Afirmo, de forma categórica e
até mesmo entusiasmada, que não sou eclético, que apenas aprecio o bom e velho
rock n’ roll! Apenas? Sim, apenas tudo isso! Evidente que os amantes e quase
unânimes apreciadores do ecletismo musical combatem duramente contra a minha
máxima de amor incondicional ao rock simplesmente, mas que espécie de motivação
tenho para gostar de outras músicas se o universo do rock é amplo e cheio de
possibilidades?
Quando comecei a desbravar as
matas selvagens e quase intocáveis do rock obscuro, a “tese” de que tanto
defendo começou a ganhar contornos mais fortes, ganhando vida. Percebi que, com
as inúmeras bandas, esquecidas, jogadas em um profundo ostracismo, também
traziam vertentes, até conhecidas pelo grande público, porém pouco “exploradas”
e até pouco compreendidas.
Não quero cair na teia do
estereótipo e me prender a estilos, mas sim a música, mas as nuances sonoras de
cada banda e álbum nos faz entender um pouco a proposta e história de cada
banda e seus trabalhos e de história, amigos leitores, como podem perceber,
aprecio e muito.
E assim foi com o “jazz fusion”.
Por ser uma música híbrida do famoso jazz com a pegada mais forte do rock e
muito apreciada entre os apreciadores do rock progressivo, eu pude ter acesso
graças a uma profusão de bandas do estilo que flertam com as bandas
progressivas que, claro, absorveu fortemente o jazz e outras músicas eruditas,
diria ser oriunda do jazz.
E assim foi! Os primeiros
contatos, como tudo que é novo, gera incertezas, algumas rejeições, mas a
sonoridade arrojada foi, aos poucos me cativando: um som complexo, mas, ao
mesmo tempo solar, pesado, energético. Claro que muito antes de qualquer banda
de rock experimentar o jazz temos os movimentos culturais musicais e músicos
engajados que se tornaram pioneiros, como Dizzy Gillespie, Miles Davis, o jazz afro
cubano e tantos outros, precisam ser enaltecidos, mas o jazz rock elevou o
nível.
E eu não poderia negligenciar
hoje essa ramificação da frondosa árvore do rock progressivo com uma banda que
seja e, nas minhas infindáveis e saborosas incursões pela grande rede, ouvindo
um já satisfatório número de bandas, gostaria de destacar uma banda norte
americana que ouvi quase que aleatoriamente, sem intenção prévia, sem roteiros,
sem absolutamente nada e simplesmente me arrebatou: a banda se chama OCEAN.
Depois de uma árdua e obcecada
busca por referências a respeito de sua história foi muito difícil encontrar algo
sobre a banda, apenas algumas linhas sobre a sua trajetória e pouco replicada
em sites especializados, mas é, dada as devidas proporções, normal, levando em
consideração que o Ocean, por exemplo, gravou sem único álbum, de jazz rock, no
início dos anos 1980, em uma década dominada pelo pós punk, pela new wave e o
heavy metal, quando o prog rock estava em declínio, sob o aspecto comercial.
E o álbum, gravado mais
precisamente em 1982, com o nome de “Sunrise”, foi o único de sua meteórica
passagem por este mundo, o que também é, digamos, normal, diante do cenário de
rejeição mercadológica ao estilo em pleno anos 1980. Diante da escassez de
informações do Ocean, muito pode se especular, encarando essa banda, como um
mero projeto de estúdio, desses que se reúne músicos, geralmente de estúdio,
grave-se um álbum e por lá finaliza a sua trajetória, algo com início e fim,
mas se há um álbum e músicos, pode-se considerar uma banda na sua real acepção
da palavra.
O pouco que se tem a respeito
do Ocean é de que a banda foi formada no início dos anos 1980 em Cincinnati, em
Ohio, nos Estados Unidos e que gravou um álbum, o “Sunrise”, que trazem
teclados totalmente analógicos, uma bela guitarra “fuzzy”, o que mais me
cativou neste trabalho, com composições inegavelmente originais, diria
arrojadas. Não querendo tornar “Sunrise” datado, sua sonoridade me remete aos
anos 1970 e traz a sensação de que estava descolado do seu tempo.
