Mais uma joia perdida dos
anos 1970 do rock progressivo estadunidense que, como tantos, foram
vilipendiados pela indústria fonográfica que, seguindo a tendência da época por
parte do público daquele país que rejeitava essa vertente do rock, chancelaram,
com sua rejeição, grandes bandas que gravaram, a duras penas, trabalhos
magníficos.
Há algumas explicações, alguns argumentos de formadores de opinião e/ou especialistas da música circulando pelos veículos de comunicação e redes sociais, além, é claro, da consequência, do vilipêndio pela indústria fonográfica.
Uma das razões seria
uma questão cultural, afinal o rock progressivo tem as suas arestas fortes pela
Europa, principalmente a Inglaterra e que muitas dessas bandas norte americanas
surgiram emulando medalhões como Yes, Emerson, Lake & Palmer, Pink Floyd
entre outras.
O fato é que a rejeição
existe e talvez não seja, contudo, tão relevante elencar as razões que não
deixam de ser apenas visões pessoais de especialistas ou formadores de opinião.
Muitas bandas sucumbiram à falta de estrutura na produção de seus shows, a
poucas divulgações, a estúdios condizentes com a tecnologia, sendo acusadas,
consequentemente, de incompetentes, com músicas aquém do esperado, sendo esta a
razão de não vingarem.
Também é muito relativo trazer
isso à tona, pois tratam-se de opiniões pessoais, mesmo se tratando de
pretensas informações maturadas por especialistas, bem como seria se eu
dissesse que alguns dos grandes trabalhos que este humilde apreciador de prog
rock norte americano que tece essas palavras, goste e muito dessas bandas
obscuras, daí a razão da existência desse também humilde e reles blog.
E, como dizia, essa joia
perdida dos anos 1970 “inaugurou” as minhas predileções pelas bandas de rock
progressivo norte americano dessa prolífica década para o rock n’ roll. Foi uma
das primeiras bandas que ouvi, um dos primeiros álbuns que ouvi e digo, desde
já, sem medo de errar, que ajudou a pavimentar em mim, a predileção pelo rock
progressivo também.
Falo da banda CATHEDRAL! E
não confundir essa banda com outras três de mesmo nome, incluindo uma inglesa
de doom metal. O Cathedral norte americana e detentora de um “saboroso” rock
progressivo, traz reminiscências de bandas como Yes, ELP e Genesis. E falando
em inspirações ou influências, é claro que acabam especulando uma espécie de
plágio, de cópia, principalmente por ser tratar de uma banda obscura e que não
atingiu êxito comercial, mas sempre enfatizo que insucesso comercial não tem
nada a ver, para mim, com qualidade e/ou criatividade criativa.
Os primórdios do Cathedral
vem do tecladista Tom Doncourt e do guitarrista Rudy Perrone. Eles eram muito
novos, ainda aspiram serem músicos de sucesso, quando Tom conheceu o baixista
Ed Gagliardi em uma loja de discos. Eles dois estavam olhando alguns álbuns do
Genesis e quando Ed ouviu que Tom tocava teclado, o primeiro decide marcar uma
reunião com Rudy para formar uma banda e assim aconteceu, formaram uma banda.
Em pouco tempo Rudy e Tom criariam uma química muito mais progressiva do que a
direção que Ed queria para a banda. Assim seria o embrião da Cathedral, mas o
fim da banda com Ed.
Mas a Cathedral tem as suas
raízes mesmo em uma banda psicodélica chamada “Odyssey”, em Islip Terrace, em
Nova Iorque. O Odissey era a banda que Tom e Fred Callan, baixista tocavam. Na
realidade Tom os conheceu quando tinha apenas 15 anos de idade e aprendeu a
tocar teclado os observando e em um futuro próximo tocaria com os caras.
Mas a Cathedral tem as suas
raízes mesmo em uma banda psicodélica chamada “Odyssey”, em Islip Terrace, em
Nova Iorque. O Odissey era a banda que Tom e Fred Callan, baixista, tocavam. Na
realidade Tom os conheceu quando tinha apenas 15 anos de idade e aprendeu a
tocar teclado os observando e em um futuro próximo tocaria com os caras.
