A década de 1970 no rock n’
roll foi caracterizada, além da qualidade de suas bandas, pela profusão de
materiais produzidos e que não foram oficialmente lançados. Apesar de ter certa
fama nos dias de hoje, graças ao advento das redes sociais e da tecnologia que
as circunda, não tinham, naquela longínqua década, tantas possibilidades de
gravar um álbum.
E as razões podem ser muitas:
estrutura, o descaso das gravadoras, até mesmo a má sorte que gira em torno
desses fatos mencionados. O fato é que muitas bandas pereceram de forma precoce
por não ter conseguido emplacar seus trabalhos, apesar de muitas delas terem a
persistência em tocar, quando tinha ofertas para tal, para tentar, ao menos
divulgar o nome da banda etc.
E quando uma gravadora traz à
luz essas bandas nos dias atuais e quando as ouvimos e gostamos delas, sempre
vem à tona aquela pergunta que não quer calar: Como uma banda com essa
sonoridade tão avassaladora, tão ousada, não conseguiu o sucesso tão almejado
naqueles dias?
Talvez pelo simples fato de
serem avassaladoras e ousadas tais bandas não tenham conseguido o empurrão
necessário para emplacar as suas músicas, mas o empurrão para o ostracismo.
E uma banda alemã creio se
enquadrar fielmente nesse triste cenário que se construiu nos anos 1970. Falo
do ACTION. O nome da banda que, na tradução livre significa “Ação”, faz
verdadeiramente jus ao nome graças a sua tão intensa e incrível sonoridade,
oriunda de um hard rock com uma veia bem resolvida para o rock progressivo em
uma multifacetada e arrojada música.
A Alemanha realmente é um
celeiro de bandas que nasceram praticamente mortas que gravaram seus materiais
e esses, de forma impiedosa e até inexplicável, como o do Action, caem na
poeira infalível do ostracismo.
A origem do Action está na
cidade de Zweibrücken, na Alemanha. Em 1966 um grupo de jovens decidiu formar
uma banda com o que conseguiram juntar de dinheiro com os seus empregos de
verão.
A princípio tentaram emular sons dos ídolos da época, como Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix etc. Eles participaram de diversos concursos e em alguns deles garantindo o primeiro lugar.
Muitas mudanças na formação
ocorrem e com isso suas vertentes sonoras vai se modificando juntamente,
caminhando mais para uma roupagem mais voltada para o hard rock, psicodelia e
na experimentação, com pitadas generosas de rock progressivo que nascia para o
mundo na transição das décadas de 1960 e 1970. Percebe-se, inclusive, uma
pegada mais soul music, mostrando que os músicos eram competentes.
Mas o Action foi sendo submetido a novos caminhos, mergulhando em estilos mais voltados para o hard rock semelhantes ao Deep Purple e Uriah Heep, fugindo um pouco das longas jams sections que caracterizavam a banda em seus primórdios, mas não fugiu tanto assim, absorvendo um pouco de rock progressivo que já estava em voga no início dos anos 1970.
A banda entra, em 1972, nos
estúdios da Kerston Records e gravam o seu debut, chamado simplesmente de
“Action”, mas infelizmente nunca foi lançado oficialmente caindo nos escombros
obscuros do esquecimento. E já que falei dos fatores que implicam para projetos
musicais serem engavetados, lá vai uma em relação ao Action, em especial: por
ter apenas quatro faixas, reza a lenda que não seria um álbum, mas um demo,
tanto que a quarta faixa é uma música ao vivo o que reforçaria essa tese.
A banda que gravou esse
trabalho era formada por: Wolfgang Benki nos vocais, Charly Fottner na
guitarra, Otto Nunold nos teclados e órgão, Harald Schindler no baixo e Ernest
Cadet na bateria.
“Action” é um poderoso álbum
de hard rock com nuances bem evidentes de rock progressivo e entornos de
lisergia e experimentações bem estabelecidas que beiram improvisações bem
elaboradas. Um trabalho extremamente versátil sintetizando perfeitamente a
época em que foi concebido.
