sábado, 20 de setembro de 2025

A Euphonious Wail - A Euphonious Wail (1973)

 

A psicodelia fervia na costa californiana em meados para o fim dos anos 1960. Bandas como Jefferson Airplane, Quicksilver Messenger Service e tantas outras ditavam as regras sonoras e culturais daquela região e de todos os cantos dos Estados Unidos. Era a voz do rock n’ roll, que vibrava com o experimentalismo e as viagens lisérgicas, com guitarras ácidas, o som, por vezes, dançantes. Era o “flower power”, era a cultura do “paz e amor” e contra a guerra do Vietnã e outros dogmas sociais.

Não podemos negligenciar também que dentro dessa cena que, para muitos pairou na controvérsia em todos os aspectos, que variam da própria música, como no comportamento, haviam bandas que ousaram trazendo sonoridades arrojadas e diferentes que, por consequência, flertaram com a marginalidade, caindo no ostracismo.

Temas sombrios, de sonoridades pesadas e densas, tingiam de uma realidade nua e crua os escombros de uma sociedade pseudo conservadora e tornando-a palpável na sua música, tendo como exemplo clássico, bandas como Black Sabbath, The Stooges, Alice Cooper, que tinha um som cru, seco, poderoso, pesado e letras horripilantes, paranormais e ocultas.

Por outro lado, bandas assumiram outras vertentes mais ousadias, flertando, não só apenas com o som que dominava a costa da Califórnia na segunda metade dos anos 1960, mas também absorveu outros estilos que estavam em voga já nos anos 1970, sobretudo no início daquela década, como o hard rock e o rock progressivo. Posso, caros e estimados leitores, citar uma banda que diria ser seminal: A EUPHONIOUS WAIL.

A Euphonious Wail

Claro que poucos conhecem diante do arsenal de bandas clássicas existentes na transição das décadas de 1960 e 1970, mas esta banda que apresento trazia alguns atrativos que realmente são dignos de atenção, no mínimo. A banda é produto de seus primórdios e do período que produziu seu único álbum, de 1973, autointitulado.

Mas antes de falar do seu único trabalho lançado, falemos um pouco sobre a banda. O A Euphonious Wail surgiu em Santa Rosa, na costa da Califórnia, no ano de 1968. O nome da banda veio da inspiração da música “The Euphonious Whale”, de Dan Hicks. Durante os cinco anos que separaram o seu surgimento e o lançamento oficial de seu álbum, a banda se apresentou localmente abrindo para bandas como Iron Butterfly e Steppenwolf.

As apresentações da banda eram animadas e por vezes explosivas e a sua sonoridade pouco deslocada do que se fazia à época parece ter sido um dos motivos pelo qual alguns selos não tenham contratado o A Euphonious Wail para a gravação de seu primeiro álbum. Mas haviam algumas gravadoras que assumiam o “risco” e traziam à tona essas bandas, digamos, arrojadas.



E foi assim que a Kapp Records, graças à essas apresentações, decidiu levar o A Euphonious Wail para o estúdio para gravar “A Euphonious Wail”, em 1973. A banda era composta por Doug Hoffman (bateria), Bart Libby (teclados), Suzanne Rey (vocais), Steve Tracy (guitarra, vocais) e Gary Violetti (baixo).

Alguns críticos classificam a música do A Euphonious Wail como hard prog e não deixa de ser uma realidade, pois, como disse, a banda flertou com várias vertentes do rock que estavam em voga e também fora de moda, como o hard rock, profundamente evidenciado pelo som da guitarra Steve Tracy, bem como o rock psicodélico, graças a sua origem, além do próprio rock progressivo e até mesmo nuances de soul music garantidos pelo vocal feminino de Suzanne Rey.

O fato é que a banda era difícil de se rotular e o seu álbum corrobora essa condição, trazendo um caldeirão de um alimento sonoro com várias camadas e temperos. Bom amigo leitor se gostas de bandas versáteis e pouco estereotipadas, aposte em A Euphonious Wail e seu único trabalho, de 1973.

O álbum foi co-produzido e projetado no MCA Recording Studios por Brian Ingoldsby, que trabalhou com Joe Cocker, Jimmy Web, Biff Rose, Linda Perhacs, Fanny Adams, Elton John entre outros. O enigmático desenho da capa do álbum foi feito por Michael Hawes e dependendo de como você olha para ele, se vê algo completamente abstrato ou até mesmo obsceno. O fato é que essa arte um tanto quanto surrealista traz certo apetite para a audição deste belo álbum.

