quarta-feira, 29 de abril de 2020

May Blitz - May Blitz (1970)


Sabe aquele som chapante, poderoso, visceral que te arrebata na primeira audição? Foi assim com a excelente e obscura banda inglesa MAY BLITZ formada em 1969. A banda está, sem dúvida, entre as primeiras formadas no formato “power trio”’ da história do rock, mas infelizmente não levou o crédito por se tratar de uma banda pouco conhecida, principalmente se comparada as emergentes e famosas bandas da época tais como a Experience, do guitarrista Jimi Hendrix e a arrasa quarteirão Cream, de Clapton, Baker e Bruce. 

A formação original da banda contava com o baixista Terry Poole e o baterista Keith Baker, que eram da banda de blues rock Bakerloo, ambos saíram da banda quando Clem Clempson foi para Colosseum. Eles queriam fundar juntos uma nova banda, assim surgia o embrião do projeto. 

Bakerloo (1969)

Mas ele recebeu um convite para formar o Uriah Heep e abandonou o barco com Poole junto. No caminho do baixista teria Tony Newman, um músico com alguma bagagem, apesar de jovem, tocando com Jeff Beck, sendo de lá demitido, além de ter tocado na banda de Graham Nash bem como na Sounds Incorporated e acabou assumindo as baquetas do May Blitz. 

Então faltava um guitarrista e vocalista. Newman e Poole decidiram fazer algumas audições, alguns testes e decidiram convocar o canadense Jamie Black. Quando a banda começou a trabalhar nas suas composições, a ensaiar, Poole segue o mesmo caminho de seu ex-colega de Bakerloo, Keith Baker, após um convite para tocar em uma banda alemã chamada Vinegar e deixou o posto vago. Foi aí que Jamie Black sugeriu o ingresso de um amigo, também canadense, como ele, para ser o novo baixista, o nome: Reid Hudson. Finalmente a formação do May Blitz se estabilizaria.



A banda no início, como várias outras nos longínquos anos 1970, tocou em vários pubs londrinos quando assinou contrato com o famoso selo “Vertigo” lançando o seu primeiro álbum no ano de 1970, sendo essa a minha dica infalível de audição. 

Tudo indicava à época que o May Blitz iria deslanchar principalmente pelo fato de sua sonoridade se encaixar nas pretensões do selo que buscava sonoridades vanguardistas e novas para o grande público, onde se destacavam o progressive rock e o hard rock, embrionários na transição da década de 1960 para a de 1970 e alguns exemplos já gozavam de publicidade e reconhecimento, como Grand Funk Railroad, Deep Purple e Led Zeppelin, com a mesma proposta pesada, sonoramente falando, e estavam fazendo sucesso. 

E, falando em Zeppelin, cabe aqui uma curiosidade: Tony Newman usava uma bateria Ludwig dada pelo grande John Bonham do Led Zeppelin, que era seu amigo. Com uma bateria dada pelo icônico "Bonzo", tinha que vingar! 

Mas a gravadora não investia tanto em marketing e divulgação em turnês, rádio e TV, mas o May Blitz construíra alguma reputação ao vivo, graças as suas viscerais apresentações conseguindo descolar muitos shows pela Inglaterra e também na França, Alemanha, Espanha, Canadá e Estados Unidos. 



E foi nos Estados Unidos que o May Blitz abriu para o Beach Boys, foi o seu show de estréia na terra do Tio Sam. Pode parecer um tanto quanto improvável uma banda com a potência bélica sonora do May Blitz abrir para o surf music do Beach Boys, mas era uma época em que o esteriótipo não ditava as regras, 

E na Europa o May Blitz tocou com outra banda que estava ganhando alguma visibilidade, o Black Sabbath. Sim! Imagine ver um show dos novos May Blitz e Black Sabbath juntos?  Falando do seu debut, simplesmente chamado de "May Blitz", as credenciais não poderiam ser outras: pesado, visceral, direto, cru, mas que, ao mesmo tempo, mostrava uma melodia sofisticada, bem trabalhada e diria intricada, complexa, podendo, em alguns momentos ser considerada como uma banda progressiva, inclusive trazendo notas dosadas, mas evidentes, de uma lisergia, uma psicodelia, que, naquela época, 1970, já estava perdendo seu “glamour”. 


“May Blitz” inicia avassalador com a música "Smoking the Day Away" com um festival de riffs que, mesmo cadenciado, revelou um peso pouco ortodoxo para aqueles tempos. “I Don't Know” segue no mesmo ritmo com um excelente destaque nos vocais e nos vocais de apoio dando o “tempero” para a faixa.

I don't know" (Live in Essen, 1970)

“Dreaming” começa lenta, dando uma “quebrada” na sequência pesada do álbum, trazendo, mais uma vez, um destaque no vocal soturno e competente que, aos poucos, no andamento da música, vai ficando gritado, potente, indomado, juntamente com os instrumentos, mais pesados, acompanhando o clima. “Squeet” é mais dançante, quase, diria, um soul, mas com o habitual peso das primeiras faixas.

"Dreaming"

“Tomorrow May Come” é uma linda e viajante balada, mostrando toda a capacidade e versatilidade da banda. “Fire Queen” retoma o momento pesado do álbum, mas com uma energia solar, mais animada, é possível criar alguns passos da dança com essa faixa, pelo menos aos que sabem dançar.

"Fire Queen"

E, para fechar, “Virgin Waters” alia peso e viagem psicodélica em doses cavalares, mas bem acertadas, corroborando a sinergia entre esses estilos, com solos desconcertantes de guitarra. Infelizmente, por incrível que pareça, a banda não atingiu a notoriedade que se esperava, diante de um grande álbum de estreia. 

Um segundo álbum fora lançado em 1971 chamado "The 2nd of May", mas a banda, no mesmo ano, se viu obrigada a encerrar as suas atividades. Black e Hudson, ambos canadenses, voltaram para o seu país e não se sabe se seguiram com as suas carreiras de músico, já Newman entrou no Three Man Army, banda fundada pelos irmãos Gurvitz, Adrian e Paul, que tocaram também no Gun. 

"The 2nd of May" (1971)

O May Blitz foi como uma força da natureza, aquelas que chegam avassaladoras, poderosas e com um nítido senso de destruição, mas que logo se dissipa, vai embora, tão efêmero, tão fugaz! Mas merecia ao menos um lugar na história da música pesada, um fiel representante do gênese de uma música que faria, fez e ainda faz história, viva e latente em nossos ouvidos e alma.





A banda:

Jamie Black no Vocal e Guitarra
Reid Hudson no Baixo
Tony Newman na Bateria


Faixas:
  
1 - Smoking the Day Away
2 - I Don't Know?
3 - Dreaming
4 - Squeet
5 - Tomorrow May Come 
6 - Fire Queen 
7 - Virgin Waters




May Blitz - "May Blitz" (1970)









2 comentários:

  1. Massa hein, ótima resenha, to conferindo as relíquias aqui. Show !.

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    1. Fala Marcel! Fico feliz de que tenha curtido a resenha! Essa banda é excepcional! Tem apenas dois álbuns lançados. Espero fazer a resenha do segundo muito em breve. Abraço!

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