O álbum é inaugurado com a
faixa “Miscarriage Of Human Thinking (Part I)” e traz nuances viajantes de Pink
Floyd, uma balada rock que mostra uma linda simbiose entre o dedilhar das
guitarras com um teclado de textura suave e psicodélica. O vocal segue
basicamente a proposta da melodia da banda, límpido e leve.
Segue com “Miscarriage of
Human Thinking (Part II)”, como sequência da faixa anterior é introduzida com
guitarras dedilhadas, teclados contemplativos, sendo um complemento, uma parte
dos discretos riffs de guitarra. A bateria, marcada, vai encorpando a música,
vai ficando alta, mais pesada e intensa, com vocais mais altos. A guitarra
apresenta riffs mais pesados e grudentos, o hard rock passa a protagonizar. Com
os seus pouco mais de 13 minutos de duração possibilita essas viradas rítmicas
excelentes.
“Hell Track” muda totalmente o
humor do álbum entregando mais peso, mais intensidade e emoção. Um hard rock
com guitarras mais dissonantes, pesadas, mas que não esmorece quando se trata
de viradas rítmicas e a seção rítmica, a “cozinha” vai ditando tal regra,
mostrando ritmo com um baixo pulsante e uma bateria mais cadenciada. Uma bela
espécime de um hard prog com pitadas bem generosas de psych.
E fecha com a faixa ao vivo “You are the Lady” que ganha mais força e evidencia o hard rock com riffs poderosos e ultrajantes de guitarra que faz lembrar o heavy rock dos anos 1980 em sua fase transitória de décadas. Uma faixa mais direta, sem “firulas” e bem pesada, com vocais mais altos e por vezes mais rasgados.
“Action” não foi lançado em
1972, no período em que foi gravado, caindo no mais profundo ostracismo, sendo
engavetado. Apesar das inúmeras apresentações ao vivo da banda àquela época, as
dificuldades surgiram e foram obrigados a se separarem em 1973. Eles tentaram
gravar um álbum, chegaram a se reunir em estúdio, já que estavam com o selo
Kerston Records, mas não deu certo quando o guitarrista Charly Fottner saiu.
Mas foi em 1995, reza a lenda,
que os caras se reencontraram e decidiram reunir as gravações das faixas que
tinham de 1972 para lança-los o que finalmente ocorreu dois anos mais tarde, em
1997 pelo selo “Very Good Records” no formato LP. Ernest Cadet, o baterista,
teria enviado as fitas que juntaram das antigas gravações do Action para Thomas
Eicken, da Very Good Records, gerando o que deveria ser o único lançamento da
banda finalmente.
Em 2009, a abnegada “Garden of
Delights”, selo alemão conhecido por lançar pérolas undergrounds, relançou o
material do Action, na versão CD. Um ano antes, em novembro de 2008, o Action,
aproveitando esse momento de relançamentos de seu material, se apresentou em
“Festhalle Zwelbrucken” tocando as músicas “Hell Track”, “Miscarriage of Human
Thinking” e “You are the Lady”. Tais registros estão no relançamento da Garden
of Delights”.
As apresentações da reunião da banda apenas confirmaram que o Action, embora tenha sido uma, na incontável história de bandas altamente talentosas que mereciam aclamação nos dias de hoje, mas por algum motivo, igualmente obscuro como a banda, ficaram de fora.
São histórias que caem nas especulações e que enredam várias versões e motivos. O fato é que a banda se mostrou poderosa, incrivelmente competente ao vivo, revelando a sua faceta mais pesada e direta. O frescor e entusiasmo era nítido, mas o tempo foi implacável com o Action, mas não escondeu, mesmo que por um curto período, o seu talento.
A banda:
Otto Nunold nos teclados
Charly Fottner na guitarra
Wolfgang Benki nos vocais
Harald Schindler no baixo
Ernest Cadet na bateria
Faixas:
1 - Miscarriage of Human Thinking (Part. I)
2 - Miscarriage of Human Thinking (Part. II)
3 - Hell Track
4 - You are the Lady (Ao vivo)
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