O álbum é inaugurado com a faixa “Pony” que tem uma incrível introdução de baixo bem dançante ao estilo soul e dessa forma a música vai se desenvolvendo, com essa pegada, mas traz também algo de psych e hard rock, com a predominância do órgão, dos teclados e de riffs pesados de guitarra. O final é pesado, o “duelo” entre guitarra e teclado é espetacular! Psych, rock e soul na medida certa e com uma dose bem inusitada e ousada.

"Pony"

Segue com “We've Got the Chance” continua na pegada mais soul music com “pitadas” mais rock! Definitivamente a guitarra traz o lado rock às músicas. As teclas, mais discretas, não negligenciam, ainda assim, o seu protagonismo. Aqui domina o vocal feminino de Suzanne Rey que se mostra alto e vívido. A música vai ganhando “corpo”, tendendo, cada vez para o hard rock, os solos de guitarra são de tirar o fôlego e corrobora o seu lado mais pesado.

"We've Got the Chance"

“Did You Ever” tira o pé do acelerador e mostra a primeira balada do álbum. A bateria cadenciada e lenta traz lembranças de jazz melancólico e introspectivo, os teclados lembram um psych, o vocal masculino é límpido e transparente. O solo de piano é simplesmente espetacular e te alça a voos altos e contemplativos.

"Did You Ever'

Na sequência tem “When I Start to Live” que é introduzida com um órgão em camadas introspectivas e psicodélicas e assim continua até irromper em uma sonoridade mais solar e animada, agitada, com alguma velocidade. Bateria pesada e cadenciada e baixo mais pulsante mostra uma “cozinha” rítmica coesa e cheia de talento. Guitarra ácida e pesada revela, claro, o lado pesado da faixa.

"When I Start to Live"

“F#” entrega o lado mais raivoso do álbum! Aqui o hard rock reina absoluto! Bateria pesada, baixo distorcendo, riffs pegajosos de guitarra que desagua em solos pesados e agressivos, sem contar com os vocais que seguem a “proposta” da música, sendo gritados e altos. Espetacular!

"F#"

“Chicken” dá sequência a porrada sonora da faixa anterior e aqui o baixo protagoniza sempre pulsante e galopante, cheio de groove, com pancadaria agressiva e pesada da bateria, teclados energéticos e riffs e solos de guitarra de tirar o fôlego. Nessa faixa a performance instrumental é exuberante até o vocal de Suzanne entrar, trazendo mais balanço à faixa.

"Chicken"

“Night Out” continua na mesma vibe das músicas anteriores: pesada, animada, dançante, mas com uma característica mais radiofônica. Percebe-se, nessa faixa, uma pegada mais acessível, mas não menos interessante que as demais. O destaque fica para os riffs e solos mais diretos de guitarra!

"Night Out"

“Love My Brother” é mais cadenciada e calcada em uma levada mais soul rock. É contagiante a música, dançante e solar. A seção rítmica ganha destaque e o peso da guitarra traz o lado “encorpado” da música. Baixo cheio de groove, teclados ao estilo Deep Purple. Música cheia de recursos e muito, muito versátil, mostrando a capacidade instrumental de seus músicos.

"Love My Brother"

E fecha com “I Want to be a Star” que retorna à calmaria da balada e a voz límpida e transparente de Suzanne Rey conduz a faixa para a beleza sonora que se revela. Dedilhados e solos de guitarra faz da música uma “gangorra” sonora, com várias mudanças rítmicas. Na metade da faixa o peso ganha evidência até finalizar brilhantemente.

"I Want to be a Star"

O único do A Euphonious Wail, que teve uma visualização mínima na carreira, quando a banda encerrou as atividades, logo após o lançamento de seu único álbum autointitulado, foi o tecladista Bart Libby que tocou no EP da banda britânica “Terraplane”, de nome “Arrives”, de 1981. Aparece também nos créditos do álbum de Francis Anfuso, “Who Will Tell Them?”, de 1986.

“A Euphonious Wail” teve alguns relançamentos, depois de seu oficial, ocorrido em 1973. O primeiro relançamento foi na Austrália, em 1994, pelo selo W.O.T.S.V Ltda, no formato CD. O segundo, pelo selo Media Arte, em 2012, por toda a Europa, também no formato CD e o último, até onde posso saber, aconteceu em 2013, no Japão, pelo selo Vivid Sound Corporation.






A banda:

Suzanne Rey nos vocais

Bart Libby nos teclados

Steve Tracy na guitarra e vocal

Gary Violetti no baixo e vocal

Doug Huffman na bateria e vocal

 

Faixas:

1 - Pony

2 - We've Got the Chance

3 - Did You Ever

4 - When I Start to Live

5 - F#

6 - Chicken

7 - Night Out

8 - Love my Brother

9 - I Want to be a Star




"A Euphonious Wail" (1973)