quinta-feira, 7 de abril de 2022

Goblin - Live 1978 (1978)

 


Eu não apreciava o rock progressivo italiano, eu não gostava e não me interessava pelo rock italiano. Não sei dizer o motivo, algo relacionado a uma pré-concebida percepção de que o rock não tinha absolutamente nada a ver com a Itália, apenas as massas, vinhos e o futebol, esses sim aprecio muito.

Mas como tudo na vida, como tudo na vida pode mudar e deve mudar, os meus primeiros contatos mais, digamos, assíduos com o rock da Itália, foram em eventos regados a música rock e muita cerveja e vinho com alguns amigos mais próximos que, de forma preocupada e carinhosa, que a minha introdução ao rock progressivo italiano se deu de uma forma mais intensa, ostensiva. Traçaram uma missão em me revelar as pérolas do país da bota.

Eu, de peito aberto e coração mais acalentado, me rendi a isso tudo, até por respeito e consideração aos meus amigos, inicialmente. O que, neste início, era algo protocolar, foi, aos poucos se tornando algo sentimental, uma espécie de amor, de sentimento foi construindo e o muro do preconceito, aos poucos, ruindo.

E o pilar desse momento importante foi uma banda de Roma chamada GOBLIN. Quando eu ouvi o som de textura complexa, com jazz rock, rock progressivo, doses experimentais e psicodélicas e o hard rock, foi me arrebatando, foi me tomando de assalto e me deixei levar a cada música, a cada álbum ouvido. As audições se tornava um prazer!

E quando comecei a ler a sua história e a parceria da banda com o cineasta italiano Dario Argento e que seus álbuns basicamente serviram de base sonora para os seus filmes de suspense e terror, se fechou o amor que irrompeu com a frenética audição de sua rica discografia.

O Goblin foi criado em 1972 por Claudio Simonetti e Massimo Morante, tecladista e guitarrista, respectivamente. Em 1973 Claudio Simonetti e Massimo Morante gravaram várias músicas e cantadas, com seu amigo/empresário Giancarlo Sorbello partiram para Londres onde contataram o engenheiro de som/produtor Eddie Offord famoso por ter gravado muitos discos do Yes, Gentle Giant e Emerson Lake & Palmer que, depois de ouvi-las, decidiu produzir a banda.

Goblin em 1975

Em 1974 entram na banda Fabio Pignatelli no baixo e Carlo Bordini na bateria, o nome escolhido para a banda é "Oliver" e eles voltam para Londres onde gravam novas músicas com a adição do cantor americano Clive Haynes, conhecido meses antes em uma estação do metrô londrino, juntos eles fazem vários shows por Londres.

No entanto Eddie Offord sai em turnê com o Yes e não tem mais tempo para seguir e produzir a banda, que volta para a Itália e mais tarde graças ao pai de Claudio, Enrico Simonetti, eles conseguem um contrato com a Cinevox Record.

A banda começa a gravar um álbum (que seria lançado mais tarde sob o nome de “Cherry Five”), e durante a gravação os propõe a Dario Argento que está procurando uma banda de rock para seu novo filme (Profondo Rosso).

"Cherry Five" (1974)

Depois de ouvi-los, o diretor imediatamente decide que eles gravem a trilha sonora de “Profondo Rosso” como intérpretes e arranjadores, mesmo que inicialmente a mesma trilha tenha sido confiada ao famoso jazzista Giorgio Gaslini que já havia começado a trabalhar no filme com a orquestra. 

Após algumas discussões com Argento, Gaslini deixa o filme e o diretor pede aos meninos, aos jovens músicos, que completem o trabalho e componham as peças principais. Com Walter Martino na bateria (no lugar de Carlo Bordini), a banda muda seu nome para “Goblin” e grava a trilha sonora do filme compondo as principais músicas: Profondo Rosso, Death Dies e Mad Puppet.

Na primavera de 1975 e depois oficialmente e contratualmente em 1976, Maurizio Guarini nos teclados e Agostino Marangolo na bateria se juntaram ao grupo, o Goblin produz o álbum “Roller” cujas canções foram posteriormente usadas como trilha sonora do filme “Wampir”, de George Romero em 1977. 

A formação em a época do “Roller” foi a seguinte: Maurizio Guarini, Agostino Marangolo, Massimo Morante, Fabio Pignatelli, Claudio Simonetti, a mesma formação com a qual a banda se apresentou ao vivo entre 1975 e 1976. Em 1977 o Goblin voltou ao caminho da composição de trilhas sonoras e em 1977 fez a música para o filme “Suspiria” de Dario Argento, certamente o álbum mais experimental da banda. Guarini deixa a banda enquanto trabalhava em estúdio para a concepção de “Suspiria”.

Em 1978 o Goblin volta ao sucesso fazendo a trilha sonora do filme “Zombi”, de Gorge Romero, o álbum tem ótima repercussão, vendendo principalmente na Europa, Japão e EUA. No mesmo ano a banda lançou “Il Fantastico Viaggio del Bagarozzo Mark”, um álbum conceitual progressivo sobre o tema das drogas e a primeira ópera da banda com canções cantadas por Massimo Morante. O álbum, mesmo estando entre os mais bem sucedidos de toda a carreira, não obtém o merecido sucesso e só com o passar dos anos é reavaliado pelo público e crítica, tornando-se cult.

