domingo, 13 de março de 2022

Eela Craig - Eela Craig (1971)

 


Pós-guerra, anos 1950, próximo a Salzburg, Áustria. Crescia um menino que se chamava Harald Zuschrader. Ainda nesta década, em 1950, ele se muda, com seus pais, para Leonding, perto de Linz. Lá ele aprende a tocar o seu primeiro instrumento, o acordeão. Os pais também tocavam instrumentos musicais e eram bons cantores.

Como toda típica história de jovens e crianças que tem o seu primeiro contato com a música, o começo sempre vem com muito entusiasmo, euforia, alguns contratempos, claro, frustrações, medos, inseguranças, mas sempre carregados de esperança para alçar grandes voos, fazendo shows, se apresentando em vários palcos pelo mundo.

E com o jovem Harald não foi diferente. Ele foi aprendiz de orquestra, tocou em grupos de dance music, quando em 1970, auge do “flower power”, do Woodstock, e de uma embrionária cena progressiva, ele formou a banda EELA CRAIG. 

Em 1974 começou seus estudos musicais: flauta, violão, composição, além de formação pedagógica para a docência. A música na sua personificação didática ajudou e muito a Harald se tornar um grande instrumentista.

Harald Zuschader

Mas os primórdios do Eela Craig estava nas raízes do funk rock! Sim! Pode parecer improvável levando em consideração que seus trabalhos mais contundentes versam pelo progressivo sinfônico, mas, além do funk, algumas vertentes clássicas já fluíam e a partir dessa premissa o som do Eela Craig moldou, cada vez mais, o som da banda, tendendo também para o classic rock, sendo bombardeada também pelo som da época, marcada majoritariamente pelo rock psicodélico e também pela música experimental, lisérgica.

E a partir dessas inspirações, do modismo sonoro do rock n’ roll, que ganhava alguma credibilidade, graças a alguns festivais de grandes proporções, as bandas tinham a intenção de se apresentar, apresentar suas composições e gerar impacto a um público ávido por novidades no caráter de revolução.

O Eela Craig surgiu na escola e formada por jovens e isso já soava como revolução. O nome da banda surgiu nos pátios da escola e dois dos colegas de banda de Harald, Gerhard Englisch e Heinz Gerstmair que trouxeram o nome “Eela Craig” e é uma composição de palavras pura. Sempre pensaram que o nome da banda deve soar bem e ter certa mística, causar certo mistério em torno de seu nome e claro, deu certo.

Devido ao estilo sonoro do Eela Craig uma agência de música clássica chamada de “Konzertdirektion Schlote”, tomou conhecimento de sua existência, trabalhando com sucesso com esta agência por muitos anos fazendo shows pela Alemanha, Suíça, Itália, Turquia e, claro, a própria Áustria.

A influência que marcou o pontapé inicial da história do Eela Craig trazia na música experimental, eletrônica, tendo como base o sintetizador Moog, o órgão Hammond, tendo como referência a cena Krautrock alemã, além de bandas como King Crimson, ELP, Pink Floyd etc.

E foi com base nessas referências e instrumentos sonoros que se edificou o som do Eela Craig e do seu primeiro álbum lançado em 1971, o homônimo, alvo da resenha de hoje.

“Eela Craig” é um álbum obscuro, pouco conhecido, mas relevante para aquele pequeno país que nunca foi considerado o polo do rock progressivo mundial, mas que revelou para o mundo, apesar de não ter tido o devido crédito, um álbum de extrema importância para a formação de uma cena progressiva que, à época, era embrionária.

Ele foi gravado em um pequeno, modesto estúdio, na cidade de Linz, na Áustria, por um pequeno selo chamado Pro-Disc e foram prensadas apenas 1000 cópias do álbum. Ele foi produzido por um técnico de hobby da Universidade de Linz por 14 dias, afinal, os jovens músicos não tinham dinheiro para alugar um estúdio por muito tempo. O álbum foi relançado, no formato CD, pelo selo underground, mas emblemático alemão Garden of Delights.

Raro e extremamente belo, excepcional nota-se que, dada a sua qualidade experimental e viajante, é um álbum recheado de psicodelia, música progressiva e uma forte veia clássica, graças a história musical de um de seus fundadores. 

A banda possuía três tecladistas o que atenua a sua formação clássica e voltada para um rock mais experimental, mas complexo, de textura mais estruturada. E ainda contava com um pianista, além da flauta e do saxofone. A formação do Eela Criag neste álbum era: Horst Waber na bateria, Harald Zuschrader no órgão, flauta, guitarra e sax, Hubert Bognermayer nos teclados, Gerhard English no baixo, Heinz Gerstenmair na guitarra, órgão e vocal e Will Orthofer no sax e vocal.

Eela Craig

Comecemos a falar da faixa “New Born Child (Part 1 & 2)” cujo órgão é tocado de forma introspectiva, obscura que rompem em gritos agudos e aterrorizantes que logo suaviza com um piano e uma flauta, em uma balada linda e viajante, com temperos psicodélicos. Essa música é repleta de passagens desconcertantes, logo descamba para um baixo cadenciado e um jazz fusion lindo com um sax frenético e um sol de guitarra simples, mas finaliza a música magistralmente. Excelente faixa!

"New Born Child" (Part 1 & 2)

“Self Made Trip” começa também suave ao som discreto de um violão acústico e desabrocha em um solo lindo de guitarra e uma “cozinha” só fazendo aquela camada para dar o tempero ao som lindamente tocado e produzido nessa música. E assim permanece com uma levada até surgir o solo de flauta, espetacular! Outro grande destaque.

"Self Made Trip"

“A New Way” é outra linda balada com uma levada meio jazz, com ótima performance vocal e mais uma vez da flauta que conduz toda a música em sua questão harmônica. “Indra Elegy” fecha o álbum com uma introdução caótica de órgão, teclados e hammonds, uma faixa com uma veia bem sinfônica que lembra e muito o Emerson, Lake & Palmer. A música vai tomando corpo e substância com solos de guitarra assume uma cara mais hard. É impressionante a progressão da música e com uma passagem rítmica de invejar fica suave com um piano que descamba para um solo de guitarra arrepiante, algo meio Floyd, sabe? E quando entra o vocal, pronto! A viagem é garantida! Uma das mais lindas músicas de prog rock que já ouvi, até então, ouso dizer isso.

"Indra Elegy"

Era uma época de experimentações, de manifestações artísticas à flor da pele, a criatividade era o carro chefe, independentemente de como ela surgia, emanava e o Eela Craig a deixou dominar as intenções dos seus músicos, sem estereótipos, sem rótulos e foi com essa pretensão que a banda fez uma intensa turnê em 1972, ganhando alguma credibilidade em países como Itália, Alemanha e, claro, em seu país natal.



Garantiu, com isso, um contrato com uma grande gravadora, a Virgin Records, tendo, a partir daí, assumido uma nova vertente sonora em seus álbuns posteriores, ganhando um viés mais sinfônico e mais solar às suas músicas, mas isso já é outra história.



A banda:

Horst Waber na bateria

Harald Zuschrader no órgão, flauta, guitarra e saxofone

Hubert Bognermayer nos teclados

Gerhard English no baixo

Heinz Gerstenmair na guitarra, órgão e vocal

Will Orthofer no vocal e saxofone


Faixas:

1 - New Born Child

2 - Self Made Trip

3 - A New Way

4 - Indra Elegy

1st Movement: From Nowhere

2nd Movement: Burning

3rd Movement: Elegy

4th Movement: To Nowhere


 












 




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