segunda-feira, 4 de maio de 2020

Troya - Point of Eruption (1976)


A Alemanha é um universo sonoro a ser explorado. Com essa afirmativa o título “Luz ao Rock Obscuro” precisa ser praticado entre os audiófilos que não se sentem saciados com as músicas e bandas consagradas e radiofônicas. 

E, com base nesse garimpo sonoro, sempre suscitamos a seguinte pergunta: Como bandas com tanto talento, feeling e qualidade lançam poucos álbuns, tem uma vida curta e perecem? Apesar de ser uma pergunta simples e direta, é muito complexa e que fomenta algumas especulações: sonoridade incompreendida, pouco comercial, mensagens nas suas letras “pouco ortodoxas” etc. 

O fato é que infelizmente o rock, ao longo das décadas vem sofrendo da doença do conservadorismo e que não são encaradas, nas suas mais diversas encarnações, como uma manifestação artística e como tal, merece ser “evocada” nas suas mais diversas personificações. 

Mas por outro lado, temos que reverenciar os pequenos selos, as gravadoras alternativas que, abnegadas, divulgam, lançam, relançam essas bandas empoeiradas, vilipendiadas, esquecidas pelo tempo e de fãs igualmente dedicados que divulgam em seus canais de compartilhamento, disseminando a boa música sem arestas e visões pré-concebidas. 

Explicações e tentativas de compreensão à parte, um exemplo clássico do que se foi ponderado até aqui vem, como disse, da Alemanha e se chama TROYA com o seu único álbum, de 1976, chamado “Point of Eruption”. 



Troya

O Troya foi formado em 1972  na cidade de Werne an der Lippe por Elmar Wegmann, Klaus Pannewig e Wilhelm Weischer, mas se chamava "Drastic". Eles mudaram o nome da banda e parte da sua formação quando gravaram “Point of Eruption” que contavam com os seguintes músicos: Elmar Wegmann na guitarra, vocal e flauta, Klaus Pannewig na bateria e vocal, Wihelm Weischer no baixo e Peter Savelsberg no órgão, mellotron e piano. 


Trata-se de uma banda muito rara, pouco se fala sobre a mesma, mas, quando a descobri, e observei a arte gráfica do seu álbum, mesmo que virtualmente, é perceptível a forma quase que “artesanal” que fora feito, de forma claramente manufaturada e caseira.

As poucas informações dão conta que foi praticamente uma concepção auto financiada, sendo lançado, em 1976 por um pequeno selo chamado "Forder Turm". Não se sabe também quantas cópias foram produzidas, mas, com os baixos recursos disponíveis para o lançamento, certamente devem ter sido pouquíssimos álbuns.



“Point of Eruption” é um álbum com a predominância do genuíno rock progressivo, com uma riqueza instrumental com o destaque do órgão e mellotron e uma base sólida e consistente de guitarra. É caracterizado com um som soturno, introspectivo e sombrio que flerta ainda com o hard rock e o progressivo sinfônico, sendo cantado em inglês com um forte sotaque alemão. 

E pelo órgão e mellotron dominarem, predominarem, me remete, a sonoridade do Troya, a música celta, a música barroca, sendo um tanto quanto incomum quando foi concebido em meados dos anos 1970, daí a dificuldade de conseguir disseminar, divulgar esse trabalho à época, por ser incompreendida e inviável sob o aspecto comercial.

Todas as faixas, que totalizam apenas 32 minutos de duração, são majoritariamente instrumentais e sim, de alta qualidade, melancólico, dramática, carregada de emoção e, mesmo que, em alguns momentos denotem exageros por conta disso, denuncia também a competência de seus músicos e os vocais, cantados em inglês, dão um caráter distinto a toda essa "sopa" instrumental, adicionando temperos carregados de forte emoção.

