sexta-feira, 1 de maio de 2020

Fleur de Lis - Facing Morning (1971)

Essa banda que vem da Escandinávia! Da fria região da Europa que traz uma banda e álbum calcados na improvisação, na música "chapada", com viagens psicodélicas, guitarras lisérgicas e pitadas bem generosas de um rock progressivo que ainda engatinhada em terras europeias.

O que era um esquecido, antigo e obscuro álbum que poderia, por exemplo, uma pequena fortuna no passado, atualmente uma cópia desse material seja original ou relançamentos custaria uma vultosa quantidade de dinheiro, dada a raridade e importância, que costumamos chamar de cult, desse trabalho psych prog para o rock dinamarquês e mundial, quem sabe.

A banda é o FLEUR DE LIS, talvez uma das primeiras da cena rock da Dinamarca que não é tida como parte do centro rock do planeta. Era uma época de transição do rock n’ roll, com a cena beat, psicodélica em declínio, com as intenções progressivas florescendo na Europa. O Fleur de Lis absorveu todas essas vertentes e, mesmo no auge da obscuridade, estaria fazendo história com o seu único álbum, lançado em 1971, chamado “Facing Morning”.

Os primórdios da banda, o embrião do Fleur de Lis começou em 1970, aproximadamente, na escola primária em Skive com Leif Nielsen Kramer e Kaj Olesen. Eles estudavam juntos e começaram a tocas música juntos também, mas sem pretensões profissionais, apenas para se divertir.

No Skive Gymnasium, os dois conhecem Svend Thomsen, e logo se encontraram o novo trio junto com outros jovens do Skive que também curtiam uma música. E foi nessa movimentação, nessa união, que nasceria Fleur de Lis. Eles só curtiam música e tocavam despretensiosamente, inspirados no som que estava em voga na época como Beatles, Rolling Stones e The Who.

A banda é resultado da fusão de duas bandas locais de nomes The Fog e The False Image. O nome “Fleur de Lis” foi dado por Svend quando estava folheando um dicionário e se deparou com “Fleur de Lis”, o nome de um lírio francês.

 Ele achou que o nome soava bem e, como na época existiam muitas e muitas bandas que tinham em seu nome o “the” no início, eles queriam trazer algo novo para a sua banda. Então foi definido que o nome da banda seria Fleur de Lis.

Quando a banda foi criada, já com o seu nome estabelecido, eles viram a possibilidade de seguir com uma carreira musical, achavam que tinham jeito para a coisa, de seguir em turnês e gravar discos etc. Então a banda logo começou a ensaiar, já tinha inclusive esboços que poderiam ser músicas em potencial e até alguns materiais já prontos.

Então o Fleur de Lis começou a fazer shows pequenos e contataram o dono da Quali Sound, Palle Juul, que tinha um estúdio em Nibe. A intenção era gravar uma demo com o que já tinham para que pudesse usar quando tivesse que tentar acordos para novos shows e quem sabe lançar um álbum oficialmente.

Então Leif Nielsen Kramer pegou emprestado o Opel 1900 de seus pais e, embalado com instrumentos e outros equipamentos, a banda partiu para Nibe, onde gravou uma demo em pouco tempo.

A música "Bad Looser" foi uma das primeiras músicas gravadas por Fleur de Lis. Os membros de outra banda chamada Birds of Paradise, que estavam no estúdio ao mesmo tempo e ouviram o Fleur de Lis gravarem a sua primeira música.

A Birds of Paradise era uma banda mais conhecida que o Fleur de Lis, mas acabaram se juntando e a música “Bad Looser” acabou sendo gravada em um álbum com eles. Inclusive Leif Kramer tocaria também por um tempo no Birds of Paradise.

O Fleur de Lis nesse momento tinha a seguinte formação: Svend Thomsen no órgão e teclados, Kaj Olesen na bateria, Leif Kramer Nielsen na guitarra, clavinete, vocal e composição, Peder Pedersen no baixo e violão e Bjarne Pedersen na guitarra.

E com uma formação e muito seguros de si, já com um punhado de canções prontas, Leif, que as escreveu, queria e estava determinado para gravar um álbum de verdade e sozinhos.