A banda era boa, um expoente
local, mas não demorou tanto para se separarem, isso em 1975. Fred Callan, o
baixista, e o tecladista Tom Doncourt se juntaria a Mercury Caronia IV, o
baterista, ao já conhecido Rudy Perrone, guitarrista e Paul Seal nos vocais
para que em 1975 formasse a Cathedral.
E o processo de nascimento de seu único álbum, em 1978, surgiu originalmente de uma demo. A banda planejou fazer uma demo e os empresários dos caras tinham conexões com a gravadora “Delta Records”, um antigo estúdio da cidade de Nova Iorque no andar de cima do teatro Palace, em Times Square.
A banda de Duke Ellington
estava fazendo sessões do outro lado do salão. Tiveram, contudo, uma sorte
danada de ter um jovem engenheiro disposto a experimentar um pouco, claro, em
termos sonoros. Basicamente a banda tocou ao vivo em um ampex de dezesseis
faixas e fizeram também poucos overdubs. Isso tudo levou uma semana apenas.
A banda comprou a demo e a RCA fez uma oferta, mas os caras da Cathedral colocou todas as esperanças nos discos da Atlantic. Chegaram perto de contratá-los, mas desistiram porque, para variar as vendas de músicas de rock progressivo eram pequenas em 1978.
A Delta
Records tinha conexões de distribuição e foi decidido lançar “Stained Glass
Stories” de forma independente. 10.000 cópias foram prensadas e vendidas. A
ideia era alugar um espaço para a Cathedral ensaiar, além dos equipamentos para
promover o álbum.
A arte da capa do álbum foi
concebida pela namorada do tecladista Tom Doncourt que era artista plástica,
ela se ofereceu para fazer. Ela tinha uma foto da catedral Sacre Cour em
Montmartr e pintou no topo da pequena colina.
Depois que o álbum foi
lançado, a banda passou alguns meses em um armazém ensaiando, compondo mais
músicas para que tivessem o suficiente para um show inteiro. A banda já tinha
um sistema de iluminação e um grande sistema de som o que viabilizou ensaiar
toda a produção. Alugaram antigos cinemas, construíram a produção de palco e
montaram a concepção de seus shows. Trabalharam muito!
E
enfim, o primeiro show, a primeira apresentação! A Cathedral subiu no palco
para o primeiro show na sua cidade local, diante de uma casa lotada dos fãs que
os seguiam nos shows dos clubes, além de tocarem para amigos próximos e
familiares. Foi épico para a banda!
Apesar da cena progressiva estadunidense não tenha tido a audiência necessária para as suas bandas prosperarem em Nova Iorque poderia encontrar um território fértil para o rock progressivo, razoavelmente fértil e caloroso, tinha um fiel e abnegado público que os seguia.
E com isso antigas salas de cinema se transformavam em salas de concerto,
de shows, para receber a demanda de bandas e fãs. Mas o fim dos anos 1970
testemunhou uma diminuição da popularidade do estilo o que culminou com o
vilipêndio a bandas como o Cathedral que teve muitas dificuldades para dar
sequência em gravações de novos álbuns.
Embora a Cathedral, em seu
trabalho, traga lembranças de Yes, ELP e Genesis, a banda era bem agressiva,
diria intensa e solar, para uma banda progressiva, que geralmente entregam
bandas mais introspectivas e experimentais. O que me chamou a atenção no
Cathedral, antes de mais nada, foi a incrível interação entre o baixista e o
baterista fazendo da cozinha algo concatenado e extremamente vivaz, dando o
ritmo à banda. São grooves cheios, complexos e fortes, além do baterista
Mercury Caronia IV ter plena capacidade de implementar recursos percussivos.
Rudy Perrone, o guitarrista,
é o próximo a se destacar, com muitos recursos, lembrando Robert Fripp com
solos e riffs difíceis de praticar, sendo definitivamente avassalador, de tirar
o fôlego mesmo. São riffs por vezes dissonantes, mas com um som vibrante e
poderoso.
