Queridos amigos leitores a
Suécia tem nos brindado com o que há de melhor no rock n’ roll nesses últimos
anos, principalmente as que trafegam no stoner
rock, bem como no heavy rock, occult
rock e o Ghost, amado e odiado por tantos, é um grande expoente de tais
estilos, ganhando tanta notoriedade que vem conquistando alguns prêmios pelos
seus álbuns lançados.
Mas não podemos esquecer,
tão pouco negligenciar o caminho que outras tantas bandas do passado
edificaram, a base de um hercúleo esforço, para que essas bandas conquistasse o
seu lugar ao sol e até figurasse na cena mainstream
do rock n’ roll o que, em alguns casos, é uma façanha, vide, claro, o próprio
Ghost.
Muitas dessas pioneiras bandas
que desbravaram a cena, o estilo, caíram no mais puro e difícil ostracismo ou
sempre estiveram nessa condição e mesmo diante desse cenário, dessa adversa
situação, as bandas se tornaram expoente para o conceito e criação de estilo
que hoje estão mais ou menos em voga graças ao Ghost, por exemplo.
A Suécia é um celeiro de
grandes e valorosas bandas que, com seus estilos bem peculiares, fizeram do
hard rock e progressivo algo singular naquele país. É algo de “nórdico” que
reina neles, seja no aspecto sonoro, seja no aspecto comportamental. Na
realidade ambos se complementam.
E uma banda veio até a mim
não pela sonoridade, mas pelo aspecto estético de seu álbum. Vou confessar
algo: adoro as capas de álbum cuja arte é simples, algo realizado
artesanalmente sem nenhum recurso monetário ou tecnológico. Em poucas e diretas
palavras: algo bem simples e pouco arrojado.
Ela se chama NEBULOSA, é
sueca, e a sua capa, embora tenha curtido, após as minhas intensas e animadas
pesquisas pela grande rede se revelou um tanto quanto estranha. Talvez uma
figura divina carregando o peso de resguardar o mundo, de protege-lo de pessoas
de sentimentos e atitudes destrutivas, daí o seu sofrimento em carregar o
planeta nas costas.
Evidente que esses
“devaneios” me excitaram a fazer a audição do álbum, lançado em 1977, por um
pequeno e underground selo de nome
“Park Studio”. O único “rebento” do Nebulosa em sua precoce história.
E quando ouvi o seu álbum,
algo me perturbou magistralmente: a sua música “incoesa”. Eu explico! É que a
banda flertou, neste único trabalho, com várias vertentes do rock, que ia de
hard rock raivoso a um progressivo sinfônico, com nuances de space rock.
E apesar de alguns problemas
em sua produção, algo de ordem técnica, o que é normal em se tratar de poucos
recursos, o “Nebulosa” mostra guitarras elétricas contundentes, piano,
sintetizadores e até mesmo um psych rock, repleto de lisergia. É possível?
É possível sim e o faz com
maestria! Como que, com uma miscelânea dessas, o Nebulosa se fez “entender” no
que tange a sua sonoridade, de que não tem amarras nenhuma com rótulos, não se
“encaixando” em quesito sonoro nenhum, se “escravizando” apenas pela sua
criatividade.
Isso talvez não seja de
fácil palato por parte de quem necessita avidamente por um “norte” sonoro, mas
é inegável que o álbum é consistentemente bom do início ao fim, principalmente
com o vocal que se destaca incrivelmente. Mas esperem um pouco mais, falarei de
cada música depois, antes, vamos um pouco da história do Nebulosa que é, para
variar, escassa.
E já que falei do vocalista,
o nome do cara é Roger Pontare, nascido Roger Johansson, é bem conhecido na
Suécia não apenas pela sua voz poderosa, de grande alcance, mas também pelo estilo
extravagante. Para alguns críticos mais incisivos da Suécia, o cara ostentava
essa aparência vocal e visual exagerado a troco de nada, ocasionando pouco
crédito por parte das pessoas, desperdiçando seu talento em histrionismo, mas o
fato é que Pontare é um vocalista notável.
Completava o Nebulosa Bengt
Skarin, na bateria, Lennart Usterud, no baixo, Thomas Fransén na guitarra e o
tecladista húngaro e também muito talentoso Thomas Kacsó. Essa junção de
músicos suecos e húngaros serviu de inspiração para as letras do álbum que tratavam
da política desses países, mas reza a lenda que a subtrama foi centrada no país
natal de Kacsó.
A gravação de “Nebulosa” foi
supervisionada por Karl Axel Gårdebäck em seu estúdio e apenas 1.000 cópias foram
impressas. Um número de cópias muito baixo o que o torna extremamente raro nos
dias de hoje, mesmo com alguns pouquíssimos relançamentos.
Inaugurando o álbum temos a
faixa “Dagen Gryr” que traz uma textura um tanto quanto sombria de teclados com
dedilhados de violão que segue basicamente essa atmosfera soturna e que logo é
rasgada com riffs mais pesados de guitarra e que, gradualmente ganha corpo,
substância, ficando mais pesado e volta a balada meio soturna. Um instrumental
viajante e pesado, já denotando o que o álbum representará.
“Strezz-Rock” vem em seguida
e vem batendo o pé na porta sem perdão. Baixo “cavalgado”, riffs diretos e
poderosos de guitarra, seguidos de solos rápidos e sujos, com o teclado
trazendo à tona certa versatilidade, fazendo uma bela dupla com o baixo sempre
pleno, vivaz. Mais uma faixa instrumental e pesada.
