quarta-feira, 29 de abril de 2020

Salem Mass - Witch Burning (1971)

Aos caçadores da música obscura, aos que garimpam de forma abnegada, não é tão somente a sonoridade das bandas que contam claro que é o principal, mas a história de insucesso, as histórias das perdas, dos infortúnios contam e muito.

Mas não enganem caros amigos leitores, que são bandas ruins, fracas, incipientes para a música, nunca! São apenas falta de sorte, fracasso comercial, geralmente são bandas que não se arquearam para as seduções do mainstream que lamentavelmente temos testemunhado nos dias atuais.

As bandas obscuras que se perderam no tempo, que caíram no ostracismo, são aqueles que do início ao fim não renegaram as suas verdades, não se entregaram por um contrato como tantas que ricas e poderosas que são, tem em seu som algo vazio e descaracterizado.

E quando ouvimos, fazemos um paralelo entre as bandas obscuras e vilipendiadas com aquelas que se perderam nos seus caminhos por causa do dinheiro e de um pomposo contrato, percebemos a abissal distância entre os dois casos, não é? Admita!

E tem uma banda norte americana, esquecida no fundo empoeirado do baú do rock n’ roll que também costuma segmentar, que mostra, mesmo no seu precoce fim, que defendeu sua sonoridade e, mesmo rejeitada, sem sombra de dúvidas deixou uma marca importante que serviu de inspiração às bandas de hoje e certamente de sempre, por mais que seus sucessores sequer a conheça. Falo da SALEM MASS.

O Salem Mass lançou apenas um álbum de estúdio em 1971 chamado “Witch Burning”, com uma capa, apesar de bem “rústica”, digamos, entrega, de forma evidente, o título da capa e que, esteticamente também, denuncia que se trata de um trabalho ao estilo occult rock.

Mas muito mais do que isso, por isso que arrisco em dizer que essa banda, lá pelo início dos anos 1970, foi revolucionária, vanguardista, praticando de um voluptuoso rock progressivo, com textura de teclados e moogs extremamente enérgicos, com vocais gritados e poderosos, riffs de guitarra potentes, entregando também um heavy rock, um heavy psych de ótima qualidade.

E já que falei em moogs, vale aqui uma curiosidade que é no mínimo incrível e vale registro como parte da história do rock n’ roll: diz a lenda que um dos primeiros sintetizadores (número de série 23) foi usado para a gravação de “Witch Burning”! Não é incrível?

Olhem o moog no palco com o Salem Mass!

“Witch Burning” é um grande exemplar do heavy psicodélico obscuro, com generosas pitadas de progressivo, uma viagem sonora delirante e chapada que é um verdadeiro, real e latente tapa na cara do ouvinte, tamanha a sua loucura pioneira cujo ponto central está no moog, no sintetizador.

Arrisco em dizer que este álbum e banda foram uma das pioneiras do heavy prog, sendo referência, mesmo sendo pouco conhecida, para a proliferação de bandas de heavy na década de 1980, devido a um som totalmente pesado.

Com isso me pergunto sempre quando me deparo com relíquias que caem no ostracismo como essas: Como que uma banda com uma sonoridade tão rica e pioneira para época lança apenas um trabalho e some no mapa? Muitos são os motivos, mas confesso que não quero elencá-los agora e falar desta rara banda e da sua música.

O Salem Mass foi formado em 1970 na cidade de Idaho e, como disse, gravou apenas um álbum chamado “Witch Burning”, pelo selo Gear Fab Records, e de forma que diria muito curiosa: a banda gravou seu álbum no seu bar favorito, pasmem, chamado “The Red Farn”, em 1971.

Ele foi convertido em estúdio e lá produziu seu trabalho, seu único álbum. Isso que eu chamo de um trabalho “artesanal”! Como disse, o som do Salem Mass é caracterizado pelo típico heavy-prog psicodélico da virada da década de 60 e início dos anos 70 e tem a predominância do instrumento moog dando um tom bem peculiar ao som da banda: Um som pesado, forte e denso.

A banda que gravou “Witch Burning” tinha os seguintes músicos: Kim Klahr nos teclados, Mike Snead na guitarra e vocal, Steve Towery na bateria e Matt Wilson no baixo e vocal.

O álbum começa com “Witch Burning” com uma epopeia sonora, uma faixa com pouco mais de 10 minutos de duração, uma faixa ambiciosa oferecendo todos os tipos de solos de moog, grandes riffs e inclinações progressivas. É uma verdadeira viagem instrumental, mostrando músicos de grande destreza com seus instrumentos.

"Witch Burning"

Segue com a densa "My Sweet Jane", bem melancólica, melancólica ao extremo, ao extremo, e que apresenta certa influência de Velvet Underground (não só no título, mas também na música).

"My Sweet Jane"

"You Can't Run My Life", é pesado, tem uma vibe de rock sulista, moog proeminente, tendências prog e proto-ocultas, mas alguns efeitos de rock espacial tamb´rm, e aquele riff principal é totalmente matador.

"You Can't Run My Life"

"You´re Just a Dream" é bem marcante aos ouvidos e poderia, sem medo, ter sido lançada como single, já que suas características tinham tudo para agradar, por exemplo, os órfãos fãs do Doors.

"You're Just a Dream"

“Bare Tree” começa assustadora e traz de volta algumas das inclinações mais atmosféricas e quase ocultas que a banda fez tão bem no início do álbum, é uma música legal e atmosférica.

"Bare Tree"

E fecha com “The Drifter” mais próxima tem alguns solos de sintetizador insanos e um riff quase ameaçador; balança forte, mas ainda feliz, confundindo ainda mais qualquer um que gostou do que ouviu com a faixa de abertura, por exemplo.

"The Drifter"

Enfim, Salem Mass e o seu único álbum “Witch Burning” é bem agradável para quem é chegado a um bom moog e muito, muito peso aliado ao progressivo. Apreciem essa mistura! Ao contrário do título do álbum e da capa, a banda não trata de ocultismo, apenas em algumas músicas. Modéstia à parte, para quem quiser sair da zona de conforto, pode começar com essa banda e disco. Boa viagem!




A banda: 

Kim Klahr – Teclados

Mike Snead – Guitarra e Vocal

Stve Towery – Bateria

Matt Wilson – Baixo e Vocal

 

Faixas:

1 - Witch Burning

2 - My Sweet Jane

3 - Why

4 - You Can't Run My Life

5 - You're Just a Dream

6 - Bare Tree

7 - The Drifter



Salem Mass - "Witch Burning" (1971)


 
































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