O BLACK SABBATH definitivamente está no rol das grandes bandas da história da música pesada
que serviu e até hoje serve de referência, dado o seu pioneirismo e
importância. Todas as cenas que surgiram depois de sua fundação, na transição
dos anos 1960 para a década de 1970 e tiveram como base a sua sonoridade, bem como
as mensagens transmitidas pelas suas letras apocalípticas, sombria e até de
cunho politizadas travestidas com as ‘metáforas” satânicas dos seus primeiros
álbuns.
A banda, apesar de ser consagrada e conhecida em todos os confins do
planeta, vendendo milhares de álbuns e tocando em ginásios e arenas, vale ter
um capítulo especial por aqui, principalmente em uma fase um tanto quanto
obscura, pouco mencionada entre os mais ardorosos fãs, diria até rejeitada
apesar de contar com músicos que naquela época já estavam em um patamar de
lendas.
Falo do Black Sabbath com Ian Gillan no vocal. Gillan, como já é sabido, fez sua história, sua carreira no emblemático Deep Purple, mas, no
início da década de 1980, mais precisamente em 1983, a banda estava estagnada,
tinha finalizado suas atividades e o Black Sabbath tinha perdido o seu então
vocalista, Ronnie James Dio, que decidiu investir na carreira solo e estava em
busca de um novo cantor.
Tonny Iommi, guitarrista do Sabbath, convida Gillan e,
dessa parceria de Gillan com Black Sabbath, nasce o álbum de estúdio “Born Again”,
de 1983. O álbum não recebeu uma crítica positiva por parte do público e dos
especialistas e ficou “deslocado” da discografia essencial da banda.
"Born Again" (1983)
Até hoje
há um descrédito por parte dessa parceria e dessa época do Black Sabbath
dizendo que a entrada do Ian Gillan descaracterizou o som da banda, fugindo do
heavy metal e trazendo uma proposta mais hard rock, assemelhando ao Deep
Purple.
Como fã do Sabbath e Purple, discordo dessa “máxima”,
afinal, o Black Sabbath pode ter influenciado o heavy metal porém, antes de mais nada, influenciou a música pesada e todas as suas vertentes. Então Gillian, que estava no auge da carreira e da sua voz, poderosa e altiva, adaptou-a a sonoridade do Sabbath e os seus clássicos, cantando-as rasgadamente, levando também, claro, o seu "know how" adquirido no Deep Purple. Ficou particularmente diferente? Sim! Mas também exótico e poderoso! Ouvir "Born Again" é ouvir o peso avassalador e despretensioso de um Sabbath sujo e sombrio.
Inclusive um tecladista foi efetivado como músico principal do Sabbath,
dando a entender que Gillan levara um pouco de sua antiga banda a sua até então
nova banda. Mas não falarei do “Born Again”, mas de um registro ao vivo, da
turnê deste álbum de estúdio que certamente tem um status de “obscuro” e que
mostra um Black Sabbath como sempre foi: poderoso, visceral, mas extremamente técnico
e virtuoso capitaneado pela incrível voz de Ian Gillan em contraponto ao vocal
intencionalmente despretensioso, tenso, paranoico e até, em alguns momentos,
desafinado de seu vocalista original, Ozzy Osbourne.
Falo do “Born in Hell:
Live at the Centrum na cidade britânica de Worcester”, um bootleg de 1983.
Gillan assumiu o grande desafio de cantar as clássicas músicas que ganhou
notoriedade na voz de Ozzy e algumas faixas do até então novo álbum “Born
Again” e as versões ficaram excelentes! Poderosas!
O vocal virtuoso, de grande
alcance de Ian Gillan ficou rasgado e sombrio e aliado a guitarra de Tonny
Iommy, a bateria de Bev Bevan, que assumiu o lugar de Bill Ward que saiu da
banda após o lançamento de “Born Again” e que era do Electric Light Orchestra,
Geezer butler no baixo e o tecladista Geoff Nicholls entregou uma banda
inusitada e excepcional.
Apesar de ser um bootleg é impressionante a qualidade
do som que reproduz toda essa força, esse massa poderosa sonora que era o Black
Sabbath naquela época. Arrisco em dizer que esse é um dos melhores registros ao vivo da
banda de todos os tempos!
E começa com o clássico arrasa quarteirão “Children
of the Grave” com vocais melódicos com gritos rasgados de Gillan e a guitarra
característica de Iommy com seus riffs e a camada de teclado dando uma pitada
pitoresca a música.
"Children of the Grave'
“Hot Line”, do álbum “Born Again” ganhou vida na sua versão
ao vivo, mais pesada ainda. “War Pigs” ganha mais velocidade e um vocal
“cuidadoso” e cadenciado de Gillan dá um caráter de uma nova roupagem ao
clássico.
"War Pigs"
E dessa forma segue “Iron Man” com uma introdução linda de teclado,
mas o peso e a agressividade são patentes. “The Dark/Zero the Hero”, também do
“Born Again”, também ganhou “vida nova” ao vivo, mais pesada e rápida.
"Zero the Hero"
“Heaven
and Hell”, um dos clássicos absolutos da “era Dio” também ficou pesada e
gritada em alguns momentos, sobretudo no seu título, ganhando uma nova e
convincente roupagem. “Digital Bitch”, também de “Born Again”, também na versão
ao vivo fica interessante, mais solar, agitada e diria até dançante.
"Heaven and Hell"
Mas a
faixa que merece atenção é a obscura e soturna faixa “Black Sabbath” que,
originalmente traz essas propostas, mas Gillan eleva a música com um vocal
competente, com absurdos alcances, mas respeita a sua essência sombria e
perigosa. O peso é evidente!
"Black Sabbath"
E há um espaço para o Deep Purple com a execução
de “Smoke on the Water” que não foge muito a estrutura original, mas com a
assinatura de Tonny Iommy com os riffs mais claros e evidentes, ganha mais peso, mais robustez.
"Smoke on the Water"
Fecha com chave
de ouro com “Paranoid”, que mantém o petardo e o habitual chute na porta com um
Gillan mais despretensioso no vocal. Essa fase do Black Sabbath foi curta
lamentavelmente, caiu no obscurantismo discográfico da banda, mas que não pode
e nem deve ser esquecida pelos amantes da boa música. Bevan e Gillan saem logo
da banda e o primeiro também merece um reconhecimento, pois assumir a vaga do
grande Bill Ward e tocar os clássicos do Black Sabbath com tamanha maestria não
é para qualquer um. Um registro obscuro e não oficial de uma banda consagrada e
badalada que merece todas as reverências possíveis.
A banda:
Ian Gillan no Vocal
Tony Iommi na Guitarra
Geezer Butler no Baixo
Bev Bevan na Bateria
Geoff Nicholls nos Teclados
Faixas:
1 - Children of The Grave
2 - Hot Line
3 - War Pigs
4 - Iron Man
5 - Zero the Hero
6 - Heaven and Hell
7 - Tony Iommi Guitar Solo
8 - Digital Bitch
9 - Black Sabbath
10 - Smoke on the Water
11 - Paranoid
"Born in Hell: Live at the Centrum, Worcester" (1983)
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