Pós-guerra, anos 1950,
próximo a Salzburg, Áustria. Crescia um menino que se chamava Harald Zuschrader.
Ainda nesta década, em 1950, ele se muda, com seus pais, para Leonding, perto
de Linz. Lá ele aprende a tocar o seu primeiro instrumento, o acordeão. Os pais também
tocavam instrumentos musicais e eram bons cantores.
Como toda típica história de
jovens e crianças que tem o seu primeiro contato com a música, o começo sempre
vem com muito entusiasmo, euforia, alguns contratempos, claro, frustrações,
medos, inseguranças, mas sempre carregados de esperança para alçar grandes
voos, fazendo shows, se apresentando em vários palcos pelo mundo.
E com o jovem Harald não foi diferente. Ele foi aprendiz de orquestra, tocou em grupos de dance music, quando em 1970, auge do “flower power”, do Woodstock, e de uma embrionária cena progressiva, ele formou a banda EELA CRAIG.
Em 1974 começou seus estudos
musicais: flauta, violão, composição, além de formação pedagógica para a
docência. A música na sua personificação didática ajudou e muito a Harald se
tornar um grande instrumentista.
Mas os primórdios do Eela
Craig estava nas raízes do funk rock! Sim! Pode parecer improvável levando em
consideração que seus trabalhos mais contundentes versam pelo progressivo sinfônico,
mas, além do funk, algumas vertentes clássicas já fluíam e a partir dessa
premissa o som do Eela Craig moldou, cada vez mais, o som da banda, tendendo
também para o classic rock, sendo bombardeada também pelo som da época, marcada
majoritariamente pelo rock psicodélico e também pela música experimental,
lisérgica.
E a partir dessas
inspirações, do modismo sonoro do rock n’ roll, que ganhava alguma
credibilidade, graças a alguns festivais de grandes proporções, as bandas
tinham a intenção de se apresentar, apresentar suas composições e gerar impacto
a um público ávido por novidades no caráter de revolução.
O Eela Craig surgiu na escola e formada por jovens e isso já soava como revolução. O nome da banda surgiu nos pátios da escola e dois dos colegas de banda de Harald, Gerhard Englisch e Heinz Gerstmair que trouxeram o nome “Eela Craig” e é uma composição de palavras pura. Sempre pensaram que o nome da banda deve soar bem e ter certa mística, causar certo mistério em torno de seu nome e claro, deu certo.
Devido ao estilo sonoro do
Eela Craig uma agência de música clássica chamada de “Konzertdirektion Schlote”,
tomou conhecimento de sua existência, trabalhando com sucesso com esta agência
por muitos anos fazendo shows pela Alemanha, Suíça, Itália, Turquia e, claro, a
própria Áustria.
A influência que marcou o
pontapé inicial da história do Eela Craig trazia na música experimental,
eletrônica, tendo como base o sintetizador Moog, o órgão Hammond, tendo como
referência a cena Krautrock alemã, além de bandas como King Crimson, ELP, Pink
Floyd etc.
E foi com base nessas referências e instrumentos sonoros que se edificou o som do Eela Craig e do seu primeiro álbum lançado em 1971, o homônimo, alvo da resenha de hoje.
“Eela Craig” é um álbum obscuro, pouco conhecido, mas relevante para aquele pequeno país que nunca foi considerado o polo do rock progressivo mundial, mas que revelou para o mundo, apesar de não ter tido o devido crédito, um álbum de extrema importância para a formação de uma cena progressiva que, à época, era embrionária.
Ele foi gravado em um pequeno, modesto estúdio, na cidade de Linz, na Áustria, por um pequeno selo chamado Pro-Disc e foram prensadas apenas 1000 cópias do álbum. Ele foi produzido por um técnico de hobby da Universidade de Linz por 14 dias, afinal, os jovens músicos não tinham dinheiro para alugar um estúdio por muito tempo. O álbum foi relançado, no formato CD, pelo selo underground, mas emblemático alemão Garden of Delights.
Raro e extremamente belo, excepcional nota-se que, dada a sua qualidade experimental e viajante, é um álbum recheado de psicodelia, música progressiva e uma forte veia clássica, graças a história musical de um de seus fundadores.
A banda possuía três
tecladistas o que atenua a sua formação clássica e voltada para um rock mais
experimental, mas complexo, de textura mais estruturada. E ainda contava com um
pianista, além da flauta e do saxofone. A formação do Eela Criag neste álbum
era: Horst Waber na bateria, Harald Zuschrader no órgão, flauta, guitarra e
sax, Hubert Bognermayer nos teclados, Gerhard English no baixo, Heinz
Gerstenmair na guitarra, órgão e vocal e Will Orthofer no sax e vocal.
Comecemos a falar da faixa
“New Born Child (Part 1 & 2)” cujo órgão é tocado de forma introspectiva,
obscura que rompem em gritos agudos e aterrorizantes que logo suaviza com um
piano e uma flauta, em uma balada linda e viajante, com temperos psicodélicos.
Essa música é repleta de passagens desconcertantes, logo descamba para um baixo
cadenciado e um jazz fusion lindo com um sax frenético e um sol de guitarra
simples, mas finaliza a música magistralmente. Excelente faixa!
“Self Made Trip” começa
também suave ao som discreto de um violão acústico e desabrocha em um solo
lindo de guitarra e uma “cozinha” só fazendo aquela camada para dar o tempero
ao som lindamente tocado e produzido nessa música. E assim permanece com uma
levada até surgir o solo de flauta, espetacular! Outro grande destaque.
“A New Way” é outra linda
balada com uma levada meio jazz, com ótima performance vocal e mais uma vez da
flauta que conduz toda a música em sua questão harmônica. “Indra Elegy” fecha o
álbum com uma introdução caótica de órgão, teclados e hammonds, uma faixa com
uma veia bem sinfônica que lembra e muito o Emerson, Lake & Palmer. A
música vai tomando corpo e substância com solos de guitarra assume uma cara
mais hard. É impressionante a progressão da música e com uma passagem rítmica
de invejar fica suave com um piano que descamba para um solo de guitarra
arrepiante, algo meio Floyd, sabe? E quando entra o vocal, pronto! A viagem é
garantida! Uma das mais lindas músicas de prog rock que já ouvi, até então,
ouso dizer isso.
Era uma época de
experimentações, de manifestações artísticas à flor da pele, a criatividade era
o carro chefe, independentemente de como ela surgia, emanava e o Eela Craig a
deixou dominar as intenções dos seus músicos, sem estereótipos, sem rótulos e
foi com essa pretensão que a banda fez uma intensa turnê em 1972, ganhando
alguma credibilidade em países como Itália, Alemanha e, claro, em seu país
natal.
Garantiu, com isso, um contrato com uma grande gravadora, a Virgin Records, tendo, a partir daí, assumido uma nova vertente sonora em seus álbuns posteriores, ganhando um viés mais sinfônico e mais solar às suas músicas, mas isso já é outra história.
A banda:
Horst Waber na bateria
Harald Zuschrader no órgão,
flauta, guitarra e saxofone
Hubert Bognermayer nos teclados
Gerhard English no baixo
Heinz Gerstenmair na
guitarra, órgão e vocal
Will Orthofer no vocal e
saxofone
Faixas:
1 - New Born Child
2 - Self Made Trip
3 - A New Way
4 - Indra Elegy
1st Movement: From Nowhere
2nd Movement: Burning
3rd Movement: Elegy
4th Movement: To Nowhere
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