Essa banda que vem da Escandinávia! Da fria região da Europa que traz uma banda e álbum calcados na improvisação, na música "chapada", com viagens psicodélicas, guitarras lisérgicas e pitadas bem generosas de um rock progressivo que ainda engatinhada em terras europeias.
O que era um esquecido,
antigo e obscuro álbum que poderia, por exemplo, uma pequena fortuna no
passado, atualmente uma cópia desse material seja original ou relançamentos
custaria uma vultosa quantidade de dinheiro, dada a raridade e importância, que
costumamos chamar de cult, desse trabalho psych prog para o rock dinamarquês e
mundial, quem sabe.
A banda é o FLEUR DE LIS,
talvez uma das primeiras da cena rock da Dinamarca que não é tida como parte do
centro rock do planeta. Era uma época de transição do rock n’ roll, com a cena
beat, psicodélica em declínio, com as intenções progressivas florescendo na
Europa. O Fleur de Lis absorveu todas essas vertentes e, mesmo no auge da
obscuridade, estaria fazendo história com o seu único álbum, lançado em 1971,
chamado “Facing Morning”.
Os primórdios da banda, o
embrião do Fleur de Lis começou em 1970, aproximadamente, na escola primária em
Skive com Leif Nielsen Kramer e Kaj Olesen. Eles estudavam juntos e começaram a
tocas música juntos também, mas sem pretensões profissionais, apenas para se
divertir.
No Skive Gymnasium, os dois
conhecem Svend Thomsen, e logo se encontraram o novo trio junto com outros
jovens do Skive que também curtiam uma música. E foi nessa movimentação, nessa
união, que nasceria Fleur de Lis. Eles só curtiam música e tocavam
despretensiosamente, inspirados no som que estava em voga na época como
Beatles, Rolling Stones e The Who.
A banda é resultado da fusão de duas bandas locais de nomes The Fog e The False Image. O nome “Fleur de Lis” foi dado por Svend quando estava folheando um dicionário e se deparou com “Fleur de Lis”, o nome de um lírio francês.
Ele achou que o nome soava bem e, como na época existiam muitas e muitas bandas que tinham em seu nome o “the” no início, eles queriam trazer algo novo para a sua banda. Então foi definido que o nome da banda seria Fleur de Lis.
Quando a banda foi criada,
já com o seu nome estabelecido, eles viram a possibilidade de seguir com uma
carreira musical, achavam que tinham jeito para a coisa, de seguir em turnês e
gravar discos etc. Então a banda logo começou a ensaiar, já tinha inclusive
esboços que poderiam ser músicas em potencial e até alguns materiais já
prontos.
Então o Fleur de Lis começou
a fazer shows pequenos e contataram o dono da Quali Sound, Palle Juul, que
tinha um estúdio em Nibe. A intenção era gravar uma demo com o que já tinham
para que pudesse usar quando tivesse que tentar acordos para novos shows e quem
sabe lançar um álbum oficialmente.
Então Leif Nielsen Kramer pegou emprestado o Opel 1900 de seus pais e, embalado com instrumentos e outros equipamentos, a banda partiu para Nibe, onde gravou uma demo em pouco tempo.
A música "Bad
Looser" foi uma das primeiras músicas gravadas por Fleur de Lis. Os
membros de outra banda chamada Birds of Paradise, que estavam no estúdio ao
mesmo tempo e ouviram o Fleur de Lis gravarem a sua primeira música.
A Birds of Paradise era uma
banda mais conhecida que o Fleur de Lis, mas acabaram se juntando e a música
“Bad Looser” acabou sendo gravada em um álbum com eles. Inclusive Leif Kramer
tocaria também por um tempo no Birds of Paradise.
O Fleur de Lis nesse momento
tinha a seguinte formação: Svend Thomsen no órgão e teclados, Kaj Olesen na
bateria, Leif Kramer Nielsen na guitarra, clavinete, vocal e composição, Peder
Pedersen no baixo e violão e Bjarne Pedersen na guitarra.
E com uma formação e muito
seguros de si, já com um punhado de canções prontas, Leif, que as escreveu,
queria e estava determinado para gravar um álbum de verdade e sozinhos.
