O krautrock, icônica cena
comportamental, política e musical alemã, ficou notoriamente conhecida, sob o
aspecto da música, pelas bandas com suas longas e experimentais músicas, com
“quedas” para a lisergia, para o psych rock, com pegadas bluseiras, jazzísticas
e até algo mais pesado como o hard rock, por exemplo.
Até hoje a cena, em seus
primórdios, não é muito encara pelos amantes do progressivo, como bandas do
gênero, pois estão mais ligadas ao psicodélico, afinal, tais bandas surgiram em
uma época em que a psicodelia estava em voga, nos anos de 1968, 1969.
Mas quando o progressivo
estava em voga, isso lá pelos anos de 1972 ou 1973, algumas bandas alemãs,
surfando na onda, conseguiu, com maestria, aliar o experimentalismo, o
minimalismo do krautrock com o genuíno prog rock que tinha na Inglaterra o
berço das grandes representantes do estilo.
E fizeram com maestria e
ousadia, fazendo o que poucos tinham a coragem de colocar em prática, no
estúdio e nos palcos. Claro que havia os famosos “power trios”, como o Emerson,
Lake & Palmer que, mesmo com uma dose limitada de músicos no palco, os
destruía destilando suas notas pesadas e complexas.
Porém o que dizer de uma
dupla? Sim! Um “duo”! Pode parecer algo impensável, atípico, até louco, em se
tratar de rock progressivo. Como parecer relevante e consistente com apenas
dois caras no estúdio ou no palco!
Pois sim, há uma banda, ou
melhor, um “duo”, que surgiu na Alemanha no início da década de 1970 e que
pratica um som incrivelmente forte e intenso. Falo do MINUS TWO.
O Minus Two foi formado no
início de 1971 quando dois jovens estudantes de música em Viernheim, o
tecladista e organista Günter Kühlwein e o baterista Walter Helbig
de uma banda de soul chamada “Excelsior”. Já começa aí no estilo de som, do soul
para o prog rock, uma guinada e tanto.
Os caras decidiram continuar
fazendo música mesmo que a ruptura com a sua antiga banda. Então radicalmente
dispensou, em seu novo projeto, guitarristas e baixistas optando por uma dupla
com tecladistas e baterista. Por isso que o nome da banda é “Minus Two” que, na
tradução livre significa “Menos Dois”.
Com o Minus Two formado a
banda passou a excursionar pelo sul da Alemanha, fazendo um bom número de
shows, apareceu até na televisão, além de uma exposição de uma rádio em Berlim,
em 1971.
Gravou uma seção para a Südwestfunk
(SWF), em Baden Baden, no verão de 1972 o que originaria o álbum lançado
somente em 2010, pelo selo “Long Hair”, chamado de “SWF Session”, cuja gravação
ocorreu em 1972 e que foi esquecida.
Esquecida porque nenhuma
gravadora queria gravar o material, porém também porque os jovens estudantes
continuaram com as rotinas estudantis na Universidade das Artes de Basiléia,
mais precisamente na Swiss Jazz School.
Talvez possa parecer louco e
muito improvável uma dupla de baterista e tecladista, ou faltar algo no
conceito da música, em sua estrutura melódica ou coisa que o valha. Confesso
que, quando a descobri e li rapidamente sobre o pouco que tem a respeito do
Minus Two na grande rede, por exemplo, achei se tratar de algo raso e trivial,
mas não! Uma sonoridade extremamente cativante, viva, diria até intensa.
“SWF Session” é um álbum de
prog rock, mas com a alma kraut com improvisações alucinantes, viajantes, quase
lisérgicas e chapantes a ponto de a alma sair do corpo e se deixar seduzir
pelas notas que saem desse trabalho.
E convém ressaltar um
detalhe que considero de suma importância: por se tratar de um “duo”, dois
instrumentos, não há nenhuma espécie de indulgência entre os músicos e seus
instrumentos, ou seja, não há solos intermináveis de bateria, de teclado. Há
uma convergência entre os músicos e seus instrumentos.
Então comprovemos a audácia
sonora produzida neste álbum, falando de cada faixa, das quatro faixas que o
compõe. “SWF Session” inicia com a faixa “Sticks and Keys” que já começa com
uma breve, mas sombria introdução sombria do hammond que logo irrompe em uma
simbiótica relação com a bateria, que ocasionalmente se coloca em alguns solos,
com viradas rápidas e diretas.
Segue com “Differences” que
é introduzida com o teclado novamente, mas com uma vibe mais experimental,
talvez algo voltado para o space rock, com um “caráter” mais contemplativo. A
bateria se faz presente, de forma mais intensa aos minuto e meio e segue em um
salutar duelo com o hammond e ficando cada vez mais intenso e até, por vezes,
pesado.
“First Romance” é faixa mais
longa e talvez a melhor de todo o álbum. O vocal traz um tom sombrio, texturas
obscuras tecem a música e entrega também algo tenso e dramático. O teclado é o
“culpado” por essa atmosfera também e a bateria traz o senso rítmico,
arrastado, até perigoso. Fantástica música!
E o álbum fecha as cortinas
com “Welcome for You” e é inaugurado com o frenesi dos teclados e uma
combinação experimental e lisérgica que logo fica mais solar, mais animado, com
o prog rock assumindo protagonismo, talvez uma levada jazzística de nota com a
bateria entregando tal momento.
“SWF Session”, quando ganhou
vida décadas mais tarde, em 2010, trouxe, como bônus track, a faixa “Differences”
ao vivo em Baden Baden, naquela apresentação no longínquo ano de 1972.
O tecladista Günter Kühlwein foi morar na suíça e é muito ativo como músico nas áreas do jazz, soul e blues e leciona também na Swiss Jazz School, onde foi aluno.
Walter Helbig, o baterista,
está na Alemanha onde trabalha como professor de música e tocou em algumas big
bands de jazz e também trabalhando para vários músicos pop como Jürgen Drews,
por exemplo.
Sem dúvida o pouco caso de algumas gravadoras foi o pivô para o esquecimento dessa gravação, mas parece que os jovens músicos à época também não deram tanto o devido interesse ao belíssimo trabalho que produziram que de tão ousado, resultou em uma música de vanguarda e cheia de vida.
A banda:
Walter Helbig na bateria, percussão
e vocal
Günter Kühlwein nos teclados
e vocais principais
Faixas:
1 - Sticks and Keys
2 - Differences
3 - First Romance
4 - Welcome for You
Bonus Track:
5 - Differences (Live)
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