“Mörka Tankar” chega e dessa
vez inaugurando o brilhante vocal de Roger Johansson, melódico, dramático,
cantado em sueco, trazendo todo o “tempero” a música. Um hard mais cadenciado,
mas pesado, com os já famosos riffs e solos mais diretos e competentes.
“Digital” segue a mesma
toada: pesado, avassalador, a bateria traz uma pancada, bem marcada, intensa, o
baixo acompanha fortemente, fazendo uma “cozinha” pesada e sinérgica. A
guitarra ganha corpo, os solos são mais longos e bem elaborados.
“Det Vackra Folket” traz uma
balada meio folk rock que logo irrompe em um hard rock com tendências heavy com
uma pegada forte de riffs de guitarra que corrobora o seu peso incomum e
catártico.
A introdução de “Undergång” ao dedilhar do piano anuncia, com maestria, o vocal melódico e de forte alcance de Johansson, uma balada rock poderosa que traz a plenitude de um classic rock e a viagem de folk, mas logo o hard rock toma as rédeas da situação.
“Ensam” volta a reinar os teclados trazendo uma atmosfera meio occult rock sendo confirmada com o vocal mais denso e soturno de Johansson. A bateria soa estranha, algo meio arrastado, o baixo continua altivo. Solos de guitarra torna a música mais contemplativa com uma pegada até progressiva em seu som. Exótica faixa!
“Nödrop” tem também a
introdução dos sintetizadores e a guitarra swingada, algo meio dançante, mas
com peso, um hard rock meio cadenciado, a bateria meio gingada também, algo
tribal, percussivo. Uma faixa mais solar e vibrante.
“Mittpelarna” também é muito
estranha, algo meio pop e radiofônica, com uma pegada meio eletrônica que
destoa totalmente da proposta do álbum. “Tryckvåg” retorna ao hard rock, mas
também com um viés bem radiofônico, até bem animado, seguindo um estilo meio
sulista norte americano e uma guitarra, por vezes, ao estilo blues rock.
“Ödestrand” é direta, forte,
pesada, contundente! A guitarra é pesada e muito bem executada em seus riffs e
solos. A “cozinha”, mais uma vez, se mostra entrosada. A faixa é muito curta! “Verklighetsflykt”
traz a balada capitaneada pelo vocal competente de Johansson tendo a companhia
de um lindo piano de Kacsó com lindos e emotivos solos de guitarra. Tem uma
proposta meio comercial, porém muito bem executada.
E fecha com “Apokalyps” com
uma pegada bem sinfônica, ao estilo hard progressivo com um vocal mais rasgado
de Johansson que segue a temática sonora da faixa. Finaliza estranho com
sonoridades meio minimalista.
O Nebulosa, infelizmente,
não teve vida longa, sendo desfeita, terminando suas atividades dois anos após
o lançamento de seu único álbum, em 1979. O tecladista Thomas Kacso acabou
retornando ao seu país natal, a Hungria e por lá tentou empreender uma carreira
musical, mas sem muita visibilidade.
O guitarrista Thomas Fransén
foi convidado a trabalhar para a gigante, na época, empresa de eletrônicos JVC,
já o baterista Bengt Skarin tornou-se um requisitado professor de música e o
baixista Lennart Usterud largou a música e passou a dedicar-se a Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ou, se preferir, os “Mórmons”.
O vocalista Roger Johansson ganhou certa visibilidade na sua carreira na música se tornando um popular
cantor com um trabalho solo ganhando alguns apelidos como Roger Pontare e até
“Mango” e até Roger Mango. Gravou um single em 1981 com a dupla “Stars ‘N’
Bars.
Há também uma reedição
posterior do álbum “Nebulosa”, com apenas 198 cópias com capas pintadas à mão e
números de matriz riscados. Até mesmo os relançamentos trazem uma aura obscura
e rara a já banda que está nessa condição desde os seus primórdios.
Um álbum obscuro de hard
rock, mesclado a um progressivo sinfônico que tive a impressão, confesso, de
soar mais alemão do que sueco, mas que vale e muito pelo tom exótico de sua
sonoridade exatamente por esses momentos sinfônicos com toques generosos de
música pesada.
Talvez, por esse motivo,
alguns ouvintes poderão não entender a proposta e rejeitar de imediato, mas se
ouvi-lo sem amarras, sem visões pré-concebidas perceberá que o álbum é
consistentemente bom do começo ao fim, com suas guitarras sólidas e vocais
dramáticos e melódicos. Audição mais do que recomendada.
A banda:
Bengt Skarin na bateria
Lennart Usterud no baixo
Roger Johansson no vocal
Thomas Fransén na guitarra
Thomas Kacsó no teclado
Faixas:
1 - Dagen Gryr
2 - Strezz-rock
3 - Mörka Tankar
4 - Digital
5 - Det Vackra Folket
6 - Undergång
7 - Ensam
8 - Nödrop
9 - Mittpelarna
10 - Tryckvåg
11 - Ödestrand
12 - Verklighetsflykt
13 - Apokalyps
Gostei da novidade, muito obrigado!
ResponderExcluirMarcos meu amigo, eu que agradeço por ter visitado e ter deixado a sua opinião. Fico feliz que tenha curtido a banda!
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