Mas prefiro dizer que os
músicos simplesmente deixaram a sua criatividade e a sua verdade pela música
simplesmente aflorar, sem amarras e preocupações com tendências e modismos
ditados pelo mercado fonográfico, não é à toa, claro, que caiu no ostracismo,
se tornando deveras obscura. E ainda no campo das especulações, “Sunrise” foi
gravado por um selo de nome, adivinhem, Ocean Sounds Records, levando a crer
que seja um produto, um projeto de curta duração e de estúdio, sem pretensões
de “ganhar o mundo” com turnês ou coisas que o valha.
E falando também em músicos, a
banda era formada por Bruce Fox, guitarrista e produtor do álbum, Rick Snyder
(Dennis DeYoung) nos teclados e sintetizadores, Michael Sharfe no baixo e baixo
acústico e Chris Erickson, na bateria e percussão. Com a participação de Curt Ramm, no trompete (Chic,
They Might Be Giants, Levon Helm, Jon Batiste, William Shatner, Bruce
Springsteen).
Músicos perfilados, vamos dissecar
as suas faixas! O álbum é inaugurado com a música “Hickey” que já começa
enérgica, intensa, vívida, a bateria jazzística, trompete dita o ritmo. A faixa
é extremamente dançante e os solos de guitarra traz um “tempero” muito atípico
e arrojado, tornando a música mais pesada e solar.
Segue com “Of Birdland Fame” e
a introdução fica mais introspectiva com os teclados, a bateria, mais contida,
entra anunciando uma levada mais prog rock, o trompete traz uma textura mais
contemplativa. O teclado domina as atenções e deixa a faixa mais dançante. Mas
na metade da música o que era contemplativo fica mais animado graças ao próprio
trompete, o jazz fusion ganha destaque. A bateria muito bem executada, ganha
corpo até a música retornar a sua vibe mais contemplativa. Complexa, cheia de
viradas rítmicas. Excelente faixa!
“The Bubble” já entrega algo
mais pesado! Bateria marcada e mais pesada e um solo mais direto de guitarra
destaca um hard rock inicial, mas que logo fica cadenciada, com baixo pulsante
com algum groove e solos de guitarra ao fundo e que, aos poucos, ganham
destaque, mas que vai finalizando meio experimental. Definitivamente é a faixa
mais “rock n’ roll” do álbum.
“Tidal Wave” tem uma pegada meio comercial, pop, mas muito bem executada e capitaneada pelo trompete. Traz uma “latinidade” muito dançante e que nos remete a música brasileira. A guitarra dedilhada é um “tempero” a mais a energia da música.
“Just One of Those Little
Things” começa com o som de mar, os pássaros, sintetizando a estética e nome da
banda e álbum e o trompete continua ditando as regras sonoras dessa faixa, mas
os solos de guitarra são mais elaborados e longos, dando um caráter mais pesado
à música e nesse interlúdio tem a bateria trazendo a pegada mais latina a
faixa. Mais uma faixa complexa e cheia de viradas rítmicas.
E fecha com “Ocean Sunrise (Sara’s Elegy) traz de volta a versão mais contemplativa, com um violão acústico ditando o ritmo, com um baixo meio groovado e o trompete “rivalizando” com o piano traz uma harmonização perfeita à faixa.
“Sunrise” pode não ser nada inovador entre as bandas de jazz fusion, para muitos pode soar até manjado ou algo pior, como plágio, por exemplo, tema tão em voga para se polemizar, mas não podemos negligenciar que o Ocean foi, primeiramente ousado em produzir um material esquecido em pleno anos 1980 de jazz rock e prog rock e segundo trata-se de um álbum arrojado sim, embora não seja nada novo. A pegada jazzística com riffs e solos de guitarra mais pesado definitivamente caiu muito bem aos meus ouvidos. Altamente recomendada!
A banda:
Bruce Fox na guitarra e
produção do álbum
Rick Snyder nos teclados e
sintetizadores
Michael Sharfe no baixo e
baixo acústico
Chris Erickson na bateria e
percussão
Com
Curt Ramm no trompete
Faixas:
1 - Hickey
2 - Of Birdland Fame
3 - The Bubble
4 - Tidal Wave 5:52
5 - Just One of Those Little Things
6 - Ocean Sunrise (Sara's Elegy)
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