A Itália tem as suas bandas
obscuras de progressivo e que são vilipendiadas e esquecidas nos porões do rock
n’ roll. Os subterrâneos do prog rock da Itália estão à margem das bandas
conhecidas e consagradas daquele país e se diferem não apenas pela sorte comercial,
mas também pelas questões sonoras.
Mas, por uma grande ironia, foram
responsáveis pelo nascimento do rock progressivo, moldando a música que atingiu
seu ápice em meados da década de 1970 e que até hoje vem atingindo contornos
contemporâneos graças ao arrojo e ousadia de músicos que respeitam a essência
dessa vertente sonora.
Uma das grandes bandas responsáveis por esse pioneirismo é o ANTONIUS REX do grande guitarrista, poeta, compositor e multi facetado Antônio
Bartoccetti. O Antonius Rex embora hoje tenha o status de banda cult e pouco
conhecida entre os apreciadores do rock progressivo, foi pioneira no que tange
ao obscurantismo no prog rock, o que se convencionou como "dark prog" e ao experimentalismo dado ao espírito livre de
Bartoccetti e sua trupe, a criatividade sem regras e restrições fez da música
desta banda singular.
Antônio Bartoccetti
A dramaticidade e a atmosfera
ameaçadora faz do Antonius Rex uma banda pouco compreendida. A contra mão
sonora desta banda serviu de conceito e pilar para o surgimento do progressivo underground, fugindo do sinfônicodo Premiata Forneria Marconi, Le Orme, entre outros medalhões da velha
bota.
Bartoccetti era bem conhecido na embrionária cena progressiva e
experimental no final da década de 1960 na Itália com a sua banda Jacula. Um
som denso, obscuro, pré sinfônico com os órgãos sacros fazendo dessa banda nova, ousada e indulgente ao conservadorismo que teimava em existir e que ainda permeia na indústria fonográfica.
O Jacula trouxe a inspiração necessária ao Bartoccetti dar luz ao
Antonius Rex, mas o caminho para isso foi um tanto quanto insólito, afinal o
Jacula se desintegrara e, claro, sem êxitos comerciais. Então Bartoccetti tenta investir em sua carreira solo, criando
o Invisible Force, mas não vingou.
Criou finalmente, em 1974, com Doris Norton no teclado e
voz e o também ex-Jacula Albert Goodman na bateria o Antonius Rex, tendo, como no
Jacula, a figura central de Antonio Bartoccetti. Gravou o seu debut
no mesmo ano de nome “Neque Semper Arcum Tendit Rex”, seguindo basicamente a
proposta do que fizera no Jacula.
Antonius Rex
Não teve repercussão até
lançarem “Zora”, em 1977 e assume uma característica mais progressiva
experimental sem deixar de lado as características ocultistas. A banda assumia uma
versatilidade sonora mais arrojada com jazz, hard, progressivo e muito
experimentalismo. Mas a banda ainda sofria com a rejeição, a sua originalidade
chocava os puritanos do mundo da música.
A banda vinha em um crescimento de
qualidade, apesar dos problemas, a banda encorpava, não era apenas um projeto
solo de Bartoccetti, era uma banda constituída por músicos arrojados e competentes. Apesar do pouco
reconhecimento, a banda lançaria, em minha opinião, um de seus melhores álbuns, o sucessor de "Zora", “Ralefun”, de 1979, alvo de meu texto de hoje.
Apesar da crescente melhora sonora do Antonius Rex, os
problemas com a rejeição da indústria sempre foram evidentes e mais problemas
viriam com a morte misteriosa do baterista Albert Goodman fazendo com que Bartoccetti afundasse em certa melancolia, perdendo o interesse em gravar álbuns.
Mas a paternidade fez com ele tivesse
outro olhar acerca desse complicado panorama. Em 1977 nascera o filho de
Antônio e Doris (Sim, eran casados) e isso trouxe novas percepções de Bartoccetti sobre a música e
fez com que a banda mudasse a sonoridade de “Ralefun”.
A banda foi reformulada com Doris e Antônio como o sustentáculo sonoro e
conceitual e na bateria Jean-Luc Jabouille,além de Marco Batti no baixo e Ugo
Heredia na flauta. Com essa formação tornou-se perceptível a nova diretriz da
banda. Um progressivo mais maduro, levadas jazzísticas, experimentalismo, uma
sonoridade mais rica, complexa e claro, obscuro.
O álbum abre com “Magic
Sadness” com o teclado trazendo um pouco do já conhecido rock sinfônico que
frutificara nas principais bandas italianas ao longo da década de 1970, mas ainda trazia a indefectível marca que é indelével dos trabalhos de Bartoccetti: a obscuridade, a atmosfera sombria Excelente música!“Agonia Per Un Amore” traz o
canto falado de Bartoccetti, conhecido em tempos de Jacula, uma sonoridade
leve, soft, linda, que me remete aos tempos áureos do progressivo psicodélico.
"Magic Sadness", "Agonia Per Un Amore"
“Witch Dance” é uma música mais comercial, acessível, mais radiofônica, diria
até dançante e animada. Iria mais longe dizendo que há uma levada
"dance", haja vista que estava era o final da década de 1970 e esse
tipo de música estava em seu auge. Então seria um "dance dark progressive
rock"? Pode parecer galhofa ou um realidade inusitada? Não deveria ousar
ou me arriscar para não cair na "vala comum do esteriótipo" e ater-se
ao rock n' roll, mas admito ser um bom exercício tentar entender ou interpretar
a intenção da banda ao conceber essa música. Tirem as suas conclusões!
"Witch Dance"
Já “Incubus” tem todas as
credenciais de um prog obscuro com passagens rítmicas excelentes, com uma
atmosfera soturna e ameaçadora. Destaque para o solo simples, mas personificado
de Bartoccetti. Certamente o Goblin bebeu da fonte das linhas de guitarra do
grande mestre do "dark progressive".
Antonius Rex - Incubus
“In Einsteinesse's Memory” tem o destaque da flauta que traz toda uma roupagem acústica, um ritual, um som pagão, que traz um sedução mesmerizante, com o vocal melodioso de Bartoccetti.
Antonius Rex - In Einsteinesse's Memory
E fecha com “Enchanted Wood”, uma epopeia sonora, uma viagem que te faz alçar voos, transcende a alma, trazendo aos ouvidos um pouco de experimentalismo e lisergia, sem dúvida o destaque desta música.
"Ralefun" foi relançado pelo selo "Mellow Records" em 1994 no formato CD e em 2010 foi relançado pela icônica gravadora italiana "Black Widow" no formato LP e um ano depois, em 2011, a mesma gravadora "Black Widow" lanço também no formato CD, trazendo à tona a sonoridade arrojada e deliciosamente ameaçadora do velho Antonius Rex.
“Ralefun” é um clássico esquecido do progressivo
italiano e o Antonius Rex, embora tenha sido o trabalho de maior sucesso comercial da banda, mas totalmente desproporcional, nesse sentido, em relação aos medalhões. Um álbum que foi lançado às pressas, mas que está definitivamente na história do progressivo
obscuro com grandes serviços a cena tão vilipendiada e desrespeitada pelos puristas
da música progressiva.
A banda:
Antônio Bartoccetti na
guitarra, vocal, produção e composição
Doris Norton nos teclados
Jean Luc Jabouille na
bateria
Com:
Hugo Heredia na flauta
Marco Ratti no baixo
Faixas:
1 – Magic Sadness
2 – Agonia per um Amore
3 – Witch Dance
4 – Incubus
5 – In Einsteinesses’s Memory
6 – Enchanted Wood
Antonius Rex - "Ralefun" (1979)
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