Quando falamos em uma banda
rara e obscura, não se enganem, amigos leitores, não traz e não deve trazer, em
hipótese alguma, a percepção de falta de qualidade, de algo ruim.
Quando falamos em banda que
não atingiu sucesso e automaticamente associamos a também falta de qualidade,
não se enganem também, não é porque a mesma é ruim. É só a ausência do sucesso
comercial, que deve ser dissociado da qualidade.
É sabido que o conceito de
qualidade é subjetivo, depende de quem “consome o produto”, mas essa máxima,
carregada de estereótipo e visões pré-concebidas, não devem, penso, ser levadas
em consideração sempre e servir como parâmetro de concepção de qualidade ou
coisa que valha.
Mas na música e na arte como
um todo devemos “carimbar” um padrão de qualidade, algo pré-determinado, algo
definido por um “distinto” e magnânimo grupo seleto que foram escolhidos,
sabe-se lá por quem, para escolher o que é melhor para todos?
A arte não pode ser
concebida e entendida dessa forma. Ela é viva e latente e ela satisfaz ou deve
satisfazer a todos da forma que cada um achar conveniente. E com a música, uma
particular forma de arte, não foge à regra.
Mesmo que bandas sejam
obscuras ou que, por algum motivo, não atingiu êxito comercial, podem sim
promover grandes feitos sonoros e o único entrave, além do vilipêndio da
indústria fonográfica, são os parcos recursos tecnológicos de que goza por
conta exatamente desse ostracismo por parte dos executivos das grandes
gravadoras.
E, mais uma vez, não se
enganem amigos, mesmo diante dos poucos recursos a seu favor bandas conseguem,
à duras penas, na base da persistência e amor à música, gravar seus álbuns,
independente das péssimas e adversas condições de produção.
Essa é a diferença das
bandas que imprimem as suas verdades aos seus trabalhos, que deixam aflorar as
manifestações criativas e a essas se rendem magistralmente, onde mesmo diante
das dificuldades produzem grandes obras.
E perante a tudo que produzi
nessas linhas eu preciso falar de uma banda que muito pouco se sabe, essa é verdadeiramente
uma banda que podemos dizer que é obscura, rara ao extremo, mas que aqui, neste
reles e humilde blog, merece a luz, a luz ao seu exuberante rock progressivo
sinfônico.
A banda que me refiro é a
JOKER’S MEMORY. Banda sediada na cidade de Ottawa, capital do Canadá, gravou
apenas um álbum, homônimo, em 1976 e simplesmente desapareceu sem deixar
rastros. Há fontes, poucas, diga-se de passagem, que dizem que o álbum fora
lançado em1975. Teria sido gravado entre agosto de 1975 e janeiro de 1976. Não
há registro de fotos, de imagens da banda atuando em estúdio, absolutamente
nada, o que impõe a sua condição de obscura e rara.
O álbum, que contém apenas
uma faixa de vinte minutos no total, é dividida em três partes, cujos nomes das
músicas trazem o nome da banda, como: “A Joker’s Memory Part One”, “A Joker’s
Memory Part Two” e “A Joker’s Memory Part Three”.
A faixa, a música foi
escrita e arranjada por James Arthur Holt e Christopher Arthur Ellis, sendo
concebido no estúdio “MARC”, em Ottawa. Este último, Chris Ellis, era da banda
sendo o pianista, o técnico e o engenheiro de som.
A arte da capa, linda, por
sinal, trazendo uma figura um tanto quanto primitiva e que, me perdoem a
licença poética, me remete a uma figura que pensa, reflete ao estilo “O
Pensador”, de Claude Monet e que talvez explique o nome da banda: “A memória do
palhaço” ou “A memória do coringa”.
A arte apresenta uma pasta
na capa e na contracapa, com uma tiragem mínima, de cerca de 100 cópias,
pasmem! Vejam o tamanho da obscuridade dessa banda que produziu um álbum quase
que artesanalmente e que hoje certamente se tornou um artigo de luxo, de
colecionador e que deve valer uma fábula de dinheiro.
O projeto de “Joker’s
Memory” é do baterista Steve Hollingworth, oriundo de Ottawa. A banda,
numerosa, era formada por: Steve Hollingworth na bateria, percussão, sinos e
vocal, Peter Fredette no baixo e vocal, Dave Binder na guitarra, Brian Sim na
guitarra e vocal, Chris Ellis no piano, órgão elétrico e sintetizadores, Floyd
Bell no vocal, Joey Hollingworth no vocal, Jim Ounsworth no backing vocal e Jim
Holt também no vocal.
“Joker’s Memory” foi um
trabalho majoritariamente de rock progressivo sinfônico com passagens
comerciais denunciadas principalmente por vocais melódicos e melodiosos que
vagam pelo rock clássico e o soft rock.
“Joker’s Memory Part One”
inaugura com a predominância dos teclados e piano, com um forte viés do
progressivo sinfônico, bem como comercial, algo acessível, mas de qualidade
superior, primando pelo instrumental, com discretas passagens de guitarra, com
apenas alguns dedilhados que me trazem à recordação um folk music e um vocal
extremamente melódico. A música trafega em mudanças de ritmo, com boas e
simples variações tendo sempre o sinfônico como o carro-chefe.
"Joker’s Memory Part Two”
começa mais intenso com guitarras mais vívidas e intensas, mas ainda com
discretos riffs com a companhia de baterias mais secas e batidas igualmente
fortes e marcadas, tendo ainda a presença do piano que traz uma textura mais
evidente de um soft rock com passagens de folk rock também, evidenciando,
diria, algo mais psych com viés radiofônico.
“Joker’s Memory Part Three”
traz um vocal bem melódico e dramático quase que à capela, apenas acompanhado
por delicado piano em uma concepção acústica e de atmosfera psicodélica, mas
pouco experimental. O vocal vai ficando mais intenso e descortina um solo de
teclado viajante denunciando a sua faceta sinfônica.
“Joker’s Memory”
lamentavelmente não conta com uma boa produção, soa um pouco “abafado”, mas
que, em momento algum denuncia a má qualidade na música, pelo contrário. Um som
cativante, solar, introspectivo e sombrio, às vezes, e assim trafega em vários
aspectos que vai do soft rock, ao prog rock e a rock psych.
A obscuridade merece luz, o
rock obscuro precisa sair do ostracismo e ganhar vida, alçar voos e pousar nos
nossos ouvidos, corações e almas e o trabalho abnegados de seus apreciadores
são preponderantes para essas movimentações ganhando corpo, substância e
barreiras como o estereótipo e intolerância a questões “técnicas” como produção
e sucesso comercial e deixar a arte falar por si só em suas várias encarnações.
A banda:
Steve Hollingworth na bateria,
percussão, sinos, vocal
Peter Fredette no baixo,
vocal
Dave Binder na guitarra
Brian Sim na guitarra, vocal
Chris Ellis no piano, órgão
elétrico, sintetizadores
Floyd Bell no vocal
Joey hollingworth no vocal
Jim Ounsworth no backing vocal
Jim Holt no vocal
Faixas:
1 – Joker’s Memory Part One
2 – Joker’s Memory Part Two
3 – Joker Memory Part Three
Para ouvir o álbum na íntegra acesse aqui!
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