O Fleur de Lis teve a
permissão para gravar o seu álbum na sala de música do Skive Gymnasium. Fizeram
claro, algumas adaptações para que pudesse ter o melhor resultado possível nas
gravações e colocaram tapetes como silenciadores e fizeram outras medidas, meio
primitivas, para obter o melhor da sonoridade no seu novo álbum.
E foi com o técnico de som
Kai Toft, tido pela banda, como o sexto integrante que apareceu, tendo grande
participação no sucesso da gravação. Eles tinham equipamentos muito simples,
mas Kai fez muita mágica para fazerem as coisas acontecerem, mas ainda assim,
claro, tudo era muito difícil. Um fato interessante era que não podiam gravar
em várias faixas, tendo que gravar todos os instrumentos e vocais de uma vez.
Se alguém cometesse um erro
sequer teria que começar novamente, mas ainda assim se percebe alguns erros na
produção final, isso é resultado de uma gravação “artesanal”. Posteriormente a
música foi mixada no estúdio Quali Sound.
Assim nasceria “Facing
Morining”, em 1971. Leif não ficou satisfeito com o resultado final e até achou
que poderia ter feito melhor, mas é o preço que se paga por não ter a mínima
estrutura e apoio da indústria fonográfica. Mas usaram esse material e queriam
que Palle Juul e a Quali sound lançassem. Então foi lançado “Facing Morning”
pago com o próprio dinheiro dos membros do Fleur de Lis.
A banda havia negociado com
Palle Juul para fazer 500 cópias do álbum, mas não conseguiram, segundo o Fleur
de Lis Jull os enganou, colocando poucos discos à venda, sendo ainda que cópias
individuais foram mantidas pelos próprios membros da banda. Resultado: poucos
discos foram vendidos. Reza a lenda que Svend vendeu a sua cópia a sua tia
Bodil, tendo que comprar uma nova cópia.
A sonoridade de “Facing Morning” vai de um rock progressivo com excelentes passagens de guitarra, com solos bem elaborados e complexos, uma camada interessante de órgãos, tais como hammond e moog e vocais masculinos e femininos, além de um tempero psicodélico chapante e viajante. As letras são parte em dinamarquês e em inglês, com faixas instrumentais de muito bom gosto.
O álbum começa muito bem com
“Home of Mind” com um vocal chapante e uma suave camada psicodélica de teclado
e que, na progressão da música vai ficando mais pesado com um solo de guitarra
simples e lisérgico, mas que dignifica o peso da faixa em seu final.
“Har I Set” segue na mesma linha da faixa anterior, com uma levada mais acústica, mais introspectiva, obscura. “Facing Morning” conta com um vocal feminino, meio operístico que me remete a Annie Haslam, ao estilo acústico, violão e voz.
“In Love” começa pesada com
riffs de guitarra bem agressivos, um acid rock digno de terras norte americanas
em meados da década de 1960 com uma cozinha bem entrosada, direta e crua, uma
bela faixa instrumental.
“Why” começa com um órgão
sacro e com uma guitarra viajante e psicodélica, uma excelente balada, uma das
melhores faixas do álbum, sem dúvida, extremamente melancólica e triste.
“Bad Loser” segue com a mesma proposta da faixa anterior, tensa, com uma atmosfera densa e introspectiva, tendo um protagonismo nos teclados e uma linha interessante de baixo.
“Sympathetic Attitude” tem
uma levada meio comercial, pop sessentista, uma espécie de beat dançante
mostrando a veia psicodélica da banda. O álbum fecha com “Sneen” com um vocal
praticamente à capela mostrando qualidade e uma intensa dramaticidade.
Apesar de Facing Morning não
ter sido um grande sucesso de vendas, os seis amigos continuaram a tocar juntos
no Fleur de Lis. Eles tiveram permissão para pegar emprestado uma pequena casa
de fazenda fora de Skive, que eles converteram em uma sala de prática. Além
disso, havia espaço para sair e se divertir.
