O krautrock nada mais foi do
que uma cena baseada no experimentalismo e minimalismo alemão, uma espécie de
psicodelia germânica, com jams sections e improvisações com sons pouco
palatáveis para um ouvido e mente pouco abertas, que sequer se permite
absorver, identificar e entender.
Talvez seja esse o motivo, pelo menos um dos
principais, que a cena seja vilipendiada pelos fãs mais conservadores do rock
progressivo, por exemplo. Além de o nome ter sido adotado, de forma pejorativa,
pela imprensa britânica, os alemães e boa parte das bandas que compunha a cena
recebeu bem o nome, mas, na década de 1970, o rock alemão sofreu com a
“universalização” do estilo, ou seja, todas as bandas, indiscriminadamente,
independente do estilo e da vertente, foram colocadas no “mesmo saco” do
krautrock.
Aos que apreciam o rock alemão, falarei dessa forma, pelo menos
nesse momento, são sabedores da diversidade, da multiplicidade dos estilos que
povoam o rock n’ roll naquele país. É fato que o krautrock foi um sustentáculo,
um pilar essencial para o surgimento de várias bandas na Alemanha que, também
foram inspiradas por um movimento contra cultural, mais uma semelhança com o
psicodelismo, contra o status quo e o conservadorismo da sociedade alemã do pós
guerra, que imperava, é claro, na cultura popular, com músicas pasteurizadas e
importadas de outros países, um pop vazio, alienante e que não incitava os
jovens, sem perspectivas, a pensar, a ter senso crítico.
E esses jovens se
formaram em grupos, que viria a se tornar o embrião de bandas que se tornariam
as precursoras do movimento kraut que, no início sequer vislumbravam na música
a sua voz contestadora. Muitas bandas surgidas em meados da década de 1960 na
Alemanha não estavam viajando em sonoridades experimentais, lisérgicas ou
psicodélicas, mas estavam produzindo jazz rock, hard rock, como o Passport,
Guru Guru etc.
E há outra banda extremamente obscura, surgida em 1968, que
esteve relegada, marginalizada, não recebendo o devido crédito, talvez por
alguns infortúnios ou má sorte que a levou ter uma curta e precoce retirada da
cena underground alemã de rock. Falo do NOSFERATU.
Nosferatu
A propósito do que muitos
formadores de opinião colocarem no saco do krautrock o Nosferatu se
caracterizou, no seu único álbum de estúdio, lançado em 1970, auto-intitulado,
por uma sonoridade voltada para o jazz rock, um progressivo embrionário, folk e doses generosas de um peso, um bom hard rock,
envolto em uma atmosfera soturna, perigosa e muito, mas muito misteriosa.
É
claro que se observa, ou melhor, ouve passagens experimentais, afinal, eram os
anos 1970, estilos e vertentes estavam surgindo e era tudo muito novo para as
bandas que, criativas, flertavam com os mesmos, sem o medo e a preocupação do,
as vezes, famigerado esteriótipo, era o auge do kraut na Alemanha.
A formação
da banda, no lançamento de seu único álbum, contava com Michael
"Xner" Meixner na guitarra, Reinhard "Tammy" Grohé no
órgão, Christian Felke no saxofone e flauta, Michael "Mick"
Thierfelder no vocal, Michael "Mike" Kessler no baixo e Byally
Braumann na bateria. Talvez o único ponto de visibilidade que o álbum ganhara à
época é que fora produzido pelo emblemático produtor Conny Plank, que trabalhou
com nomes do porte de Kraftwerk, Guru Guru e muitos outros.
O álbum conta com longas e bem sucedidas jams instrumentais, mesclando
guitarra pesada, riffs pegajosos e solos poderosos e um órgão hammond bem
executado, com instrumento de sopro dando uma camada mais sombria, com um vocal
frenético e nervoso, cantado em inglês.
Inicia com a faixa “Highway” já dá as
credenciais pesadas do Nosferatu, com riffs nervosos, com um hammond
incontrolável tocado de forma frenética, um som mais cru, direto e agressivo,
ótimo para abrir um álbum.
"Highway"
“Willie The Fox” segue outra proposta, diametralmente distinta da faixa
anterior: uma música mais animada, solar, com a flauta ditando as regras com
uma levada mais jazzística, ótimas alternâncias rítmicas, revelando um
progressivo em tempos remotos, onde esta ainda estava apenas no embrião,
lactente. “Found My Home” se destaca pelo instrumental, uma verdadeira ode a
jam section calcada no jazz rock, tendo o vocal, nos curtos momentos, mais
limpos e comportados.
"Willie the Fox"
“No.4” traz uma atmosfera sombria, tensa, um som intimidador e
ameaçador, com viagens experimentais, psicodélicas, com guitarra estridente,
bateria marcada, mas competente e vocal suplicante, paranoico. “Work Day” é
mais dançante, despretensiosa, suja, trazendo um pouco de soul, funk a já
típica levada jazzística, música extremamente versátil.
"Work Day"
E finalmente fecha com
“Vanity Fair” um hard cadenciado igualmente animado e solar, um som cativante,
com alguns solos de guitarra simples, mas competentes e uma curiosa passagem de
música latina.
É difícil hoje classificar o Nosferatu e isso é extremamente
relevante! Uma banda que, apesar da pouca sorte e da curta vida, mostrou, em
apenas um álbum que deveria estar ao lado de bandas com maior sorte como Guru
Guru e Amon Duul II, no protagonismo do rock germânico.
Atribuiu-se a gravadora
Vogue Schallplatten ao fim precoce do Nosferatu. Pois o selo tinha uma
predileção por bandas e músicos com uma proposta mais comercial, radiofônica,
deixando talvez o Nosferatu com uma sonoridade pouco ortodoxa e versátil, de
lado. Ou ainda pelo motivo de que a gravadora tenha decretado falência e
fechado às portas em 1971, mesmo com um catálogo extenso.
A banda:
Michael "Xner"
Meixner na guitarra
Reinhard "Tammy"
Grohé no órgão
Christian Felke no saxophone
e flauta
Michael "Mick"
Thierfelder no vocal
Michael "Mike"
Kessler no baixo
Byally Braumann na bateria
Faixas:
1 - Highway
2 - Willie the Fox
3 - Found my Home
4 - No. 4
5 - Work Day
6 - Vanity Fair
Nosferatu - "Nosferatu" (1970)
Muito bom ter encontrado esse blog. Suas resenhas são sensacionais e companhia perfeita pras madrugadas. Grande abraço e vida longa.
ResponderExcluirAnder ler a sua mensagem me deixa muito feliz e na obrigação de continuar com esse blog a todo vapor. Eu só tenho a agradecer pelas suas palavras, pelos elogios e por seguir e ler as minhas humildes resenhas. Que grande estímulo e responsabilidade! Obrigado!!
ExcluirPenso como você: nem todo rock progressivo alemão é krautrock.
ResponderExcluirPois é amigo Evandro! A droga do esteriótipo só vem para alienar as pessoas! Mas estamos aí para desmistificar isso! Obrigado pela mensagem!
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