O álbum começa com a faixa “She”, um típico prog rock com pitadas generosas de space rock lembrando bandas como Eloy na sua fase áurea do álbum “Ocean”, por exemplo. Talvez vislumbrando essa faixa por esse prisma, observa-se também um viés extremamente psicodélico, um flerte entre ambientes sinfônicos e lisérgicos! Definitivamente arranjos e melodias muito bem executadas.


"She"

“Battle Rock” conta com uma atmosfera introspectiva, uma camada viajante de teclados e um piano que suaviza, traz leveza a música, uma linda e poderosa balada. Traz passagens melancólicas suaves e sombrias que lembram um Pink Floyd pós Syd, com pegadas mais experimentais.

"Battle Rock"

“Chromatik” traz um hard rock inusitado, inundado em agressivos solos de guitarra elaborados e marcantes, com eufóricas linhas de teclados, dando força e consistência a música e corroborando que ideias podem ser concebidas, de forma excelente, mas simples.

"Chromatik"

“Festival” segue a proposta da faixa anterior com uma pitada generosa de hard, de prog e sinfônico, que remete ao já comentado barroco, algo de pagão e antigo nessa faixa intriga de forma maravilhosa.

"Festival"

“Sinclair” é uma belíssima faixa instrumental seguindo uma premissa floydiana com solos longos e bem elaborados de guitarra com uma “cozinha” (baixo e bateria) muito bem entrosada. Uma melodia suave, linda e triste, algo de melancólico a domina, dominada também pelo arcaico som do sintetizador, tendendo também para caminhos mais jazzísticos, tornando a faixa complexa, mas orgânica, porque denuncia a capacidade instrumental de seus músicos.

"Sinclair"

Fecha com “Choke” com grande influência de seu compatriota mais famoso, o Eloy, trazendo muito hard rock com linhas de baixo bem marcado e o teclado dando o “tempero”, mostrando o princípio basilar do prog rock: muita alternância rítmica. Traz passagens rítmicas variadas e, de uma forma, torna a faixa mais animada, solar, diria. Solos de guitarra agitam, torna tudo mais elétrico, intenso.

"Choke"

A banda, logo após o lançamento de seu álbum, encerrou as suas atividades e não se sabe o fim de seus músicos. O fato é que à época o álbum, incompreendido em suas vertentes sonoras arrojadas e pouco usual naqueles tempos de um punk rock mais pop e a disco music colorindo e enchendo os bolsos dos empresários das gravadoras de dinheiro, foi muito criticado, não tendo, consequentemente a audiência necessária.

E quando falamos em abnegados, "Point of Eruption" foi relançado, em formato CD, em 1993 pelo selo "Lost Pipe Dreams" e quase dez anos depois, mais precisamente em 2001, a emblemática "Garden of Delights" relançou, também em formato CD, o álbum e mais tarde, em 2003, foi relançado, mais uma vez, mas agora em formato vinil (LP) pela gravadora "Very Good Records".

Mesmo contra todos os péssimos prognósticos comerciais, abnegados e persistentes, sejam eles gravadoras alternativas, fãs com seus canais de comunicação e grupos interessados em música genuína e pouco pasteurizada que lamentavelmente ouvimos, contra a nossa vontade, em dias atuais, bandas com Troya e o seu único álbum, "Point of Eruption", resiste a cada relançamento, sempre com o intuito de dar luz ao rock obscuro.





A banda:

Elmar Wegmann na guitarra, flauta e vocal
Klaus Pannewig na bateria e vocal
Wilhelm Weischer no baixo
Peter Savelsberg no órgão, mellotron e piano

Faixas:

1 - She
2 - Battle rock
3 - Chromatik
4 - Festival
5 - Sinclair




2 comentários:

  1. Adorei a banda. Álbum no melhor estilo de Prog alemão.

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    1. Amigo João Luiz, obrigado pelo comentário, obrigado por ter lido! Que bom que você curtiu a banda! Exatamente o que você falou: um álbum típico de progressivo alemão. Ele é rústico, artesanal, chega a ser ingênuo, por ter tanta verdade, ser tão genuíno em sua sonoridade! Abraço!

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