sexta-feira, 1 de maio de 2020

Codex Serafini – Serpents of Enceladus (2020)


Fazer música em dias pasteurizados e midiáticos se tornou um verdadeiro desafio. Um desafio para aqueles músicos e bandas que se permitem dominar pela liberdade criativa, sem amarras, sem filtros, sem deixar seduzir por questões comerciais, radiofônicas e dinheiro, muito dinheiro em troca. O desafio vem com a coragem de expor a sua arte, despida, mostrando as suas verdades, as suas percepções e visão de mundo. O Codex Serafini retrata com fidelidade a coragem de tornar tangível a sua arte sonora da forma mais original, arrojada e pouco ortodoxa em dias pseudo contemporâneos trajados de fascismo, conservadorismo, entre outros campos minados de intolerância. Eles se auto intitulam saturnianos que veio a Terra para mostrar a todos os seus habitantes para abrirem as suas mentes. Talvez seja essa a saída para que cada um de nós abandone uma postura tão frustrada, que não se permite conhecer a si próprio, libertar-se. E não se enganem que essa situação não se estenda ao rock n’ roll, tão conservador e chato a ponto de vilipendiar, rejeitar sonoridades alternativas sem ao menos ouvir e construir de fato seu senso crítico acerca de uma banda ou sonoridade. O aspecto estético do Codex Serafini também é particular e obscuro. Não revelam suas identidades, usando capas e vestimentas obscuras e soturnas, com longos cabelos que ocultam as silhuetas de seus rostos, focando essencialmente na música. 

Codex Serafini

Como eles dizem: “Você não precisa ver rostos ou corpos para se conectar com alguém em um nível mais profundo”. Ainda no aspecto visual e no contexto histórico, o nome da banda vem de uma enciclopédia sobre um mundo imaginário com um texto indecifrável com mais de mil desenhos feitos pelo artista e arquiteto italiano Luigi Serafini entre 1976 e 1978, chamado Codex Seraphinianus. A primeira edição do livro foi publicada em 1981. Em 2006 o livro foi relançado na Itália. O livro reinterpreta a zoologia, a botânica, a mineralogia, a etnografia, a arquitetura etc. 

Codex Seraphimianus

A escrita indecifrável da língua serafiniana expressa as seções, as legendas de desenhos e a numeração. Os desenhos lembram as pinturas surrealistas do grande pintor Salvador Dali e vai de encontro com a proposta das faixas do primeiro EP lançado pela banda Codex Serafini chamado “Serpents of Eceladus”, de 2020 onde a banda define: “Uma peça saturniana de cinco formas intercambiáveis, disfarçada de fato, situada no limite desconfortável entre surreal e fantasia”. O álbum traz homenagens e referências da grandiosa, mas também pouco compreendida cena alemã, chamada, pejorativamente, de krautrock com influências de bandas como Neu! e Can, com experimentalismo, improvisações baseadas em jazz rock, progressivo, guitarras lisérgicas e um vocal estridente, gritado e perturbador. “Serpents of Enceladus” é um álbum ácido, chapante e poderoso. A banda de Saturno, que definiu seu som como “Saturnian Rock”, de uma misteriosa cidade chamada “Enceladus”, aportou em Brighton na Inglaterra e conta com a seguinte formação: Tethys Cassini, Dione Cassini, Epimetheus Cassini, Janus Cassini e Mimas Cassini. Não se sabe se os nomes são verdadeiros e que instrumentos os mesmos tocam. O álbum começa com a faixa “Liber” com um som minimalista, com um peso calcado em riffs de guitarra e um saxofone dando um tempero mais jazzístico a música.

Codex Serafini - "Liber" (Clipe oficial)

“Cronus” começa ameaçadora e sombria com o destaque no vocal em uma espécie de ritual tendo como pano de fundo o sax lembrando a fase remota do King Crimson. “Janus” é mais chapante, lisérgica, viajante, com doses cavalares de um Pink Floyd da fase Barrett.

Codex Serafini - "Cronus"

“Fountains of Enceladus” é a mais pesada do álbum, com uma pegada hard psicodélica que alterna com atmosferas mais sombrias, capitaneadas pelo vocal. E fecha com “Speaking in Tongues”, a mais longa e progressiva, com pitadas de hard, do álbum. Tem uma forte influência do King Crimson em uma junção de sua fase transitória das décadas de 60 e 70 com a áurea fase de meados da década de 1970: pesado e psicodélico.

Codex Serafini - "Speaking in Tongues"

O Codex Serafini pode não ser revolucionário, trazer algo novo, mas merece todas as reverências pela coragem de mostrar a sua verdade artística personificadas em sua música em tempos de músicas simples, descaracterizadas e pasteurizadas.

A banda:

Tethys Cassini
Dione Cassini
Epimetheus Cassini
Janus Cassini
Mimas Cassini

Faixas:

1 - Liber
2 - Cronus
3 - Janus
4 - Fountains of Enceladus 
5 - Speaking in Tongues




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