, com destaque para a guitarra ácida e
pesada, com solos envolventes e intensos. É pesada, traz o psych rock, mas traz
também algo meio comercial e acessível, mas sem soar ruim, claro.
“Live is a Wheel” traz de
volta o hard rock, traz de volta o heavy rock. A base é a bateria marcada e de
batida agressiva, os riffs de guitarra igualmente pesada e tocada no mais alto
decibel possível. Os vocais acompanham, sendo cantados em alto alcance e por
vezes gritados, corroborando o peso da faixa. O heavy rock, o proto metal ganha
corpo!
“Keep On Trying” começa
igualmente caótico. Solos e riffs de guitarra se entrelaçam com a bateria
pesada, com viradas excelentes, além de um baixo pulsante e repleto de groove e
peso. As mudanças de ritmo dão as caras e o peso e a cadência revezam. E fecha
com “On The Highway” que traz de volta a veia blueseira dos caras do Reaction.
Um baixo, além de pulsante, é cheio de groove e balanço, sedutor. Mas aqui o
hard rock também protagoniza e deixa o seu tempero pesado principalmente nos
riffs de guitarra.
“Reaction” teve alguns relançamentos ao longo dos anos, não foram muitos, é bem verdade, e ficou limitado entre selos alemães. Além do lançamento original da Polydor, a gravadora Little Wing Of Refugees lançaria, em 1990, no formato LP, o álbum do Reaction. Em 2013, agora no formato CD, seria lançado pelo selo Zeitgeist e pelo selo Living in the Past, igualmente no formato CD.
As poucas e limitadas cópias
faz deste álbum raro e difícil de encontrar e quando se encontra para a venda,
os valores são exorbitantes! O total ostracismo e desinteresse que a banda
sofreu com seu único lançamento, em 1972, se tornaria cult atualmente. São as
voltas que o mercado fonográfico dá. Reaction pode não ter produzido um álbum
original, mas sem dúvida destoou dos seus contemporâneos alemães dos anos 1970 com
um álbum cru, primitivo, agressivo e pesado.
A banda:
Peter Braun na guitarra, vocal
Luigi de Luca no baixo
Holger Tempel na bateria
Faixas:
1 - Mistreated
2 - What's Going on Around
3 - Time
4 - The Mask
5 - Funeral March of a
Marionette
6 - My Father's Son
7 - Life Is a Wheel
8 - Keep on Trying
9 - On the Highway