A Alemanha parecia não estar
preparada para bandas do naipe como ORANGE PEEL. Por que falo isso, dignos
leitores? Porque ao ouvir o petardo do seu único trabalho lançado, simplesmente
chamado de “Orange Peel”, em 1970, o petardo sonoro que se testemunha é
incrivelmente pesado para a sua época, quando praticamente a cena krautrock
estava embrionária.
O kraut, com suas viagens
experimentais e psicodélicas, lá dos primórdios, com bandas como Popol Vuh,
Amon Duul II, Can entre outros, não via similaridade sequer com o que fez o
Orange Peel com seu álbum. Claro que algumas bandas já apresentavam alguns
riffs um pouco mais distorcidos, algum peso na sua seção rítmica, mas o Orange
Peel trazia em sua sonoridade o peso, o hard rock em sua gênese.
As performances
experimentais, um tanto quanto “extraterrestres”, lisérgicas, com aquele space
rock psicodélico, definitivamente não se observava nos traços sonoros do Orange
Peel. Era hard rock, talvez não genuíno, mas um híbrido de rock progressivo,
com sensacionais viradas rítmicas que entregava também nuances de blues rock.
O Orange Peel foi formado em
1968 em uma cidade chamada Hanau, que fica a 25km a leste de Frankfurt e tinha
a seguinte formação quando “Orange Peel” foi concebido, ainda em 1969, sendo
gravado nesse ano e lançado em 1970, pelo selo “Bellaphon”: o organista Ralph
Wiltheib, o guitarrista Leslie Link, o baterista Curt Cress, o baixista
Heinrich Mohn e o cantor e percussionista Peter Bischof.
O álbum foi produzido pelo
lendário Dieter Dierks no Dierks Studio em Colônia e tinha, até o lançamento do
single "I Got No Time" / "Searching For A Place To Hide",
em 1969, a participação do guitarrista Michael Winzkowski que logo saiu
partindo para outra seminal banda, o Nosferatu e mais tarde para o Epsilon.
Essa “laranja descascada”,
tradução livre do nome da banda, “Casca de Laranja”, depois de espremida se
mostrou ácida, progressiva, poderosa, intensa, pesada, indulgente, com
“sussurros” pesados de órgão, guitarra distorcida e bluesy com músicas agradáveis, e emocionais.
E falando em guitarra, cabe aqui um destaque para ela. São lindas e nítidas e às vezes muito mais complicadas do que algumas de suas contemporâneas do hard rock setentista, mas isso ocorre porque as faixas longas permitem bastante espaço para solos que realmente permitem que as coisas se estendam.
O vocal também é bem interessante, é cru, alto, gritado em alguns momentos, que é excelente para as linhas de teclado e baixo que são bem pesados e frenéticos também. Não podemos negligenciar também a seção rítmica, com baixo possante e bateria pesada e marcada e os órgãos enérgicos e intensos.
A faixa inaugural, "You
Can't Change Them All", que no auge dos seus longos dezoito minutos é uma
faixa matadora, com peso, um ato lisérgico com guitarras distorcidas, de riffs
grudentos e pesados. O teclado avança para um estilo meio prog, meio sinfônico,
sendo sustentado pelas doses cavalares de guitarra, que por vezes se fazia
discreta e jazzística. O teclado vai aumentado de intensidade, se mostra
frenético, emocional que é reforça pelo vocal. E como essas camadas e texturas
sonoras vem as improvisações com muita percussão, lembrando um pouco música
latina. É uma faixa excelente e complexa, mas, ao mesmo tempo orgânica.
As faixas seguintes, “Faces
that I Used to Know” e “Tobacco Road” são menos improvisadas, fugindo um pouco
do conceito “espacial”, mas não deixam de ser especiais, trazendo uma percepção
voltada para o hard rock e peças bluesy, um blues rock vigoroso, com o teclado
impondo peso, sobretudo em “Tobacco Road”, onde é evidente a linha blueseira.
E fecha com a excepcional
“We Still Try to Change” que pode facilmente ser considerada uma obra-prima com
a sua introdução de baixo implacável poderosos riffs de teclado, sempre
intensos, frenéticos e enérgicos. Essa “salada” sonora te transporta
imediatamente para outro planeta, revelando ainda ou melhor anunciando sons
futuros do prog rock aliado ao krautrock com doses bem cavalares de hard rock.
Apesar do início
proeminente, promissor, o Orange Peel não conseguiu plantar uma trajetória
longeva e consistente, embora certamente tenha deixado um pequeno, mas
significativo legado dentro da cena rock alemã da virada dos anos 1960 para o
1970.
Este trabalho, em especial, mantém uma boa dose de complexidade, que parece ser um progressivo um tanto precoce, não pelo ano, mas pela sonoridade visceral e “rústica” do seu som, com intervalos de passagens cantadas, com sessões de improvisação pesadas nos teclados e guitarras.
Além de Winzkowski que
ingressou no Nosferatu antes do lançamento oficial de “Orange Peel” e seguindo
em seguida na banda Epsilon, Heinrich Mohn seguiria também para o Epsilon,
Peter Bischof, vocalista, seguiria para a bela banda Emergency e Curt Cress
seguiria uma prolífica carreira de baterista, tornando-se um dos melhores do
rock e jazz da Alemanha.
“Orange Peel” teve outros
relançamentos, em 1972, no formato LP, pelo selo “Bacillus Records”, na
Alemanha, em 1972 e também pelo selo “Citystudio Media Production”, em 2003. No
formato CD também pela “Citystudio Media Production”, em 2003, sendo
remasterizado por Jürgen Crasser e também em CD pela “Bellaphon”, Alemanha, em
2001.
A banda:
Peter Bischof nos vocais e
percussão
Leslie Link na guitarra
Ralph Wiltheiß nos teclados
Heinrich Mohn no baixo
Curt Cress na bateria e
percussão
Faixas:
1 - You Can't Change Them All
2 - Faces That I Used To Know
3 - Tobacco Road
4 - We Still Try To Change
Bela homenagem, continue no seu trabalho!
ResponderExcluirObrigado meu amigo! Com essas palavras estimuladoras, sempre será válido manter essa trabalho!
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