Tiveram muitas discussões
que variavam desde questões musicais a políticas e isso fez com que o Fleur de
Lis tivesse a primeira baixa, o baterista Kaj Olesen. Ele percebeu que não
teria futuro diante de tantas discussões e resolveu sair e aproveitou para
estudar em Horsens Red. Foi substituído por Per Schou.
Distantes da cidade, da
badalação urbana eles conseguiram gravar músicas para um novo álbum. Mas era
iminente que o Fleur de Lis estava prestes a se separar, era questão de tempo.
Eles conseguiram gravar algumas músicas para um segundo álbum, mas o Fleur de
Lis estava se desfazendo. Alguns músicos estavam concluindo o ensino médio e
outros decidindo sair da cidade, então o fim se deu, o Fleur de Lis se desfez e
o segundo trabalho nunca lançado.
O Fleur de Lis estava
espalhado por toda a Dinamarca. Svend Thomsen trabalhou na DR em Holstebro e
mais tarde veio para Aarhus, em 1978, onde viveu e trabalhou desde então. A
música tem sido uma grande parte de sua vida, já que ele teve um
grande papel no trabalho de desenvolvimento de conceitos de rádio, como Den
Store Lysfest, que ele "inventou" junto com Poul Martin Bonde (porta-voz
de imprensa do Smuk Fest para uma série de anos). Svend
Thomsen também foi uma das forças motrizes por trás do Blå Hotel, que DR
construiu junto com, entre outros, Henning Stærk.
Enquanto trabalhar com
música preencheu a maior parte da vida de Svend, foi diferente para Leif
Nielsen Kramer que parou de escrever música quando a banda gravou aquelas
músicas que comporia o segundo álbum do Fleur de Lis. Após o colegial em Skive,
ele se mudou para Aarhus, onde trabalhou como substituto de bicicleta em
escolas primárias por três anos. Ele então se inscreveu novamente no Skive para
fazer um curso de professor.
Por um longo período, Leif
Nielsen Kramer morou na Groenlândia, onde lecionou. Terminou com ele voltando
para Aarhus alguns anos atrás. Ele não está mais no mercado de trabalho, mas
teve mais tempo para cultivar o interesse pela música. Ele compôs um musical e
agora está associado à Academia Musical Dinamarquesa em Frederica.
Mas um evento especial
estava por acontecer. Os seis membros originais do Fleur de Lis se encontraram
e conversaram sobre os velhos tempos no Skive Airport que Kai Toft, possui
hoje. Eles decidiram relançar “Facing Morning”, porque descobriram que o álbum
se tornou um clássico cult ouvido por muita gente na grande web.
Em 2004 “Facing Morning” foi
relançado com 1.000 novas cópias. Mesmo envelhecidos, os músicos mostraram-se
felizes com o resultado do relançamento e com a repercussão positiva que teve
na Dinamarca. Muitos revendedores já demonstraram interesse em difundir, vender
“Facing Morning” em suas lojas.
“Facing Morning” trazia um som
pouco palatável, underground, mas relevante, poderoso, pouco usual, mesmo que a
banda tenha tido uma breve, efêmera vida. Uma música que não se rendeu aos
esteriótipos e adequou-se a um período de experimentação e de vários flertes
sonoros. Pérola altamente recomendada.
A banda:
Leif Nielsen na guitarra,
vocal e clarinete
Bjarne Pedersen na guitarra
Peder Pedersen no baixo e
guitarra acústica
Svend Thomsen no órgão,
teclados
Com (nas músicas que
comporia o Segundo álbum):
Per Schou na bateria e
clavinete
Pat Funell nos
vocais e backing vocals
Else Kristiansen nos backing vocals
Inge Kristiansen nos backing vocals
Faixas (original):
1 - Home Of Mind
2 - Har I Set
3 - Facing Morning
4 - In Love
5 - Why
6 - Bad Loser
7 - Sympathic Attitude
8 – Seen
Faixas (relançamento com as
faixas que seria do Segundo álbum):
9 - East Hill Rag
10 - Settlement
11 - After The Settlement
12 - Gensyn I
13 - Gensyn Ill
14 - Wbn
15 - Mood
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