sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Electric Funeral - The Wild Performance (1970 - 1991/2019)

 

Uma pergunta parece ecoar na minha cabeça desde que esse reles, humilde e famigerado blog nasceu! E para variar, bons amigos leitores, a farei de novo, porque essa banda se adequa aos meus devaneios febris: Pode uma banda obscura, rara, que se não lançou álbum de forma oficial em sua época, ser considerada pioneira ou uma das precursoras da música pesada?

Será que esse tipo de pergunta, que parece atormentar a minha vida, me acompanhar como a minha sombra, pode ser tida como importante para mudar a história do rock pesado, para a construção de um movimento, de uma cena?

A história! Essa palavra mágica que permeia a essência desse esquecido blog que faz questão de dissecar, com requintes de detalhes, as histórias esquecidas do rock n’ roll, das bandas marginais, marginalizadas, que caíram no mais profundo ostracismo por uma série de situações que levaríamos uma vida e centenas de páginas para contar.

Mas comecemos por essa banda que descobri recentemente e que me cativou, confesso, pelo nome que, quando revelar, vocês entenderão! Uma banda da Suíça que não conseguiu, lá pelos anos 1970, não conseguiu lançar nenhum trabalho oficialmente e que pereceu de forma precoce. Falo da ELECTRIC FUNERAL.

Conseguiu associar a clássica música do gigante inglês do heavy rock, o Black Sabbath, saída de seu segundo e icônico álbum, “Paranoid”, de 1970? Pois é, essa banda suíça traz em seu nome, a música do Sabbath e torna-se inevitável a pergunta, aquelas que ecoam nos confins da nossa cabeça e mente: Qual “Electric Funeral” veio primeiro: o da banda rara e obscura da Suíça ou a do Sabbath?

Bem eu não consigo cruzar as datas, mas o fato é que o álbum, embora não tenha sido lançado no período em que as suas músicas foram concebidas, foram gravadas no mesmo ano em que o Black Sabbath lançou seu debut e “Paranoid”, ou seja, em 1970.

Diante desse cenário podemos dizer que Electric Funeral e Black Sabbath que são bandas contemporâneas e que, de certa forma, são as pedras fundamentais do estilo! Será? Não quero cair nessa discussão difícil de pioneirismo, mas o fato é que não podemos negligenciar a importância do Electric Funeral para a música pesada, pelo menos na Suíça. Mas aqui, com o devido respeito, não há espaço para o gigante Sabbath, mas para as “fracassadas” bandas obscuras. Então vamos de Electric Funeral!

“The Wild Performance”, nome dado a essas músicas oriundas de fitas privadas de apresentações ao vivo e ensaios, como disse, gravadas em 1970, com exceção de uma música, chamada “My Destiny”, gravada em 1973, foram lançadas, pela primeira vez, em 1991, pelo selo Vandisk, como um LP muito limitado, com tiragem, pasmem, de 200 cópias numeradas, porém hoje muito procurado e, sem dúvida, se estiver sendo vendido, deve estar a preços astronômicos, teve uma reedição expandida e caprichada com som remasterizado e quatro faixas bônus, retiradas de rolos e fitas encontrados nos arquivos do Electric Funeral.

A sonoridade de “The Wild Performance” é crua, sujo e pesado e o nome faz jus às músicas lançadas finalmente de forma oficial. O lançamento de 1991, como disse, não foi tão caprichado, mas também existe a precariedade pela qual tais faixas foram concebidas originalmente. Porém o relançamento de 2019, no formato CD e também LP, pelo selo Sommor (Guerssen), está um pouco melhor, porém, o “charme” da sujeira e da selvageria dessas músicas, ainda estão lá, intactas.

O Electric Funeral foi formado no final dos anos 1960, para algumas poucas fontes, a banda teria existido entre os anos de 1970 e 1973 e foi formado por Edi Hirt, na bateria, Pierrot Wermeille, no baixo, Alain Christinaz, na guitarra e Dominique Bourquin nos vocais. Poucas, como disse, são as informações da banda, mas reza a lenda de que o Electric Funeral era avassalador nos palcos, com apresentações poderosas e tocando alto, muito alto e que ainda tocavam atrás de pilhas gigantes de amplificadores Marshall. O som era tão pesado que nenhuma gravadora tradicional ofereceu um contrato a banda.