E a partir dessa cronologia envolvendo os melhores álbuns do Goblin, a melhor “era” da banda, os anos 1970, falarei de um registro ao vivo obscuro à época, de um show que a banda realizou na cidade de Sanremo, de um festival conhecido naquela cidade em 25 de maio de 1978, divulgando o até então novo álbum de estúdio, o “Il Fantastico Viaggio del Bagarozzo Mark” e também por ocasião do MIMS.

E no track list o que prevalece são as faixas do “Bagarozzo Mark”, com algumas faixas dos outros trabalhos do Goblin, distribuídos em um show com quase 50 minutos de duração. O show foi lançado pela Cinevox em 2000 no CD duplo "The fantastic journey in the best of Goblin Vol. 1" , mas o encarte  indicava incorretamente que era uma gravação anônima de 1979. O álbum sai pela AMS/Cinevox e teve um nascimento muito conturbado com várias segundas intenções por parte da editora romana que acabou por impor algumas escolhas.

O “Live 78” foi o penúltimo show com a formação clássica e mais bem sucedida da banda, com Massimo Morante (guitarra, vocais), Claudio Simonetti (teclados), Fabio Pignatelli (baixo), Agostino Marangolo (Bateria), com o músico convidado Antônio Marangolo no saxofone. Maurizio Guarini, um segundo tecladista que entrou na banda para tocar em "Roller”, já havia deixado a banda no final de 1976.

O que torna essa apresentação rara e importante é o fato, entre outros, da banda, embora fazendo sucesso com suas trilhas sonoras para filmes de terror e suspense e álbuns de sucesso, eram as condições e os locais que a banda vinha fazendo seus poucos shows, em lugares de péssima infraestrutura, pequenos, como em boates, bares, etc. Então, o Goblin decidiu, por um tempo, não se apresentar ao vivo. Como curiosidade, na turnê do álbum “Suspiria”, a banda não fez mais do que um show promovendo o seu hoje clássico disco.

 O local foi em Turim, em 1977, a convite da TV italiana RAI em seus estúdios. Depois do referido show de 1977, o Goblin, a convite da Cinevox Records, tocou no início do ano de 1978 e somente em maio, surgiu um novo convite, o registro do qual versa essa resenha, do MIMS (Mercato Internazionale Musica e Spettacolo), em Sanremo, um evento de 7 dias feito para músicos e empresários de música.

O set list do show, curto e com duração de pouco mais de 48 minutos, conta com músicos dos álbuns “Roller”, “Profondo Rosso” e do até então, novo álbum, o clássico “Il Fantastico Viaggio del Bagarozzo Mark”, com 5 músicas no show.

O show começa com “Aquaman”, do álbum “Roller”, com um sinistro gotejamento e um belíssimo sax que descortina, logo depois, um trovão sonoro com toda a banda em seus respectivos instrumentos. Um belo trabalho desta grande música ao vivo.

Na sequência temos outra música do disco “Roller” chamada “Snip Snap” com uma introdução de teclado que descamba para um sinfônico bem obscuro e depois para improvisação bem jazzy. Demais!

“Profondo Rosso”, do disco de mesmo nome de 1975, uma grande música que certamente funciona ao vivo com aquela introdução inconfundível da guitarra e toda aquela atmosfera densa, ameaçadora e obscura como o bem sabe praticar o Goblin.

“Mark Il Bagarozzo”, do disco “Il Fantastico...”, de 1978, com destaque do vocal e uma bela performance ao vivo, bem pesada. Ainda do mesmo disco temos “Notte” com um vocal com um sussurro amedrontador é a síntese do Goblin.

“Opera Magnifica” é um hino do Goblin, grande versão ao vivo com o vocal altivo e poderoso fazendo da música uma das melhores escolhidas para o show.

E para fechar a animada “Un Ragazzo D'Argento” bem new wave, antes da new wave, bem dançante e eletrônica, uma bela música para fechar um show.

Embora o Goblin não seja uma banda tão rara e obscura, tema central deste humilde blog, esse show é uma síntese, a personificação do mesmo, pois fora gravado pela Cinevox, porém nunca lançado, até que em 2000 trouxe à luz, à tona essa preciosidade, esse show que entrega um Goblin em seu melhor momento. Altamente recomendado!

A banda:

Claudio Simonetti nos teclados

Massimo Morante na guitarra

Agostino Marangolo na bateria

Fabio Pignatelli no baixo

Guest: Antonio Marangolo no saxofone


Faixas:

1 - Aquaman

2 - Snip Snap

3 - Profondo Rosso

4 - Mark il bagarazzo

5 - Notte

6 - Opera Magnifica

7 - Le cascade di viridiana

8 - Un ragazzo d’argenta

 

Goblin Live at Sanremo (1978)




 





 


2 comentários:

  1. BLOG BÁRBARO!!! Resenhas espetáculares, irei divulgar e veja o meu: https://tuliofuzato.blogspot.com/2016/03/alphataurus.html

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    1. Grande Túlio, muito obrigado pelas palavras elogiosas, de carinho para com o meu blog. Fico feliz que tenha gostado. São comentários como esse que nos faz ter o estímulo necessário para continuar seguindo com esse trabalho tão prazeroso. Valeu!

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