Há quem diga que um projeto de
músicos não consiste em uma banda formada. Talvez tal argumento encontre força
no fato de alguns “projetos” não ganharem a estrada, sem turnês ou até mesmo
uma divulgação de seus trabalhos, limitando-se apenas às paredes frias dos
estúdios.
Provavelmente essa discussão
não mereça qualquer tipo de debate, mas o que me preocupa, caros leitores, é a
consequência que pretensa afirmação pode gerar no que tange às audições,
porque, independentemente de qualquer coisa a música precisa ser colocada em um
patamar maior de importância.
As temíveis posturas
conservadoras que teimam em pairar no rock n’ roll parece agir como uma
cegueira nessa questão de bandas “devidamente formadas” ou projetos que reúnem
músicos de outras bandas, as vezes com vibes distintas nas vertentes sonoras.
O fato é que a música precisa
ser colocada em prioridade, penso, e encarar projetos, que podem trazer algo de
audacioso, até mesmo de músicos estabelecidos, podem também oxigenar a cena, o
rock. E é aí que as rejeições podem surgir, levando em consideração que temos
cenas cada vez mais estagnadas que ouvem ou figurões ou as bandas e álbuns que
flertam com o mainstream.
Sou um entusiasta dos
projetos, principalmente que envolvam músicos já experientes que fogem do lugar
comum ou da zona de conforto de suas bandas, trazendo, nos brindando com algo
novo e arrojado para a sua carreira e consequentemente para a cena que, seja
ela do heavy metal, do rock progressivo, precisa se perpetuar com o novo.
E eu, em uma das minhas
inúmeras incursões pela grande rede, encontrei um álbum que, logo no aspecto
visual me chamou a atenção, com a sua arte gráfica e também por ser finlandesa,
acredito que isso já é um convite à audição. Falo da banda WOLMARI.
O Wolmari é um projeto de três
músicos da Finlândia que tinha suas vocações musicais para o rock progressivo.
São músicos estabelecidos e com longa carreira em seu país natal, tocando ou em
várias bandas ou com carreiras solos bem construídos. São eles: o vocalista e
tecladista Matti Kervinen que tocou em bandas como Kataya, Pax Romana e
Sunhillow. O tecladista Pasi Koivu e o baixista Petri “Lemmy” Lindström que
tocaram em bandas como Corvus Stone, além de seus próprios trabalhos solos que
variam da música pesada e até o eletrônico.
E como todo bom projeto traz
também uma grande quantidade de músicos que colaboraram para a construção de
seu único álbum, lançado em 2019, chamado “Wolmari”, pelo selo Presence Records
da Running Moose Production, que são: Anssi Nykänen (bateria, percussão), Samu
Wuori (guitarra elétrica), Timo Rautiainen (vocal), Hannu Leidén (vocal), Esa
Kotilainen (acordeão), Sonja Tiiro (saxofone alto), Anu Wuori (backing vocals)
e Teijo Tikkanen (teclados).
“Wolmari” é predominantemente construído com forte atitude no rock progressivo tendo nuances bem evidentes de folk rock e cantando em finlandês. Uma música tipicamente da Finlândia: progressiva e com toques bem generosos de paganismo!
O álbum é inaugurado com a
faixa “Wolmari I” traz um caráter literalmente de introdução ao álbum e entrega
um instrumental melancólico, sombrio, diria, profundamente atmosférico em que
todos os três membros do Wolmari tocam apenas o teclado.
Segue com a faixa “Sarastus”
que é a mais longa do álbum, com pouco mais de onze minutos e meio e é cantada
em finlandês por Timo Rautiainen, bem conhecido na cena do metal melódico
finlandês, com backing vocals femininos. A faixa traz um ritmo lento,
contemplativo e lembra, em alguns momentos, o Pink Floyd, especialmente na
guitarra de Wuori, com uma linda atmosfera melancólica típica do rock
progressivo escandinavo. Não podemos negligenciar as nuances um tanto quanto
experimentais nessa excelente faixa.
“Jään Tähän” (“Eu Fico Aqui”,
em português), mais curta, mas não menos excepcional, com um estilo melódico e
viajante, com um instrumental “temperado” por uma abordagem mais pesada com a
excelente participação do saxofone e do acordeão que traz um caráter mais
exótico a faixa.
“Syvä Jää” traz uma introdução
calcada nos sintetizadores, algo meio sombrio e soturno, com o baixo seguindo o
ritmo, logo entra o piano que entrega uma atmosfera oculta, estranha, mas logo
vem a bateria, marcada e pesada, e solos igualmente pesados, de guitarra, que
muda o “temperamento” da música. É inegável a influência de bandas italianas
como Goblin e até mesmo Antonius Rex. Sax, acordeão apenas incrementa a faixa,
dando um caráter de diversidade sonora.
“Syksy” (“Outono, em
português) traz uma “virada” na sua sonoridade, com uma pegada mais pesada e
até mesmo agressiva com um vocal indulgente, rouco de Hannu Leiden, outra
ilustre participação. Uma faixa de espírito forte que definitivamente deve ser
apreciado, porque mostra o caráter totalmente diversificado de “Wolmari”.
“Onkapannu” é um belíssimo
instrumental com lindas camadas de sintetizadores, com uma atmosfera quase de
catedral. “Jos Annat Aamun Tulla” é uma faixa também cantada por Timo
Rautiainen, é uma música mais comercial, mais acessível para ouvintes que não
apreciam tanto rock progressivo, que traz um refrão repetido que “gruda” na
mente. Se isso é bom ou ruim dependerá de você, caro leitor e ouvinte. Sem
contar com o belo solo de sintetizador, fechando com um belo instrumental.
E fecha com “Kaivon Silmä” e,
mais uma vez, a introdução fica a cargo dos teclados, agora em uma pegada mais
sinfônica, mais contemplativa, logo entra o piano, e assim fica, com esse
“jogo” de teclas, em uma viagem intimista e, por vezes, sombria.
Nada como projetos na música que
vise a estimular o lado criativo e ousado dos músicos e por mais que possa
parecer algo efêmero é sim o Wolmari uma banda excepcional que flerta
maravilhosamente com várias vertentes do rock, que vai do grego Vangelis, a
músicas com uma veia mais acessível e até radiofônica, do progressivo ao hard e
heavy rock.
E por mais que o Wolmari
exponha as suas inspirações para seu único rebento, mostra que tem um caráter
próprio, pois traz à tona uma música contemporânea, com um frescor dos novos e
bons tempos do rock. Se você, estimado leitor, aprecia prog rock, hard rock,
space rock, folk, sintetizadores introspectivos e atmosferas sombrias e
profundas, você terá no Wolmari a audição mais de que perfeita e adequada aos
seus ouvidos. Um álbum “charmoso” e altamente recomendado.
A banda:
Petri "Lemmy"
Lindström no baixo, guitarras
Matti Kervinen nos teclados,
vozes, violões
Pasi Koivu nos teclados
Com:
Anssi Nykänen na bateria,
percussão
Samu Wuori na guitarra
Timo Rautiainen nos vocais
Hannu Leidén nos vocais
Sonja Tiiro no saxofone alto
Anu Wuori nas vozes de apoio
Teijo Tikkanen nos teclados
Faixas:
1 - Wolmari I
2 - Sarastus
3 - Jään Tähän
4 - Syvä Jää
5 - Syksy
6 - Onkapannu
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