O velho Galo Atômico,
tradução livre do nome da banda ATOMIC ROOSTER, surgida na Inglaterra no final de 1969 é a
distinção do que se pode convencionar de rótulos e nunca, sobretudo na sua
áurea fase, entre 1970 e 1973, se prendeu a estilos e buscou ousar com novos
elementos de som que não se praticava naquela época.
O Atomic Rooster, é bem
verdade, em seu início, apresentava um hard rock mais cru, poderoso, visceral
aliado a um progressivo embrionário que crescia e fez dessa mescla a sua marca
no pioneirismo e em um breve futuro, com algumas mudanças em sua formação,
que foram muitas, diga-se de passagem, a banda foi adquirindo um estilo voltado
para o blues, soul e funk music, um guinada radical e que foi capitaneada pelo
seu fundador e principal integrante, ao longo da turbulenta e sazonal vida do
Atomic Rooster: o tecladista Vincent Crane.
Então vamos aos primórdios da
banda. Crane e o baterista Carl Palmer, ele mesmo, o icônico baterista do
Emerson, Lake & Palmer, faziam parte da obscura banda psicodélica The Crazy
World of Arthur Brown. Resolveram sair da banda para formar o Atomic Rooster em
1969.
A banda de Arthur Brown havia finalizado as suas atividades e cada músico
foi para seu lado. Mas em um voo para Nova Iorque, Crane e Palmer se
reencontram e, durante o voo, conversaram e desenharam um projeto que viria a
ser o Atomic Rooster.
Atomic Rooster
Juntou-se a empreitada o
pianista, vocalista, flautista e baixista britânico Nick Graham. Pronto! A
banda nascia e prometia alçar grandes e altos voos e que, de
certa forma, apesar de não receber os devidos créditos de suas façanhas, o velho
Atomic Rooster foi um dos pioneiros da música pesada e ajudou a definir também
a história do hard progressivo gravando, em fevereiro de 1970, o seu debut,
simplesmente chamado de “Atomic Rooster”.
Um excelente álbum, um tanto quanto
esquecido pela crítica especializada e diria até pelos fãs, mostrando um intenso,
vigoroso e pesado hard rock tipicamente setentista com pitadas de um lactente
rock progressivo com uma densa e obscura atmosfera garantida por exuberantes peças instrumentais.
E falando no quesito instrumental, o excelente e
subestimado guitarrista John du Cann uniu-se a banda, porém não fora creditado.
Ele entrou em fez os overdubs de guitarra, sendo efetivado, ainda em 1970, com
o segundo trabalho do Atomic Rooster, “Death Walks Behind You”, lançado naquele
ano, dando um caráter mais heavy ao trabalho.
Esse flerte com hard e progressivo se deve a história de seus músicos. Não podemos deixar de ressaltar
um toque de blues, psicodelia que fez desse álbum um “clássico obscuro” e
necessário. Já que falei dos protagonistas desse grande álbum, este lembra um
pouco o início do Crazy World of Arthur Brown e as teclas alucinantes de Crane
dava um “tempero” de acid rock e psicodélica, isso tudo aliado a uma energia
que, na época, era incomum entre os tecladistas que, na maioria das bandas,
ficavam esquecidos e reclusos em um canto do palco sendo apenas um mero coadjuvante.
Mas com Crane era diferente. O homem era agitado, enérgico e, com o seu apelo
estético, se tornou um vanguardista do instrumento, tornando-se um dos mais
emblemáticos músicos de sua geração.
Vincent Crane
Mas o Atomic Rooster trazia
o progressivo e a música pesada que os seus músicos decidiram agregar pois entendiam como a música do futuro e nessa "panela sonora" um alimento musical poderoso e
alucinante fez desse álbum indispensável para a história das
duas vertentes.
O álbum abre com "Friday The 13th", referência à data
de formação da banda, com explosivos e contagiantes riffs de órgão de Crane,
entregando passagens de de um proto metal avassalador com toques de blues, um
verdadeiro furacão sonoro, um fenômeno da natureza!
"Friday the 13th/Save me", live Beat Club (1970)
Segue com a faixa “And So To
Bed” que mostra um trabalho conjunto impressionante da banda, o que eu costumo
dizer, que é uma “música de banda”! O vocal soturno, talentoso e melódico de Graham
com, os teclados frenéticos e vocais de apoio de Crane e a bateria técnica e
visceral de Palmer com os riffs poderosos de guitarra de Du Cann faz dessa
música poderosa, pesada com momentos de calmaria, cheio de alternâncias
rítmicas atestando a competência dos caras.
"And So To Bed"
“Broken Wings” vem como um
contraponto às duas faixas anteriores e revela uma balada introspectiva,
sombria e, por vezes, viajante, com uma levada meio dramática do blues, e a
introdução de metais faz da música pouco ortodoxa para época. E o que dizer do
vocal de Graham? Um cara que foi conhecido em sua época como um músico normal,
típico, foi responsável por uma fase excelente, embora curta, do Atomic Rooster.
"Broken Wings"
Temos a pesadíssima “Before
Tomorrow” que é de tirar fôlego, uma faixa instrumental que conta com um duelo
salutar entre guitarra com riffs e solos avassaladores de guitarra e o sempre
presente e frenético teclado de Crane.