O Fleur de Lis teve a permissão para gravar o seu álbum na sala de música do Skive Gymnasium. Fizeram claro, algumas adaptações para que pudesse ter o melhor resultado possível nas gravações e colocaram tapetes como silenciadores e fizeram outras medidas, meio primitivas, para obter o melhor da sonoridade no seu novo álbum.

E foi com o técnico de som Kai Toft, tido pela banda, como o sexto integrante que apareceu, tendo grande participação no sucesso da gravação. Eles tinham equipamentos muito simples, mas Kai fez muita mágica para fazerem as coisas acontecerem, mas ainda assim, claro, tudo era muito difícil. Um fato interessante era que não podiam gravar em várias faixas, tendo que gravar todos os instrumentos e vocais de uma vez.

Se alguém cometesse um erro sequer teria que começar novamente, mas ainda assim se percebe alguns erros na produção final, isso é resultado de uma gravação “artesanal”. Posteriormente a música foi mixada no estúdio Quali Sound.

Assim nasceria “Facing Morining”, em 1971. Leif não ficou satisfeito com o resultado final e até achou que poderia ter feito melhor, mas é o preço que se paga por não ter a mínima estrutura e apoio da indústria fonográfica. Mas usaram esse material e queriam que Palle Juul e a Quali sound lançassem. Então foi lançado “Facing Morning” pago com o próprio dinheiro dos membros do Fleur de Lis.

A banda havia negociado com Palle Juul para fazer 500 cópias do álbum, mas não conseguiram, segundo o Fleur de Lis Jull os enganou, colocando poucos discos à venda, sendo ainda que cópias individuais foram mantidas pelos próprios membros da banda. Resultado: poucos discos foram vendidos. Reza a lenda que Svend vendeu a sua cópia a sua tia Bodil, tendo que comprar uma nova cópia.

A sonoridade de “Facing Morning” vai de um rock progressivo com excelentes passagens de guitarra, com solos bem elaborados e complexos, uma camada interessante de órgãos, tais como hammond e moog e vocais masculinos e femininos, além de um tempero psicodélico chapante e viajante. As letras são parte em dinamarquês e em inglês, com faixas instrumentais de muito bom gosto.

O álbum começa muito bem com “Home of Mind” com um vocal chapante e uma suave camada psicodélica de teclado e que, na progressão da música vai ficando mais pesado com um solo de guitarra simples e lisérgico, mas que dignifica o peso da faixa em seu final. 

"Home of Mind"

“Har I Set” segue na mesma linha da faixa anterior, com uma levada mais acústica, mais introspectiva, obscura. “Facing Morning” conta com um vocal feminino, meio operístico que me remete a Annie Haslam, ao estilo acústico, violão e voz.

"Har I Set"

“In Love” começa pesada com riffs de guitarra bem agressivos, um acid rock digno de terras norte americanas em meados da década de 1960 com uma cozinha bem entrosada, direta e crua, uma bela faixa instrumental.

"In Love"

“Why” começa com um órgão sacro e com uma guitarra viajante e psicodélica, uma excelente balada, uma das melhores faixas do álbum, sem dúvida, extremamente melancólica e triste.

"Why"

“Bad Loser” segue com a mesma proposta da faixa anterior, tensa, com uma atmosfera densa e introspectiva, tendo um protagonismo nos teclados e uma linha interessante de baixo.

"Bad Loser"

“Sympathetic Attitude” tem uma levada meio comercial, pop sessentista, uma espécie de beat dançante mostrando a veia psicodélica da banda. O álbum fecha com “Sneen” com um vocal praticamente à capela mostrando qualidade e uma intensa dramaticidade.

"Sympathetic Attitude"

Apesar de Facing Morning não ter sido um grande sucesso de vendas, os seis amigos continuaram a tocar juntos no Fleur de Lis. Eles tiveram permissão para pegar emprestado uma pequena casa de fazenda fora de Skive, que eles converteram em uma sala de prática. Além disso, havia espaço para sair e se divertir.