O tecladista Tom Doncourt
também tem uma participação forte na concepção da sonoridade do Cathedral e
consequentemente, claro, na feitura, na produção de seu único trabalho. Junto
com seu hammond e outros instrumentos tira uma sonoridade bem singular,
arriscaria.
O vocalista Paul Seal traz
também algum destaque apesar de alguns apontamentos negativos dados a alguns
ouvintes e formadores de opinião, dando conta que o mesmo não goza de tanto
talento, tendo inclusive copiado os timbres de voz do emblemático vocalista do
Yes, Jon Anderson. Confesso que há traços sim, mas não acredito em cópia, mas
inspiração.
“Stained Glass Stories” está
longe, no que tange a sua sonoridade, daquelas influências de bandas AOR,
soando como um rock progressivo britânico típico, com uma música carregada de
mellotron, com a potência do famoso baixo Rickenbacker. É uma sonoridade
familiar sim, aos que, claro, apreciam o prog rock genuíno, mas que carrega
personalidade, complexidade em seu som e principalmente algo orgânico, visceral,
que mostra um trabalho efetivo dos instrumentos pelos músicos fazendo deste
álbum, a meu ver, essencial para o rock progressivo norte americano. Mas vamos
destrinchar “Stained Glass Stories”, faixa a faixa.
O álbum é inaugurado com a
exuberante “Introspect”, uma faixa com intricados riffs de guitarra e baixo,
poderosos, envolventes e intensos, com um som de mellotron que dita esse ritmo
todo, em uma espécie de capa sonora, com uma bateria marcada e alucinante. É
uma música divinamente avassaladora. O baixo de Callen é pulsante, vívido e o
guitarrista Rudy Perrone soa como um híbrido de Steve Howe e Hackett, a
complexidade do primeiro e o peso do segundo. Um começo suave, etéreo, mas descamba
para guitarras tensas e baixo pulsante. E entre isso coloque momentos acústicos
totalmente contemplativos. Uma excelente faixa para começar!
Segue com a faixa “Gong” e
que não baixa a guarda, que se destacam em melodias realmente ótimas e uma
estrutura intrincada, complexa, cheia de alternâncias rítmicas. Nesta faixa o
que se mostra atraente e revelador é também a pegada mais rock desta música e
que, em dado momento, devido a essas mudanças de ritmo, se apresentam pouco
polidas. Não esquecer também do vocal bem apurado e de bom alcance nesta faixa.
“The Crossing” e “Days &
Changes” seguem basicamente com a característica apresentada em fragmentos da
faixa anterior, o fragmento pouco polido, com um rock um pouco mais visceral,
mas intenso, com riffs de guitarra “duelando” com o mellotron que não baixa a
guarda e luta uma luta com honras, para deleite de nossos ouvidos. A
complexidade do início dá lugar a um rock mais pleno e vivaz.
O álbum finalmente fecha com
a faixa “The Search” e que traz à tona a “peça” remontada aos temas da música
que inaugurou o álbum, a “Introspect”. Arriscaria que poderia ser uma
continuidade desta, podendo ser chamada, inclusive, de “Instrospect II”, mas
não se engane que se tratam de músicas com atmosferas idênticas, mas com
andamentos similares, ou seja, uma bela experiência progressiva calcada em
complexidade e melodias bem trabalhadas.
A popularidade do rock
progressivo diminui drasticamente no final dos anos 1970, isso não tirou a
criatividade das bandas que seguiram com a sua sonoridade, mas caíram na
obscuridade. E assim o foi com o Cathedral quando lançou “Stained Glass
Stories”.
Todo o material que a banda escreveu em seus ensaios e para os seus shows, depois do lançamento de “Stained Glass Stories”, nunca foram lançados oficialmente, com a tal impopularidade do rock progressivo no fim dos anos 1970. Inclui, inclusive, uma música “Plight of The Swan” que, para a banda foi o melhor trabalho que produziram. Escreveram várias músicas após os shows iniciais antes de se separarem. E falando em materiais não lançados, reza a lenda de que a Cathedral tenha lançado, em 1979, um álbum de nome "Epilogue", mas, caros amigos leitores, nunca vi e tão pouco o ouvi. acaba se tornando aquela deliciosas lendas urbanas.