"Before Tomorrow"
“Banstead” é mais uma balada
do álbum e, mais uma vez, traz como destaque o vocal, mais rasgado e poderoso
de Graham, que, em alguns momentos, soa leve, delicado e melódico, mas que
irrompe em alcances vocais arrojados e até gritados, além da incrível sinergia
entre o hammond de Crane e a bateria quase que no mesmo compasso de Palmer.
"Banstead"
“S.L.Y.” mostra o lado mais
progressivo do Atomic Rooster, mas aliado ao prog rock podemos adicionar o hard
rock que sempre figurou neste belo álbum. E, como todo hard prog, não podemos
deixar de enaltecer os momentos de alternância rítmica da faixa: momentos de
calmaria, de peso, faz dessa música uma das mais bem elaboradas do álbum. O
órgão de Crane é demais nessa música.
"S.L.Y"
"Winter" é a faixa
mais longa do álbum, e também a mais bela, nela também se revela um progressivo
com um caráter mais contemplativo. Serena e envolvente destaca-se pelas belas
frases de flauta de Graham. A música, no seu desenrolar, vai se alternando
ritmicamente, uma faixa repleta de recursos sonoros protagonizados pelos
instrumentos com a bateria, sempre competente e marcada de Palmer e os teclados
em um rompante de energia incomparável de Crane, além dos solos diretos,
fomentado por belos riffs de guitarra de John Du Cann. Uma das melhores músicas
não apenas desse álbum, mas de toda a história do Atomic Rooster.
"Winter"
"Decline And Fall"
fecha o álbum como começou: repleto de um cardápio de hard rock tipicamente dos
anos 1970 feito de forma genuína e de muita energia. Adiciona isso um pouco de
acid rock e psicodelia para dar um clima mais viajante e experimental. Não
podemos deixar de destacar o virtuosismo do, na época, jovem Carl Palmer que
desfila seu solo de bateria que, ao contrário de muitos enfadonhos por aí,
mostra muita potência, feeling e técnica.
"Decline and Fall"
“Atomic Rooster” trouxe
consigo um pioneirismo que à época não lhe conferiram crédito. Um álbum que até
hoje está nos anais da obscuridade do rock, mas que sem sombra de dúvida nos
entregou o embrião do hard rock e do rock progressivo, fundindo as vertentes e
se transformando uma referência para muitos medalhões que surgiriam pouco
depois.
Carl Palmer, logo após o lançamento do álbum, é convidado para outro
projeto, com o tecladista que tocou no The Nice, chamado Keith Emerson, e
também o vocalista e baixista que tocou no King Crimson, de nome Greg Lake para
formar o Emerson, Lake and Palmer e, após essas mudanças, Vincent Crane
precisava reformular a banda e rever alguns conceitos para que o Atomic Rooster
não tivesse um precoce fim e produziu o segundo álbum da banda, lançado também
em 1970 chamado “Death Walks Behind You” que seria o ápice da história do velho
Galo Atômico, mas isso é outra história.
A banda:
Vincent Crane - Teclados
Carl Palmer - Bateria
Nick Graham - Baixo e Vocal
John Du Cann - Guitarra e Vocal
Faixas:
1 - Friday The Thirteenth
2 - And So To Bed
3 - Broken Wings
4 - Before Tomorrow
5 - Banstead
6 - S.L.Y.
7 - Winter
8 - Decline & Fall
"Atomic Rooster" (1970)
Meu amigo Paulo obrigado por comentar. O Atomic Rooster é uma das minhas preferidas. É muita qualidade mesmo, um som visceral, cru, mas de muita qualidade. O destaque realmente é do teclado, não tem como não se deixar envolver por ele, o Vincent Crane é um dos melhores tecladistas da história do rock, pena que é subestimado. O baterista, como você deve ter lido no texto, neste álbum, era o grande Carl Palmer que participou apenas deste disco do Atomic Rooster, saindo da banda para logo formar o Emerson, Lake & Palmer. O velho Galo Atômico é excelente!A banda, entre 1970 e 1973, lançou alguns álbuns ótimos, com várias formações e propostas sonoras variadas. Vale a pena conhecer mais da banda. Espero que, muito em breve, possa publicar mais resenhas do Atomic Rooster por aqui. Fico feliz que tenha gostado.
ResponderExcluirMeu Amigo Bruno, depois de mais de um ano me deparo com essa resenha maravilhosa de uma das bandas seminais do hard progressivo, o nosso querido Atomic Rooster ou se preferir "Galo Atômico" para os iniciados nessa maravilhosa música atemporal, hoje ao ler suas linhas busquei o meu CD para ouvir e relaxar ao som pulsante desses teclados sombrios e cheios de angústia, bem ao estilo do momento atual, obrigado por ter este espaço à disposição da boa música, isso é um diferencial importantíssimo, Grande Abraço!
ResponderExcluirAmigo Marcelo! E somente agora eu te respondi! Peço desculpas pela demora. Fico muito feliz com as suas elogiosas palavras acerca do texto sobre o velho Galo Atômico. Uma banda deste naipe sem dúvida nenhuma fomenta qualquer tipo de inspiração, afinal, tem muita história para contar. Vincent Crane realmente deixou um legado sonoro e ouso dizer que foi um dos melhores tecladistas da história do rock. Obrigado pela leitura e que bom que, de alguma forma, estimulei você a ouvir esse seminal álbum!
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