Electric Funeral

“The Wild Performance” é pesado demais para a sua época e não posso negligenciar a informação de que se não fosse pela falta de qualidade do som, da produção do som, poderia se extrair muito mais desse material, mas, por outro lado, é inegável, principalmente para este que vos escreve, que é um charme ouvir esse som cru, sujo e até mesmo brutal, esse hard rock áspero, com pitadas de psych e proto metal que lembra o belo Edgar Broughton Band em algumas partes. Definitivamente é para se ouvir esse som no ápice do volume! Então vamos falar de cada faixa!

O álbum começa com “People” com uma introdução de bateria pesada e riffs e solos de guitarra sujas, que te remete a um psych rock, com uma pegada hard rock aliado a uma lisergia. A faixa vai ganhando em velocidade e assume uma carcaça proto metal muito bem definida trazendo um vocal gritado. “War Funeral Song” me remete ao som sujo e arrastado do doom e que vai mudando o andamento, com dedilhados de guitarra ácida, mas logo vai ficando mais alto, agressivo, personificado por uma guitarra pesada, com bateria espancada e baixo frenético e pulsante. Mas depois volta a ficar arrastado! Diria ser um protótipo de metal progressivo!

"War Funeral Song"

“Black Pages” me traz a lembrança de um hard rock com pitadas de occult rock. Uma sonoridade sombria e aterrorizadora que descortina um Deep Purple em “In Rock” (Odeio comparações!), com baixo pesado e desafiador, bateria marcada e agressiva e riffs de guitarra abafados e de textura ácida! “Rock Ba Rock” também segue uma proposta mais arrastada, uma balada rock com solos de guitarra mais longos e até mesmo mais trabalhados, soando, em alguns momentos, mais sujo e cru, até mesmo selvagem.

"Black Pages"

“To Be One” tem grunhidos, tem gritos altos e um groove ótimo, riff de guitarra grudento e pesado e um baixo pulsante e arrastado. Lá pela metade da faixa ganha em velocidade, mais peso, o baixo é esmurrado, os riffs de guitarra ficam mais pesados e velozes. Espetacular! “We're Gonna Change The World” é o típico hard rock dos anos 1970, com uma pegada cadenciada que entrega riffs grudentos de guitarra, baixo potente e pulsante com solos de tirar o fôlego! Verdadeiramente traz uma energia contagiante.

"To be One"

“Fly Away” é o puro e genuíno heavy metal! Vocais gritados, aos berros, guitarras com riffs pesados e altos, bateria pesada ao extremo. A faixa, certamente uma das melhores, é veloz e agressiva e festiva! “My Destiny” segue a mesma pegada, com uma veia pesada e agressiva, solos e riffs de guitarra pesados e animados, pura energia, com um baixo cavalar lembrando uma banda famosa por aí...

"My Destiny"

“I Don't Know” começa com um riff de guitarra poderoso e vocal, mais uma vez, gritado, bateria com uma batida intensa e agressiva. Após os estridentes gritos do vocalista, o tom fica engraçado, algo pastelão, mas que mostra o tamanho do rock de garagem dessa e todas, na realidade, faixas desse álbum. “You Can Help” já traz algo um tanto quanto atípico para um álbum que, até então, trazia hard rock. Essa faixa tem traços visíveis de proto punk que lembra MC 5 e Stooges, certamente. E fecha com outra versão para “To Be One”, que se revela mais veloz e frenética.

"To be One (Alternative Version)"

Pega-se os amplificadores Marshall, aumenta o volume no máximo, no máximo que puder e aí está o Electric Funeral: sujo, potente, despretensioso! Um hard rock dos anos 1970 como deve ser! Essas músicas foram gravadas em um ou em uns shows ao vivo da banda. Não se tem informações do local ou dos locais, mas provavelmente na parte francófona da Suíça (Romandia). O Electric Funeral deve ser mencionado ao lado de seus contemporâneos de bandas pesadas da Suíça como Toad, Haze, After Shave e Pacific Sound. A versão remasterizada de “The Wild Performance”, lançada pelo selo Sommor Records, teve uma tiragem de 500 cópias.




A banda:

Edi Hirt, na bateria

Pierrot Wermeille, no baixo

Alain Christinaz, na guitarra

Dominique Bourquin nos vocais

 

Faixas:

1- People

2- War Funeral Song

3- Black Pages

4- Rock Ba Rock

5- To Be One

6- We're Gonna Change The World

7- Fly Away

8- My Destiny

9- I Don't Know

10- You Can Help

11- To Be One (Alternate Version)




"The Wild Performance (1970 - 1991/2019)












 


Nenhum comentário:

Postar um comentário