Tom Doncourt depois de
alguns anos após o lançamento de seu primeiro e até então único álbum, reviu
algumas fitas e as colocou em suas redes sociais disponibilizando-as para os
fãs da Cathedral e de rock progressivo em geral se deleitarem e pode ser
acessado aqui.
Com um reaquecimento da cena
progressiva nos anos 1990, a gravadora Syn-Phonic relançou, no formato CD, o
álbum. Atualmente, quem diria, o álbum, seja no formato vinil ou CD, tem sido
cobiçado por colecionadores, sendo valorizado e agora elogiado pela “crítica
especializada”. Vejam só!
Mas ao menos com esse
interesse renovado e uma nova concepção de cena progressiva que vem explodindo
ao longo, não apenas dos anos 1990, mas ao longo dos anos seguintes a esta
década, fazendo finalmente jus a sua bela obra, pela que representa para o rock
progressivo norte americano.
Entre 1979 e 2000 houve
várias tentativas de trazer a Cathedral de volta à ativa, mas sem sucesso.
Alguns integrantes, especialmente o tecladista Tom Doncourt, não estava pronto
para esse projeto. Em 2003 Fred chamou todos os membros originais da banda e se
ofereceu para juntar a banda novamente. Tom tinha começado a escrever música
progressiva novamente nesse período e finalmente se viu animado para trazer a
vida ao Cathedral.
E com muita dificuldade o
segundo álbum vem à tona e se chamou “The Bridge”, em 2007. Difícil porque nem
todos os integrantes estavam, como em “Stained Glass Stories”, seguindo a mesma
direção e muitas discussões se sucederam para conceber esse novo trabalho.
Pouco depois de começar o projeto, Rudy deixou a banda. Uma guerra se
estabeleceu dentro da banda, pois muitos queriam implementar as suas percepções
de música, uma mistura de coisas e o mellotron particularmente sofreu como
resultado, mas trata-se de um belo trabalho da banda.
Entrou no lugar de Rudy
Perrone o guitarrista David Doig que entregou um bom trabalho, mas a química da
formação original se perdeu um pouco. A Cathedral chegou a fazer um grande show
em Nova Iorque e a turnê de nome “Catedral Curse” começou, mas com muita
desorganização e não durou muito tempo, lamentavelmente.
Mac e Rudy, isso nos anos
1980, tocaram em uma banda chamada “Industry”, com Jon Carin, tecladista de
Roger Waters, eterno baixista do Pink Floyd. Tom tocou no álbum sono de Rudy,
lançado em 1981, de nome “Oceans of Art”. Mas o Tom começou também a sua
própria banda chamada “Quiet”, contando com a vocalista islandesa Gudrun
Thrainsdottir, seguindo uma vibe experimental em pleno anos 1980, lançando
pouco material. Em 1991 Tom Doncourt lançou o projeto “Fauve”. Alguns instrumentos que projetou e construiu foram usados por Jerry
Marrota e Susan Veja.
Uma banda clássica, mesmo
que obscura, uma joia, uma pérola perdida nos confins do baú do progressivo
norte americano e que precisou de décadas para ostentar, com a devida justiça,
a sua condição de banda influente do estilo em seu país de origem. “Stained
Glass Stories” é definitivamente uma referência para o rock progressivo norte
americano.
A
banda:
Paul
Seal nos vocais principais, percussão
Rudy
Perrone nas guitarras acústicas e elétricas, vocais
Tom
Doncourt nos teclados e percussão
Fred
Callan no baixo, pedais de baixo Moog, mellotron e vocais
Mercury
Caronia na bateria, percussão e co-produtor do álbum
Faixas:
1 - Introspect
2 - Gong
3 - The Crossing
4 - Days & Changes
5 - The Search
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