Aos caçadores da música
obscura, aos que garimpam de forma abnegada, não é tão somente a sonoridade das
bandas que contam claro que é o principal, mas a história de insucesso, as
histórias das perdas, dos infortúnios contam e muito.
Mas não enganem caros amigos
leitores, que são bandas ruins, fracas, incipientes para a música, nunca! São apenas
falta de sorte, fracasso comercial, geralmente são bandas que não se arquearam
para as seduções do mainstream que lamentavelmente temos testemunhado nos dias
atuais.
As bandas obscuras que se
perderam no tempo, que caíram no ostracismo, são aqueles que do início ao fim
não renegaram as suas verdades, não se entregaram por um contrato como tantas
que ricas e poderosas que são, tem em seu som algo vazio e descaracterizado.
E quando ouvimos, fazemos um
paralelo entre as bandas obscuras e vilipendiadas com aquelas que se perderam
nos seus caminhos por causa do dinheiro e de um pomposo contrato, percebemos a
abissal distância entre os dois casos, não é? Admita!
E tem uma banda norte
americana, esquecida no fundo empoeirado do baú do rock n’ roll que também
costuma segmentar, que mostra, mesmo no seu precoce fim, que defendeu sua
sonoridade e, mesmo rejeitada, sem sombra de dúvidas deixou uma marca
importante que serviu de inspiração às bandas de hoje e certamente de sempre,
por mais que seus sucessores sequer a conheça. Falo da SALEM MASS.
O Salem Mass lançou apenas
um álbum de estúdio em 1971 chamado “Witch Burning”, com uma capa, apesar de
bem “rústica”, digamos, entrega, de forma evidente, o título da capa e que,
esteticamente também, denuncia que se trata de um trabalho ao estilo occult
rock.
Mas muito mais do que isso,
por isso que arrisco em dizer que essa banda, lá pelo início dos anos 1970, foi
revolucionária, vanguardista, praticando de um voluptuoso rock progressivo, com
textura de teclados e moogs extremamente enérgicos, com vocais gritados e
poderosos, riffs de guitarra potentes, entregando também um heavy rock, um
heavy psych de ótima qualidade.
E já que falei em moogs, vale
aqui uma curiosidade que é no mínimo incrível e vale registro como parte da
história do rock n’ roll: diz a lenda que um dos primeiros sintetizadores
(número de série 23) foi usado para a gravação de “Witch Burning”! Não é
incrível?
“Witch Burning” é um grande
exemplar do heavy psicodélico obscuro, com generosas pitadas de progressivo,
uma viagem sonora delirante e chapada que é um verdadeiro, real e latente tapa
na cara do ouvinte, tamanha a sua loucura pioneira cujo ponto central está no
moog, no sintetizador.
Arrisco em dizer que este
álbum e banda foram uma das pioneiras do heavy prog, sendo referência, mesmo
sendo pouco conhecida, para a proliferação de bandas de heavy na década de
1980, devido a um som totalmente pesado.
Com isso me pergunto sempre
quando me deparo com relíquias que caem no ostracismo como essas: Como que uma
banda com uma sonoridade tão rica e pioneira para época lança apenas um
trabalho e some no mapa? Muitos são os motivos, mas confesso que não quero elencá-los
agora e falar desta rara banda e da sua música.
O Salem Mass foi formado em
1970 na cidade de Idaho e, como disse, gravou apenas um álbum chamado “Witch
Burning”, pelo selo Gear Fab Records, e de forma que diria muito curiosa: a
banda gravou seu álbum no seu bar favorito, pasmem, chamado “The Red Farn”, em
1971.
Ele foi convertido em
estúdio e lá produziu seu trabalho, seu único álbum. Isso que eu chamo de um
trabalho “artesanal”! Como disse, o som do Salem Mass é caracterizado pelo
típico heavy-prog psicodélico da virada da década de 60 e início dos anos 70 e
tem a predominância do instrumento moog dando um tom bem peculiar ao som da
banda: Um som pesado, forte e denso.
A banda que gravou “Witch
Burning” tinha os seguintes músicos: Kim Klahr nos teclados, Mike Snead na guitarra
e vocal, Steve Towery na bateria e Matt Wilson no baixo e vocal.
O álbum começa com “Witch
Burning” com uma epopeia sonora, uma faixa com pouco mais de 10 minutos de
duração, uma faixa ambiciosa oferecendo todos os tipos de solos de moog,
grandes riffs e inclinações progressivas. É uma verdadeira viagem instrumental,
mostrando músicos de grande destreza com seus instrumentos.
Segue com a densa "My
Sweet Jane", bem melancólica, melancólica ao extremo, ao extremo, e que
apresenta certa influência de Velvet Underground (não só no título, mas também
na música).
"You Can't Run My Life",
é pesado, tem uma vibe de rock sulista, moog proeminente, tendências prog e
proto-ocultas, mas alguns efeitos de rock espacial tamb´rm, e aquele riff
principal é totalmente matador.
"You´re Just a
Dream" é bem marcante aos ouvidos e poderia, sem medo, ter sido lançada
como single, já que suas características tinham tudo para agradar, por exemplo,
os órfãos fãs do Doors.
“Bare Tree” começa
assustadora e traz de volta algumas das inclinações mais atmosféricas e quase
ocultas que a banda fez tão bem no início do álbum, é uma música legal e
atmosférica.
E fecha com “The Drifter”
mais próxima tem alguns solos de sintetizador insanos e um riff quase
ameaçador; balança forte, mas ainda feliz, confundindo ainda mais qualquer um
que gostou do que ouviu com a faixa de abertura, por exemplo.
Enfim, Salem Mass e o seu
único álbum “Witch Burning” é bem agradável para quem é chegado a um bom moog e
muito, muito peso aliado ao progressivo. Apreciem essa mistura! Ao contrário do
título do álbum e da capa, a banda não trata de ocultismo, apenas em algumas
músicas. Modéstia à parte, para quem quiser sair da zona de conforto, pode
começar com essa banda e disco. Boa viagem!
A banda:
Kim Klahr – Teclados
Mike Snead – Guitarra e
Vocal
Stve Towery – Bateria
Matt Wilson – Baixo e Vocal
Faixas:
1 - Witch Burning
2 - My Sweet Jane
3 - Why
4 - You Can't Run My Life
5 - You're Just a Dream
6 - Bare Tree
7 - The Drifter
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