Tiveram muitas discussões que variavam desde questões musicais a políticas e isso fez com que o Fleur de Lis tivesse a primeira baixa, o baterista Kaj Olesen. Ele percebeu que não teria futuro diante de tantas discussões e resolveu sair e aproveitou para estudar em Horsens Red. Foi substituído por Per Schou.

Distantes da cidade, da badalação urbana eles conseguiram gravar músicas para um novo álbum. Mas era iminente que o Fleur de Lis estava prestes a se separar, era questão de tempo. Eles conseguiram gravar algumas músicas para um segundo álbum, mas o Fleur de Lis estava se desfazendo. Alguns músicos estavam concluindo o ensino médio e outros decidindo sair da cidade, então o fim se deu, o Fleur de Lis se desfez e o segundo trabalho nunca lançado.

O Fleur de Lis estava espalhado por toda a Dinamarca. Svend Thomsen trabalhou na DR em Holstebro e mais tarde veio para Aarhus, em 1978, onde viveu e trabalhou desde então. A música tem sido uma grande parte de sua vida, já que ele teve um grande papel no trabalho de desenvolvimento de conceitos de rádio, como Den Store Lysfest, que ele "inventou" junto com Poul Martin Bonde (porta-voz de imprensa do Smuk Fest para uma série de anos). Svend Thomsen também foi uma das forças motrizes por trás do Blå Hotel, que DR construiu junto com, entre outros, Henning Stærk.

Enquanto trabalhar com música preencheu a maior parte da vida de Svend, foi diferente para Leif Nielsen Kramer que parou de escrever música quando a banda gravou aquelas músicas que comporia o segundo álbum do Fleur de Lis. Após o colegial em Skive, ele se mudou para Aarhus, onde trabalhou como substituto de bicicleta em escolas primárias por três anos. Ele então se inscreveu novamente no Skive para fazer um curso de professor.

Por um longo período, Leif Nielsen Kramer morou na Groenlândia, onde lecionou. Terminou com ele voltando para Aarhus alguns anos atrás. Ele não está mais no mercado de trabalho, mas teve mais tempo para cultivar o interesse pela música. Ele compôs um musical e agora está associado à Academia Musical Dinamarquesa em Frederica.

Mas um evento especial estava por acontecer. Os seis membros originais do Fleur de Lis se encontraram e conversaram sobre os velhos tempos no Skive Airport que Kai Toft, possui hoje. Eles decidiram relançar “Facing Morning”, porque descobriram que o álbum se tornou um clássico cult ouvido por muita gente na grande web.

Em 2004 “Facing Morning” foi relançado com 1.000 novas cópias. Mesmo envelhecidos, os músicos mostraram-se felizes com o resultado do relançamento e com a repercussão positiva que teve na Dinamarca. Muitos revendedores já demonstraram interesse em difundir, vender “Facing Morning” em suas lojas.

Svend e Leif segurando o relançamento de "Facing Morning"

“Facing Morning” trazia um som pouco palatável, underground, mas relevante, poderoso, pouco usual, mesmo que a banda tenha tido uma breve, efêmera vida. Uma música que não se rendeu aos esteriótipos e adequou-se a um período de experimentação e de vários flertes sonoros. Pérola altamente recomendada.




A banda:

Leif Nielsen na guitarra, vocal e clarinete

Bjarne Pedersen na guitarra

Peder Pedersen no baixo e guitarra acústica

Svend Thomsen no órgão, teclados

 

Com (nas músicas que comporia o Segundo álbum):

Per Schou na bateria e clavinete

Pat Funell  nos vocais e backing vocals

Else Kristiansen nos backing vocals

Inge Kristiansen nos backing vocals

 

Faixas (original):

1 - Home Of Mind

2 - Har I Set

3 - Facing Morning

4 - In Love

5 - Why

6 - Bad Loser

7 - Sympathic Attitude

8 – Seen

 

Faixas (relançamento com as faixas que seria do Segundo álbum):

9 - East Hill Rag

10 - Settlement

11 - After The Settlement

12 - Gensyn I

13 - Gensyn Ill

14 - Wbn

15 - Mood 


Fleur de Lis - "Facing Morning" (Versão 1971)


Fleur de Lis - "Facing Morning" (Versão estendida 2004)













 





 






 






Nenhum comentário:

Postar um comentário